LIBER CORDIS CINCTI SERPENTE
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LXV
SVB FIGURA
ארני
Comentado
A.·.A.·.
Publicação em Classes A e B
Comentários: Frater O.M. a.k.a. Aleister Crowley
Tradução: Frater EVER a.k.a. Marcelo Ramos Motta
Os cinco capítulos referem-se aos cinco elementos. 1 – Terra; 2 – Ar; 3 – Água, 4 – Fogo; 5 – Espírito. Cada capítulo mostra seu elemento à Luz da relação entre o Adepto Menor e seu Sagrando Anjo Guardião. Assim, no Capítulo 1, o mundo material, ou aspecto sensível da Natureza, é demonstrado ser a mera pintura simbólica de algo completamente diverso.
CAPÍTULO I
1.
Eu sou o Coração; e eis a Cobra enroscada
Da mente em volta ao cór do qual não se vê nada.
Ó minha cobra, sobre! Está chegada a hora
Da flor velada e santa. Ó minha cobra, aflora!
Sobe com esplendor que fulge e que retumba
No cadáver de asar que flutua na tumba!
Ó coração de mãe, de irmã, coração meu
Tu es jogado ao Nilo; Tifon, ele é teu!
Ah me! Porém a glória e fúria da tormenta
Enfaixa-te de força, em forma te acalenta
Aquieta-te, Ó minha alma! A fim que suma o encanto
Ao erguer dos condões, findo aeon; novo, e santo!
Vê! que belo que sou, que alegre assim Te faço,
Ó Cobra que me envolves no tempo e no espaço!
Vê! Nós somos um só, e o vendaval de arroube
Vai, desce no poente, e o Escaravelho sobe.
Ó Kephra! Teu zumbido, a nota pura e santa,
Seja sempre o só trance e voz desta garganta!
Eu aguardo a alvorada! O chamado do Pai,
O Senhor Adonai, o Senhor Adonai!
1. Invocação de Kundalini. O Adepto “morre” para o mundo material e floresce como um Lotus. Ele cessa; e entra no silêncio da meia-noite, onde adora Kephra. Então ele aguarda a chegada do seu Senhor.
2. Adonai falou a V.V.V.V.V., dizendo: Deve haver sempre divisão na palavra.
2 – 11. O Anjo diz: Cada homem vê a Natureza à sua maneira. O que ele vê é apenas uma imagem. Todas as imagens devem ser ignoradas; o Adepto deve aspirar de todo coração à Ponta Polida. Este assunto não pode ser discutido em linguagem vulgar; o rei tem que falar dos assuntos da realeza de uma maneira soberana.
3. Pois as cores são muitas, mas a luz é uma.
4. Portanto tu escreves aquilo que é de esmeralda-mãe, e de lápis-lazúli, e de turquesa, e de alexandrita.
5. Outro escreve as palavras de topázio, e de profundo ametista, e de safira cinza, e de profundo safira com um toque como que de sangue.
6. Portanto vós vos afligis por causa disto.
7. Não vos contenteis com a imagem.
8. Eu que sou a Imagem de uma Imagem digo isto.
9. Não discutais a imagem, dizendo Além! Além!
Sobe-se à Coroa pela lua e pelo Sol, e pela seta, e pelo Fundamento, e pelo escuro lar das estrelas partindo da terra negra.
10. Não de outra forma podeis vós atingir a Ponta Polida.
11. Nem está bem que o sapateiro tagarele do assunto Real. Ó sapateiro! conserta-me este sapato, para que eu possa andar. Ó rei! Se eu for teu filho, falemos da Embaixada ao Rei teu Irmão.
12. Então houve silêncio. A fala nos deixará por algum tempo.
Existe uma luz tão estrênua que não é percebida como luz.
12. Silêncio. O Adepto registra as suas impressões. O grau máximo de qualquer tipo de energia sobrepassa o poder receptivo do observador. Parece então como se fosse energia de alguma outra ordem.
13. O acônito não é tão agudo quanto o aço; no entanto fere o corpo mais sutilmente.
13. Quanto mais sutil a forma de energia, tanto mais potente, mas menos fácil de observar.
14. Tal como beijos malignos corrompem o sangue, assim minhas palavras devoram o espírito do homem.
14. A verdade destrói a razão.
15. Eu respiro, e há infinito desassossego no espírito.
15. A vida perturba o comodismo com que a mente aceita símbolos sem vida como realidade.
16. como um ácido corrói o aço, como um câncer que corrompe por completo o corpo, assim sou Eu para o espírito do homem.
16. O Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião dá uma nova e mais alta forma de energia que destrói os tipos mais grosseiros de existência.
17. Eu não descansarei até que o tenha dissolvido todo.
17. O processo continua até ser completado.
18. Assim também a luz que é absorvida. Um absorve pouca, e é chamado branco e reluzente; um absorve toda e é chamado negro.
18. Fenômenos resultado de resistência ao ‘amor’. A união perfeita é silenciosa.
19. Portanto, Ó meu querido, tu és negro.
19. V.V.V.V.V. tendo alcançado em perfeição o Grau de Adeptus Minus, parece maligno.
20. Ó meu lindo, Eu te tornei semelhante a um retinto escravo núbio, um menino de olhos tristes.
20. (Ele aparenta ser um escravo “do diabo”, e de sofrer sob uma maldição “divina” – Nota de M.)
21.Ó o cão! O imundo! eles gritam contra ti.
Porque tu és meu bem-amado.
21. (Os iniciados de graus inferiores temem e desprezam o Adeptus Minus – Nota de M.)
22. Felizes aqueles que te elogiam; pois eles te veem com Meus olhos.
22. Aqueles que compreendem todo este trabalho elogiam V.V.V.V.V.
23. Não em volta alta eles te elogiarão; mas na guarda noturna um se aproximará furtivamente e te dará o aperto secreto; outro em privado te coroará com uma coroa de violetas; um terceiro ousará grandemente, e beijará com lábios loucos os teus.
23 – 24. Eles o fazem de modos secretos.
24. Sim! a noite cobrirá tudo, a noite cobrirá tudo.
25. Tu Me procuraste longamente; tu correste tanto avante que Eu não pude te alcançar.
Ó tu querido tolo! De que amargura te coroaste os dias.
25. Perdurabo impediu seu próprio sucesso pela sua ânsia exagerada.
26. Agora Eu estou contigo; Eu jamais deixarei ser.
26 – 27. A união quando feita é permanente.
27. Pois Eu sou aquela macia, sinuosa, enroscada em volta tua, coração de ouro!
28. Minha cabeça, está adereçada com doze estrelas; Meu corpo é branco como leite das estrelas; brilha com o azul do abismo de estrelas invisível.
28. O Anjo está coroado com o Zodíaco. Seu corpo é o de Nuit.
29. Eu achei aquilo que não podia ser achado; Eu achei um vaso de mercúrio.
29. A estabilidade foi achada na base de uma mudança contínua.
30. Tu instruirás teu servo em seus caminhos, tu falarás muito com ele.
30. Parece uma injunção ao Sagrado Anjo Guardião para que se mantenha em contato constante com o Adepto.
31. (O escriba olha para cima e grita) Amem! Tu o disseste, Senhor Deus!
31. O Adepto aceita isto como uma promessa definida.
32. Adonai falou mais a V.V.V.V.V. e disse:
32 – 33. Proposta de encarar o mundo fenomênico de novo ponto de vista.
33. Deleitemo-nos na multidão dos homens!
Construamos deles um bote de madrepérola para nós, a fim de navegarmos no rio de Amrit!
34. Tu vês aquela pétala de amaranto soprada pelo vento das baixas, doces sobrancelhas de Hathor?
34 – 36. Dois pontos de vista, tal como o sorriso de uma moça é morte para muitas células de seu corpo.
35. (O Magister viu-a, e regozijou-se na beleza dela.) Escuta!
36. (De um certo mundo veio um lamento infinito.)
Aquela pétala caindo pareceu aos pequeninos uma onda para engolir seu continente.
37. Assim eles recriminarão teu servo, dizendo: Quem te encarregou de nos salvar?
37. Isto explica por que os homens ressentem o seu salvador. Eles interpretam seus atos como destrutivos.
38. Ele sofrerá muito.
38. Ele em sua mente humana se entristece com isto.
39. Todos eles não compreendem que tu e Eu estamos fazendo um bote de madrepérola. Nós desceremos o rio de Amrit até os bosques de teixos de Yama, onde podemos nos regozijar extremamente.
39 – 40. Mas a relação toda é ilusória. Na realidade, o Anjo e o Adepto estão simplesmente se preparando para partir juntos pela eternidade; o Trabalho do Adepto de redenção da Humanidade é apenas uma imagem vista enquanto ele prepara a sua madrepérola.
40. A alegria dos homens será o nosso brilho prateado, a tristeza deles será o nosso brilho azulado – tudo na madrepérola.
41. (O escriba se enraiveceu com isto. Ele disse:
Ó Adonai e meu mestre, eu tenho carregado o tinteiro e a pena sem salário, a fim de que eu pudesse buscar esse rio de Amrit, e navegar nele como um de vós. Isto eu exijo como paga, que eu partilhe do eco de vossos beijos.)
41. A mente humana exige que a aliviem da dor de ver a Natureza sob este aspecto, alegando que tem servido os Mestres com devoção sem egoísmo.
42. (E imediatamente lhe foi isto concedido.)
43. (Não; mas não com isto ele se contentou. Por um infinito rebaixamento em vergonha ele se esforçou. Então uma voz:)
43. A mente exige completo alívio.
44. Tu te esforças sempre; mesmo em te entregando tu te esforças por entregar-te – e vê! Tu não te entregas.
44 – 46: O método. Conhece tudo que é possível, torna-te indiferente a tudo. Isto feito, torna-te indiferente a tudo. Isto feito, torna-te perfeitamente passivo.
45. Vai aos lugares mais externos e submete todas as coisas.
46. Submete teu medo e teu desgosto. Então – entrega-te!
47. Houve uma virgem que andava a esmo no trigal, suspirando; então nasceu algo novo, um narciso, e nele ela.
47 – 48: Perséfone, a alma presa à terra. Trigo – sustento material; o resultado é sofrimento. Narciso – o instinto sexual florescendo como Beleza.
No instante em que a esquece o ‘trigo’ e deseja a flor, Hades vem e carrega com ela. Hades é o senhor do ‘Inferno’, isto é, a Alma escura, secreta, porém divina dentro de cada homem e mulher. O estupro portanto significa que o desejo da beleza acorda o subconsciente, o qual toma posse da Alma e a entroniza, permitindo-lhe voltar à terra (Conhecimento do mundo material) somente em certas ocasiões, para atender ao bem estar da humanidade.
48. No mesmo instante Hades se abateu sobre ela e possuiu-a e a levou.
49. (Então o escriba conheceu o narciso em seu coração; mas como não lhe subia aos lábios, ele envergonhou-se e se calou.)
49. Eu fui tomado por um impulso de adorar a Beleza, e senti vergonha da minha incapacidade de escrever na mesma hora um poema que fosse digno do tema.
50. Adonai falou uma vez ainda com V.V.V.V.V. e disse:
A terra está madura para a vindima; comamos de suas uvas, e embriaguemo-nos com elas.
50 – 58. Uma longa parábola em diálogo.
50. O Anjo convida o Adepto a regozijar-se em certos acontecimentos que estão a ponto de ocorrer na terra.
51. E V.V.V.V.V. respondeu e disse: Ó meu senhor, meu pombo, meu excelso, como parecerá esta palavra às crianças dos homens?
51. O Adepto duvida que sua doutrina venha a ser retamente compreendida pela humanidade.
52. E ele respondeu-lhe: Não qual podes ver.
É certo que cada letra desta cifra tem algum valor; mas quem determinará o valor? Pois varia sempre, de acordo com a sutileza d’Aquele que a fez.
52. O Anjo concorda; mas é ainda mais céptico que o Adepto, sugerindo que qualquer evento pode ser interpretado como significando qualquer coisa que a gente queira.
53. E Ele respondeu-lhe: Não tenho Eu a chave da cifra?
Eu estou vestido com o corpo de carne; Eu sou um com o Eterno e Onipotente Deus.
53. O Adepto protesta que é capaz de interpretar fenômenos corretamente; que existe uma relação particular que é verdadeira, e que todas as outras são falsas. Ele lembra ao Anjo que ele se percebe a Si Mesmo (como um Ente único sempre idêntico a Si Mesmo) tanto na mais baixa matéria quanto no mais elevado espírito.
54. Então disse Adonai: Tu tens a Cabeça do Falcão, e teu Falo é o Falo de Asar. Tu conheces o branco, e tu conheces o negro, e tu sabes que estes são um. Mas por que buscas tu o conhecimento da equivalência deles?
54. O Anjo pergunta por que alguém que possui a absoluta Visão, Senhorio e poder de subir (a Cabeça do Falcão), que possui energia criadora capaz de fertilizar a Natureza, sua mãe, irmã e esposa (o Falo de Asar), alguém que conhece os pares de opostos e o fato de sua identidade, se preocupa em calcular as equações que expressam as relações entre os ilusórios símbolos de diversidade.
55. E ele disse: Para que minha Obra possa ser correta.
55. O Adepto replica que ele precisa compreender as leis da ilusão para poder trabalhar no mundo de ilusão.
56. E Adonai disse: O segador forte e moreno varreu a sua ceifa, e regozijou-se. O homem sábio contou seus músculos, e ponderou, e não compreendeu, e ficou triste.
Sega tu, e regozija-te!
56. O Anjo replica que tais cálculos levam a gente a acreditar na realidade das ilusões, a atrapalhar-se com suas complexas falsidades, e finalmente, a abster-se de agir por medo de errar; quando na realidade não tem importância o que a gente faz, pois uma ilusão serve tanto quanto qualquer outra. O dever do Adepto é executar seu Trabalho viril e alegremente, sem ânsia de resultado ou medo de acidentes. Ele deve exercer por completo as suas faculdades; o livre e espontâneo funcionamento dessas faculdades é suficiente justificativa. Tornar-se cônscio da atividade de qualquer órgão é prova de que o órgão em questão não está funcionando bem.
57. Então o Adepto alegrou-se, e levantou seu braço.
Vede! um terremoto, e praga, e terror sobre a terra!
Uma queda daqueles que sentavam em lugares elevados; uma fome sobre a multidão!
57. O Adepto aceita o conselho e exerce seu poder. O aparente resultado de sua Obra é desastre.
58. E a uva caiu madura e rica em sua boca.
58. Mas a ideia toda do Adepto da sua relação de Redentor para com a humanidade é verificada ser uma fantasmagoria. A verdade é que ele “comeu uma uva”, isto é, começou a saborear o banquete que seu Anjo propôs no Verso 50 (Veja-se CCXX, I, 31).
59. Manchada está a púrpura da tua boca, Ó brilhante, com a glória branca dos lábios de Adonai.
59. Todo ato do Adepto é na realidade o beijo do seu Anjo.
60. A espuma da uva é como a tormenta sobre o mar; os navios tremem e sacodem-se; o capitão está com medo.
60. O êxtase da relação do Adepto com o seu Anjo dispersa pensamentos “normais”; o Ego receia perder controle da mente. Isto, naturalmente, ocorre em um plano menos real, o plano normal de consciência. O receio do Ego é justificado, pois este êxtase conduzirá a uma situação em que a aniquilação do Ego será decretada para que o Adepto possa cruzar o Abismo e tornar-se um Mestre do Tempo. Lembre-se de que o Ego não é realmente o centro e coroa do indivíduo; de fato, a dificuldade toda parte do falso conceito que o Ego tem de sua importância.
61. Isso é a tua embriagues, Ó santo, e os ventos rodopiam a alma do escriba para dentro do porto feliz.
61. O êxtase do Conhecimento e da Conversação do Sagrado Anjo Guardião traz paz à “alma do escriba” (sua mente consciente) pelo processo de imprimir uma tal energia aos seus pensamentos que o conflito normal entre eles (que causa a dor) torna-se insignificante, tal como os antagonismos pessoais de um regimento de cavalaria são esquecidos no ardor de uma carga.
62. Ó Senhor Deus! que o porto caia na fúria da tormenta! Que a espuma da uva tinja minha alma com Tua luz!
62. Mas a mente, sabendo que as velhas brigas recomeçarão assim que passe o êxtase, pede que esta anestesia seja removida. A mente aspira a entrar no êxtase com todos os elementos do seu ser, não importa com que dor. A mente sabe que não pode estar realmente contente até que cada fibra individual vibre harmoniosamente naquele supremo encanto.
63. Bacchus envelheceu, e foi Silenus; Pan sempre foi Pan, para sempre e sempre mais, através dos aeons.
63. A mente sabe que os tipos mais baixos de embriagues eram apenas excitações, as quais terminam em estupor e senilidade. A mente exige a loucura de Pan, a ereção de cada partícula de seu ser em um só símbolo que inclua Tudo. Este símbolo deverá combinar a inteligência (onisciência) do Homem com a onipotência tipificada por chifres, e a raptura criadora do Bode pulando. Este Pan não está embriagado, mas completamente louco, estando além da discriminação (Conhecimento) porque inclui tudo em si mesmo; igualmente, ele é imune aos assaltos do tempo, uma vez que tudo que acontece só pode acontecer dentro dele; isto é, todos os acontecimentos são igualmente o exercício das funções dele, e portanto são acompanhados por êxtase, já que Ele incluía todas as possibilidades em Sua unidade, de forma que toda mudança é parte da sua vida, um ato de amor sob vontade.
64. Intoxica o mais íntimo, Ó meu amante, não o mais externo.
64. Presumivelmente isto é uma vez mais a voz do Anjo. Ele aconselha o Adepto a prestar menos atenção no futuro à transmutação de impressões grosseiras em rapturas de união. A obra maior é fazer com que a mente Inconsciente se interpenetre com o Anjo. Pois este é o Sacramento definitivo. O Adepto corre perigo de se contentar com a alegria consciente de fazer com que justamente esses pensamentos que têm sempre sido causa de erro brilhem com esplendor e pureza ao toque do Anjo. Mas é muito mais importante renunciar a estas recompensas, se bem que elas sejam inefavelmente santas e deliciosas, a lançar-se ao trabalho de aperfeiçoar o Ente mais íntimo, purificá-lo de personalidade e uni-lo ao Universo, ainda que esta Consecução seja demasiado profunda para ser experimentada diretamente na mente consciente.
65. Assim foi – sempre o mesmo! Eu mirei à baqueta pelada de meu Deus, e eu atingi; sim, eu atingi.
65. Em um código secreto o Adepto afirma que ele é (por assim dizer) do mesmo sexo que o seu Anjo. Não se trata aqui da união de opostos para produzir um tertium quid, mas uma realização de identidade, como o retorno à consciência após delírio, cujo êxtase não produz fruto envolvendo novas responsabilidades, novas possibilidades de sofrimento; é completamente autossuficiente, sem passado nem futuro. A ‘baqueta pelada’ é a Energia criadora do Anjo, despojada de todos os véus, apontando ao Zênite, pronta e impetuosa por agir. O Adepto exclama com alegria que ele aspirou a unir-se a esta ideia, e foi bem-sucedido.
. . . . . . . . . . .
Assim conclui a descrição das relações do Adepto com seu anjo no que concerne ao elemento Terra, o aspecto concreto e manifesto da Natureza. A ilusão foi completamente destruída; o pão tornou-se o corpo de Deus. No entanto, esta é apenas a forma mais baixa de existência; no capítulo seguinte compreenderemos como a mente – qual distinguida do assunto dos pensamentos – é concentrada e santificada pela Magia do Adepto.
CAPÍTULO II
O primeiro capítulo descreve o efeito produzido pelo Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião sobre a aparência das coisas e as sensações que essa aparência causa. É a transmutação do elemento Terra e da parte da alma que lhe corresponde, o Nephesch. Agora trata-se do elemento Ar, as faculdades da alma chamadas Ruach, isto é, a mente considerada como um instrumento de apreensão intelectual, uma máquina apropriada para a análise de impressões e interpenetrações destas em termos do pensamento consciente. O Trabalho de obtenção do Conhecimento e da Conversação do Sagrado Anjo Guardião estando localizado em Tiphereth, o centro do Ruach, o resultado do sucesso é a harmonização, concentração e glorificação da mistura de ideias soltas e desconexas que são sugeridas pela multiplicidade sem significação das concepções mentais.
1. Eu entrei na montanha lápis-lazúli, mesmo como um falcão verde entre os pilares de turquesa que está sentado sobre o trono do Oriente.
1. Descreve a passagem da Consciência Divina (o Falcão) colorida por amor (verde) para dentro do mundo do espaço estelar (lápis-lazúli, pedra que é azul com pontos de ouro), seguindo um curso equilibrado desde a terra até o céu (os pilares de turquesa). O Oriente é o canto atribuído ao Ar, e o Falcão está ali sentado – isto é, estabilizado, não sendo distraído por quaisquer pensamentos que surgem na mente.
2. Assim cheguei a Duant, a habitação das estrelas, e ouvi vozes que gritavam alto.
2. Estando agora aberta ao Universo inteiro, a Alma escuta o que quer que seja dito. (Ar é o veículo do som.)
3. Ó Tu que sentas sobre a Terra! (Assim me falou uma certa Figura Velada) tu não és maior que tua mãe! Tu grão de pó infinitésimo!
Tu és o Senhor da Glória, e o cão imundo.
3. Uma “Figura Velada” (Isis) explica que nenhuma consciência individual pode ser mais que a esfera de que nasce e que constitui o seu ambiente. É igualmente suprema e vil, estas qualidades sendo ilusões produzidas de relações artificiais, as quais podem ser escolhidas à vontade.
4. Descendo, mergulhando minhas asas, eu cheguei às habitações de escuro esplendor. Lá, naquele abismo informe, fui eu feito um comungante dos Mistérios Invertidos.
4. A Divindade, para se realizar a si própria, deve voluntariamente submeter-se à experiência de imperfeição. Deve tomar o Sacramento que a une ao escuro glamour do ‘Mal’, a contraparte do qual exalta o ‘Pecador’ à Divindade.
5. Eu sofri o abraço mortal da Cobra e do Bode; eu prestei a homenagem infernal à vergonha de Khem.
5. Ela aceita a fórmula de: a) Dualidade, isto é, a vida de vibração; (a1) Morte; (a2) a ilusão do Conhecimento. b) Exílio, (b1) a Fome de Ardor; (b2) Trabalho. Ela aquiesce à vergonha de ser um Deus oculto em forma animal.
6. Nisto havia esta Virtude, que o Um tornou-se o todo.
6. O objetivo deste ato é realizar as possibilidades da nossa unidade através da representação de sua integridade como um número infinito de casos particulares, tal como alguém poderia tentar obter uma ideia do significado da palavra ‘poesia’ pelo estudo de todos os poemas existentes. Nenhum poema por si só poderia ser mais que uma ilustração imperfeita da ideia abstrata de ‘poesia’; no entanto, somente através dessas imagens concretas se pode alcançar alguma compreensão do que a palavra significa.
7. Além disto, eu tive a visão de um rio. Nele havia um botezinho; e neste, sob velas de púrpura, estava uma mulher dourada, uma imagem de Asi lavrada do ouro mais fino. Também, o rio era de sangue, e o bote de aço brilhante. Então eu a amei; e, desatando meu cinturão, atirei-me à correnteza.
7 -16. O rio é a corrente de pensamento. O bote é o consciente. As velas de púrpura são as paixões que dirigem o curso do consciente, e a mulher é o ideal puro que procuramos fazer o ocupante constante e o guia de nossa vida consciente. Esta ‘mulher’, se bem que feita de ouro, é apenas uma imagem sem vida. O rio é de sangue; isto é, a corrente dos pensamentos deve ser identificada com o objeto de nossa vida, não ser o mero campo de reflexão de toda impressão casual.
O bote é de aço; isto é, a consciência deve ser capaz de resistir à intrusão de todo pensamento indesejado. Amando este ideal, o Aspirante se livra de tudo que o prende (vergonha, egoísmo, etc. – ‘desatando o cinturão’) e perde seu ego na corrente dos pensamentos (‘atirei-me à correnteza’).
8. Eu recolhi-me ao botezinho, e durante muitos dias e noites eu a amei, queimando lindo incenso diante dela.
8. Ele se identifica com o consciente puro, imune ao curso do Pensamento, no entanto flutuando nesse curso, e se devota a este Ideal, com fervor poético e religioso.
9. Sim! Eu lhe dei da flor da minha juventude.
9. Ele consagra a sua energia criadora ao Ideal.
10. Mas ela não se moveu; apenas, pelos meus beijos eu a conspurquei tanto que ela enegreceu perante mim.
10. Este processo destrói a beleza superficial do Ideal. Sua pureza é corrompida pelo contato da mortalidade.
11. Entretanto eu a adorei, e dei-lhe da flor da minha juventude.
11. A despeito do seu desapontamento, o Aspirante persiste em ‘amor sob vontade’. Ele se dá completamente à Verdade, mesmo agora quando ela parece tão escura e medonha.
12. Também aconteceu que através disto ela adoeceu, e corrompeu-se diante de mim. Quase me atirei à correnteza.
12. O Ideal agora se decompõe em formas repulsivas, não mais reconhecíveis como o objeto de amor dele. O Aspirante é tentado a abandoná-la, e a buscar refúgio do Consciente afogando-se nesses pensamentos que o rodeiam, e que continuamente tentam a atenção dele.
13. Então, no fim marcado, seu corpo era mais branco que o leite das estrelas, e sua boca rubra e quente como o ocaso, e sua vida de um branco em brasa como o calor do sol do meio-dia.
13. Esse desespero subitamente se desfaz. Seu ideal aparece em sua verdadeira forma, uma mulher vivente em vez de uma imagem de ouro inanimada. A substância dela é agora mais pura que a luz das estrelas; seus lábios – o instrumento da sua fala e das suas carícias – são cheios de vida e de calor como o acaso – isto é, eles prometem repouso, amor e Beleza (Hathor, deusa do Oeste). Ela está viva com a pura energia do centro do sistema ao qual o Aspirante pertence: isto é, ela é a realização da ideia criadora de que até agora ele havia sido apenas uma parte.
14. Então ela se ergueu do abismo de Idades de Sono, e eu seu corpo me abraçou. Eu me derreti por completo em sua beleza, e alegrei-me.
14. A escuridão do passado desaparece quando seu Ideal possui o Aspirante; e seu Ego se dissolve no êxtase de união com ela; ele se torna a essência de toda Alegria.
15. Também o rio tornou-se o rio de Amrit, e o botezinho era a carruagem da carne, e suas velas o sangue do coração que me carrega, que me carrega.
15. Agora então mesmo os pensamentos do Aspirante se tornam imortais; sua consciência é compreendida como o veículo da sua vida física – em vez de vice-versa, como supõem os profanos. Suas paixões já não são sintomas de descontentamento, mas idênticas com a vida individual dele. Assim, não há conflito com a Natureza. A Vontade é ela mesmo o Ente.
16. Ó mulher serpente das estrelas! Eu, mesmo eu, Te fiz de uma pálida imagem de ouro fino.
16. Minha concepção pessoal de Nuit é o resultado da Operação de Magia que eu executei para dar vida ao ideal que originalmente eu tinha em meu coração, adorei, e resolvi realizar. A passagem inteira descreve a maneira de se lidar com qualquer ideia de forma a realizá-la em perfeição.
17. Também o Santo veio sobre mim, e eu vi um cisne branco flutuando no azul.
17. O cisne é a Consciência extática do Adepto. Está pousado no espaço infinito, suportado pelo Ar – i.e., o campo de propagação do pensamento.
18. Entre suas asas eu me sentei, e os aeons fugiram.
18. No êxtase, o tempo não conta.
19. Então o cisne voou, e mergulhou, e subiu; no entanto não fomos alhures.
19. O Êxtase move-se de uma sublimidade de Dita a outra; mas não há progresso possível para a perfeição, portanto não existe fito a ser alcançado em tais movimentos.
20. Um meninote louco que montava comigo falou ao cisne e disse:
20. O meninote é a razão humana, que exige mensuração como condição primária de consciência inteligível. Sabendo que o tempo está passando, ele não pode compreender por que este movimento todo não acercou o cisne de algum ponto fixo, ou por que a relação entre o ponto de partida e a presente posição do cisne não é um constante motivo de ansiedade para este. O meninote não pode compreender movimento sem referência a coordenadas fixas.
21. Quem és tu que flutuas e voas e mergulhas e sobes no inano? Vê, todos estes aeons passaram; de onde vens tu? Aonde vais?
22. E rindo eu lhe ralhei, dizendo: Não há de onde! Não há aonde!
22. Eu replico que, apreendendo o contínuo (Nuit) como tal, não existem “Marcas-no-Espaço”.
23. O cisne não falando, ele respondeu: Então, se não há fito, para quê esta jornada eterna?
23. O cisne, naturalmente, permanece em silêncio: o Êxtase transcende expressão. A razão pergunta o motivo de movimento sem destino.
24. E eu reclinei minha cabeça contra a Cabeça do Cisne, e ri-me, dizendo: Não há alegria inefável neste voo sem fito? Não há cansaço e impaciência para quem quereria alcançar algum alvo?
24. O Adepto, aproximando seu pensamento ainda mais do Êxtase, ri, tanto de pura alegria quanto porque acha graça na absurda incongruidade de argumentos “razoáveis” dos quais ele está agora livre para sempre; e expressa a sua ideia assim: O livre exercício de nossas faculdades é pura alegria; se eu sentisse necessidade de alcançar algum objetivo, isto resultaria na dor do desejo, na tensão do esforço, e no medo de fracasso.
25. E o cisne permaneceu silente. Ah! Mas nós flutuamos no infinito Abismo. Alegria! Alegria!
Cisne branco, sustenta-me sempre entre as tuas asas!
25. O êxtase permanece imperturbado. Mas o diálogo fez com que o Adepto refletisse mais profundamente sobre a sua dita, de forma que o Êxtase se torna imóvel, percebendo sua perfeita relação com a Infinidade do contínuo. O Adepto requer que o êxtase seja constante.
26. Ó silêncio! Ó raptura! Ó fim das coisas visíveis e invisíveis! Tudo isto é meu, que Não sou.
26. Silêncio dá termo à imperfeição implícita na linguagem humana – todas as palavras sendo evidência de dualidade, uma quebra na Perfeição. Raptura: fim do conflito, entre quaisquer duas coisas: elas são dissolvidas por Amor; e perdendo o senso do Ego que causa a dor do sentimento de sua separação do Todo, sua imperfeição, a dissolução do esforço é expressada como raptura. ‘Ó fim das coisas visíveis e invisíveis.’ Isto não só significa que todas as coisas – sendo imperfeitas – são destruídas, mas que este é o verdadeiro fim – τέλος – das coisas – sua perfeição. ‘Tudo isto é meu, que Não sou.’ O Adepto é agora proprietário de todas as coisas, tendo chegado ao estado chamado ‘Não’ que contém todas elas, e do qual elas são somente imagens. Enquanto ele era um Ego positivo, ele era uma delas, e oposto a elas; elas não lhe pertenciam. Para fazê-las suas, ele deve tornar-se o contínuo em que todas as coisas existem potencialmente como membros de qualquer série que seja selecionada para ilustrar quaisquer propriedades desejadas da sua Natureza.
27. Deus Radiante! Deixa que eu faça uma imagem de ouro e gemas para Ti! para que o povo possa derrubá-la e espezinhá-la em pó! Para que a Tua glória seja vista deles.
27. O Adepto é movido a manifestar sob a forma de poesia a Divindade que ele viu. Ele prevê que o vulgo se enfurecerá, desprezará seus livros e os calcará aos pés; mas assim fazendo, pelo ato mesmo os olhos deles se abrirão à glória do Deus. Isto pode significar que o meu Trabalho pode vir a renovar o verdadeiro fervor religioso nesses que perderam toda a visão e toda a fé; sua fúria contra mim os levará a perceber que no fundo dos seus corações está o instinto de que eles são entes espirituais.
28. Nem será dito nos mercados que eu cheguei quem deveria vir; mas Tua vinda será a palavra única.
28. Meu trabalho religioso não resultará em seu ser reconhecido como o Redentor; mas os homens admitirão que o Espírito do Deus Solar Horus soprou sobre eles, e infundiu-lhes o barro com vida.
29. Tu Te manifestarás no imanifesto; nos lugares secretos os homens te encontrarão, e Tu os conquistarás.
29. Horus será reconhecido como a explicação de todas essas energias do Universo que nós sabemos devem existir, se bem que os nossos sentidos não podem percebê-las. Os homens perceberão Horus ao explorarem os mistérios da Natureza, como o Inconsciente no Homem, ou a estrutura do Átomo. Ele os compelirá a admitir que Ele é o Ultimal princípio atrás de todas as manifestações, contrariando as velhas teorias deles. (O exato significado de ‘Horus’ nesta passagem deve ser extraído de CCXX, Capítulo III.)
30. Eu vi um jovem pálido e triste deitado sobre o mármore à luz do sol, chorando. A seu lado estava o alaúde esquecido. Ah! mas ele chorava.
30 – 36. O jovem é Ganimedes, a águia a ave de Júpiter. Aqui, Ganimedes simboliza o Adepto.
30. Ele é pálido, tendo dado o seu sangue ao seu Trabalho. Ele é triste, tendo compreendido a Dor do Universo (Seu próprio Trabalho o levou a esta compreensão). Ele está deitado, como que cansado e duvidando se vale a pena trabalhar. Ele está sobre o mármore; isto é, os duros, nus fatos da existência, apesar de todo polimento, machucam-lhe a carne.
Ele está à luz do sol: ele vê mais que claramente a Natureza. Seu Anjo brilha sobre ele, mas de uma altura inacessível. Ele chora: ele, cujo dever é verter vinho para os Deuses, pode apenas derramar água salgada sobre o solo nu. Ele pôs de lado e até esqueceu seu alaúde. Ele não pode fazer música; ele até perdeu a memória de que era capaz de fazê-lo antigamente.
31. Então veio uma águia do abismo de glória e cobriu-o com sua sombra. Tão negra era a sombra que ele ficou invisível.
31. A Águia simboliza a influência do Pai dos Deuses, também a mais alta forma de Vida Mágica, e o Governo do Ar, isto é, o poder de comandar o mundo dos pensamentos. Isto o cobre de maneira a esconder a personalidade dele.
32. Mas eu ouvi o alaúde tocando vivamente através do ar azul e quieto.
32. Assim inspirado, ele retoma alegremente a sua música; o Ar mesmo torna-se quieto, isto é nenhum pensamento o perturba; e é azul, estando cheio dos espíritos de santidade, amor e pureza.
33. Ah! Mensageiro do Bem-Amado, cobre-me com a Tua sombra!
33. O Adepto invoca a Palavra de seu Anjo para silenciar todo os pensamentos pessoais.
34. Teu nome é Morte, talvez; ou Vergonha, ou Amor.
Contanto que tragas novas do Bem-Amado, não perguntarei teu nome.
34. Ele aceitará isto em qualquer forma em que apareça; se a Morte mesma for necessária para acabar com a amolação do Ego, ou a Vergonha para mortificá-lo e impedir que se pavoneie, ou o Amor para destruir as suas ambições, ainda assim o Adepto aceitará o mensageiro.
35. Onde está agora o Mestre? gritam os loucos meninotes.
Ele está morto! Ele está envergonhado! Ele está cansado! E sua zombaria dará volta ao mundo.
35. Seus preconceitos ‘racionais’ presumivelmente perguntarão em tal caso: “Que aconteceu com as tuas ambições mágicas? Tu não és o Mestre que querias ser; tu és apenas o escravo desse teu Anjo – o que quer que a palavra signifique. Tua personalidade está sufocada, tuas ambições estão esmagadas, tua ocupação única é ecoar as palavras desse ‘Anjo’, as quais você nem sequer aprova.
‘Tu destruíste teu Ser, tu mereceste inventivas dos teus amigos; tu abandonaste tua carreira e te ataste aos caprichos de uma mulher.’”
36. Mas o Mestre terá tido a sua recompensa.
O riso dos zombadores será um corrupio no cabelo do Bem-Amado.
36. O Adepto admite que seu corpo e mente, abandonados à sua sorte, sofreram esses desastres. Mas a intimidade com seu Anjo, para adquirir a qual ele deliberadamente abandonou todo cuidado com seus assuntos pessoais, justifica a sua conduta; e as recriminações de suas ideias intelectuais não são por ele percebidas como tais: elas são para ele um movimento do cabelo do Bem-Amado (energias radiantes da Individualidade do Anjo); isto é, elas chamam sua atenção para uma das Glórias d’Aquele.
37. Vê! O Abismo da Grande Profundeza.
Ali está um pujante golfinho, fustigando seus lados com a força das ondas.
37 – 44. Esta passagem é uma parábola com diversas aplicações.
1. Descreve a maneira de adquirir Concentração pelo método das ‘Escadas’ (Ver Liber Aleph).
2. Indica como lidar com gente que desejamos iniciar.
3. Dá um método para se passar de um estado mental a outro à vontade.
A ideia básica em cada caso é que devemos aplicar o remédio apropriada a qualquer doença que possa existir; não algum remédio idealmente perfeito. A matéria prima deve ser passada gradativamente através de cada fase do processo; é inútil tentar obter dela a Tintura Perfeita através da execução imediata da Projeção Final.
4. Descreve o curso inteiro do Caminho Iniciático.
Estes quatro significados necessitam uma explicação detalhada, verso por verso.
37. O Abismo é a Mente; o Golfinho é o Consciente Desassossegado.
(2) 37. Os homens são governados pelo orgulho e outras paixões.
(3) 37. O golfinho significa qualquer estado mental que seja inquieto, descontente e incapaz de escapar às suas circunstâncias.
37 (4). O golfinho é o profano.
38. Ali está também uma harpista de ouro, tocando infinitas melodias.
38 – 39. Percebendo o seu mau estado, e deleitando-se nos prospectos que a iniciação oferece, ele renuncia a tudo e se torna um Aspirante puro.
38. O harpista é o instrutor cujo elogio do Caminho Iniciático induz o profano a procurar a Iniciação; ele é o Guru que aquieta a mente fazendo-a escutar sons harmoniosos, em vez de torturar-se pensando em suas dores e suas paixões. Estes sons harmoniosos são produzidos através de meios mecânicos; isto refere-se a práticas como Asana, etc.
(2) 38. Eles são mais eficientemente impressionados pelo elogia da beleza, mostrada em suas mais brilhantes vestes.
(3) 38. Cura isto refletindo que esta é a matéria prima da Beleza, tal como o caráter de Macbeth, o infortúnio do Timom, etc., deram a Shakespeare sua chance. Faz com que teu próprio problema sirva ao tema de tua vida como um sublime drama.
39. Então o golfinho deleitou-se nelas, e deixou seu corpo, e se tornou uma ave.
39 – 40. Quando tiverem sido ensinados a aspirar, e tiverem sido limpados dos apetites mais grosseiros, ensina-lhes as sete ciências.
39. Libertado de sua grosseria e violência, o Consciente aspira a ideais elevados. É, no entanto, incapaz de manter silêncio e tem pouca inteligência. É treinado escutando a harmonia da vida – alento inspirando junco, em vez de músculo agitando metal. Isto refere-se a Pranayama, mas também à apreensão de que a inspiração em si é apenas um movimento superficial; o Consciente deve aprender a arte de usar todo e qualquer alento para produzir harmonia.
(2) 39. Desta forma, teu pensamento se tornará lírico; mas isto não será suficiente para satisfazer tua necessidade. Tu sentirás a natureza transitória de um tal pensamento.
40. O harpista também pôs de lado sua harpa, e tocou melodias infinitas na Flauta de Pan.
40. O Consciente agora adquire complecção divina e humana. O Fauno simboliza a aspiração firme, o poder criador e a inteligência humana. As asas do anseio idealístico são depostas; o pensamento aceita o fato de sua verdadeira natureza e aspira apenas a perfeições possíveis.
Agora ele ouve a harmonia do Universo expressada através da voz humana; isto é, sob uma forma articulada e inteligível, de maneira que cada vibração, além de deleitar os sentidos, apela à alma. Isto representa o estágio da concentração em que, estando fixo em meditação sobre algum assunto, o praticante penetra o aspecto superficial desse e tenta atingir-lhe a realidade, o verdadeiro significado de sua relação com o observador.
(2) 40. Transforma-o apreciando-o como um fato de intrínseca importância na estrutura do Universo.
(3) 40. Ele aprende que o Adepto não é uma perfeição daquilo que ele sente ser a parte mais nobre dele mesmo, mas um Microcosmo. (Nota de M.: Esta é uma das diferenças fundamentais entre o verdadeiro Adepto e um Irmão Negro).
41. Então a ave desejou muito esta alegria, e depondo suas asas, tornou-se um fauno na floresta.
41 – 42. Tendo-os instruído até eles estarem realmente prontos, por estarem completos, para a real iniciação, dize-lhes Verdades.
41. A exaltação lírica dará lugar a uma realização profunda de ti mesmo, e de tudo que te concerne, como um Habitante da Natureza, contendo em tua consciência os elementos do Bestial e do Divino, ambos igualmente necessários à Complecção do Universo. Teu desconforto mental do início agora te parecerá agradável, uma vez que sem aquela experiência tu serias eternamente mais pobre.
(2) 41. Ele completa a formação de si mesmo como uma imagem do Todo.
42. O harpista também depôs sua flauta de Pan, e com a voz humana cantou suas melodias infinitas.
42 – 43. Ele então compreende todas as coisas, e finalmente se torna o Todo.
42. Agora interpreta aquela experiência como ‘um trato particular de Deus com tua alma’. Descobre uma explicação articulada para ela; compele a experiência a fornecer uma mensagem inteligível.
43. Então o fauno encantou-se, e foi-lhe atrás muito longe; por fim o harpista calou-se, e o fauno virou Pan no meio da primal floresta da Eternidade.
43. O estágio final é alcançado. Todos os positivos possíveis são percebidos como desvios do Negativo, e portanto como erros. Há Silêncio. Então o fauno se torna o Todo. Foi-se a floresta limitada das ideias secundarias em que no passado ele habitou, e que ele abandonou para seguir a Palavra que o encantou. Ele está agora no Mundo de Ideias cuja natureza é simples (primal) e que não são determinadas por condições tais como o Tempo.
(Uma árvore é uma ideia, sendo fálica e tendo ramos.)
(2) 43. Uma vez eles estejam no Caminho, cala-te; eles chegarão à Consecução naturalmente.
(3) 43. Continua este fio de pensamento até entrares em Raptura, causada pelo reconhecimento do fato que tu – e tudo mais – são expressões estáticas de um sublime Orgasmo Espiritual, elementos de uma Eucarística oniforme. A Verdade, não importa quão esplêndida, perderá agora todo significado para ti. Ela pertence a um mundo onde descriminação entre sujeito e predicado é possível, o que implica imperfeição; e tu te elevaste acima desse plano. Tu assim te tornas Pan, o Todo; Não mais uma parte. Tu vibras com a alegria do ardor de criação, tornada uma deusa virgem por amor a ti. Também, tu estás louco, a razão sendo o estado que conserva as coisas em proporções definidas umas com as outras, enquanto que tu as dissolveste todas em teu próprio ser, em êxtase incomensurável.
44. Tu não podes encantar o golfinho com silêncio, Ó meu profeta!
44. Moral: Pratica Yoga Elementar até tua técnica ser perfeita; não tentes atingir Nibbana até saberes como.
(2) 44. Muitas são as virtudes do Silêncio; mas quem jurou auxiliar aos homens tem que ensinar-lhes o Próximo Passo.
(3) 44. Não tentes curar ataques de melancolia através de ideais elevados; eles parecerão absurdos, e tu apenas aumentarás teu desespero.
(4) 44. O profano não consegue imaginar qual a intenção dos Mestres quando estes trabalham com os que lhes estão mais próximos.
45. Então o adepto foi arrebatado em dita, e o além da dita, e excedeu o excesso do excesso.
45 – 49. Esta passagem descreve a reação do Adepto ao estado de Êxtase. O ponto é, que toda tentativa de descrição é fútil.
45. Frases extravagantes tentam registrar o Evento.
46. Também seu corpo tremeu e cambaleou com a carga daquela dita, e daquele excesso, e daquele ultimal inominável.
46. O corpo físico, seus nervos (ao tentarem reagir simpaticamente à experiência) sendo carregados além de sua capacidade, é atingido.
47. Eles gritaram Ele está ébrio ou Ele está louco ou Ele sente dor ou Ele está a ponto de morte; e ele não os ouviu.
47. O observador (outros, ou a própria mente racional dele) não compreende o que se passa.
48. Ó meu Senhor, meu bem-amado! Como hei de compor cantos, quanto até a memória da sombra da tua glória é uma coisa além de toda música da fala ou do silêncio?
48. Tudo isto é inexprimível.
49. Vê! eu sou um homem. Mesmo uma criancinha poderia não Te suportar. E então!
49. Mesmo a inocência de uma criança não poderia suportar o impacto do Anjo. Um homem, tendo ideais fixas da verdade, sofre um terrível abalo quando elas são todas despedaçadas, tal como acontece nesta experiência.
50. Eu estava só num grande parque, e junto a um certo outeiro estava um anel de relva profunda esmaltada onde uns vestidos de verde, lindíssimos, brincavam.
50 – 52. O parque é o mundo das ideias bem plantadas e bem cultivadas, tais como o literato e o letrado usufruem. Aqui eu encontrei um lugar onde eu podia exaltar minha consciência (o outeiro). Perto estavam um anel de relva (minha poesia) em que brincavam fadas (meus personagens, minhas frases, seu ritmo, etc.)
51. Em seu brinquedo eu cheguei até mesmo à terra do Sono Encantando.
Todos os meus pensamentos estavam vestidos de verde; lindíssimos eram eles.
51. Brincando assim, eu cheguei a um estado de êxtase poético (Sono Encantado). Ai eu me senti feliz.
52. A noite inteira eles dançaram e cantaram; mas Tu és a manhã, Ó meu querido, minha serpente que Te enroscas em redor deste coração.
52. Mas isto tudo aconteceu durante a noite; seu mais elevado êxtase poético é como escuridão comparado à luz do Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião.
53. Eu sou o coração, e Tu a serpente. Aperta mais teus anéis em volta minha, para que nem luz nem dita possam penetrar.
53. Eu sou o senso feminino que aceita os abraços do masculino S.A.G. Eu requero contato mais íntimo: mesmo a luz e a dita da Raptura me distraem da União com Ele.
54. Arrebenta-me em sangue, como uma uva sobre a língua de uma branca jovem Dórica que enlanguesce ao luar com seu amante.
54. Sua presença não deve me deixar nenhuma luz própria.
55. Então que o Fim desperte. Longo tempo tu dormiste, Ó grande Deus Terminus! Longamente tu esperaste no fim da cidade e das estradas destas.
Acorda Tu! Não esperes mais!
55. O Fim significa “O Verdadeiro Ser”. Terminus é a Pedra Fálica que jaz além da mente (cidade) e seus pensamentos (estradas). Através desta União com o Anjo eu espero chegar ao Verdadeiro Ser, o eterno, fixo indivíduo criador.
56. Não, Senhor! mas eu cheguei a Ti. Sou eu que espero enfim.
56. Tendo conseguido o Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião (por um esforço, por assim dizer, masculino) o Adepto torna-se receptivo, feminino, paciente, entregando sua vontade por completo àquela do seu Anjo.
57. O profeta gritou contra a montanha: vem tu aqui, para que eu possa falar-te!
57 – 60. É igualmente inútil chamar o que a gente deseja ou sair à sua procura. Isto apenas afirma a ausência da coisa desejada, e a verdade é que está com a gente o tempo todo, se apenas extinguimos a nossa inquietação.
58. A montanha não se moveu. Portanto foi o profeta até à montanha, e falou-lhe. Mas os pés do profeta ficaram cansados, e a montanha não lhe ouviu a voz.
59. Mas eu clamei alto por Ti, e eu viajei em busca Tua, e de nada me valeu.
60. Eu esperei com paciência, e Tu estavas comigo desde o início.
61. Isto agora eu sei, Ó meu amado, e nós estamos deitados à vontade entre os vinhais.
61. Isso feito, acabou-se o esforço; temos apenas que usufruir.
62. Mas estes teus profetas; eles devem gritar alto e fustigar-se; eles devem cruzar desertos virgens e oceanos insondados; esperar por Ti é o fim, não o princípio.
62. Porém, tal como as coisas são, nós somos constituídos de maneira a ser incapazes de tal simplicidade. Temos que passar por muito para aprendermos a esperar!
63. Que escuridão cubra a escrita! Que o escriba se vá em seus caminhos.
63. O consciente do escriba, até agora requerido para que ele pudesse registrar as palavras daquela parte de seu Ser que nós chamamos ‘o Adepto’ e as palavras do seu Anjo, é agora dispensada para que cuide dos seus afãs normais.
64. Mas tu e Eu estamos deixados à vontade entre os vinhais; o que é ele?
64. O Adepto e seu Anjo permanecem no repouso do Êxtase: eles não deixam de existir quando o escriba não mais os percebes. Pelo contrário, ele lhes parece bastante irreal.
65. Ó Tu Bem-Amado! não existe um fim? Não, mas existe um fim. Acorda! levanta-te! cinge teus membros, Ó tu corredor; leva a Palavra às cidades pujantes, sim, às cidades pujantes.
65. União com o seu Anjo não é o único fito do Adepto. Existe um ‘fim’, um Propósito próprio à sua individualidade. Portanto o Anjo ordena-lhe que se retire dos Trances da União. Ele deve assumir a forma de Hermes (corredor – o portador da Palavra) e entregar a Palavra que lhe foi confiada às ‘cidades pujantes’. Isto pode significar ‘às maiores mentes do mundo’.
CAPÍTULO III
Este capítulo é atribuído à Água; trata dos reflexos preliminares da verdade qual apreendida pela intuição, antes de qualquer apreensão intelectual; e da natureza da Compreensão e do instinto sexual.
1. Em verdade e Amém! Eu passei pelo mar profundo, e pelos rios de água corrente que ali abundam, e eu cheguei à Terra Sem Desejo.
1 – 2. O mar é o Sensório da Alma, e as correntes suas tendências – essas atividades em que ela se compraz. Até que tenhamos passado pela totalidade de experiências possíveis (qual adivinhadas pela estimativa das atualidades disponíveis em nosso caso particular), a gente não pode alcançar o estado em que todo Desejo é reconhecido como fútil. Somente quando isto está fixado podemos perceber o Unicórnio – Μονοκερως – de Astris – o único, puro (é branco) Propósito cujo nome é escrito da maneira a ser explicada.
A coleira representa complecção – a ‘infinidade’ ou ‘eternidade’ simbolizada por um anel. Está em volta do pescoço, i.e., o lugar do Conhecimento (Daath – o Vishuddi cakkra) e feito de prata, o metal da Virgem Isis-Urânia, a qual anima Aspirações puras.
O nome do Unicórnio (cujo chifre significa o poder criador) é ‘A Linha Verde cinge o Universo’. Note-se a etimologia de viridis, a qual está ligada a ‘vir’ e ‘vis’; também a ideia de ‘gyrat’, lembrando-nos do aforisma ‘Deus é Ele com a Cabeça de Falcão, tendo uma força espiral’. A Linha Verde, aqui escolhida para sugerir o Limite do Universo, lembra o Cinturão de Vênus. O limite da Existência, portanto, não é uma ideia fixa, mas um sempre-crescente Princípio Vegetal da Vida, da natureza do Amor. Em suma, podemos dizer que a expressão inteligível da pura Ideia criadora é o princípio oniforme do Crescimento.
2. Onde estava um unicórnio branco com uma coleira de prata, na qual estava gravado o aforisma Linea viridis gyrat universa.
3. Então a palavra de Adonai veio a mim pela boca do Magister meu, dizendo: Ó coração que estas cingido com os anéis da velha cobra, levanta-te à montanha da iniciação!
3. O Anjo então fala à consciência humana do Adepto por intermédio de seu Ser Iniciado – de outra forma ele não poderia compreender uma tão elevada mensagem. Ele comanda o homem, qual homem (o coração, Tiphereth, o lugar do Eu Consciente), a que adquira o ponto de vista do Iniciado. A cobra velha representa o Desejo natural, o qual é a ‘causa da Dor’, condena o homem a rastejar no pó, e o une à baixa vida animal.
4. Mas eu lembrei-me. Sim, Than, sim, Theli, sim, Lilith! Estas três me cingiam de há muito. Pois elas são uma.
4. Than, Theli e Lilith são três formas serpentinas descritas na Qbalah. Than é realmente Tanha – nenhum trocadilho é intencionado, mas Th é a letra da matéria, e N representa a forma da Vida réptil ou pisciana. Está relacionada com o ‘glútem no sangue’ que von Eckartshausen chama ‘o corpo do pecado’. Theli: LI significa satisfação secreta – uma ideia que sugere vergonha. Lilith: Li duplicado e portanto tornado tedioso, e terminando em escuridão material.
5. Linda eras tu, Ó Lilith, tu mulher-serpente!
5 – 12. O Adepto analisa essa Rainda-Demônia do seu Nephesch. Ele se recorda do apelo sensual dela, e nota que, a dissolução de todas as coisas sendo inevitável, o apego a elas leva ao sofrimento e à destruição. Nos versos 11 – 12, de mais a mais, ele mostra que aparte considerações da passagem do tempo a natureza desse Desejo é, intrinsecamente, corrupção.
6. Eras esguia e teu gosto uma delícia, e teu perfume era de almíscar misturado de ambergris.
7. Tu apertavas o coração com teus anéis, e isso era como a primavera da alegria.
8. Mas eu vi em ti uma certa mancha, mesmo naquilo em que me deleitava.
9. Eu vi em ti a mancha de teu pai o macaco, do teu avô o Verme Cego do Logo.
10. Eu olhei no Cristal do Futuro, e vi o horror do teu Fim.
11. Mais, eu destruí o tempo Passado, e o tempo Vindouro – não tinha eu o Poder da Ampulheta?
12. Mas mesmo na hora eu vi corrupção.
13. Então eu disse: Ó meu amado, ó Senhor Adonai, eu te rogo que desfaças as roscas da serpente!
13 – 14. É inútil pedir ao Anjo que livre o Adepto dessa coerção: a força mágica do Adepto, a qual é necessária para este fim, é pelo Desejo impedida mesmo de começar.
14. Mas ela estava apertada em volta minha, de modo que minha Força era impedida em seu começo.
15. Também eu orei ao Deus Elefante, o Senhor dos Começos, que derruba obstrução.
15. O Adepto invoca Genesha, o qual representa o poder de quebrar obstruções. O elefante, ‘o semi-pensador com a mão’, é a força moral do homem, parcialmente inteligente e dócil ao controle de seu Mestre Espiritual.
16. Estes deuses vieram prontamente em minha ajuda. Eu os vi; eu me uni a eles; eu me perdi sem sua vastidão.
16. Essa força moral sendo posta em ação, o Anjo também se torna um auxiliar eficiente, e a constrição do Desejo desaparece totalmente (Nota de M.: O Anjo só auxilia ativamente quando o seu cliente dá o primeiro passo na direção certa; se o cliente não dá o primeiro passo, ou vai na direção contrária aos seus interesses espirituais, o Anjo se abstém. De outra forma, seria escravidão, e não guarda, a relação.).
17. Então eu me percebi cingido pelo Infinito Círculo de Esmeralda que circunda o Universo.
17. O Adepto agora percebe que ele está limitado apenas pela Linha Verde do verso 2.
18. Ó Serpente de Esmeralda, Tu não tens tempo Passado, nem tempo Vindouro. Em verdade, Tu não és.
18. Esta linha é reconhecida como equivalente ao Negativo – Nuit Ela Mesma.
19. Tu és gostosa além do tato e do sabor, Tu não podes ser vista de glória, Tua voz está além da Fala e do Silêncio e da Fala do Silêncio, e Teu perfume é de puro ambergris, que não é de se pesar contra o mais fino do ouro fino.
19 – 20. Esta Idéia de Puro Amor é sem limites; ela outorga a verdadeira, a máxima satisfação possível; seu perfume (significado espiritual) não está misturado com qualquer concepção imperfeita (Ambergris é o perfume de Kether; almíscar refere-se ao Amor em um senso um pouco animalizado.).
20. Também Tuas roscas são de infinito alcance; o Coração que Tu encercas é um Coração Universal.
20. Também o Anjo é identificado com esta Linha Verde, e desta forma a consciência do Adepto se expande para incluir o Universo.
21. Eu, e Mim, e Meu, estavam sentados com alaúdes na praça de mercado da grande cidade, a cidade das violetas e das rosas.
21 – 26. A ideia do Ego não deve ser utilizada para unificar a experiencia do Adepto. Em tal caso, a música da Vida cessa quando a dúvida obscurece, problemas perturbam, ou o tempo cansa o consciente. O Adepto deve perder-se por completo na consciência do seu Anjo, que está além de tais limitações e imune de tais ataques, pois Ele não pode ser expressado por nenhuma Imagem fixa que pode ser destruída.
22. A noite caiu, e a música dos alaúdes parou.
23. A tempestade rugiu, e a música dos alaúdes parou.
24. A hora passou, e a música dos alaúdes parou.
25. Mas Tu és a Eternidade e o Espaço; Tu és Matéria e Movimento; e Tu és a negação de tudo isso.
26. Pois não existe Símbolo de Ti.
27. Se eu digo Subi sobre as montanhas! as águas celestiais fluem ao meu comando. Mas tu és a Água além das águas.
27 – 30. O Adepto aprende a controlar todas as variedades de imagens que se apresentam, e a criar quaisquer que ele deseje. Mas seu Anjo representa o Ideal que é seu limite neste assunto. Todas as ideias de que ele é capaz estão compreendidas na natureza de seu Anjo.
28. O rubro coração triangular foi colocado em Teu templo; pois os sacerdotes desprezaram igualmente o templo e o deus.
28 – 29. Estes versos são especialmente obscuros e devem até certo ponto assim permanecer. Pois eles contém uma alusão ao ponto mais secreto e mais crítico da Carreira Mágica de TO MEGA THERION. ‘O rubro coração triangular’ é o símbolo peculiar de Ra-Hoor-Khuit; e o Profeta hesitou em aceitar o Livro da Lei, que proclama o Deus, porque considerava isto incompatível com o seu Juramento de alcançar o Conhecimento e Conversação do seu Sagrado Anjo Guardião. Somente dezenove anos mais tarde foi que ele percebeu por completo que o Sagrado Anjo Guardião está escondido neste símbolo R.H.K. Os “sacerdotes” aqui parecem representar os Chefes Secretos da A∴A∴, os quais executaram seu propósito de estabelecer a Lei através de TO MEGA THERION, com completo descaso pelas ideias pessoais dele quanto ao seu Trabalho (templo) e ao objeto de sua adoração (deus). A metáfora ao fim do verso 29 nos lembra que o lotus (a Natureza – Isis) esconde debaixo de sua aparência externa as perfeições secretas da Criança.
29. No entanto o tempo todo tu ali oculto estavas, como o Senhor do Silêncio está oculto nos botões do lotus.
30. Tu és Sebek o crocodilo contra Asar; tu és Mati, o Assassino no Profundo. Tu és Tifon, a Fúria dos Elementos, Ó Tu que transcendes as Forças em seu Concurso e Coesão, em sua Morte e Disrupção. Tu és Piton, a terrível serpente em volta do fim de todas as coisas!
30. O S.A.G. é agora identificado não apenas com R.H.K., mas com símbolos ostensivamente hostis. Ele é para ser encontrado em todos os fenômenos.
31. Eu me virei três vezes em todas as direções; e sempre eu cheguei a Ti por fim.
31 – 32. Em qualquer direção em que o Adepto decida mover-se, ele deverá chegar eventualmente ao seu Anjo. Tudo que ele vê não é mais que um véu sobre a sua Face.
32. Muitas coisas eu vi, mediatas e imediatas; mas não as vendo mais, eu vi a Ti.
33. Vem Tu, Ó Bem-Amado! Ó Senhor Deus do Universo, Ó Vastidão, Ó Minúcia! Eu sou o Teu amado.
33 – 36. Esta passagem, puramente lírica, não requer comentário especial. Ela assevera a ultimal identidade de todas as ideias com o Anjo, incluindo o próprio Adepto, que se reconhece unido a Ele na relação triuna de Pai, Governante e Noivo: a fonte de seu Ser, o determinante de sua Vontade, e a inspiração de sua Fertilidade e Alegria.
34. O dia inteiro eu canto o Teu deleite; a noite inteira eu me deleito em Teu canto.
35. Não existe nenhum outro dia ou noite que este.
36. Tu estás além do dia e da noite; eu sou Tu mesmo, Ó meu Criador, meu Mestre, meu Esposo!
37. Eu sou como o cachorrinho vermelho que está sentado nos joelhos do Desconhecido.
37. O cão é a baixa natureza animal – ‘vermelho’ é o símbolo da sua energia, sensibilidade e poder de amar. Ele está impotente (nos joelhos do) no circundante Mistério da Vida (Desconhecido), mas permanece quieto e confia.
38. Tu me trouxeste a grande deleite. Tu me deste da Tua carne a comer e do Teu sangue como uma oferta de intoxicação.
38. O Anjo substitui esta atitude por uma satisfação e nutrição completas. É n’Ele que o Adepto vive, é Sua Vida que o embriaga.
39. Tu ferraste as presas da Eternidade em minha alma, e o Veneno do Infinito me consumiu inteiramente.
39. O inimigo Tempo foi devorado, e o Ego limitado dissolvido no Infinito.
40. Eu estou tornado como um opulento diabo da Itália, uma mulher loura e forte de face cavada, comida de fome de beijos. Ela bancou a rameira em diversos palácios; ela deu seu corpo às bestas.
40. A referência é à Marquesa de Brinvilliers; ela representa o Nephesch ou Alma Animal. Esta alma tem procurado satisfazer as suas paixões de diversas formas extravagantes.
41. Ela matou seus parentes com forte veneno de sapos; ela foi castigada com muitas varas.
41. Ódio de outras almas – a dor de receber verdades.
42. Ela foi despedaçada sobre a Roda; as mãos do verdugo a amarram ali.
42. Com isto a unidade dela acaba sendo despedaçada por Mudança. Ela foi presa ao ciclo de Samsara pelo Ministro da Justiça.
43. As fontes de água foram abertas sobre ela; ela lutou contra tormento extremo.
43. Sua solidez não pode mais resistir à ação da Pureza; seus completos são invadidos pelo Solvente Universal. Sua resistência é uma tortura tremenda.
44. Ela rebentou sob o peso das águas; ela afundou no horrendo mar.
44. Finalmente a coerência dela é quebrada, e o senso de separação desmorona e dissolve-se no infinito Oceano de Amor.
45. Assim sou eu, Ó Adonai, meu senhor, e assim são as águas da Tua intolerável Essência.
45 – 46. O texto confirma esta interpretação da Iniciação como o equivalente de extensa psicanálise. (Nota de M.: Porém, essa extensão vai imensamente além daquilo que a psicanálise mundana pode atingir. Até o presente, os psicoanalistas estudaram apenas seções do Nephesch e do Ruach.)
46. Assim sou eu, Ó Adonai, meu amor, e Tu me arrebentaste por completo.
47. Eu estou derramado como sangue sobre os picos; os Corvos da Dispersão me levaram por completo.
47. A vida do Ego é dispersada sobre todas as ideias salientes. Os corvos são os pássaros de Netzach, a esfera de Vênus. I.e., a vida do Adepto é transportada para longe, voando pelo Amor Universal.
48. Portanto está afrouxando o selo que guardava o Oitavo abismo; portanto é o vasto mar como um véu; portanto há uma dilaceração de todas as coisas.
48. Este processo conduz à completa passagem do Abismo – a respeito do quê consulte-se Libri 418 e VII.
49. Sim, também em verdade Tu és a fresca quieta água da fonte encantada. Eu me banhei em Ti, e me perdi em Tua quietude.
49 – 50. As ideias acima são aqui repetidas sob a forma de outro símbolo. A ‘fonte’ é Salmacis. A individualidade positiva se torna a Universal e Perfeita Virgem do Mundo.
50. Aquilo que entrou como um valente menino de lindos membros sai como uma donzela, como uma criancinha em sua perfeição.
51. Ó Tu luz e deleite, arrebata-me ao oceano leitoso das estrelas!
51 – 52. Um desabafo lírico sobre o tema. Note-se Nuit, e o novo Verdadeiro Eu nascido d’Ela agora que o velho Falso Ego é aniquilado.
52. Ó Tu Filho de uma mãe que transcende a luz, abençoado seja Teu nome, e o Nome de Teu Nome, através das idades!
53. Vê! eu sou uma borboleta na Fonte da Criação; deixa-me morrer antes da hora, caindo morto em Tua corrente infinita!
53. A referência é ao Atu XVII. A borboleta é o Neschamah (puro ψυχη). Sua natureza é aquela de um ente separado momentaneamente, sem dor, de Nuit.
54. Também a corrente das estrelas flui sempre majestosa à Habitação; carrega-me no Colo de Nuit!
54. A corrente das almas (estrelas), flui sempre em direção a Nuit, isto é, cada homem e mulher tem a mesma Verdadeira Vontade – Recuperar a sua Mãe original.
55. Este é o mundo das águas de Maim; esta é a água amarga que se torna doce. Tu és belo e amargo, Ó dourado, Ó meu Senhor Adonai, Ó tu Abismo de Safira!
55. O acima é declarado um Mistério do Atu XII. O ‘afogamento’ do Adepto transforma o Trance de Sofrimento no Trance de Amor. O Anjo é visto como um símbolo positivo desse “Grande Mar.”
56. Eu sigo a Ti, e as águas da Morte lutam estrênuas contra mim. Eu passo às Águas além da Morte e além da Vida.
56. Pelo seu Conhecimento e Conversação esta transmutação é realizada.
57. Como responderei ao homem tolo? Por nenhum caminho ele chegará a Tua identidade!
57 – 59. O ‘homem tolo’ é o homem natural, o profano. ‘Tolo’ neste sentido significa vazio, vaidoso, cheio de si. Ele é o ‘pequeno louco’, adiante comparado com o Louco, Atu 0, א, do Taro, o qual é o primeiro Caminho de Kether.
57. Este homem ‘tolo’ não pode ser conduzido à perfeição, pois ele é composto de Qliphoth ou excremento. Sua emancipação é precisamente de tais partes de seu ente; elas não são da sua essência.
58. Mas eu sou o Tolo que não liga ao Jogo do Mago. A mim a Mulher dos Mistérios instrui em vão; eu quebrei os grilhões do Amor e do Poder e da Adoração.
58. O Adepto se identifica com este Puro Tolo. Ele é indiferente à Ilusão da Existência Fenomenal causada pelo Mago (Pekht, Extensão, o Atu I, כ , 2, ☿, Mayan). A Mulher dos Mistérios (Isis, Atu II, ג, 3, ☾) não estraga a pureza dele com seus fantásticos reflexos da Verdade. Ele não está mais a mercê da Imperatriz, Atu III, ך, 4, ♀; nem do Imperador, Atu IV, צ, 90, Áries; nem do Hierofante, Atu V, ו, 6, Taurus. Isto é, nem as distinções sutis (I, II) da Verdade nem as suas imagens grosseiras (III, IV, V) podem causar injúria à sua perfeição de Zero.
59. Portanto é a Águia unida ao Homem, e a força da infâmia dança com o fruto do junto.
59. O resultado é que os símbolos de Realeza e de Espiritualidade são agora equivalentes àqueles da vida plástica (Aquário e Escorpião) e manifestação vibratória. A força é encontrada no Atu XII, מ, 40, ▽ (Veja-se verso 55); nela está pendurado, isto é, livre da terra, movendo-se alegremente (dança) o homem manifestado ou estendido (Atu VIII, ל, 30, Libra: a forma positiva ou expressada do Atu 0; Aleph e Lamed são a Chave de CCXX).
60. Eu baixei, Ó meu querido, às águas negras e brilhantes, e Te colhi com uma pérola negra de valor infinito.
60 – 61. (Estes versos podem ser lidos como Estrofe e Anti-Estrofe; mas antes, quando o Anjo fala, nós somos informados de que é Ele falando.) As ‘águas negras e brilhantes’ são as do Akasa, o menstruo de manifestação; a Pérola é a simétrica, redonda perfeição do Anjo, o qual é assim um símbolo tangível da Amorfidade de Nuit. (Quanto a ‘negra’, vêde novamente Cap. I, vv. 18 – 20.)
61. Eu desci, Ó meu Deus, ao abismo do todo, e eu Te encontrei lá no meio sob o disfarce de Nada.
62. Mas como Tu és o Último, Tu és também o Próximo, e como o Próximo eu Te revelo à multidão.
62. Se bem que assim ultimal, o Anjo está também em íntimo contento com o Homem. Isto explica a política de 666, revelada no resto do parágrafo. (Nota de M.: Durante sua peregrinação na China, Crowley atingiu a recordação de suas encarnações passadas e definiu sua Vontade Mágica, ou Grande Obra, como conduzir a humanidade ao próximo passo em sua evolução espiritual, isto é: a obtenção do Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião.)
63. Aqueles que sempre Te desejam Te obterão, mesmo no Fim do seu Desejo.
63. O C. & C. do S.A.G. representa a suprema necessidade, e sua consecução coincide com a destruição final do Desejo (no sentido que os budistas dão a esta palavra.)
64. Glorioso, glorioso, glorioso Tu és, Ó meu amante superno, Ó Ser do meu ser.
64 – 65. O capítulo termina em um desabafo de exaltação lírica. “Todo número é infinito; não há diferença.” “Portanto agora vós me conheceis por meu nome Nuit, e ele por um nome secreto que Eu lhe darei quando afinal ele me conhecer. Desde que Eu sou o Espaço Infinito, e as Infinitas Estrelas dali, fazei assim também. Nada amarreis! Que não haja diferença feita entre vós entre qualquer coisa e qualquer outra coisa; pois daí vem dor.” (Liber CCXX, Capítulo I, vv. 4 e 22.) O C. & C. do S.A.G. dissolve todo pensamento na identidade da insignificância. Ele existe igualmente nas Unidade de R.H.K. e em todo e qualquer detalhe de manifestação fenomênica.
65. Pois Te achei igualmente no mim e no Ti; não há diferença; Ó meu belo, Ó meu Desejável! No Um e nos Muitos eu Te encontrei; sim, eu Te encontrei.
CAPÍTULO IV
Este capítulo é atribuído ao Elemento Fogo. Trata dos raios salientes de Ideia Positiva, além de qualquer intuição; e da natureza da Vontade e da energia sexual, o aspecto dinâmico do Ente.
Estando assim além da Compreensão, sendo a Voz do Inconsciente, torna-se naturalmente impossível mesmo para o Iniciado o apreender o capítulo tal como é. O capítulo trata das Unidades Originais; e compete ao Mestre do Templo (o Adepto em Tiphereth não pode de forma alguma compreender o capítulo) a tarefa de receber, interpretar, dar nascimento e expressão consciente ao sublime gesto d’Elas.
1. Ó coração de cristal! Eu a Serpente Te abraço; Eu enterro minha cabeça no Teu centro mais íntimo, Ó Deus seu amor.
1 -10. Esta seção é o Anjo falando. Ele explica Seu Conhecimento e Conversação de Seu próprio ponto de vista. A aspiração em direção a Ele é masculina. No momento de consecução, isto é substituído por passividade, tal como foi explicado em capítulos prévios. A aspiração paralela a vontade do Anjo de comungar. Mas superficialmente a vontade d’Ele é de caráter diverso. Sua natureza vai ser explicada agora.
1. Ele chama o Adepto de ‘Coração de Cristal’, sugerindo que este é uma concentração de luz, energia, amor, lucidez e pureza. É com estas qualidades do Adepto que ele se comunica. Este é o objetivo da preparação. O Adepto deve apresentar esta imagem perfeitamente antes que o Conhecimento e Conversação possa operar. Isto é, purificação e consagração devem preceder invocação. É extremamente difícil mesmo para o Mestre do Templo, mesmo após anos de contemplação, firmar em seu consciente a percepção de que a parte material dele não é mais “ele” que qualquer outra coleção de fenômenos. O Anjo Se descreve como a Serpente. A serpente é, claro, o símbolo de sabedoria, imortalidade, realeza e outras semelhantes qualidades. O Anjo não só se enrola em volta do coração do Adepto como também mergulha sua cabeça no centro deste coração. Ele chama o Adepto de “Deus meu amor”; naturalmente, uma entidade de uma tal ordem de existência já assimilou há muito tempo a verdade do Panteísmo.
2. Mesmo qual nos ressoantes altos varridos de vento de Mytilene alguma mulher como deusa põe de lado a lira e, seus cabelos flamejando qual auréola, mergulha no líquido do coração da criação, assim Eu, Ó Senhor meu Deus!
2. A referência é a Safo, a qual amava o Sol, e se atirou no mar para alcançá-lo. Ela é aqui o símbolo do Anjo representado pelo Caminho de Gímel, onde está a ‘Grã Sacerdotisa’. Este caminho liga Macroprosopus (Kether) e Microprosopus (Tiphereth), a divindade suprema e sua manifestação humana. O Sol é atribuído a Tiphereth, e assim simboliza o Adepto. O Anjo pensa-Se ‘mergulhando no líquido coração da criação’, isto é, a reflexão da matéria do Verdadeiro Ser do Adepto que Ele ama.
3. Há uma beleza indizível neste coração de corrupção, onde as flores flamejam.
3. O Anjo acha beleza neste ‘coração de corrupção’. Por esta imagem Ele quer significar a vida de mutabilidade. ‘As flores flamejam’: Fenômenos florescem e incendeiam, isto é, tocam.
4. Ah me! mas a sede de Tua alegria resseca esta garganta, de modo que Eu não posso cantar.
4. A intensidade da paixão do Anjo é tão grande que Ele não a pode exprimir mesmo em música. O bote é aqui o símbolo de consciência, tal como no Capítulo II, vv. 7 – 16. A língua é o Logos do Anjo, e os rios desconhecidos novas esferas de pensamento. O eterno sal é o sofrimento que tinge o grande mar de Binah, e ele espera pelo método acima transcender o Trance de Sofrimento no que se refere a todas estas possibilidades.
5. Eu me farei um botezinho de minha língua, e explorarei os rios desconhecidos. Pode ser que o eternos sal vire doçura, e minha vida não seja mais sedenta.
6. Ó vós que bebeis de salmoura do vosso desejo, estais perto da loucura! Vossa tortura cresce se bebeis, e continuais bebendo. Subi pelos regatos à água fresca; Eu vos esperarei com os meus beijos.
6. Ele se recorda do método paralelo mas contrário dos homens de procurar satisfação no objeto do desejo. A água é o símbolo do prazer, e desejo está impregnado de sofrimento. Agir desta forma enlouquece a iludida raça dos homens. Ele os convida a ‘subir pelos regatos’, isto é, as estreitas passagens do pensamento, as correntes concentradas de pensamento que levam ao prazer puro – a ‘água fresca’. Quando os homens conseguem viajar, através da vontade controlada, até o verdadeiro puro prazer, eles O encontram esperando para administrar o Sacramento.
7. Como a pedra-bezoar que é encontrada na barriga da vaca, assim é meu amante entre os amantes.
7 – 8. A pedra-bezoar é uma bola composta principalmente de cabelos que representam forças estreitamente entrelaçadas. O Anjo compara o Adepto com esta pedra, vendo-o como um completo de diversas energias. Os membros do Adepto são os instrumentos da sua atividade. O Anjo o convida a repousar na chácara, em Sua companhia. A chácara é o local onde os processos naturais culminaram em frutificação. A relva fresca parece ser um símbolo da vida vegetativa, e o Anjo propõe usar esta sempre verdejante frescura da Natureza como o campo do regozijo e da nutrição. Ele chama os escravos, isto é, os instrumentos de ação, controlados e postos em uso, para que tragam vinho, isto é, fornecem os meios para o êxtase, pois Ele deseja que o Adepto se inflame de raptura e manifeste o calor dessa raptura em sua face, isto é, sua consciência externa.
8. Ó menino de mel! Traz-me aqui Teus membros frescos! Sentemo-nos por um pouco na chácara, até o sol descer! Festejamos sobre a relva fresca. Trazei vinho, vós escravos, para que as bochechas do meu menino se enrubesçam.
9. No jardim de imortais beijos, Ó tu Brilhante, resplandece! Faz de Tua boca uma papoula, que um beijo é a chave do sono infinito e lúcido, o sono de Shi-loh-am.
9. Um jardim geralmente simboliza um lugar onde a beleza é cultivada. Os poetas orientais usam a palavra para expressar uma coleção de poemas ou ditados. Os beijos imortais são os sinais da operação do ‘amor sob vontade’, a qual é perpétua. O Anjo chama o Adepto para que demonstre seu brilho como se o Conhecimento e Conversação fosse um sacramento além daquilo implicado em todos os atos. A papoula é um símbolo da paz, exaltação e deleite, a doadora do sono, pelo qual é significado o silenciamento de todas as distrações possíveis. A boca do Adepto, o órgão através do qual ele é nutrido, expressa seus pensamentos, e simboliza a sua paixão; pelo beijo desta boca é significado seu abandono ao Anjo, o ato de casamento, e esta é a chave do sono infinito e lúcido. Sono foi explicado acima. É infinito, sendo livre da limitação de condições, e lúcido, sendo caracterizado por pura visão. Shi-loh-am: a palavra significa paz.
ש = Δ, ל = Ω, מ = ▽: = ✡.
10. Em meu sono Eu contemplei o Universo como um cristal límpido sem mancha.
10. O Anjo explica que em seu sono (no repousante êxtase do amor, poder-se-ia mesmo dizer no orgasmo do amor; a referência é ao particular Samadhi da consecução do C. & C. do S.A.G.) ele obteve a visão do Universo como um fenômeno contínuo e imaculado. Isto é implicitamente contrastado com o efeito do mesmo ato sobre o Adepto, para o qual significa simplesmente União com a Divindade. O Anjo encontrou perfeição em seu próprio Adepto: isto completa a Perfeição.
11. Existem ricaços vaidosos sem vintém que ficam à porta da taverna e tagarelam de seus feitos de bebedores de vinho.
11 -14. Agora fala o Adepto, ou antes, fala o Mestre do Templo.
11. A taverna é o templo de intoxicação espiritual. Do lado de fora estão os Irmãos Negros, vangloriando-se de suas próprias consecuções.
12. Existem ricaços vaidosos sem vintém que ficam à porta da taverna e insultam os hóspedes.
12. Eles são vaidosos de suas riquezas, isto é, egoístas e mesquinhos, no entanto sem vintém, isto é, suas consecuções são sem valor. Também, eles insultam esses que alcançaram o Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião: o Irmão Negro, a despeito de toda a sua arrogância, sabe (como Klingsor) qual é a sua verdadeira condição, e portanto ele blasfema a Loja Branca.
13. Os hóspedes brincam sobre sofás de madrepérolas no jardim; o barulho dos homens tolos está escondido deles.
13. Os sofás simbolizam repouso. A madrepérola é a opalescência dos fenômenos quando são observados pelo Iniciado (compare-se o simbolismo do Arco-Íris). Note-se que os hóspedes estão no jardim, não na taverna. Isto pode significar que eles passaram além do estágio em que o ato é único a um estágio tal como descrito nos vv. 8 e 9. Os homens tolos: veja-se Cap. III, v. 57. O barulho é um símbolo de distração e falta de harmonia. Está ‘escondido deles’ – uma frase mais enfática do que ‘não ouvido por eles’.
14. Apenas o taverneiro teme que o favor do rei lhe seja retirado.
14. O taverneiro é o Guardião dos Mistérios, e o rei a autoridade pela qual as vidas dos homens são governadas. É o dever dos taverneiros não só proteger os hóspedes da malícia dos Irmãos Negros, mas também impedir que essa malícia profane o sacramento. (Levi tem uma passagem sobre este ponto. Ele diz que quando o arcano foi divulgado na época da Revolução Francesa, tornou-se impossível pô-lo em prática. Os adeptos consequentemente brigaram entre si, e o resultado foi o caos. Nós não devemos supor que isto seja apenas mera parte do assunto do voto de sigilo. Nem implica em dizer que a publicação dos métodos de consecução leva ao desastre. Foi simplesmente o quarto poder da Esfinge que, de algum modo, foi perdido.)
Parece estranho que o Magister, em meio à sua raptura, com as palavras de seu Anjo ainda lhe soando nos ouvidos, não encontrasse algo menos incôngruo a replicar. A dificuldade é explicada facilmente. Por um lado, seu êxtase é inefável. Por outro, é perfeito, de forma que não pode falar dele. Em terceiro lugar, ele percebe que parte do preço de sua consecução é a sua responsabilidade como Guardião dos Mistérios. Ele portanto chama a atenção do Anjo para aquilo que poderíamos descrever com a situação política.
15. Assim falou o Magister V.V.V.V.V., a Adonai seu Deus, enquanto eles brincavam juntos à luz das estrelas de encontro à profunda poça negra que está no Lugar Santo da Casa Santa sob o Altar do Santíssimo.
15 – 21. A peculiaridade acima mencionada no diálogo prévio é o assunto de parte desta passagem. De modo geral, ela discute a questão das relações entre certos poderes da Natureza.
15. As circunstâncias do diálogo são cuidadosamente explicadas. Ele é o Mestre do Tempo, V.V.V.V.V., não o mero Adepto que simplesmente conseguiu união. O Anjo é ainda mais especificamente identificado com o símbolo de Adonai. Eles estão brincando juntos, isto é, em comunhão consciente; a luz das estrelas, isto é, na presença de Nuit; e o lugar onde se encontram é a ‘profunda poça negra’ simbólica de Binah, a esfera do sofrimento da Maternidade, o lugar de concepção e a habitação da Compreensão. O lugar santo é as três primeiras Sephiroth, isto é, acima do Abismo. A casa santa é a Árvore da Vida. E o altar do santíssimo é Kether.
16. Mas Adonai riu, e brincou mais lânguido.
16. Adonai replica à passagem vv. 11 – 14 simplesmente mudando o ritmo de sua música para uma medida mais lânguida. Desta forma, ele indica que não há razão para pressa ou ansiedade.
17. Então o escriba tomou nota, e alegrou-se. Mas Adonai não tinha medo do Mago e seu brinquedo.
Pois foi Adonai quem ensinou ao Mago todos os seus truques.
17. O escriba é o ser humano consciente encarregado de anunciar estes assuntos; ele compreende que tudo está bem. O Mago é o Atu I, Mayan (Ver Cap. II, v. 58 e as referências do Liber 418). O Anjo não receia que as forças da ilusão possam jamais interferir com a Grande Obra. Ele é, em si mesmo, Macroprosopus. Esta frase necessita explicação. Exatamente como um homem aspira ao Conhecimento e Conversação do seu S.A.G. e o consegue, assim também o Anjo aspira à “ultimal unidade demonstrada”; pois sua posição é o Caminho de Gímel. Em sua consecução, portanto, ele atingiu Kether, de que sai não somente o seu próprio Caminho de Gímel (levando a Tiphereth) mas também aquele de Beth (levando a Binah). Para compreendermos bem a completa natureza de Binah, nós devemos manter este ponto em mente. O Sofrimento relacionado com a ideia desta Sephira deve-se ao fato que ela é o recipiente da ilusão original. Não existe sofrimento na outra corrente, o Caminho de Daleth, através do qual o senhor dela comunica sua essência. (Nota de M.: O Senhor de Binah é Chokmah.)
18. E o Magister entrou no jogo do Mago. Quando o Mago ria, ele ria; tudo como deve um homem fazer.
18. O Magister, cuja habitação é Binah, agora usa a ilusão mesma como um meio de prazer. Ele procede naturalmente, como uma criança, sem receio de que possa haver alguma significação sinistra nas operações da Natureza.
19. E Adonai disse: Tu estas enredado na teia do Mago. Isso Ele disse sutilmente, para prová-lo.
19. Para prová-lo, o Anjo sugere que o prazer dele na ilusão é idêntico ao prazer do profano.
20. Mas o Magister deu o sinal do Magistério e riu-Lhe: Ó Senhor, Ó bem-amado, relaxaram-se estes dedos nos anéis dos Teus cabelos, ou desviaram-se estes olhos do Teu olho?
20. O Magister replica que, se bem que aparentemente usufruindo as coisas boas da vida (por assim dizer), ele nunca por um instante esqueceu que está usufruindo o amor do seu anjo. Nem por ação dos dedos que seguram os anéis ou energias aspirais do Anjo, nem por perda de concentração sobre o olho (símbolo da visão, de energia criadora, da unidade, etc. Veja-se também o ‘Olho de Horus’) de seu amante, ele caiu do cume do seu Samadhi. O Magister é assim mostrado como perfeitamente iniciado; ele abraçou deliberadamente a terrível ilusão que é a fonte de todo sofrimento, e a tornou parte integral da Grande Obra. Não havendo outra direção de onde infortúnio o possa tocar, desde que ele é protegido pelos Guardiões do Abismo da interferência dos Caminhos de Zain e Cheth, ele está de agora em diante imune.
21. E Adonai deleitou-se extremamente nele.
22. Sim, Ó meu mestre, tu és o amado do Bem-Amado; a Ave Bennu não está posta em Philae em vão.
22. A Ave Bennu refere-se aqui às correntes e sub-correntes iniciadas pela A∴A∴ aproximadamente cada 600 anos, isto é, duas vezes no curso de cada Aeon.
ΨΧ-1900 Aiwass, ΤΟ ΜΕΓΑ ΘΗΡΙΟΝ
15 – 1600 Dee e Kelly, Christian Rosencreutz, Luther, Paracelsus 1490-1541.
1300 Jacobus Burgundus Molensis
9 – 1000
6-700 Mohammed
3-400
0 Apolônio de Tiana
BX 300 Gautama Buddha.
Nota: Escala de Tempo – imagens resolvidas dilatada apresentação; Pernas de cavalos de corrida. ‘n’ é uma série de ‘m’ acontecimentos, nenhum dos quais sugere ‘n’. Cf. glifos de A, soletração de palavras, etc. Portanto não é medida de realidade (LXV I, 32 e seg.).
Philae é uma ilha no Nilo, agora submergida pelo industrialismo, famosa por seu Templo de Ahathoor.
Em Liber VII, vii, 27, a Ave Bennu é definitivamente identificada com a Fênix – ou Set o Asno Selvagem – através do simbolismo da Baqueta de Segundo Adepto do Adeptus Minor da R.R. et A.C.
O texto afirma a Missão de ΤΟ ΜΕΓΑ ΘΗΡΙΟΝ 666 9o = 2o A∴A∴ como Logos do Aeon. Quem fala parece ser o escriba, isto é, o indivíduo Aleister Crowley através do qual estas energias 666 etc. se manifestam. Ele se regozija na Consecução do Conhecimento e Conversação do S.A.G.
O resto deste capítulo trata em grande parte da relação deste escriba com o Adepto e o Anjo que coroam a sua personalidade. Os versos seguintes descrevem o Equinócio dos Deuses e a Consecução do C. & C. do S.A.G. Eles indicam o efeito de tais acontecimento sobre o indivíduo; pois este capítulo refere-se ao Elemento Fogo, o Deus de Tetragrammaton, isto é, à essência da personalidade do homem em questão qua homem. O C. & C. do S.A.G. representa a descida do Elemento Espírito do ser desse homem, de acordo com a fórmula regular da formação do Pentagrama IHShVH de IHVH. A dificuldade principal de interpretação está na complicação introduzida pelo Equinócio dos Deuses.
22 – 27 descreve este Evento.
28 – 29 descreve o estado do escriba.
30 – 32 descreve a preparação do escriba para a sua Consecução.
33 – 37 descreve o umbral da Iniciação dele.
38 – 41 descreve a Iniciação mesma.
42 – 44 descreve a Compreensão dada por essa Iniciação das relações necessárias entre o Espírito e a Matéria.
45 – 53 descreve os resultados da Iniciação.
54 – 56 liga a Consecução ao Equinócio dos Deuses.
57 – 60 responde a pergunta assim proposta.
61 – 65 uma profecia quanto ao futuro do escriba, as circunstâncias em que ele chegará à Perfeição de sua Consecução.
23. Eu fui a sacerdotisa de Ahathoor regozijo-me no vosso amor. Ergue-te, Ó Deus-Nilo, e devora o lugar santo da Vaca do Céu! Que o leite das estrelas seja bebido por Sebek o habitante do Nilo!
23. O escriba recorda de sua encarnação como uma sacerdotisa de Ahathoor, deusa do Amor e da Beleza. Ele chama as forças do Nilo e de Sebek, o crocodilo que ali vive. Elas devem terminar com o regime da Mãe (Aeon de Isis).
24. Levanta-Te, Ó serpente Apep, Tu é Adonai o bem-amado! Tu és meu querido e meu senhor, e Teu veneno é mais doce que os beijos de Isis a mãe dos Deuses!
24. Apofis substitui Isis.
25. Pois Tu és Ele! Sim, Tu engolirás Asi e Asar e os filhos de Ptah. Tu vomitarás uma enxurrada de veneno para destruir os trabalhos do Mago. Somente o Destruidor Te devorará; Tu lhe enegrecerás a garganta, onde seu espírito habita. Ah, serpente Apep, mas Eu Te Amo!
25. AIWASS (identificado com o S.A.G. de Aleister Crowley) destruirá as fórmulas de Isis e Osíris (Aeon do Deus Sacrificado). Não existe Aeon de Apofis; Sua função é sempre destruir. Agora o Destruidor devorará a Destruição mesma. Há aqui uma referência à lenda de Shiva, que bebeu o veneno formado pelo batimento do ‘Leite das Estrelas’ ou manifestação da Existência Fenomenal. Sua garganta fica negra (ou azul índigo) como resultado. Aiwass assim virou Apofis contra si próprio, para abrir caminho ao Aeon de Horus, a Criança Coroada e Conquistadora. Apep é amado; isto é, desaparece em êxtase à caricia de Aiwass, a ‘pujante serpente’ do verso 26 (a garganta é o local do Elemento do Espírito – o Akasha habita no Cakkram Visuddhi). O significado é que a fórmula dada por Aiwass destrói a ideia da Destruição como tal. O que até agora era chamado ‘Morte’, o método de ressurreição da Fórmula de Osiris IAO, deve ser compreendido de agora em diante como ‘amor sob vontade’.
26. Meu Deus! Que Tua presa secreta penetre até o tutano do ossinho secreto que eu guardei para o Dia de Vingança de Hoor-Ra. Que Kheph-Ra zumba com seus élitros! que os chacais de Dia e Noite uivem na imensidão do Tempo! que as Torres do Universo tremam, e os guardiões fujam correndo! Pois meu Senhor revelou-Se como uma serpente pujante, e o meu coração é o sangue do Seu corpo.
26. Este Dia de Vingança é o Aeon de Horus – começando com o Equinócio de Primavera (L.N.) de 1904 e.v. (Note-se CCX, iii, 3 e ALASTOR o Vingador.). O ‘ossinho secreto’ é encontrado no Falo do Urso (Hebreu דב = 6). Isto é um fato de anatomia. A natureza deste animal que é de grande importância na Alquimia – pode ser estudada no Asch Netzareph. O Urso é simbólico de parte de ΤΟ ΜΕΓΑ ΘΗΡΙΟΝ 666 de acordo com a descrição d’Ele dada no Apocalipse;
“Eu vi uma besta levantar-se do mar, tendo sete cabeças e dez chifres, e sobre os seus chifres dez coroas, e sobre as suas cabeças o nome de blasfêmia.
“E a besta que eu vi era como um leopardo, e seus pés eram como os pés de um urso, e sua boca como os pés de um leão: e o dragão deu-lhe o seu poder e seu trono com grande autoridade.
“E eu vi uma das suas cabeças como que ferida de morte; e esta ferida mortal foi curada: e a terra inteira maravilhou-se da besta.
“E eles aforaram o dragão que deu poder à besta; e eles adoraram a besta, dizendo: Quem é como a besta? Quem pode fazer-lhe guerra?
“E foi-lhe dado uma boca dizendo grandes coisas e blasfêmias; e foi-lhe dado poder para continuar durante 42 meses.
“E ele abiu sua boca em blasfêmia contra Deus, para blasfemar seu nome, e seu tabernáculo, e aqueles que estão no céu.
“E foi-lhe dado poder para fazer a guerra aos santos, e conquistá-los; e foi-lhe dado poder sobre todas as raças e linguagens e nações. E todos que vivem sobre a terra o adorarão, cujos nomes não estão escritos no livro da vida do cordeiro morte desde a fundação do mundo.
“Se alguém tiver ouvidos, que ouça. Aquele que leva ao cativeiro cairá em cativeiro; aquele que mata com a espada deverá ser morto com a espada. Eis aqui a paciência e a fé dos santos.
“E eu vi outra besta subindo da terra: e ele tinha dois chifres com um carneiro, e falava como um dragão.
“E ele exerce todo o poder da primeira besta antes dele, e faz com que a terra e todos que ali habitam adorem a primeira besta, cuja ferida mortal foi curada.
“E ele faz grandes maravilhas, e faz com que fogo caia do céu à terra à vista dos homens.
“E ele engana aqueles que vivem sobre a terra com estes milagres que ele tem poder de fazer à vista da besta; dizendo aqueles que vivem na terra que eles devem fazer uma imagem da besta, que foi ferida pela espada, e no entanto viveu.
“E ele tinha poder para dar vida à imagem da besta, para que a imagem da besta pudesse falar e pudesse matar todos que não adoram a imagem da besta.
“E ele faz com que todos, tanto os poderosos quanto os humildes, tanto os ricos quanto os pobres, tanto os livres quanto os escravos, recebam uma marca na mão direita, ou na testa.
“E nenhum homem venderá ou comprará, a não ser que ele tenha a marca, ou o nome da besta, ou o número do seu nome. Aqui há sabedoria. Que aquele que tem compreensão conte o número da besta; pois é o número de um homem; e seu número é Seiscentos e sessenta e seis.”
(Apocalipse, Cap. XIII)
Este osso é consequentemente a Quintessência e Individualidade do Inconsciente de Aleister Crowley; ele tendo conservado a sua personalidade humana para servir como Instrumento do Logos deste Aeon. Ele agora requer que a ‘presa’ (dente – Shin – Espírito) de seu Anjo penetre ao mais íntimo de seu ser. Khephra, o Escaravelho Sagrado, é o Sol da meia-noite. Ele aparece no Atu XVIII (A Lua Minguante, referido a Pisces no Zodíaco) ao pé do hieróglifo, em uma poça (o firmamento do Nadir). Acima disto está um caminho levando por entre duas montanhas coroadas por torres. Isto tudo sob a Lua Minguante, simbólica de ilusão e glamour, ao contrário da Lua no Caminho de Gímel, simbólica de pureza, aspiração, etc., onde vai o S.A.G. O Atu XVIII é guardado por dois cães ou chacais simbólicos de Anúbis, o Guardião do Umbral (veja-se v. 34). O significado deste verso é portanto que Aiwass (revelado como uma ‘serpente pujante’) destruiu o princípio de ilusão. Em particular, a crença do homem de que ele é mortal (Osiris) deve dar lugar à consciência de que ele é a Criança Coroada e Conquistadora (Horus). Meu ‘coração’ – isto é, a vontade e consciência humanas de Aleister Crowley – é identificado com a essência da vida de Aiwass (o sangue do Seu corpo que é usado por Ele como a base física de Sua manifestação em CCXX).
27. Eu sou como uma cortesã de Corinto doente de amor. Eu brinquei com reis e capitães, e fiz deles meus escravos. Hoje eu sou a escrava da viborazinha da morte; e quem desatara nosso amor?
27. Aleister Crowley abandonou todas as suas ambições pessoais para ‘morrer’ à carícia de Aiwass em Sua função como seu S.A.G. (A ‘viborazinha’ Microcósmica, em contraste com a ‘pujante serpente’ que é responsável pelo Evento Macrocósmico do Equinócio dos Deuses.).
As imagens da cortesã amorosa e de Cleópatra, indicam que o Nephesch ou ‘alma animal’ de Aleister Crowley está implicado neste assunto.
28. Cansado, cansado! Diz o escriba, quem me levará à visão da Raptura de meu mestre?
28. O escriba confessa a completa prostração da sua consciência humana enquanto divorciada de comunhão com a raptura do Adepto (‘meu mestre’) que o controla.
29. O corpo está cansado de e alma cansadíssima, e sono lhes pesa nas pálpebras; no entanto está sempre presente a certeira consciência do êxtase, desconhecido, entretanto conhecimento em que sua existência é certa. Ó Senhor, sê minha ajuda e traze-me à dita do Bem-Amado!
29. A ‘alma’ aqui significa o Nephesch. O escriba é sustentado, mesmo em sua fatiga consciente, pela certeza do seu ‘Inconsciente’ de que ele chegou à Consecução, a despeito do enriquecimento deste fato por parte do consciente humano. Ele apela ao Anjo para que inunde a consciência humana com a ‘dita do Bem-Amado’ com já foi explicado neste Livro.
30. Eu cheguei à casa do Bem-Amado, e o vinho era como fogo que voa de asas verdes pelo mundo das águas.
30. Isto lhe é concedido; a consciência humana entra na Casa de Delícias do Adeptado. O vinho de raptura espiritual, que o intoxica, é comparado ao ‘fogo que voa’ (Shin) com ‘asas verdes’ (Daleth, amor) ‘através do mundo das águas’ (Mem). Passagens prévias devem permitir que o Aspirante compreenda bem este simbolismo. (שמ na Qabalah é ‘O Nome’ e ‘O Céu’. שד significa ‘Poder Onipotente’; e דמ significa ‘Sangue’. Estes símbolos assim explicam o texto em detalhe.)
31. Eu senti os lábios rubros da natureza e os lábios negros da perfeição. Como irmãs elas me afagaram seu irmãozinho; elas me adornaram como noiva; elas me trouxeram ao Teu quarto de núpcias.
31. Natureza e Perfeição são Isis e Nephthys, as quais preparam Osiris (veja-se o Papiro de Ani e o Livro dos Mortos em geral) para a Iniciação. O Candidato é aqui representado como irmão delas (Aleister Crowley é o Vau de IHVH, ‘o Filho’, a consciência humana em Tiphereth – masculina), mas adornado como noiva, pois simbolicamente ele é feminino para com o seu S.A.G.; ele é o Coração a ponto de receber o abraço da Serpente (Veja-se Cap. III, vv. 49 – 50.)
32. Elas fugiram à Tua vinda; eu fiquei só perante Ti.
32. O ego é deprivado de seus atributos antes que possa receber o impacto do S.A.G. Deve ser puro Ser Humano como indivíduo, independente de suas manifestações como tal, independente dos fenômenos de sua relação com seu ambiente.
33. Eu tremi à Tua vinda, Ó meu Deus, pois Teu mensageiro era mais terrível que a estrela-Morte.
33. O Ego percebe que o S.A.G. o aniquilará. Treme, e esse tremor de sua identidade é o sinal de sua entrega (compare-se o êxtase de medo de Amfortas no princípio de sua Curação; e veja-se o Capítulo II, vv. 60 e 62 e diversas outras passagens similares. A doutrina está em toda parte implícita; mas compare-se também Liber 418, o Decimo Quarto Aethyr, etc.). Também, a primeira aparição do Anjo é necessariamente incompreendida; pois enquanto o Ego humano existe, ele está circundado pelas condições do seu ser; e isto implica numa certa falsidade de apreensão, cuja raiz está na Ilusão de Separação mesma que torna possível a Ideia de um Ego.
34. No umbral quedou a fulminante figura do Mal, o Horror do vazio, com seus olhos fosforescentes como poços venenosos. Ele quedou, e o quarto corrompeu-se; o ar fedia. Ele era um velho peixe enrugado, mais horrendo que os cascões de Abaddon.
34. O umbral está diante da ‘porta’ ou ‘pilone’ de Daleth (Daleth significa porta; sua atribuição é Vênus, pura Amor, e seu Caminho é o de Chokmah a Binah, a base do triângulo das Supernas. Esta ‘porta’ é assim em tudo um símbolo apropriado da estrada à Iniciação.). Portanto o ‘umbral’ está abaixo do Caminho de Daleth na Árvore da Vida; isto é, é o Abismo.
O simbolismo acima refere-se estritamente à Consecução do Mestre do Templo; mas sua verdade é refletida no tecnicamente correto relato da Iniciação do Dominus Liminis e Adeptus Minor. Ai a ‘porta’ é o terceiro Recíproco ou Transverso Caminho (Daleth é o primeiro), Pé, que significa boca – a porta dos órgãos da vida. Pé é a letra do Atu XVI, a ‘Casa de Deus’ ou ‘Torre Fulminada’. O hieróglifo representa uma Torre – simbólica do Ego em seu aspecto fálico, porém encerrado, isto é, separado. Esta torre é ferida pelo Relâmpago ou Raio da Iluminação, o impacto do S.A.G. e a Espada Flamejante da Energia que procede de Kether para Malkuth. Da torre são arremessadas duas figuras formando, pela sua atitude, a letra Ayn (ע); estes são os gêmeos וה (Hórus e Harpócrates) nascidos da abertura do Útero da Mãe (o segundo aspecto da Torre como uma ‘fonte encerrada’, uma ‘fonte selada’ ou ‘murada’). Eles representam, com referência ao aspecto másculo da Torre, os espermatozoides (Ayn é Capricórnio, o signo em que está o Sol no Solstício de Inverno L.N., quando o Novo Ano começa) emitidos pelo Falo quando este é fulminado pelo impacto do Orgasmo (Relâmpago ou Raio) e é ‘arruinado’ pela perda da ereção.
No ‘umbral’, o Dominus Liminis é ameaçado pelos Caminhos de Nun, Sameck e Ayn, os Atus XIV, XV e XVI (Temperança ou Restrição, Morte e o Diabo), os quais surgem de Tiphereth, a morada de seu Anjo, para impedir a passagem dos profanos da Ordem Externa da A∴D∴
A diferença principal (em essência) entre as fórmulas das duas Iniciações, na R.R. et A.C. e na A∴A∴ respectivamente, consiste em que o Adeptus Exemptus está completamente abaixo de Daleth, se bem que ele cruzou o Segundo Caminho Recíproco Teth em seu progresso para se tornar Adeptus Exemptus, e não tem o Caminho pelo qual possa viajar (a não ser Gímel, que leva de Tiphereth a Kether, não de Chesed a Binah, que é onde ele vai; isto é para conservar fora os profanos da Ordem Interna da R.R. et A.C.); enquanto que o Dominus Liminis já atravessou o Caminho de Pé para atingir o Grau de Philosophus, e o umbral para dentro, em vez de fora, do Pilone.
O significado disto é o seguinte:
Em cruzando o Abismo, o fito é aniquilar o Ego e suas faculdades por completo. Em simbologia qabalística: o fito é atingir a Zero. O perigo consiste portanto na identificação da consciência, ou ‘ponto de vista’, com qualquer dos produtos da desintegração. Choronzon, portanto (nome pelo qual nós designamos a idéia de Dispersão), não tem lugar na Tríada Superna. O umbral de iniciação, o Abismo, jaz completamente abaixo da porta de Daleth. A complecção da desintegração, a impotência (ακρατωρ) e preguiça (αεργια) são garantidas pela ausência do amor (Daleth), o qual de outra forma poderia enfeixar os eventos dissipados para formar uma unidade (Em Liber 418, Sétimo Aethyr, nós aprendemos que se os Irmãos Negros pudessem apenas contemplar a Deusa do Amor – Daleth – acima deles, eles poderiam ainda chegar à Compreensão (Binah).
Na Iniciação a Adeptus Minor, as condições são completamente diversas. O fito é a consecução da unidade, não da negatividade, e não existe tal perfeição nas Sephiroth do Ruach: Chesed, Geburah, Tiphereth, as quais compõem os Graus da Ordem Interna (R.R. et A.C.) como necessariamente excluindo Choronzon dos três Graus da A∴A∴ O estudante é aqui referido às Torres Elementais de Vigilância de Sir Edward Kelly (Veja-se o Equinócio I, volumes vii e viii). As quatro Tábuas Elementais (12×13) são ligadas pela pequena Tabuleta do Espírito (4×5), ou (quando as tábuas são arranjadas de forma a mostrá-las cada qual uma sub-seção da unidade do Tetragrammaton) por uma cruz negra contendo as letras desta pequena Tabuleta do Espírito. Os nomes de demônios malignos são notavelmente formados ao tomarmos algum símbolo imperfeito e desequilibrado das Torres de Vigilância, tal como um nome bilateral, de debaixo da barra da Cruz do Calvário em qualquer dos Ângulos Menores – e prefixando a letra apropriada da Cruz Negra. A doutrina assim implicada é que a natureza do Espírito não é somente representada por Shin, o Espírito Santo, cuja descida ao meio de Tetragrammaton santifica e elimina as forças cegas dos Elementos, mas também pela matéria desalmada, escura, informe e vazia, o mero fundo para a manifestação, indiferentemente, de todos os fenômenos; e esta verdade é também simbolizada pela escuridão e pela potencialidade não-desenvolvida do Akasa, qual explicado pela lenda de Shiva mencionada em um parágrafo prévio.
O Elemento de Espírito pode portanto manifestar-se tanto como o S.A.G. quanto com a Persona Maléfica, o Morador do Umbral, descrito sensacionalísticamente para o público por Lord Bulwer-Lytton em seu romance Zanoni. Esta doutrina é também frequentemente encontrada em lendas folclóricas, onde o homem é representado como atendido por um gênio bom e por um gênio mau. O horror do gênio mau é intensificado pela sua função como alternativa do S.A.G. Nenhuma outra inteligência maligna pode se comprar com esta, seja por sua terrível asquerosidade subjetiva, seja pela sua hostilidade objetiva. Pois o gênio mau não é menos possibilidade de Consecução que o S.A.G. Agora, no caso do Adeptus Exemptus, se ele for repelido da Cidade das Pirâmides por falta de obediência perfeita à fórmula de ‘amor sob vontade’, ele permanece perdido no Abismo sem nenhuma possibilidade futura a não ser a de identificar-se sucessivamente com cada fenômeno incoerente e ininteligível que aparece no sensório do homem material, o qual foi desintegrado como primeiro efeito de sua operação, cuja essência é recusar sanção a toda e qualquer imperfeição que protesta ‘ser’. Inteiramente diverso é o caso do Dominus Liminis, cuja operação, se malsucedida, pode ser uma simples derrota, talvez devida a erro não muito sério dele mesmo. Àparte uma simples desencorajamento, ele deveria ser capaz de tentar novamente sem desvantagem; de fato, ele deveria usar sua derrota prévia como uma lição. Mas ele pode também falhar por não ter assimilado completamente a injunção do Hiereus na cerimônia de sua iniciação ao Grau de Neófito: ‘O medo é fracasso, e o começo do fracasso. Sê tu portanto sem medo, pois no coração do covarde a virtude não habita!’ Similarmente, ele pode ter sido incapaz de satisfazer a fórmula do Hierofante naquela cerimônia: ‘Lembra-te de que Força Desequilibrada é maligna. Excesso de Misericórdia é fraqueza; excesso de Severidade é opressão.’ Além disto, a fascinação do mal é às vezes tão perigosa quanto o medo. Em qualquer caso, ele pode esperar ser confrontado antes de mais nada pelo seu Gênio Mau (Veja-se, adiante, a cerimônia do Zelator na A∴D∴; a aparição dos Anjos Samael, Metraton e Sandalphon) Ele pode não resistir ao ataque. Ele pode ser repelido do umbral, e sua derrota pode ser mais ou menos prejudicial, de acordo com as circunstâncias. Mas seu medo pode ser tão grande que o induza a transformá-lo em fascinação, ou sua exaustão tão completa que ele esteja disposto a comprar a paz a qualquer preço. Em tal caso, o resultado pode ser que ele aceite sua Persona Maligna como seu S.A.G. Eu não gostaria de afirmar que mesmo uma tão pavorosa forma de fracasso é necessariamente fatal e definitiva, se bem que evidentemente deve sempre acarretar um Karma desastroso, envolvendo como envolve a asserção mágica, fortificada pelos juramentos mais solenes e selada pelos mais intenso êxtase da existência do mal absoluto (em certo senso da palavra; na realidade, para isto definida por ele mesmo); isto é, ele aquiesceu em dualidade, estabeleceu um conflito interno em si próprio, e cerimonialmente blasfemou e negou a unidade de sua própria Verdadeira Vontade. Por arrasadora que seja uma tal catástrofe, no entanto não é nem pode ser final, pois que os princípios envolvidos não se estendem acima de Tiphereth. Ele se tornou um Mago Negro, sem dúvida; mas está longe ainda de ser um Irmão Negro. Não pode ser afirmado que um tal Mago Negro manifestará qualquer tendência a se tornar um Irmão Negro quando a ocasião chegar; pois sua união, mesmo com a personificação do Mal, é também um ato de amor sob vontade, se bem que essa vontade seja falsa e viciada por todos os erros e defeitos concebíveis. Seu principal perigo é presumivelmente que a intensidade do sofrimento que resulta de sua Αηαρτια pode, como no caso de Glyndon em Zanoni, levá-lo a querer escapar por completo da magia, a abster-se de quaisquer atos de amor por medo de se afastar ainda mais do seu verdadeiro caminho. Que ele se lembre das palavras de meu irmão: ‘Se o tolo permitisse em sua tolice, ele se tornaria sábio.’ Que ele portanto persista resolutamente em iniquidade, invocando a vingança dos Deuses, para que ao fim o excesso do seu amor e a transcendência da sua angústia possam trazê-lo de volta ao caminho da verdade.
Do acima deve se tornar claro como é que o Gênio Mau está dentro do Santuário do Templo da Rosa Cruz, cuja fórmula é ‘amor sob vontade’, enquanto Choronzon é excluído igualmente desse templo e da Cidade das Pirâmides, cuja lei, se bem que ainda ‘amor sob vontade’, compreende ambos estes termos como sem limite.
O Gênio Mau é descrito agora, A Linguagem, naturalmente, é simbólica. Ao mesmo tempo, a aparência dada aqui poderia perfeitamente corresponder de perto às expressões sensórias da experiência.
Duas vezes nos é dito que ele “quedou”, o que deve ser contrastado com a atividade de “ir” do S.A.G. (Veja-se vv. 37 – 41.) É a característica peculiar de todo Deus que ele “vai”. Por isso ele leva o Ankh, ou ataduras de sandália, nos monumentos egípcios. Esta antítese se contrasta com a concepção dos Irmãos Negros, fechados em si mesmos, ressentindo mudança. A concepção thelêmica do Universo e dinâmica, de forma que stasis é inevitavelmente o símbolo de conflito com a Natureza. É o equivalente de Morte; pois a Morte, sendo uma mudança, é um evento, isto é, um fenômeno de atividade da vida. Esta doutrina deve ser cuidadosamente estudada em CCXX.
Que o estudante preste atenção, além disto, ao contraste entre os símbolos do S.A.G. e os do Gênio Mau. Os do Anjo (vede vv. 38 – 41) são positivos, ativos, sólidos, dinâmicos; de carruagens, cavaleiros, lanceiros; as armas de Júpiter e Pan são tremendamente vitais em suas mãos. Em contraste, o Gênio Mau é vago, irreal e instintivo. Suas características são o horror e o vazio. Seus olhos são fosforescentes. (Nota de M.: ghastly no original inglês; O.M. comenta que toma a palavra em seu estrito senso original, relacionado com o alemão Geist – fantasma, cascão, ou sombra espectral. A fosforescência da matéria em decomposição, que causa o fogo fátuo, é uma aproximação.), e isto é particularmente repugnante, já que o sentido da visão é atribuído ao Fogo, e deveria ser agudo e luminoso. As atividades que ele controla são vagarosas, gosmentas e vermiculares. Seus olhos se assemelham a poços de água venenosa, isto é, eles espreitam e recebem tão pouca luz quanto possível, quando o olho ideal deveria chamejar de luz, Ele faz com que o ar mesmo ao redor dele se torne estagnado e fedorento. Anatomicamente, ele se assemelha a um peixe, um habitante de sangue-frio do elemento passivo (Note-se o peixe como símbolo aceitado de Jesus). Mesmo assim, ele é velho, vagaroso, enquanto que a virtude principal de um peixe é que desliza rapidamente. E ele é enrugado, oferecendo desnecessária resistência aos seus próprios movimentos, e aumentando sua fricção. Hediondo!
Cascões ou Qliphoth são excrementos sem vida; e Abaddon é o destruidor ou dispersor – o destruidor por dispersão.
35. Ele me envolveu com seus tentáculos demoníacos; sim, os oito medos se apossaram de mim.
35. Seu método de combate (distinto daqueles do Anjo, que ou transfixa com uma lança ou esmaga com um raio) é envolver com seus tentáculos demoníacos, e portanto ilusórios. Este método é restringir o Aspirante, sabendo muito bem que ‘a palavra do Pecado é Restrição.’ Ele consegue comunicar os ‘oito medos’, os quais estão relacionados com as oito cabeças do Dragão que Desce. (Veja-se, para este simbolismo, O Templo do Rei Salomão, Equinócio I, volumes i, ii e iii.) Elas são as restrições da Tríade Superna tentadas pelas sete Sephiroth abaixo do Abismo e por Daath. Por isto, o Dragão que Desce é mostrado na Árvore da Vida abaixo do Abismo após a Queda, e no chão do Sepulcro de Christian Rosencreutz. No simbolismo mais antigo, as oito cabeças são os oito Reis de Edom.
36. Mas eu estava ungido com o mui-doce óleo do Magister; escorreguei do abraço como uma pedra da funda de um menino dos bosques.
36. O Aspirante está ‘ungido com o mui-doce óleo do Magister’. O Magister pertencendo a Binah, este óleo pode ser tomado como simbolizando seu Neschamah ou aspiração. Veja-se o relato do Óleo Santo dado no Livro 4, Parte II. (O Óleo Santo é a Aspiração do Magista; é aquilo que o consagra à busca da Grande Obra; e tal é a sua eficácia que consagra todo o mobiliário do Templo e os seus instrumentos. É também a graça do crisma, pois esta aspiração não é ambição; é uma qualidade outorgada pelo alto… É a pura luz traduzida em termos de desejo. Não é a Vontade do Magista, o desejo do mais baixo de atingir o mais alto; é a centelha do mais alto no Magista, que deseja unir o mais baixo a si.) Também a propriedade essencial de substâncias oleosas é diminuir a fricção e aumentar a facilidade de movimento. É portanto precisamente a réplica correta contra este tipo de ataque.
Ainda mais, o Aspirante se compara a uma pedra, o que se refere à pedra cúbica simbólica do Adeptado perfeito, sendo a perfeição quadrada e equilibrada da Maçonaria espiritual; é circundada por seis quadrados que significam proteção de Macroprosopus. Vede também o simbolismo da Pedra no Zohar, um assunto demasiado extensivo para que possamos fazer mais que esta referência aqui. Há, ainda mais, uma identificação da Pedra com o Falo Sagrado e com o Sol, tal como adorado no Templo de Diana em Éfeso e na palavra ABRASAX. Em nossos próprios Livros Santos, vede o Cap. V, vv. 6 a 58 deste Livro, e Liber VII, Cap. vi, v. 2 (‘Nós nos construímos um templo de pedras na forma do Universo, mesmo tal como tu usaste abertamente e eu escondido’. Nesta última conexão, note-se a justaposição apropriada de pedras como simbólica da Grande Obra. Isto é encontrado também na Voz do Silêncio, onde esses que alcançaram a libertação se constroem a si mesmos num muro, para proteger a humanidade. Vede também Liber VIII, Cap. vii, v. 6 (‘Nós sabemos porque tudo está escondido na pedra, dentro do caixão, dentro do grande sepulcro, e nós também respondemos Olalam! Imal! Tululu! Como está escrito no antigo Livro’.).
Esta pedra é um projétil na ‘funda do menino dos bosques’, o qual pode ser tomado como representando a forma mais jovem e ativa de Pan; isto é, o aspirante se considera como que arremessado do infinito, e desligado de suas ataduras (compare-se Liber VII, Cap. vii, vv. 3 – 5), para que possa executar a Grande Obra.
37. Eu era liso e duro como o marfim; o horror não conseguiu apoio. Então, ao ruído do vento da Tua vinda, ele foi dissolvido, e o abismo do grande vazio foi desdobrado diante de mim.
37. O aspirante é liso; suas qualidades foram perfeitamente harmonizadas. Ele é duro, tendo tornado perfeita a sua resistência a extrema pressão. A analogia é com o marfim. Marfim é a substância do dente, a letra Shin do Espírito Santo e também da substância do esqueleto sobre a qual seu ser está sendo construído. O som Sh, além disto, representa o poder do silêncio, como também a atividade e alerteza que acompanham a vontade de nos manifestarmos através da nossa Verdadeira Vontade. Eu cito aqui uma passagem das minhas notas originais sobre o significado intrínseco desta letra:
“S é o sibilo da serpente, o sopro arremessado do alento através dos dentes postos à mostra, porém fechados, o que é sinal natural de alarme, ódio, desafio, natural a um homem que depara com um seu semelhante – outra aberração da macacada legítima. (Nota de M.: Ele está se referindo ao primitivo; mas essa hostilidade atávica subsiste na psiquê humana até hoje, e é a base da intolerância, perseguição, etc. É claro que ele sabe disso; é bom que o estudante também pondere sobre o assunto.)
Através deste gesto ele reconhece o seu irmão, e no princípio, quando necessário, assim o nomeava. (Mais tarde, quando não havia mais alarme, ainda temos ‘Shh!’, ‘Psst!’, não um apelo por Silêncio, que o gesto quebra, mas um apelo à atenção de outros homens.) Em S está esta idéia de medo e cólera, também de ar, por causa do sopro mais apressado do alento. ‘Tormenta’ combina estas ideias; assim, os primeiros S-deuses foram deuses da tempestade.
“Mais tarde este alento, ar movendo-se no homem, podia ser considerado uma prova de que o homem estava vivo; então esta letra-alento, S, pôde vir a significar ‘vida’. Por exemplo, Deus sopra sobre Adão para insuflar-lhe a ‘alma vivente’; e Elias ressuscita um menino respirando sobre ele. O Ruach Elohim, novamente, é um Alento que paira sobre o Caos. Finalmente, encontramos um Espírito Santo fertilizando através de um alento. E não era Maut, o Abutre-Mãe, fertilizado pelo vento? Talvez também o chiado da chuva que fertiliza a terra, qual até mesmo um selvagem deverá chegar a observar nas regiões tropicais, onde o efeito segue a causa tão rapidamente, te-lo-á impelido à convenção de que S deve significar Vida. Essa chuva vem do ar que ele respira, se bem que de além de sua pessoa; parece portanto natural para ele o fazer Zeus ou Shu deuses da chuva e deuses da vida, como também deuses do ar, deuses da tempestade, nomes para a intensa, medrosa cólera, que no princípio significava apenas ‘um inimigo’ – um seu semelhante!” (Diário, Junho de 1920.)
O Gênio Mau é portanto incapaz de dominar o aspirante. Este havendo provado a sua virtude, está agora pronto para receber o S.A.G. Primeiro vem o ruído da Sua vinda. ‘Pois o Senhor descerá do Céu, com um grito, com a voz do Arcanjo, e com a Trompa de Deus.’ O Senhor é Adonai – o hebreu para ‘Meu Senhor’”; e Ele desce do Céu, o Paraíso superno, o Sahashara Chakra no homem, com um ‘grito’, uma ‘voz’ e uma ‘trompa’, novamente símbolos aéreos, pois o ar é o condutor do som. Estes sons referem-se àqueles escutados pelo Adepto no momento do êxtase. (Livro 4, Parte II.) Isto por si só é suficiente para destruir a ilusão do Gênio Mau. O ‘Abismo do grande vazio’ desdobra-se diante do aspirante, isto é, todos os fenômenos positivos desaparecem. O que resta é o ‘espaço infinito’ de Nuit. O corpo contínuo de possibilidades infinitas.
38. Através do mar sem ondas da eternidade Tu cavalgaste com Teus capitães e Tuas hostes; com Teus carros e cavaleiros e lanceiros Tu viajaste pelo azul.
38. ‘O mar sem ondas da Eternidade’ repete esta idéia. É o menstruo acrônico da ação, não-modificado por qualquer vibração, no entanto pronto para receber e transmitir aquilo que lhe é imposto pela vontade. O S.A.G. aproxima-se rapidamente (cavalga) acompanhado pelas suas hostes (Note-se que TZBA, uma hoste = 93.).
39. Antes que eu Te visse, Tu estavas já comigo; eu fui trespassado por Tua maravilhosa lança.
39. A chegada do Anjo é demasiado rápida para a percepção do Adepto. Cf. Cap. II, v. 60, etc. O simbolismo da lança deve ser estudado nas lendas da Crucificação, de Parsifal, e outras. O assunto é ainda mais esclarecido no B-i-M (Nota de M.: Bagh-i-Muattar, de Crowley; sob o disfarce de um poema homossexual persa, trata das relações entre o S.A.G. e seu cliente.).
40. Eu fui aturdido qual uma ave pelo relâmpago do Trovejador; eu fui varado como o ladrão pelo Senhor do Jardim.
40. O Trovejador é Júpiter, aqui considerado como o paternal criador, e guerreiro Senhor do Ar. O relâmpago é a Swastika, ou Disco de Zeus. Seu simbolismo é ultimalmente idêntico com aquele da esfera. A ave é o símbolo natural da alma que aspira. Cf. Cap. II, vv. 39 – 41. A Swastika tem a forma da letra Aleph, cujo Temurah é PLA (Veja-se o Sepher Sephiroth), pelo que significamos a instantânea destruição do Ego em Samadhi. A segunda frase ecoa as duas prévias. O Senhor do Jardim é Pan ou Priapus, o qual meu irmão Catullus constantemente representa punindo ladrões em sua peculiar maneira. (Nota de M.: Nos Jardins gregos e romanos era comum uma estátua desnuda de Priapus ou Pan com o falo em ereção.) Existe aqui um simbolismo especial do ladrão no qual talvez nós encontramos traços da lenda da Crucifixão e do ritual do sacerdote de Nemi; (Nota de M.: Quem aspirava ao cardo de sacerdote de Nemi tinha que roubar um talismã sob sua guarda; e ou matava o sacerdote ou era morto por este. Veja-se o Golden Bough, de Sir James Fraser.); mas sua significação detalhada foi em sua mor parte abandonada ou perdida.
41. Ó meu Senhor, naveguemos sobre o mar de sangue!
41. Cf. Cap. II, v. 15, passagens similares. I, 33 – 41, especialmente versos 33 e 39.
No momento em que o Adepto conseguiu o C. & C. do seu S.A.G. ele não perde tempo, mas vai no caminho da sua Verdadeira Vontade, carregado sobre o dilúvio da vida física que ele derramou para usufruir a vida impessoal e sem esforço em comunhão com seu Anjo.
Os versos 42 – 44 apresentam uma imagem lírica do Mistério do Mal.
42. Existe uma profunda mancha sob o deleite inefável; é a mancha da geração.
42. O deleite de união com seu Anjo parece ao Adepto conter uma falha: em que, sendo uma operação de mudança (‘ancha da geração’) comparte da impermanência de todos os fenômenos complexos, e é portanto amenável à dor. Veja-se v. 21.
43. Sim, se bem que a flor dança brilhante à luz do sol, a raiz se afunda na escuridão da terra.
43. Admite que as mais admiráveis manifestações nascem de mistérios ‘subterrâneos’, por assim dizer. A corrupção está no coração de todas as coisas.
44. Louvor a ti, Ó linda terra escura, tu és a mãe de um milhão de miríadas de miríadas de flores.
44. Nenhuma tentativa é feita de contradizer o acima ou oferecer explicações conciliatórias. A solução está em contemplá-lo do ponto de vista oposto. A corrupção mesma, e todos os mistérios do sofrimento, devem ser considerados como motivo de regozijo, desde que são as forças cujo trabalho resulta em verdade e beleza. Cf. CCXX, Cap. I, vv. 29 – 30.
45. Também eu contemplei meu Deus, e Sua face era mil vezes mais brilhante do que o raio. Mas em seu coração eu vi o Lento e Escuro, o anciente, o devorador de Seus filhos.
45 – 53. Esta passagem é a mais difícil do capítulo. É difícil considerar seus versos separadamente. No entanto, parece não haver própria coerência entre eles, nenhuma ideia ordeira concatenando a sua diversidade. A solução parece estar em uma realização de que a passagem representa uma descoberta progressiva. Lembra o relato de uma viagem mental. Uma das chaves é a súbita mudança de ponto de vista, já comentada nos vv. 43 – 44. A contemplação da Beleza leva à reflexão sobre os elementos da Beleza que nós não reconhecemos como belos porque nosso sensório não está ajustado aquele estágio de existência. Cf. o meu poema ‘Ovariotomia’, onde a beleza plástica da mulher parece ser destruída quando a cortam em pedaços. No entanto, a beleza reaparece sob uma forma diversa quando as células de que ela é composta são examinadas sob o microscópio. Usemos esta chave na passagem agora sob consideração.
45. Na primeira sentença chama-se a atenção para o brilho da aparência do Anjo. A segunda sentença reconhece que sob aquela aparência está um símbolo de terror, a saber, Saturno, o qual é aqui compreendido pelos seus atributos lendários e astrológicos. Nós devemos acentuar que Saturno é o deus da geração. Isto estabelece uma referência ao v. 42. Saturno é chamado o devorador de seus filhos porque ele é o Tempo que esconde no olvido os fenômenos que ele fez surgir do inano. Mas existe um outro significado, o qual é que ele não é obrigado pelos resultados da sua ação. O que quer que ele faça resulta apenas em um fenômeno transitório que o desaparece automaticamente à medida que o tempo passa. Gente de mente estreita geralmente tem o hábito de lamentar a impermanência das coisas. Eles não refletem que se tudo que acontece permanecesse em existência, a carga dos fatos logo se tornaria insuportável. A Natureza requer um sistema excretório, ou cedo ela ficaria entupida com a multiplicidade de suas próprias ilusões. O progresso da mente humana depende do seu poder de assimilar os detalhes de qualquer trabalho. Eles constituem o produto acabado, e aparecem neste apenas em uma forma mudada. O esboço, o esquema preliminar, deve ser destruído. O processo é contínuo. A arte de progredir consiste em compor constantemente sínteses mais complexas e mais compreensivas; assim como as palavras de um poema tem que abandonar o seu significado intrínseco para compor a unidade da impressão exercida pelo poema em seu conjunto, da mesma forma os poemas mesmos devem ser absorvidos no conceito mais simples da mensagem do poeta. Esta fórmula é universalmente aplicável. É em particular o assunto da biologia.
46. No píncaro e no abismo, Ó meu lindo, não existe nada, em verdade não existe coisa alguma que não seja completamente e perfeitamente feita para Teu deleite.
46. Este verso está para o verso 45 assim como o verso 44 está para o verso 43. O trabalho de Saturno já não parece mais misterioso e terrível, porque sua natureza muda e perde-se no admirável resultado de sua operação.
47. A Luz se agarra à Luz, e a escória à escória; com orgulho uma acusa a outra. Mas não Tu, que és tudo, e além disso; que estás absolvido da Divisão das Sombras.
47. Cf. CCXX, Cap. I, vv. 22 – 23 e passagens similares. É natural para nos distinguir entre as coisas, preferir uma a outra. Mas o Anjo está acima de tal dualidade. Toda as coisas contribuem igualmente à sua perfeição. É dito que Ele está ‘absolvido da Divisão das Sombras’, isto é, da ilusão de dualidade. É apenas uma ilusão que há diferença aparente entre fenômenos diversos. O erro mais fatal que o Adepto pode cometer é dar demasiada ênfase à agradabilidade de um grupo de coisas e a desagradabilidade de outro. Se ele persistir em fazê-lo, seu sectarismo desvirtuará seu ideal de forma que seu Anjo, em vez de ser completo, compreensivo, e perfeito, representará seus preconceitos pessoais. Em tal caso o Adepto sofrerá quando quer que sua atenção seja chamada para alguma ideia da Natureza que não foi com êxito transmutada e incluída no âmbito da sua aspiração.
48. O dia da Eternidade, que Tua onda se quebre em glória quieta de safira sobre o laborioso coral que fabricamos!
48. Esta doutrina é repetida. O coral é o Karma produzido pela acumulação dos nossos atos. Esta construção foi executada no tempo, e sua necessidade é ser coberta pelo ritmo do Eterno Deleite. O C. & C. do S.A.G. age como um ponto de contato entre dois contínuos. Nenhum dos dois é compreensível sem o outro.
49. Nós fizemo-nos um anel de branca areia reluzente, esparzida sabiamente no meio do Oceano Deleitoso.
49. O simbolismo do verso prévio é continuado. O anel indica a perfeição do nosso próprio ser na síntese das nossas ações. Nós nos constituímos um fenômeno positivo situado em um ambiente de possibilidades infinitas, com as quais nós podemos estabelecer contato, como preferirmos. Para compreender esta passagem corretamente nós devemos manter em mente o ensinamento de CCXX sobre a natureza da existência. A aparição do Khu, a série de casamentos de Hadit e Nuit, leva à congregação do que poderia ser chamado uma individualidade positiva da Segunda Ordem, a qual está pronta a agir como unidade, e a invocar Nuit.
50. Que as palmeiras de brilho floresçam sobre a nossa ilha; nós comeremos do seu fruto, e nos alegraremos.
50 – 51. Mostram as duas formas em que este plano pode ser executado.
50. Atos de amor sob vontade devem ser dirigidos à criação de obras de arte. Estas são as palmeiras cuja flor deleita, cujo fruto nutre a nossa personalidade. Tais atos podem também ser dirigidos ao interior – o processo místico qual oposto ao mágico, a dissolução da personalidade considerada como imperfeição. O texto indica uma preferência pelo segundo processo. Isto é natural, o trabalho em questão sendo o C. & C. do S.A.G.; isto é primariamente um trabalho de dissolução, em vez de mais construção.
51. Mas para mim a água lustral, a grande ablução, a dissolução da alma naquele ressoante abismo.
52. Eu tenho um filhinho como um bode malandro; minha filha é como uma aguiazinha sem plumas; eles conseguirão nadadeiras, para que possam nadar.
52. O simbolismo aqui é particularmente obscuro. O filho é presumivelmente o Ruach, e a filha o Nephesch. O primeiro parece ser descrito quanto à sua natureza cheia de caprichos, e a segunda quanto a seu pobre desenvolvimento em matéria de aspiração. Eles devem ser fornecidos com os meios de movimento rítmico. O defeito do bode é ser malandro, o caráter errático e indisciplinado dos seus pulos; o do Nephesch é sua preguiça, sua falta de asas. Eles devem ser tornados capazes de movimentos ordeiros dentro do elemento da natureza do Anjo.
53. Para que eles possam nadar, Ó meu amado, nadar longe no morno mel do Teu ser, Ó abençoado, Ó menino de beatitude!
54. Este meu coração está cingido com a serpente que devora seus próprios anéis.
54. Os símbolos do coração e da serpente são mantidos como representando o Adepto e o Anjo; mas o Anjo é agora mostrado como idêntico com a grande Serpente, Ananta, que circunda o Universo e que, constantemente devorando seus próprios anéis, gradualmente restringe o Cosmo manifestado.
55. Quando haverá um fim, Ó meu querido, Ó quando serão o Universo e seu Senhor completamente engolidos?
55. O Adepto indaga com respeito ao processo (A resposta, aparentemente, é dada no verso 65.). A despeito da perfeição da sua raptura, o Adepto parece reconhecer que isto é apenas, por assim dizer, um oásis no deserto. Ele estende a sua aspiração do problema pessoal do seu próprio erro à contemplação do Sofrimento Universal.
56. Não! quem devorará o Infinito? quem desfará o Erro do Princípio?
56. O Adepto parece esmagado por esta consideração. Parece-lhe teoricamente impossível ‘desfazer o Erro do Princípio’. Isto significa que ele agora compreendeu a doutrina de que o princípio (Berashit) é necessariamente da natureza de um erro. Qualquer separação, qualquer senso de finitude representa imperfeição. É simples lógica que isto devesse ser assim. Ele foi, naturalmente, bem-sucedido em fazer da sua imperfeição pessoal o meio de atingir autoconsciência, e daí um estado espiritual além de tudo de que ele parecia capaz. Mas sua consecução o tendo feito realizar o Universo inteiro, e identificá-lo com seu próprio sublime ser, ele experimenta o Trance da Dor.
Deve-se ter em mente que qabalísticamente o Adepto não tem conhecimento especial de qualquer Sephira acima de Tiphereth até que ele a tenha atingido. Este postulado é promulgado simplesmente para conveniência de cálculo. Na prática, é natural para o aspirante o estar imbuído de motivos mais sábios que aqueles determinados pelo seu reconhecimento de suas imperfeições pessoais.
O ponto da passagem é mostrar como a consecução, em vez de ser, como aspirante talvez imaginara, a complecção da Grande Obra, pode estender a concepção que ele tinha daquele trabalho de uma esfera pessoal a uma esfera impessoal. De fato, a primeira lição que ele aprende é que ele deve se aplicar imediatamente a se tornar apto para a entrada na Terceira Ordem, agora que finalmente ele foi admitido à Segunda. Eu cito Liber 418, o 14o Aethyr. A doutrina está ali exposta com singular penetração e eloquência.
57. Tu gritas como um gato branco no telhado do Universo; nenhum existe para Te responder.
57. Este verso lança luz sobre os três versos prévios. O Anjo é agora claramente compreendido como ocupado com o Adepto, como tal, somente em sua fração de sua completa função. Ele não é mais o fito e a coroa do Adepto. Aquele trabalho tendo sido terminado, é visto em sua apropriada perspectiva. O Adepto começa a apreender a natureza do Anjo tal qual esse é em si mesmo, isto é, tal qual ele é em relação ao Macrocosmo. Agora, no caso particular de 666, O Anjo sendo Aiwass, a pertinência dos vv. 54 – 56, os quais a princípio eram obscuros, é agora vista como absoluta. Aiwass é o logos do Aeon, seu número sendo 93, tal como o de Thelema, a Palavra da Lei. 666 é o porta-voz que ele e os chefes secretos da A∴A∴ preparam e empregaram como um instrumento através do qual a Lei pudesse ser proclamada. 666 é o quarto número do Sol cuja casa é Léo, o Leão, o qual novamente é o signo ascendente do nascimento do homem 666. Este homem, portanto, apreendendo seu Anjo como a perfeição do seu próprio símbolo, identificou-o com um gato (leão) branco (Kether) e, desde que ele é o Logos, diz-lhe ‘Tu gritas’; Este é o elo com vv. 54 – 56, pois 666 espera que Aiwass desfaça o Erro do Princípio pronunciando uma Palavra. Parece, no entanto, a 666 que esta palavra é gritada sobre o teto do Universo, isto é, a natureza da Palavra é completamente sublime. O teto do Universo é um símbolo de Kether, ou de Kether com os Caminhos Aleph e Beth que dali nascem, formando simbolicamente um teto para a Árvore da Vida. ‘Nenhum existe para Te responder’. Acima de Kether está Nenhum ou o Negativo, os três tipos de Ain ou Nada. A queixa de 666 é portanto que esta Palavra não achará eco senão no coração de Nuit.
58. Tu és como um pilar solitário no meio do mar; nenhum existe para Te ver, Ó Tu que vês tudo!
58. Repete a ideia do verso 57. O ‘pilar solitário’ representa Chokmah, a Palavra Criadora, o Mercúrio Fálico, a Sabedoria pela qual os mundos foram criados. O mar é Binah, a habitação natural de Chokmah. A natureza de Binah, se bem que realmente é compreender, é ser a grande escuridão. Este é o simbolismo convencional. Muitos exemplos são dados neste e em outros livros sagrados. Mas vede em particular o Liber 418:
“Este é o Mistério de Babylon, a Mãe de Abominações, e este é o mistério de seus adultérios, pois ela se entregou a tudo quanto vive, e se tornou um comungante em seu mistério. E desde que ela se fez a servidora de cada, portanto ela se tornou a senhora de tudo. Tu ainda não podes compreender a glória dela.
“Linda és tu, Ó Babylon, e desejável, pois tu te deste a tudo quanto vive, e tua fraqueza subjugou sua força. Pois naquela união tu compreendeste. Portanto és tu chamada Compreensão, Ó Babylon Senhora da Noite!
“Isto é aquilo que está escrito, ‘Ó meu Deus, em uma derradeira raptura deixa-me atingir à União com os muitos!’ Pois ela é Amor, e seu amor é um, e ela tem dividido o amor único em amores infinitos, e cada amor é um, e igual a Um, e portanto está ela passada ‘da Assembleia e da Lei e da Iluminação à anarquia da solidão e das trevas. Pois sempre assim deve ela velar o brilho de seu Ser.’
“Ó Babylon, Babylon, tu Mãe pujante, que cavalgas sobre a besta coroada, deixa-me embriagar-me com o vinho das tuas fornicações; que teus beijos me façam delirar até à morte, para que mesmo eu, o portador da tua taça, possa compreender.
“Agora, através da rubicunda incandescência da taça, eu percebo, longe no alto, e infinitamente grande, a visão de Babylon. E a Besta sobre a qual ela cavalga é o Senhor da Cidade das Pirâmides, que eu vi no 14o Aethyr.” (12o Aethyr)
“Ó tu que és mestre dos cinquenta portões da Compreensão, não é minha mãe uma mulher negra? Ó tu que és mestre do Pentagrama, não é o ovo do espírito um ovo negro? Aqui mora o terror, e a dor cega da alma, e vê! mesmo eu, que sou a única luz, uma chispa encerrada, estou de pé no sinal de Apofis e Tifon.” (14o Aethyr)
“Eu sou Aquele além de todos esses; e Eu levo os símbolos da escuridão pujante.
“Haverá um selo como de um vasto, ameaçador e negro oceano de morte, e o central braseiro de treva, radiando sua noite sobre tudo.
“Engolirá aquela escuridão menor.
“Mas naquele profundo quem responderá; Que é?
“Não Eu.
“Não Tu, Ó Deus!” (Liber VII, vii, 28 – 33)
Um símbolo principal de Chokmah como o Mercúrio Fálico é o olho. Eu cito da visão d’Ele qual obtida no Trabalho de Paris: “Ele (Mercúrio) é essencialmente Fálico, mas ele tem um livro na mão, o Livro de cento e seis páginas. Na última página, como um colofão, está uma estrela de quatro pontas, muito luminosa, e isto deve ser identificado com o Olho de Shiva; e o livro pertence ao Grau 7o = 4o. O subtítulo do Livro é BIA, o que é dito significar ‘força’.”
Neste aspecto, se bem que Chokmah é a Palavra, ele vê e não fala, a Palavra é em fato a Ação mesma, mais que qualquer pronunciamento inteligível. A queixa de 666 parece então ser que nem por palavra nem por ato pode Aiwass desfazer o Erro do Princípio. Thelema (que é em si mesma um símbolo absoluto de Chokmah) está além da compreensão do Universo cuja imperfeição é a sua função remediar.
59. Tu esmoreces, tu fracassas, tu escriba; gritou a Voz desolada; mas Eu te enchi de um vinho cujo sabor tu não conheces.
59. O epíteto ‘desolado’ atrai a atenção imediata. A palavra é derivada de de-solare, de tendo um efeito enfático, de forma que a palavra ‘desolado’ significa ‘completamente só’. Os Hierofantes porém têm habitualmente comunicado arcanos na presença do profano tomando vantagem da semelhança de som entre ‘Sol’ e ‘solus’, especialmente em partes da declinação tais como ‘soli’, que é genitivo singular de ‘solus’ e dativo singular de ‘Sol’; e ‘Solis’, genitivo singular de ‘sol’ e ablativo plural de ‘solus’. A palavra ‘desolado’ pode portanto ter sido usado para indicar a atribuição do Anjo tanto a Kether (Solus como Tiphereth (Sol). O de pode implicar uma referência à sua relação com o Adepto através do Caminho de Daleth, Amor, especialmente em vista do fato que Sua Palavra Thelema, 93, contém a ideia de Ágape, 93.
O verso é uma réplica direta de Aiwass a 666, o qual estava realmente muito desencorajado por ter percebido que a Grande Obra que ele havia executado, apesar de toda a raptura da dor pessoal dele, era apenas o portal do Caminho da Estupenda tarefa de redescobrir o Universo como ele fizera para si próprio. Aiwass explica que ele fez o necessário laço mágico entre Si Mesmo e o Mundo através do homem 666. Meu desânimo sob o senso da responsabilidade, meu sentimento de que meu trabalho pelo mundo estava antecipadamente condenado ao fracasso, eram devidos à minha ignorância do que Aiwass fizera. Ele afirma que Ele me encheu com um ‘vinho cujo sabor tu não conheces’. Vinho é o símbolo universal para o êxtase espiritual e o meio de produzi-lo, 666 não sabe precisamente como este êxtase que pulsa em sua vida afetará os outros.
60. Ele servirá para embriagar o povo da velha esfera cinzenta que rola no infinitamente Longe; eles lamberão o vinho como cães que lambem o sangue de uma linda cortesã trespassada pela Lança de um veloz cavaleiro que atravessa a cidade.
60. ‘A velha esfera, cinzenta que rola no infinito Longe’ é a terra, pois o lugar em que o Adepto é arrebatado para comungar com o seu Anjo é o remoto do Universo material. No entanto este vinho, que pode simbolizar CCXX mesmo ou até a poesia ou a biografia do homem 666, é garantido como possuindo a virtude de intoxicar os habitantes deste planeta.
O símbolo final é estranhamente e até formidavelmente vívido. A referência aos cães, ao sangue, e ao veloz cavaleiro pela cidade, sugere a história de Jehu e Jezebel, mas a alusão não é acurada ou completamente inteligível. O simbolismo geral, porém, é suficientemente claro. Cf., primeiramente, Cap. iii, v. 40; Cap. V, v. 8; Liber VII, Cap. vii, vv. 15 – 16. Cf. também a uniforme representação do Adepto como uma donzela ou prostituta. Para o cavaleiro veloz, Cf. Cap. IV, vv. 38 – 39 e o simbolismo geral do Anjo como portador da sagrada lança ou phallus; e montado em um cavalo para indicar sua rapidez e seu poder sobre a natureza animal. O sangue é usado constantemente como um símbolo da vida fluída, o veículo da energia animal.
O significado do verso é então que este derrama da orgia do C. & C. do S.A.G. torna-se a nutrição e o método de intoxicação dos cães, isto é, de animais de um estágio inferior de evolução. É no entanto insinuado que eles contem em si mesmos a divindade escondida. Vede CCXX, Cap. II, v. 19, Eles tem apenas que virar ao contrário a sua fórmula mágica para atingir a divindade. Note-se também o uso da palavra ‘lamber’ (Nota de M.: “lap” no original inglês; é um anagrama de ALP, א, a soma de cujas letras quando escrita por extenso dá 111.), que sugere a sede deles, sua avidez e prazer, mas também está ligada ao simbolismo do 111. Este implica a ‘pesada escuridão’ e a ‘morte súbita’ envolvidas no processo de Iniciação. Há também a doutrina toda do ‘Tolo’ ou ‘Louco’. Além de tudo isto, a palavra ‘lap’ está na linguagem Angélica. (Veja-se o Equinócio I, viii, ‘Os 48 Chamados ou Chaves’.) ‘Porque’ assim indica que a limitação e sofrimento desses cães é devida a subserviência deles à faculdade da razão. ‘Existe grande perigo em me; pois quem não compreende estas runas fará uma grande falha. Ele cairá no mundo chamado Porque, e lá ele perecerá com os cães da Razão. Agora uma maldição sobre Porque e seus parentes! Seja Porque maldito para sempre! Se a Vontade para e grita Por que, invocando Porque, então a Vontade para e nada faz. Se o Poder é fraqueza. Também, a razão é uma mentira; pois existe um fator infinito e desconhecido; e todas as palavras deles são meandros. Bastante de Porque! Seja ele danado para um cão!’ (Liber CCXX, Cap. II, vv. 27 – 33.)
O estudante faria bem em meditar sobre estas considerações até que as tenha assimilado completamente, em separado e em combinação. Ele deveria então construir uma projeção visual da cena descrita neste verso. Desta forma ele eventualmente chegaria a uma apreensão intuitiva direta da maneira em que o trabalho da vida inteira de 666 pode auxiliá-lo a participar do sacramento de iniciação. Cf. também Liber VII, vii, v. 16, vv. 20 – 25 (24), vv. 49 – 50, vv. 56 – 60; o mesmo Livro, Cap. iv, vv. 17 – 24; Cap. vii, vv. 47 – 49.
Eu coloquei tanta ênfase na importância desta passagem devido às seguintes considerações:
Minha carreira mágica pessoal começou quando eu tomei um juramento de alcançar o C. & C. do S.A.G. por motivos inteiramente egoístas e pessoais. Eu havia, é verdade, experimentado o Trance de Dor, mas a motivação dada por este para fazer o juramento estava estritamente circunscrita à minha insatisfação pessoal com a situação em que eu me encontrava – a meu saber, sem nenhuma intenção minha. No curso das preparações para executar a Operação da Magia Sagrada de Abramelin o Mago, eu descobri que os meus interesses eram inseparáveis do resto da humanidade. No entanto, eu formulei a minha Vontade Real desta forma: Minha missão na terra era ensinar aos homens ‘o próximo passo’, isto é, induzi-los a se devotarem a alcançar o C. & C. do S.A.G., em vez de tarefas filosoficamente mais universais como preconizadas pelos sábios hindus e budistas. Foi a minha própria consecução que me compeliu a ampliar o alcance de minha Obra para incluir a função de Logos do Aeon, muito como já foi explicado nas passagens deste Capítulo ainda há pouco discutidas. As duas obras mais importantes de origem estritamente inspirada que eu já produzi são LXV e VII, e agora se torna claro que é natural e necessário que assim fosse. Pois o Liber LXV cobre toda possível questão que possa aparecer em conexão com o Grau de Adeptus Minor, e Liber VII faz o mesmo com o Grau de Magister Templi.
61. Também Eu sou a Alma do deserto; tu me buscarás ainda uma vez na solidão da areia.
61 – 63. Começando com o verso 54 o assunto deste Capítulo, e de fato do Livro inteiro, passou por um processo de modificação. Previamente tratava quase exclusivamente das relações entre o Anjo e o homem, a única variação sendo devida à divisão do homem, por razões de conveniência, em Nephesch, Ruach, etc. De fato, se nós identificarmos o Anjo com Jechidah, seria direito dizer que Liber LXV não é mais que um extenso comentário sobre a coluna LXVII de Liber 777. Mas agora nós primeiro tocamos na consciência do Universo em sua totalidade, e depois na relação peculiar de 666 com seus semelhantes. Nós já vimos que a função dele na vida do Planeta foi definida, e consequentemente não é estranho que o Anjo indique as atuais condições de Suas futuras relações com 666. (Nota de M.: Porém, veja-se o Cap. I, vv. 51 – 52.)
61. O Anjo Se declara a Alma do Deserto. Esta afirmativa pode ser tomada como referência de modo geral à Sua atribuição ao Caminho de Gímel, que liga Kether e Tiphereth cruzando o Abismo, ou Deserto, cuja característica essencial é ausência de alma. Veja-se Liber 418, 10o Aethyr. Choronzon é definido como falta de alma. Por proteicas que sejam as formas da aparição dele, todas tem isto em comum: não existe essência atrás delas. Elas são os Qliphoth (cascões), desprovidas de significado ou substância porque são meras categorias, desabitadas por qualquer individualidade. Gímel, aliás, significa camelo, ‘o navio do deserto’. Cf. Liber VII, vii, vv. 22 – 23, e Liber 333, Cap. 73:
O DIABO, A AVESTRUZ E A CRIANÇA ORFÃ
A Morte cavalga o Camelo da Iniciação.
Tu corcunda de pescoço duro que gemes em Teu Asana, a morte te aliviará!
Não mordas, Zelador querido, mas persiste! Dez dias tu passaste sem água na barriga? Tu passarás vinte mais com um tição aceso no traseiro!
Sim! Toda a tua aspiração é para a morte; a morte é a coroa de toda a tua aspiração. Tripla é a corda de luar de prata; ela te pendurará, Ó Santo, Ó Homem Enforcado, Ó Camelo-Terminação-da-terceira-pessoa-do-plural por tua multiplicidade, tu Fantasma de um Não-Ego!
Pudesse apenas a Tua mãe te ver, Ó tu UNT!
A Infinita Serpente Ananta que circunda o Universo é simplesmente o Verme do Ataúde!
(Comentário ao Capítulo acima, por A.C.:
A letra hebraica Gímel soma 73; significa um camelo.
O título do capítulo foi tirado das conhecidas linhas de Ruduard Kipling: “Mas o camelo militar, sem exagero algum, É um diabo e uma avestruz e um orfãozinho em um.”
O parágrafo 1 pode implicar um dogma de morte como a mais elevada forma de iniciação. A iniciação não é um fenômeno simples. Qualquer iniciação tem que ocorrer em diversos planos, e não é sempre conferida em todos estes simultaneamente. Percepções intelectuais e morais da verdade frequentemente, poderíamos quase dizer usualmente, precedem percepções espirituais e físicas. Uma pessoa seria tola se se declarasse iniciada a não ser que esta iniciação fosse completa em todos os planos.
O Parágrafo 2 será facilmente compreendido por aqueles que praticarem Asana. Existe talvez uma referência sardônica ao rigor mortis, e certamente podemos conceber a atitude semi-humorística do veterano para com o principiante.
O Parágrafo 3 é um comentário no mesmo tom de bom-humor ríspido. A palavra Zelador é usada porque o Zelador da A∴A∴ tem que passar um exame em Asana antes de ser tornar elegível ao grau de Practicus. Os dez dias aludem meramente à tradição sobre o camelo, de que ele pode passar dez dias sem beber água.
O Parágrafo 4 identifica a recompensa da iniciação com a morte; é uma cessação de tudo aquilo que nós chamamos vida, de uma forma que aquilo que nós chamamos morte não é. 3, prata, e a lua, são todos correspondências de Gímel, a letra da Aspiração, desde que Gímel é o Caminho que leva do Microcosmo em Tiphareth ao Macrocosmo em Kether.
Os epítetos são demasiado complexos para serem explicados em detalhe, mas Mem, o Homem Enforcado, tem uma estreita afinidade por Gímel, como será visto de um estudo de Liber 418.
Unt é não apenas Camelo em hindustânico, mas a terminação usual da terceira pessoa do plural do tempo presente de palavras latinas da Terceira e Quarta conjugação.
O motivo pelo qual o leitor é assim chamado é que ele agora transcendeu a primeira e a segunda pessoa. Cf. Liber LXV, Cap. III, vv. 21 – 24, e a tradução de Omar Khayyam por Fitzgerald:
“Falou-se um pouco de Tu e Eu,
Pareceu; e então não mais de Tu e Eu.”
A terceira pessoa do plural tem que ser usada, porque ele agora se percebeu apenas um amontoado de impressões. Pois este é o ponto no Caminho de Gímel onde ele está precisamente cruzando o Abismo; o estudante deve consultar o relato disto dado em “O Templo de Salomão o Rei”.
O Ego é apenas “o fantasma de um não-Ego”, o foco imaginário no qual o não-Ego se torna sensível.
O Parágrafo 5 expressa o desejo do Guru que seu Chela possa a salvo alcançar Binah, a Mãe.
O Parágrafo 6 cochicha o último e temido segredo da iniciação em sua orelha, identificando a vastidão do Santíssimo com o verme obsceno que morde as entranhas dos condenados ao inferno.)
V.V.V.V.V. é o Moto de 666 em seu Grau de Magister Templi. Veja-se Liber LXI, vv. 29 – 30. A função do Magister Templi é fazer com que o deserto floresça, transmitindo o Logos do Aeon a esses que estão abaixo do Abismo.
À parte este significado geral, existe uma alusão pessoal a 666 que é Alastro, o Espírito da Solidão. Tolos rabís incluíram este símbolo em sua lista de demônios. Para o bem-nutrido fariseu, como para o moderno burguês, nada parece mais aterrador que a solidão em que a mente é compelida a encarar a realidade. Semelhante gente teme acima de tudo regiões solitárias e selvagens. Até a lenda mesmo da sua tribo tem a ver com a ‘terra de leite e mel’, a Terra Prometida, o fantasma-desejo do sensualista.
Observe-se que isto é apenas uma questão de ponto de vista. Cap. V, vv. 59 – 62. O que, para o presunçoso judeu com seu complexo de Édipo, é a extrema abominação, para nós é uma ‘terra além de mel e espécies e toda perfeição’, mesmo se a chamamos de ‘Nada’. Nós consideramos os ‘cansados’, e seu ideal de conforto e civilização, como ‘velha terra cinzenta.’ De gustibus non est disputandum. Mas existe um critério neste caso, pelo qual podemos determinar se nós ou eles escolheram a melhor parte. Pois é evidente que nenhuma condição de existência pode ser verdadeiramente satisfatória se o prazer que ela causa pode ser perturbada. A questão é se a sua natureza é harmônica com a natureza do Universo. Pois a estabilidade depende disto. Nós consequentemente verificamos que o ideal do burguês é o repouso, e que sua concepção do Cosmo é estática. Ora, experiência comprova que tal não é o caso. Desejar repouso é portanto ir contra a própria Natureza. Nós aceitamos este fato e definimos os Irmãos Negros diretamente como esses que tentam interromper o curso dos acontecimentos. Para nós o burguês é um desajeitado, ignorante Mago Negro amador. Nossa idéia de alegria é um livre movimento contínuo, e a estabilidade da nossa alegria é assegurada pela nossa concepção mesma de Jesod. Nós vemos que a fundação do Universo é mudança contínua. Quanto mais nós mudamos, mais fixos estamos em nossa alegria. Veja-se os Aethyrs 11o e 3o, e várias passagem similares dos Livros sagrados. Nós estamos garantidos pela natureza intrínseca das coisas, enquanto que o burguês está sendo constantemente perturbado pelos assuntos mais triviais, como a passagem do tempo e a flutuação do câmbio.
As dificuldades da vida no deserto, e em particular o seu horror psicológico, indicam enfaticamente esta correspondência.
À parte esta referência Alastor, a palavra novamente lembra os históricos eventos de 3 de dezembro de 1909 e.v., em Bou Saada, quando 666 passou cerimonialmente pela Iniciação ao Grau de Mestre do Templo. Isto explica a alusão. Daí é evidente que a importância destes versos é inteiramente prática. Eles não devem ser tomados em um senso místico, mas como definitivamente predizendo um Grande Retiro Mágico a ser realizado por 666 em algum período no futuro. Não parece existir qualquer indicação clara quanto à data dessa jornada, mas suas condições são estabelecidas com considerável precisão, e o local mesmo da ‘consumação’ é descrito em termos tais que não deve haver dúvida.
O estudante deveria aqui consultar o relato de tais acontecimentos como a busca e descoberta da Villa Caldarazzo, se ele deseja aprender a interpretar as instruções recebidas através de visões e oráculos.
Eu sempre tomei esta passagem neste sentido. Eu tenho esperado perceber, mais cedo ou mais tarde, que as minhas circunstâncias são tais que o curso de ação apropriado é fazer uma jornada tal que, após, será verificado que ela é uma precisa e exata realização desta predição. No momento de escrever este Comentário uma tal jornada está precisamente sendo contemplada, e pode talvez ser parte dos preparativos, e pode talvez ser parte dos preparativos dela que eu fui movido a devotar minhas energias à análise deste Livro. É portanto diretamente pertinente ao meu próprio trabalho, e deveria ser extremamente útil da maneira mais prática ao estudante, se eu traçar tão minuciosamente quanto possível as possíveis relações do simbolismo do texto.
Em vista, porém, da extrema importância desse Grande Retiro Mágico, seria definitivamente impróprio discuti-lo coram populo enquanto ainda incoado. Mais, é uma característica bem conhecida de toda verdadeira profecia que, se bem que algumas das alusões devem ser inteligíveis no momento da pronunciação dela, de forma que o significado geral não seja passível de engano, no entanto devem haver outras passagens completamente impossíveis de interpretar até que a ocorrência predita venha a se processar. Em Macbeth e parte I de Henry VI, Ato I, Cena 4, e Ato IV, Cena I, linhas 30 – 35, e Ato V, Cena 2, linhas 67 – 69 ilustram esta condição. O estudante é também referido à interpretação e cumprimento a profecia em CCXX, III, 47. Nenhum número de investigações me teria habilitado a dizer em que sentido as palavras da predição se viriam a justificar.
No caso do Grande Retiro Mágico indicado nestes versos, os dados são singularmente precisos. Mesmo quanto ao efeito do Trabalho, V. 63, existe um número de expressões pouco usuais – ‘enfeitado’, ‘ungido’, ‘Consumação’ – as quais no presente são, e devem assim continuar até o evento, perfeitamente obscuras. O verso, superficialmente, é vago ao máximo. Estas expressões poderiam ser aplicadas a quase qualquer forma de relação de Aiwass com a Besta. Quando o Retiro for um assunto para a história, tornar-se-á aparente que estas expressões descrevem com precisão quase matemática a natureza da orgia, e que em cada caso nenhuma outra palavra poderia substituir a palavra usada. Esta circunstância deveria ser prova irrefutável para esses que compreendem algo das leis da Natureza, especialmente no que concerne à doutrina da probabilidade, de que Aiwass possui o poder de predizer ocorrências futuras e de fazê-las ocorrer conforme Seus planos. A natureza vaga das expressões do presente é evidentemente uma parte essencial desta prova. Pois se eu fosse capaz de interpretá-las agora da maneira surpreendente e convincente com que o tempo me permitirá fazê-lo, eu poderia, exercendo prudência, arranjar a realização da profecia, e desta forma destruiria o seu valor evidencial. Este parágrafo foi ditado por mim a Frater O.P.V. na noite de 17 de Julho de 1923, e.v. (Na realidade, de 10h às 10.20 da noite, Terça-Feira, 17 de Julho de 1923, no Hotel Au Souffle du Zephir, Marsa Plage, Tunisia. An XIX Sol in 24o Câncer, Luna in 14o Virgo.) A passagem será mostrada a Eddie para confirmação.
62. À tua mão direita, um grão-senhor, e formoso; à tua mão esquerda uma mulher vestida em gaze e ouro, tendo as estrelas em seu cabelo. Vós viajarei longe numa terra de mal e pestilência; vós acampareis no rio de uma tola cidade esquecida; lá vos encontrareis Comigo.
63. Lá Eu farei Minha habitação; como para bodas Eu virei enfeitado e ungido; lá a Consumação será feita.
64. Ó meu querido, Eu também espero pelo brilho de hora inefável, quando o universo será como uma cinta para o meio do raio do nosso amor, estendendo-se além do fim permitido do Infindo.
64. A linguagem deste verso é curiosamente extravagante, no entanto curiosamente exata. A impressão é que o Anjo está perpetrando violência sobre a linguagem, compelindo glifos ambíguos a assumirem forma definida.
Referir ao Cap. III, v. 12, e meu comentário. Versos 64 – 65 aparentemente fixam a conotação da palavra ‘consumação’ no verso 63.
É difícil apontar qualquer motivo definido para minha impressão, no entanto é minha impressão que o amor então se estenderá não mais como até agora somente até Tiphareth (Liber LXV) ou até Binah (Liber VII), mas até Kether e o Ain Soph (Ilimitado). O infindo parece porque ser Kether. Pelo menos, eu não posso conceber outra alternativa. Kether pode ser legitimamente descrito como infindo devido à sua unidade. Mas em tal caso, que significado podemos atribuir a ‘fim permitido’? A sugestão é que existem realmente dois fins, um permitido, isto é, arbitrariamente atribuído, o outro inerente em sua natureza. A referência poderia então ser ou a Malkuth ou ao Ain.
O fim ‘alternativo’ pode representar não ‘finis’ mas Telos. O fim permitido pode ser parafraseado como ‘o fito legítimo’.
Também, ‘infindo’ poderia ser tomado como equivalente de ‘sem objetivo’. O canon da perfeição da vontade é dado em CCXX, I, 44: ‘Pois vontade pura, desembaraçada de propósito, livre da ânsia de resultado, é toda via perfeita.’
Kether como unidade pode ser descrito como infindo porque é em si mesmo um resultado, um produto de ‘amor sob vontade’, a resolução da Dyada.
O Universo é comparado com uma ‘cinta para o meio do raio do nosso amor’, como se aquele raio fosse uma ilimitada linha de luz. A totalidade da existência manifestada seria então a fronteira da simples central SEÇÃO deste amor.
Este estado de coisa se passará quando cada um dos dois amantes se tiver identificado com a ideia infinita da qual ele é naturalmente um caso (centralizado ou constringido) particular. Em outras palavras, o Anjo e o Adepto cada qual terá atingido auto-aniquilação ou dissolução do ser de Nuit e Hadit respectivamente; e assim o ponto de junção, a câmara nupcial, será no meio do Universo dos fenômenos finitos precipitado pela união dos infinitos complementos. O Universo será em fato determinado pelo raio que representa a vontade de amar destes dois. O fenômeno é portanto paralelo ao ato fundamental de criação. Esta fórmula é tão profunda e importante que deve ser apreendida e assimilada pelo estudo das teorias e ela concernente em CCXX antes que o estudante possa esperar atribuir qualquer significado verdadeiramente definido às ideias que eu acabo de tentar traduzir na linguagem de concepções intelectuais.
Além disto tudo, existe indubitavelmente um significado Neshâmico ou Samâdhico no verso 64 que não é de forma alguma suscetível de interpretação intelectual, a não ser por um Magister Templi que tenha feito um esforço especial para construir uma linguagem capaz de cruzar o Abismo entre Neschamah e Ruach, entre a consciência Samâdhica e as condições normais de vida consciente.
65. Então, Ó tu coração, Eu a serpente te devorarei por completo; sim, Eu te devorarei por completo.
65. A conclusão – e seja lembrado que este capítulo inteiro trata da expressão da Vontade Inconsciente – é que a ‘Consumação’ do C. & C. do S.A.G., cuja conotação é fixada pelo verso 64, é a completa e irrevogável absorção da consciência humana do Adepto naquela do seu S.A.G. O símbolo do coração, isto é, da apaixonada vida passiva do Adepto, é consumido (consumação) na vida eterna e divina representada pela serpente. A serpente é uma vibração de energia cujas curvas complementares aparecem como morte e vida. É a mudança de direção nos pontos solsticiais das curvas que produz a ilusão de stasis e portanto provoca nomenclatura por parte desses que não conseguem compreender a continuidade da linha, vendo como veem apenas um seu diminuto arco. A ideia é apreendida quando a ‘serpente’ é tomada como no verso 54. Qualquer glifo que seja escolhido, o pensamento é o mesmo. A consumação implica a transformação da vida humana na contínua vibração espiral serpentina daquela pura energia que não é diminuída pelos seus resultados, que nem anseia pelos seus resultados nem é diminuída por eles.
CAPÍTULO V
Este Capítulo é atribuído ao elemento do Espírito; consequentemente trata da harmonização, em termos da Humanidade, das Quatro Formas Cegas de Energia. Em capítulos prévios, o homem 666, por ser uma ideia tão grosseira e tão complexa, não tinha nenhum direito natural a qualquer lugar nas relações entre o seu Anjo e o Adepto que ele selecionou e aperfeiçoou em si mesmo. 666, o ‘escriba’, etc., como ele é chamado em diversas passagens, deve formular um elo entre si e os outros (Veja-se Capítulo I, v. 31, vv. 41 – 49, etc.)
Mas como o Espírito, descendo ao centro de Fogo, Água, Ar e Terra, os constitui em uma Unidade, Microprosopus, assim este capítulo resume os quatro capítulos prévios, aplicando-os a 666. Explica como as Bodas Químicas de seu Ente Mágico com o seu Anjo afetam a totalidade do ser dele. A linguagem, consequentemente, é menos técnica; certas passagens, realmente, são inteligíveis tal como estão escritas, mesmo a mentes completamente sem iniciação.
1. Ah! meu Senhor Adonai que brincas com o Magister na Tesouraria das Pérolas, que eu escute o eco de vossos beijos.
1. 666 começou a compreender sua relação com o Casamento do Capítulo IV, vv. 54 etc. Pois a raiz de Yod (em Tetragrammaton) está no ‘Inconsciente’ que liga a consciência humana à Consciência Mágica. Cf. Cap. I, v. 41, ‘o eco de vossos beijos’; porque a realidade de tais relações está além de apreensão articulada: podemos nos tornar conscientes apenas do reflexo (em termos do Ruach) da intuição Neschâmica.
Este fato explica a impotente tagarelice dos antigos Místicos: eles eram compelidos a empregar expressões retóricas, como uso de palavras tais como ‘inefável’ e metáforas magnificamente misteriosas. Mas agora por fim S.H. Frater V.V.V.V.V., 8o = 3o colaborou com G.H. Frater O.N., 7o = 4o, para construir uma linguagem verdadeira, como símbolos acuradamente definidos, pela qual gesta da A∴A∴ (acima do Abismo) pode ser traduzida na linguagem da R.R. et A.C. (abaixo do Abismo). Vede Liber DCCCXIII vel Ararita: diversas passagens, mas especialmente Cap. V, vv. 1 – 8. A maior parte dos meus escritos sobre a orgia do Santo Espírito do Homem, desde a Espada de Canto, Konx Om Pax, e 777, até o Bagh-i-Muattar e meus Relatórios Mágicos, e talvez principalmente valiosa para a humanidade por representar a primeira tentativa sistemática de interpretar a Intuição de Neschsmah em termos do Intelecto de Ruach.
A ‘Tesouraria de Pérolas’. Vede 777, Coluna 127, onde Pérolas são atribuídas ao Primeiro Palácio (as Três Supernas) e ao Sétimo (Yesod e Malkuth). Mas o simbolismo da Pérola – ou Orvalho – é peculiarmente apropriado para descrições da Boda Química. A Pérola é ZRO (vede o Bagh-i-Muattar; o Continente Perdido, etc.), uma enuviada Nebulosa contendo o Rashith-ha-Gilgalim do novo Universo criado da Quintessência da Substância da Unidade do Anjo e do Adepto, extrapolada desta por virtude de ‘amor sob vontade’ no momento da Raptura.
No Capítulo I, o Capítulo da Terra, o escriba ou profeta 666 é colérico, importuno, laborioso e envergonhado. Ele ainda não tivera sucesso em estabelecer as relações apropriadas. Agora ele foi bem-sucedido; “que eu escute” não é uma exigência ou pedido. Implica o poder, como em um verdadeiro subjuntivo. Cf. ‘que a luz se faça’. Ele não espera por resposta.
2. Não é o céu estrelado sacudido como uma folha à trêmula raptura do vosso amor? Não sou eu a esvoaçante fagulha de luz arremessada longe pelo grande vento da vossa perfeição?
2. Ele continua com absoluta confiança a indicar a fonte dos seus poderes. Ele nota que o céu estrelado (Nuit) é ‘sacudido’, isto é, sua continuidade é rompida pela Boda Química. No outro extremo, a condição estática dele é destruída. Ele se compreende não mais como um fixo ser terrestre, mas como a ‘esvoaçante fagulha de luz’ – uma pura vibração dinâmica. Esta concepção, formulada pela primeira vez em Liber CCXX, e já explicada neste Comentário, é em fato a primeira condição daquilo que os Budistas chamam Samma Dithi – correta perspectiva. Enquanto homem se concebe como um ente, em vez de como uma energia, ele atribui a si próprio não, como supõe o profano, estabilidade, mas estagnação, que é a morte.
Além disto, esta fagulha é praticamente identificada com a raptura da Boda Química.
3. Sim, gritou o Santíssimo, e da Tua fagulha Eu o Senhor acenderei uma grande luz; Eu queimarei por completo a cidade cinzenta na velha terra desolada; Eu a limparei da sua grande impureza.
3. Já foi explicado que o absoluto abandono do falso ser é a primeira condição da existência do Verdadeiro Ser. Enquanto 666 parecia a si mesmo uma existência separada, ele permanecia impotente. No momento em que ele se compreende ‘arremessado pelo grande vento da vossa perfeição’ o Anjo lhe declara seu sucesso precisamente naquele plano de ilusão por ele abandonado. O sofrimento e fracasso de 666 nascem de sua contemplação de seus semelhantes, da imperfeição e miséria, do tédio da existência sobre este planeta. Ele verificara que seus esforços pessoais, longe de redimirem o dano, tendiam pelo contrário a aumentá-lo. Agora porém que a personalidade foi destruída, ela se torna eficiente. É impossível mudar qualquer estado fixo atuando sobre este em seu próprio plano. Quando muito, pode-se re-arranjar seu caráter pela fórmula de ALIN (Veja-se Livro 4, Parte III, Cap. iv), a fórmula da feitiçaria. Não importa como manipulemos os dígitos de um número divisível por 9, ele continua um múltiplo de 9. (Considere-se atentamente a doutrina toda do número 9. As referências já foram indicadas neste Comentário.)
O mundo de Assiah é uma cristalização da ideia Atzilúthica através de Briah e Yetzirah. Pode ser efetivamente modificado pela importação de alguma outra quintessência Atzilúthica. É portanto inútil para 666, como um ente de Assiah, o procurar consertar Assiah. Ele pode fazer isto apenas exaltando-se a Atziluth pela Consecução do Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião, e atuando sobre Assiah através de Briah partindo de Yetzirah.
O Anjo espontaneamente promete a 666 que sua Vontade Real se tornará operativa. A diminuta fagulha da sua individualidade será incendiada em uma grande luz, e esta luz consumirá a impureza da ‘cidade cinzenta na terra velha e desolada’. Este Livro foi escrito em Londres, e a aparente referência no primeiro caso é àquela cidade. O texto pode significar que de alguma forma 666 se tornará ‘uma grande luz’, um fenômeno portentoso prenhe de destruição aos olhos de seus habitantes.
Nesta interpretação não é claro o significado de ‘sua grande impureza’, ou de que forma a manifestação de 666 a ‘limpará’. O método apropriado de exegeses que imediatamente ocorre é reunir as passagens nos Livros Santos que se referem àquela cidade e estudá-los à luz dos eventos históricos em que 666 tomou parte. Mesmo assim, a despeito de certos possíveis incidentes significativos, pareceria que um tal acontecimento ainda está no futuro.
Não há, naturalmente, qualquer sinal seguro de que esta interpretação é válida. Uma alternativa poderia ser procurada no valor numérico do equivalente grego de ‘cidade cinzenta’, ou pode vir a transparecer que alguma cidade em particular tem direito a ser designada como cinzenta.
Mais, a alusão pode ser estritamente uma metáfora poética; ‘cidade cinzenta’ pode significar não mais que um lugar onde homens se reúnem, um local sombrio, enevoado (Veja-se Cap. IV, vv. 59 – 60).
4. E tu, Ó profeta, verás estas coisas, e tu não ligará a elas.
4. Cf. verso 21, Liber CCXX, iii, 16; também Cap. I, v. 44. Parece ser sempre implicado que o trabalho de 666 será secreto em um senso peculiar da palavra. Vede Liber CCXX, Cap. I, v. 10. Eu devo operar mudanças importantes na sociedade humana, àparte a mudança cardial afetando o começo do Aeon de Hórus e a proclamação da Lei de Thelema. Mais, eu verei, ao menos até certo ponto, os resultados do meu trabalho, e é importante que eu não me permita sentimentos de desencorajamento ou de satisfação na contemplação deles.
5. Agora está o Pilar estabelecido no Vazio; agora está Asi satisfeita por Asar; agora é Hoor baixado à Alma Animal das Coisas como uma estrela flamejante que cai sobre a escuridão da terra.
5. Este verso confirma a interpretação do verso 3. Existe uma referência bem diferente ao Equinócio dos Deuses. ABRAHADABRA, a Fórmula Mágica do Aeon (que não deve ser confundida com a Palavra da Lei do Aeon) representa o estabelecimento da coluna, pilar ou falo do Macrocosmo de 6 ideias positivas no vazio do Microcosmo de 5 Alephs. Aleph é um vazio ou cteis, sendo o Atu marcado 0.
O símbolo geral é repetido em termos particulares. Isis e Osíris governam respectivamente os dois Aeons (da Mãe e do Deus Sacrificado) pelos quais nós acabamos de passar. A satisfação de Asi por Asar indica que a operação deles está completada, sua conjunção tendo resultado na aparição de Hórus (Heru-ra-ha em seus aspectos gêmeos a) Força e Fogo e b) Silêncio).
O verso nos diz que se cumpriu aquilo que era a Grande Obra de 666 (sua relação oficial com a A∴A∴, contrastada com sua carreira pessoal como magista) proclamar.
A ‘alma animal das coisas’, isto é, o Nephesch do Mundo. O Senhor do Aeon representa mais que um novo estágio na infiltração progressiva da escuridão da matéria pela luz. Ele age diretamente sobre o Mundo de Assiah.
Note-se em particular a forma assumida por ele – aquela de ‘uma estrela flamejante que cai sobre a escuridão da terra.’ É como um meteoro ou um raio que ele invade o planeta (Note-se que ele é ‘baixado’, do ponto de vista da terra ele aparece de modo terrível, mas do ponto de vista dos Deuses ele é imbuído de toda possível gentileza.).
6. Através da meia-noite tu és deixado cair, Ó minha criança, meu conquistador, meu capitão cingido com a espada, Ó Hoor! Eles te acharão como uma nodosa brilhante pedra negra, e eles te adorarão.
6. O simbolismo da meia-noite e da ‘nodosa brilhante pedra negra’ sugere uma referência ao Atu XVIII, onde Khephra o Escaravelho, o Sol da Meia-Noite, aparece viajando em seu barco sob o Céu. (A pedra é em toda parte convencionalmente aceita como um símbolo do Sol.) A despeito da promessa do símbolo – ‘existe uma aurora em botão da meia-noite’ – esta primeira aparição de Horus é escura e amedrontadora. No entanto Ele é achado sob esta forma e adorado.
A natureza do símbolo se torna inconfundível pelos epítetos adicionais: uma ‘criança’ indica a irresponsabilidade e inocente arteirice. ‘Meu conquistador’ define-O como vencendo a oposição da inércia, ou naturais preconceitos, da ‘velha guarda’ dos profanos. (Cf. Liber CCXX, iii em geral, e particularmente vv. 3 – 9, 11, 17, 18, 28, 32, 46, 49 – 55, 59, 70 – 72.)
‘Meu capitão cingido com a espada’. Isto acentua o aspecto guerreiro em que Horus primeiramente aparecerá (Nota de M.: Este Comentário foi escrito mais de quinze anos antes da Segunda Guerra Mundial; a Primeira Guerra Mundial seguiu em nove meses a segunda publicação do Livro da Lei; a Guerra do Balkã seguiu em nove meses a primeira publicação.).
Tomando-se estes versos como se referindo diretamente à primeira publicação do Livro da Lei, em Londres, observe-se que nove meses após a publicação do Equinócio I, vol. 10, a guerra estalou de forma que Horus foi adorado precisamente sob este aspecto e da maneira bem irrazoável que havia sido predita.
7. Meu profeta profetizará a teu respeito; em tua volta dançarão as donzelas, e brilhantes bebês lhes nascerão. Tu inspirarás os orgulhosos com infinito orgulho, e os humildes com um êxtase de abjeção; tudo isto transcenderá o conhecido e o Desconhecido com algo que não tem nome. Pois é como o abismo do Arcano que é aberto secreto Lugar de Silêncio.
7. ‘Meu profeta’, como em v. 4, refere-se a 666. Cf. Liber CCXX, Cap. i, v. 26, etc. Este título é-lhe dado com mais frequência que qualquer outro. O termo ‘profeta’ ou ‘sacerdote’ é contrastado com ‘A Besta’, cuja conexão é com a minha função em Tiphereth, implicando minha hombridade, minha realeza, minha maestria do êxtase, e como cumprindo a função a que se refere o Apocalipse, tanto quanto a confusão causada pela deliberada corrupção do texto daquele livro nos permite calcular.
O título ‘profeta’ refere-se à função de serviço aos Deuses proclamados em Liber CCXX, e de administrar os sacramentos (a nova Magia, fórmula AB……..A, etc.). O título ‘príncipe’ pode ter conexão com a atribuição a Tiphereth, desde que Microprosopus é o Vau de Tetragrammaton, Vau tendo o valor de 6, e correspondendo aos quatro príncipes (às vezes chamados Imperadores) do Tarot.
A ‘profecia’ aqui mencionada é antes de mais nada CCXX, Cap. iii, este livro mesmo, e vários outros poemas, ensaios e rituais. Liber 418, Aethyr I.
O segundo parágrafo indica Horus em seus aspectos ativo e adulto. O estudante é referido à completa exposição do significado da letra Aleph, em particular àquela parte em que se explica que ‘o bebê no ovo de azul’, Harpócrates, no qual todo poder é latente (ele sendo Harpócrates, Bacchus Diphues, Zeus, Baphomet, Parsifal como o ‘Puro Louco’, o Grande Louco das Lendas Célticas, a traquinas crianças Hermes, etc.) no primeiro estágio de inocência pantomorfa, desenvolve-se ao chegar à puberdade em Parsifal o cavaleiro-andante, que obtém a Coroa ao ganhar a Filha do Rei (um mistério sobre o qual foram fundados os costumes temporais de muitas raças primitivas. Veja-se Sir James Fraser, ‘The Golden Bough’.). O Hermes fálico, o Baphomet do Atu XV, Zeus que assume a forma de uma besta para impregnar várias mulheres (a Mulher Escarlate no Atu XI. Veja-se também as lendas da Bela e a Fera, do Diabo do Sabbath, do Minotauro, Hércules – a princípio disfarçado como desarmado e ambisexual), muitas lendas asiáticas.
O Senhor do presente Aeon, dois em um (Vau, Hé, Atu VI, nascido da união de Yod e Hé), tem sido o assunto de profecia através da história. Sua natureza, funções e relação com os outros Deuses é assim matéria de conhecimento geral entre os iniciados e mesmo simples letrados. Ao mesmo tempo, sua presente aparição é, num certo sentido, um fenômeno original. Pois Ele é representado em CCXX como terceiro em relação a Nuit e Hadit, não como primeiro; Nuit e Hadit estando completamente além da compreensão de quem quer que seja, com exceção da ‘Besta & sua Noiva e os vencedores da Ordália x’. (CCXX, iii, 22) Ele é portanto mostrado como nascendo espontaneamente. Não existe referência a Isis e Osiris, os tradicionais pai e mãe de Horus na teogonia dos egípcios.
‘A tua volta dançarão as donzelas, e brilhantes bebês lhe nascerão.’ Isto lembra o costume quase universal de circunambulação ou dança em redor do lingam, ‘maypole’ (Nota de M.: O equivalente na tradição portugo-brasileira é o ‘poste de S. João’), ou qualquer outro símbolo apropriado da faculdade criadora. A voz do escândalo sugere que mulheres que adotam este rito tornam-no afetivo através de precauções fisiológicas. Mas mesmo assim, a congruidade dos dois métodos é evidente, e a filoprogenitividade é tão justificada de seus filhos quanto a Sabedoria. Os puritanos afirmavam com razão que o Maypole era um ligam, e que a festa daquele dia (Nota de M.: “Festa de S. João”, e a “Festa Junina” em geral, principalmente em cidades do interior do Brasil e Portugal, onde a tradição está menos deturpada.) era um festival de Priapus.
A seção restante do verso é extremamente obscura. A humildade parece ser desencorajada pelo Livro da Lei como incompatível com a correta compreensão de nós mesmos como uma estrela, um rei, um ente divino ou soberano tanto quanto o maior dos Deuses. Mais; tende a levar ao Pecado, isto é, Restrição, uma vez que os humildes são capazes de não afirmar sua independência e seus direitos. Daí pareceria que em algum senso a humildade deve ser uma virtude positiva cujo clímax em um ‘êxtase de objeção’ não é menos merecedor de respeito que qualquer outra forma de trance. Veja-se o Yi, capítulo XV, o Hexagrama Khien. Este Hexagrama é composto por trigrama do princípio fêmea ☷ modificando o símbolo da Terra ☶. Veja-se o último trigrama em Liber Trigrammaton. ‘Portanto foi o fim daquele sofrimento; mas naquele sofrimento uma gloriosa estrela de seis pontas por cuja luz eles pudessem enxergar para retornar à Habitação sem mancha; sim, à Habitação Sem Mancha. (Liber XXVII) Abesement (Nota de M.: A palavra usada no original inglês é traduzida como abjeção.) significa movimento em direção à base, isto é, em direção ao Fundamento, Yesod, que representa a resolução da antinomia Estabilidade-Mudança. Observe-se a harmonia simpática de todos estes símbolos e compare-se-os além disto com a doutrina do Tao Teh King com respeito à suprema força da água, que permanece em seu próprio nível, e que é a apoteose da fraqueza, no senso que o Tao Teh King, do princípio ao fim, atribui a esta palavra. Eu tomo esta oportunidade, além do mais, para citar o Livro das Mentiras.
TAT
Ex nihilo N.I.H.I.L. fit.
1. o Fogo que se contorce e queima como um escorpião.
2. a inconspurcada, sempre fluente água.
3. o Espírito interpenetrante, fora e dentro. Não é se nome ABRAHADABRA?
4. o inconspurcado, sempre fluente ar.
5. a verde terra fértil.
Ardentes são os Fogos do Universo, e em suas adagas eles suspendem o sangrento do coração da terra.
Sobre a terra jaz a água, sensual e sonolenta.
Acima da terra paira o ar; acima do ar, mas também abaixo, o fogo – e em todos – o material de toda existência entretecido em Seu invisível desenho, está AIGHP.
Cap. 86.
(Comentário a este Capítulo por A.C.: O número 86 se refere a Elohim, o nome das forças Elementais.
O título é o sânscrito para Aquilo, no senso de “O Existente”.
Este capítulo é uma tentativa por substituir Elohim por um hieróglifo mais satisfatório dos elementos.
A melhor atribuição de Elohim é Aleph, Ar; Lamed Terra; He, Espírito; Yod, Fogo; Mem, Água. Mas a ordem não é boa; Lamed não é satisfatório para Terra, e Yod é uma forma demasiado espiritualizada de Fogo. (Mas veja-se Livro 4, Parte III.)
Parágrafos 1 – 6. De Nada, Nada é feito. A palavra Nihil é tomada para afirmar que o universo Nada é, e aquilo será agora analisado. A ordem dos elementos é aquela de Jeheshua. Os elementos são tomados bastante como na Natureza; N facilmente é Fogo, desde que Marte rege Escórpio; a virgindade de I serve a Água e Ar, elementos que na Magia são estreitamente entrelaçados; H, a letra do alento, é apropriada para Espírito; Abrahadabra é chamado o nome de Espírito, porque é Cheth; L é Terra, verde e fértil, porque Vênus, a verdura, fertilidade e chazice das coisas e a Senhora de Libra, Lamed.
No parágrafo 7 nós nos voltamos para a assim-chamada atribuição Jetzirática de Pentagrammaton, aquela seguida pelo Dr. Dee, e pelos hindus, tibetanos, chineses e japoneses. Fogo é a Fundação, o miolo central, das coisas; acima disso forma-se uma crosta agitada de debaixo, e sobre isto se condensa o vapor d’água original. Em volta disso flui o ar, criado por Terra e Água através da ação da vegetação.
Assim é o globo; mas tudo isto é um mero tremor no aethyr, AIGHP. Eis ai um novo Pentagrammaton, presumivelmente passível de uma outra análise dos elementos; mas de forma diversa. Alpha (A) é Ar; Rho (P) o Sol; estes são o Espírito e o Filho da teologia cristã. No centro está o Pai, expresso como Pai-e-Mãe.
I – H (Yod e He), Eta (H) sendo usado para expressar “a Mãe” em vez de Epsilon (Ê), para mostrar que Ela foi impregnada pelo Espírito; é o alento ríspido, e não o macio. O centro de tudo é Theta (Θ), que originalmente era escrito como um ponto em um círculo (☉), o sublime hieróglifo do Sol no Macrocosmo, e no Microcosmo do Lingam em conjunção do o Yoni.
Esta palavra ΑΙΘΗΡ (Aethyr) é portanto um hieróglifo perfeito do Cosmo em termos de Teologia Gnóstica.
O leitor deveria consultar La messe et ses Mystères, de Jean ‘Marie de V….. (Paris et Nancy, 1844), para uma demonstração completa da incorporação dos Mistérios Solar e Fálico no cristianismo.)
PÊSSEGOS
Macio e oco, como tu vences o duro e cheio!
Ele morre, entrega-se; a Ti o fruto! Sê tu a Noiva; tu serás a Mãe no futuro. A todas as impressões assim. Não deixes que elas te conquistem; no entanto deixa que elas engendrem dentro de ti. A mais insignificante das impressões, chegada à sua perfeição, é Pan. Recebe mil amantes; tu parirás apenas Uma Criança.
Esta criança será o herdeiro do Destino, o Pai.
Cap. 4
(Comentário a este Capítulo, por A.C.
Daleth é a Imperatriz do Tarot, a letra de Vênus, e o título, Pêssegos, novamente se refere a Yoni.
O capítulo é um conselho de aceitar todas as impressões; é a fórmula da Mulher Escarlate; mas não deve ser permitido a qualquer impressão que domine você, apenas que lhe frutifique; da mesma forma como o artista, vendo um objeto, não o adora, mas dele engendra uma obra prima. Este processo é exibido como um aspecto da Grande Obra. Os dois últimos parágrafos podem ter alguma referência com o 13o Aethyr (veja-se A Visão e a Voz).)
Daí é evidente que a humildade e abjeção mencionadas não tem relação com a 10a ‘virtude’ à qual é dado o nome de humildade: a humildade de Uriah Heap e Pecksniff, de Tartuffe, do ‘Jesus crucificado’ da A.C.M., C.I.C.C.U. e semelhantes associações do rebanho, que é sempre acompanhada por hipocrisia, inveja, baixa astúcia e a síndrome de temores característicos daqueles que se sabem inferiores. É curioso refletir que na Inglaterra nós associamos essa atitude mental com o Cristianismo, principalmente o Cristianismo Romano, enquanto no Continente precisamente as mesmas características são atribuídas ao Judaísmo.
Os ‘humildes’ nesta passagem estão evidentemente empregando uma definida fórmula mágica, com absoluta energia e confiança.
Os resultados da manifestação de Horus são agora ditos como transcendendo ‘o Conhecido e o Desconhecido com algo que não tem nome’; Está bem claro que isto é assim, mas é longe de óbvio por que razão o fato deva ser tão enfaticamente afirmado e explicado, especialmente em uma terminologia tão pouco usual e tão obscura. A palavra ‘isto’ na sentença final pode referir-se ao ‘algo’ sem nome ou a ‘tudo isto’.
O ‘secreto Lugar de Silêncio’ é o útero de Nuit ou ‘ovo de azul’ que esconde o bebê Harpócrates.
A expressão ‘Arcano que é aberto’ pode talvez ser parafraseada ‘a verdade secreta que é manifestada’. O Abismo pode sempre ser tomado como significando ‘ausência de apoio’. É a forma ou meio de manifestação de tudo que não está assim manifestado. Alternativamente, pode ser que o abismo é aberto, quer dizer, tornado passível de investigação.
‘Tudo isto’ não tem nome porque é a ‘ultimal unidade demonstrada’ (vede CCXX, iii, 37) de Horus. Sua identidade absorve estes diversos fenômenos absolutamente por igual. Na perfeita pureza da criança, ou puro louco (Parsifal, ao lhe perguntarem seu nome, respondeu ‘Eu não sei’), todas as diferenças desaparecem para sempre; ver CCXX, i, v. 4, e vv. 22 – 23. Este verso 7 pode portanto ser sumarizado mais ou menos como segue:
A proclamação de Horus por 666 habilitará toda pessoa a executar sua função legítima ou Real Vontade, e assim fazendo, a alcançar a perfeição de sua própria natureza, enquanto que a ilusão de individualidade é inteiramente destruída. Tal como está escrito, Liber CCXX, i, 44 – 45:
‘Pois vontade pura, desembaraçada de propósito, livre de ânsia de resultado, é toda via perfeita.
‘O Perfeito e o Perfeito são um Perfeito e não dois; não, são nenhum!’
8. Tu chegaste aqui, Ó meu profeta, por graves caminhos. Tu comeste do excremento dos Abomináveis; tu te prostraste diante do Bode e do Crocodilo; os homens maus fizeram de ti um joguete; tu vagaste como uma rameira pintada, sedutora com doces perfumes e pintura chinesa, pelas ruas; tu escureceste os cantos dos teus olhos com Kohl; tu tingiste teus lábios de vermelho; tu emplastaste tuas bochechas com esmaltes de marfim. Tu bancaste a desavergonhada em todo portão e cada beco de grande cidade. Os homens da cidade te seguiram desejosos de te abusar e te bater. Eles mastigaram as douradas lantejoulas de fino pós com as quais tu adornas-te tua carne pintada com seus açoites; tu sofreste coisas indizíveis.
8. A essência desta rapsódia é clara; entretanto, o plano em que melhor pode ser interpretada diferirá de acordo com o grau de iniciação alcançado pelo leitor.
De um modo geral, porém, pode ser parafraseada: ‘Tua alma foi submetida à contaminação da ilusão material e fenomenal. Cf. Cap. II. 4 – 6, 7 – 16; III, vv. 4 – 12; 40 – 48; IV, vv. 2 – 3, 5, 33 – 37, 42 – 44. Veja-se também Liber VII, diversas passagens, as quais podem ser descobertas pelo reto engenho do Adepto Exempto.
9. Mas Eu queimei dentro de ti como uma pura chama sem óleo. À meia-noite Eu brilhei mais do que a lua; durante o dia Eu excedi completamente o sol; nos atalhos pouco trilhados do teu ser Eu flamejei, e desfiz a ilusão.
9. A despeito do acima, o Sagrado Anjo Guardião tem sempre habitado o ente do Adepto, não necessitando nem mesmo a nutrição representada pelo ‘óleo’. (Para este símbolo veja-se o Livro 4, Parte II, Capítulo 5.) (Nota de M.: Veja-se também Cap. IV, v. 36, e o comentário.)
O Anjo excede igualmente Sol, Lua e Agni, os três princípios que (no simbolismo hindu) entram em curso sucessivamente durante cada vinte e quatro horas, assim determinando o caráter do Dhyana alcançado em qualquer período do dia.
10. Portanto tu és completamente puro diante de Mim; portanto tu és Minha virgem eternamente.
10. A relação do homem com o seu Anjo independe de seus atos qua homem. Seu Nephesch, considerado como em relação com o não-Ego, é incapaz de interferir com o seu verdadeiro Nephesch.
11. Portanto, Eu te amo com excedente amor; portanto aqueles que te desprezam te adorarão.
11. Isto sendo compreendido pelos profanos, eles percebem o Homem em sua própria perspectiva. Eles percebem que os ‘vícios’ de Shakespeare e Shelley não detraem do seu gênio.
12. Tu serás amorável e piedoso para com eles; tu os curarás do mal inominável.
12. Os profanos sendo assim purificados, são capazes de receber o benefício da Iniciação do Adepto.
13. Eles mudarão aos serem destruídos, mesmo como duas estrelas escuras que se chocam no abismo e esbraseiam num incêndio infinito.
13. A referência parece ser a uma teoria (fora da moda no presente) quanto à formação das nebulosas. O ponto aqui é simplesmente o íntimo contato de duas ideias aparentemente ‘escuras’ ou ‘malignas’ resulta em sua transmutação em luz. É ‘amor sob vontade’.
14. Durante tudo isso Adonai transpassou meu ser com sua espada que tem quatro lâminas; a lâmina do raio, a lâmina do Pilone, a lâmina da serpente, a lâmina do Falo.
14. Adonai: אדני. Aleph é a swastika ou Raio por sua forma; Daleth significa porta ou Pilone; Num refere-se a Scorpio, a Serpente; Yod é o Falo (Yod de IHVH) considerado como a idéia mais íntima e mais simples.
15. Também, ele me ensinou a santa indizível palavra Ararita, de forma que eu derreti o ouro sêxtuplo em um único ponto invisível, do qual nada se pode dizer.
15. Veja-se Liber Ararita (DCCCVIII sub figura DLXX) para isto. A maneira simbólica de escrever a Palavra éUm volume à parte poderia ser escrito – e deveria ser, e será escrito! – sobre os Arcanos deste Hieróglifo.
16. Pois o Magistério desta Opus é um magistério secreto, e o sinal do mestre nisso é um certo anel de lápis-lazúli com o nome do meu mestre, que sou eu, e o Olho no Meio.
16. A referência é a um anel material: veja-se ‘o Espírito da Solitude’ para algum relato a respeito. As letras em volto do Olho são V.V.V.V.V. Veja-se Liber LXI,vv. 29 e seguintes. Estas são as iniciais do Moto de 666 como Mestre do Templo, 8o = 3o ‘Vi Veri Vni versum Vivus Vici’. Também, V é a letra latina significando 5, e seu valor (ו ou ϝ) é 6. A alusão é portanto a 5o = 6o, a Grande Obra. Novamente, o arranjo das letras do lápis-lazúli indicava o Pentagrama.
17. Também Ele falou e disse: Isto é um sinal secreto, e tu não o revelarás ao profano, nem ao neófito, nem ao zelador, nem ao prático, nem ao filósofo, nem ao adepto menor, nem ao adepto maior.
17 – 18. A instrução é pessoal e prática. Cf. CCXX, Cap. I, vv. 10 e 50. O M.T. se comunica, como tal, apenas com o Adeptus Exemptus: isto é, diretamente.
18. Mas ao adepto exempto tu te revelarás se tiveres necessidade dele para as operações menores de tua arte.
19. Aceita a adoração da gente tola a quem odeias. O Fogo não é conspurcado pelos altares dos Ghebers, nem é a Lua contaminada pelo incenso daqueles que adoram a Rainha da Noite.
19. Novamente pessoal e prática para 666. Eu tenho causado muita complicação por insistir em tornar tudo claro a gente que não estava preparada para tal.
Ghebers: Adoradores do Fogo da Pérsia. Veja-se o Comte de Gabineau: Trois Ans em Asie.
Geralmente, o abuso de uma fórmula não injuria a parte passiva, que não está envolvida e não incorre responsabilidade.
20. Tu viverás entre o povo como um diamante preciso entre diamantes nublados, e cristais, e pedaços de vidro. Somente o olho do mercador justo te contemplará, e mergulhando sua mão te escolherá e te glorificará diante dos homens.
20. Ainda pessoal e prática. 666 deve continuar a viver sua vida normal como homem do mundo, irreconhecido como o que é salvo pelo ‘mercador justo’, o homem que pode julgar valores corretamente. É o dever e o privilégio de algum tal homem trazer a 666 sua devida medida de fama.
21. Mas tu não ligarás a nada disto. Tu serás sempre o coração, e Eu a serpente Me apertarei em volta tua. Meus anéis nunca se relaxarão através dos aeons. Nem mudança nem sofrimento nem insubstancialidade te terão; pois tu passaste além de todos estes.
21. 666 (naturalmente) ligará tão pouco à fama quanto ele tem ligado à incompreensão, ao abuso e à calúnia. Ele estará inteiramente absorvido em Sua consecução do Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião. Isto é o sempiterno. Mudança, sofrimento, insubstancialidade: Anicca, Dukkha, Anatta; as Três Características. Veja-se meu ‘Ciência e Budismo’ e outras referências.
22. Mesmo como o diamante brilhará rubro para a rosa e verde para a folha da roseira; assim tu permanecerás àparte das Impressões.
22. Impressões: Vrittis. O Verdadeiro Ser independe de todos os fenômenos. Veja-se numerosas explicações destes assuntos em muitos dos meus escritos. Veja-se, em particular, meu Tao Teh King (Nota de M.: A tradução dele para o inglês, que é a melhor em existência.); o M.T. reage com perfeita elasticidade a todos os impactos, parecendo completamente passivo para com todos por igual; mas na realidade não é influenciado no mínimo que seja por qualquer deles.
23. Eu sou tu, e o Pilar está estabelecido no vazio.
23. Compare-se este refrão com vv. 5, 24, 25. No verso 5 a Grande Obra é anunciada impessoalmente. Aqui é identificada com a Consecução.
24. Também tu estás além das estabilidades do Ente e da Consciência e da Bemaventurança; pois Eu sou tu, e o Pilar está estabelecido no Vazio.
24. Ente, Consciência, Bemaventurança: Sat, Chit, Ananda. Veja-se meus escritos sobre a Filosofia Hindu. Contraste-se com o verso 21. A Consecução emancipa o Adepto de todas e quaisquer condições.
25. Também tu discursarás sobre estas coisas ao homem que as escreve, e ele partilhará delas como um sacramento; pois Eu que sou tu sou ele, e o Pilar está estabelecido no vazio.
25. A consciência humana de Aleister Crowley deverá ser iluminada sobre este ponto. Ele deverá ser assim santificado, e ‘consumado’ ou ‘consumido’. Esta Boda Química o une ao seu Anjo e ao Adepto, Três em Um e Um em Três; esta é a perfeição final da união. Daí a repetição pela quarta vez do símbolo do Pilar no Vazio. Cf. as Quatro Consagrações no Ritual do neófito da A∴D∴
O Practicus não deve ficar surpreendido – nem mesmo ele! – de ver os assuntos privados de 666 discutidos em uma Publicação Classe A da A∴A∴ que se propõe a lidar com a Grande Obra de 5o = 6o. Este livro trata primariamente da Consecução daquele Grau por 666; e é somente porque toda Consecução verdadeira é quase que por completo impessoal que o seu conteúdo é válido para o Aspirante em geral.
26. Da Coroa ao Abismo, assim vai ele único e ereto. Também a esfera ilimitada resplandecerá com o seu brilho.
26. A Coroa, Kether; o Abismo, quer Daath ou aquilo que está além de Malkuth. A Esfera ilimitada, o Ain Soph. O significado geral é que a Consecução enche o Universo inteiro.
27. Tu te regozijarás nas poças de água adorável; tu enfeitarás tuas donzelas com pérolas de fecundidade; tu acenderás flama como línguas lambentes de licor dos Deuses entre as poças.
27. As poças, e a flama entre elas, refere-se às Sephiroth e aos Caminhos. O significado geral é que a Consecução tornou o Adepto capaz de executar trabalho criador em todas as esferas.
28. Também, tu converterás o compassante ar nos ventos de água pálida, tu transmutaras a terra em um abismo azul de vinho.
28. Torna-o, além disso, capaz de executar transmutações; não é bem claro por que motivo estes exemplos especiais foram escolhidos, a não ser que seja por razões puramente poéticas (Eles são, em essência, Ar em Água, e Terra em Fogo.).
29. Rútilos são os coriscos de rubi e outro que ali chispam; uma gota intoxicará o Senhor dos Deuses meu servo.
29. Para as cores neste e no último verso, cf. CCXX: ‘Azul sou Eu e ouro na luz de minha noiva: mas o brilho rubro está em meus olhos; & minhas escamas são púrpuras & verde.
‘Púrpura além do púrpura: é a luz mais alta que a visão.
‘Existe um véu; aquele véu é negro.
É o véu da mulher modesta; é o véu do sofrimento, & o manto de morte: isto é nada de me. Rompei aquele mentiroso espectro dos séculos: não veleis vossos vícios em palavras virtuosas: estes vícios são meu serviço; vós fazeis bem, & Eu vos recompensarei aqui e no além.’ (Cap. II, vv. 50 – 52.) O Senhor dos Deuses presumivelmente é Júpiter; ele pode ter sido escolhido porque a transmutação inteira refere-se a Chesed, ou por causa da sua posição como a mais alta Sephira de Microprosopus.
30. Também, Adonai falou a V.V.V.V.V., dizendo: Ó meu pequenino, meu terno, meu pequenino amoroso, minha gazela, meu lindo, meu menino, enchamos o pilar do Infinito com um infinito beijo!
30 -33. A identificação dos diversos elementos nos quais a Iniciação analisou o indivíduo original está agora completa. A Grande Obra – Solve et Coagula – foi efetuada. Não existe distinção entre Consecução pessoal de Aleister Crowley e a Proclamação da Palavra da Lei de Thelema através dele. Aqueles que percebem o significado disto assumem corretamente que a consecução marca o fim de um Aeon.
31. De modo que o estável foi sacudido e o instável se aquietou.
32. Aqueles que viram isto gritaram com um formidável medo: O fim das coisas chegou.
33. E assim foi.
34. Também, eu estive na visão espiritual e contemplei uma pompa parricida de ateístas conjugados de dois em dois no êxtase superno das estrelas. Eles riam e se regozijavam extremamente, estando vestidos em robes de púrpura e embriagados com vinho púrpura, e sua alma inteira era uma só purpures flama-flor de santidade.
34 – 40. Esta passagem é talvez a mais obscura do livro inteiro.
34. ‘Parricida’ Eles mataram seus pais: isto é, eles alcançaram a maturidade varonil e a consciência da independência da sua Individualidade.
‘Pompa’. Eles celebram sua consecução de Liberdade através de um Espetáculo de Triunfo. Eles manifestam a Divindade que eles conquistaram. ‘Ateistas’. ‘Allah é o ateísta! Ele não adora Allah!’ (Bagh-i-Muattar). Eles estão livres da obsessão de mortalidade e dependência.
‘Conjugado’. Eles se unem com seus camaradas por ‘amor sob vontade’, sendo iguais e idênticos a despeito de suas aparentes diferenças (Veja-se CCXX, i, vv. 2 – 4; 22, 50, etc.) em virtude do êxtase de sua comum relação com Nuit.
‘Riam e se regozijavam’. Veja-se CCXX, i, 26, 58; ii, 19 – 26, 35 – 44, 62 – 64, 70; iii, 46.
‘Púrpura’. Veja-se CCXX, i, 61; ii, 24, 50 – 51. Púrpura é a cor da realiza e a cor do êxtase: em particular, das Bodas Químicas de Nuit e Hadit.
35. Eles não viam Deus; eles não viam a Imagem de Deus; portanto eles estavam erguidos ao Palácio do Esplendor Inefável. Uma espada afiada golpeava diante deles, e o verme Esperança retorceu-se nas vascas da morte sob os seus pés.
35. Este verso elabora a ideia de ‘Ateistas’. Cf. também Cap. I, 7 – 9, etc. Seu lugar natural sendo Yesod (cuja cor é púrpura), eles, tendo destruído a Fundação, são elevados a Hod (cuja cor também é púrpura). Veja-se Liber 777, Col. XVII.
A ‘espada’. Sua arma de destruição intelectual.
A ‘Esperança’ é um verme rastejante, sendo o sinal da falta de compreensão de Nós Mesmos como supremo deleite.
36. Mesmo quando a raptura deles despedaçou a Esperança visível, assim também o Medo Invisível fugiu correndo e não mais foi.
36. Cf. ‘The City of Dreadful Night’. (Nota de M.: Poema de James Thomson (B.V.). O título significa: A Cidade da Noite Horrenda.)
37. Ó vós que estais além de Aormuzdi e Ahrimanes! Abençoados sois através das idades.
37. Na teologia persa, os princípios de Bem e Mal. Cf. Nietsche e nossa própria doutrina, apresentada em muitas formas e muitos lugares.
‘Através das idades’. ‘Le-Olahm’ לעולם. Veja-se o ritual do Pentagrama. O valor da palavra é 176; isto é 8×22, ou 16×11, e isto significa Redenção da Serpente (22 letras) ou o Poder Mágico (11) aplicado à Torre Fulminada (Atu XVI), cujo significado pode ser visto neste Comentário, acima.
38. Eles fizeram uma foice da Dúvida, e colheram as flores da Fé para suas grinaldas.
38. TRABALHO DE TERRIER
Duvida.
Duvida de ti mesmo.
Duvida mesmo de se duvidas de ti mesmo.
Duvida de tudo.
Duvida mesmo de se duvidas de tudo.
Parece algumas vezes como se debaixo
de toda dúvida consciente jazesse
alguma certeza profunda. Ó mata
isso! Mata a serpente!
O chifre do Bode-Dúvida seja exaltado!
Mergulha mais profundamente, sempre
mais profundamente, no Abismo da
Mente, até descobrires a raposa
AQUILO. Avante, cães! Pega! Pega!
Trazei AQUILO ao cerro!
Então, toca o Clarim proclamando o fim
da caçada!
Liber 333, Cap. 51
(Comentário de A.C. sobre este Capítulo:
O número 51 significa fracasso e dor, e apropriadamente seu assunto é a dúvida.
O título do capítulo foi tomado emprestado do saudável e fascinante esporte(Nota de M.: A.C. está sendo sarcástico, citando frases desse próprio tipo de ‘esportista’. O único tipo de caça que ele recomendava era aquela com risco de vida; e está apenas para conquistar o medo.) da caça à raposa, que Frater Perdurabo praticou em sua juventude.
Este capítulo deveria ser lido em conexão com “O Soldado e o Corcunda” (Nota de M.: Ensaio no Equinócio I, vol. 1.), de que é, de certo modo, uma epítome.
Seu significado é suficientemente claro, mas em parágrafo 6 e 7 será notado que a identificação do Soldado com o Corcunda atingiu tal altura que os símbolos trocam de lugar, o entusiasmo sendo representado como a serpente sinuosa, o cepticismo como o Bode de Sabbath. Em outras palavras, um estado é alcançado em que a destruição é tanto deleite quanto a criação. (Compare-se o Cap. 46.)
Além de tudo isto está em um mental ainda mais profundo, que é AQUILO.)
39 Eles fizeram uma lança do Êxtase, e atravessaram o velho dragão que estava sentado sobre a água estagnada.
39. ’Lança’: a arma de Sol (e de Marte). ‘Dragão’: o Dragão que Desce. (Nota de M.: Veja-se Cap. IV, v. 35 e o Comentário.) Veja-se O Templo do Rei Salomão, o diagrama da Queda, O Equinócio, Vol. I, 2, página 283. (Nota de M.: Refere-se à edição original inglesa.)
‘Água estagnada’: a ‘alma’ em seu estado ininiciado, passiva, corrompida e estagnada, refletindo erroneamente as imagens do não-Ego. (A ideia budista da Mente é idêntica a esta concepção.) As palavras ‘sentado’ e ‘estagnada’ ligam isto à doutrina dos Irmãos Negros, e à teoria de CCXX do Universo como Movimento, ou Energia.
40. Então as fontes frescas foram libertadas, para que a gente sedenta pudesse estar à vontade.
40. A destruição desta ilusão libera a alma para Pureza e Movimento, para ‘estar à vontade’, o que não significa indolência, mas liberdade de ação, pela qual os homens anseiam. A água pura é o Princípio de Elasticidade, o Transmissor de Energia. A Alma Pura é identificada com o Espírito Movente que a informa, refletindo-o verdadeiramente com perfeita compreensão. Veja-se todo do simbolismo das Taças. Vede Livro 4, Parte II, Cap. VII. Veja-se em particular Cap. III e meu Comentário.
41. E de novo eu fui arrebatado à presença de meu Senhor Adonai, e o conhecimento e Conversação do Santo, o Anjo que me Guarda.
41. A passagem 34 – 40 foi na ‘visão espiritual’. Segue a passagem de 30 – 33. 34 – 40 assim se torna inteligível: é a minha visão da humanidade no Novo Aeon do qual eu proclamei a palavra. Agora eu retorno à contemplação da minha relação pessoal com meu Anjo.
42. Ó Santo Exaltado, Ó Senhor além do ser, Ó Imagem Auto-Luminosa do Nada Inimaginável, Ó meu querido, meu belo, vem Tu e segue-me.
42. Eu repito a Invocação. Ele é a Imagem de Nuit. A propriedade destas frases se torna clara se estudarmos as descrições já dadas da natureza d’Ele.
43. Adonai, divino Adonai, lá Adonai inicia refulgente deleite! Assim eu escondi o nome do nome d’Ela que inspira minha raptura, o odor de cujo corpo confunde a alma, a luz de cuja alma rebaixa este corpo às bestas.
43. A primeira sentença é um acróstico de ‘Ada Laird’. Esta foi uma das moças com as quais eu tinha intimidade na época da escrita deste livro. Nestes versos eu deliberadamente identifico minha satisfação sexual com o meu êxtase espiritual, assim negando com finalidade qualquer diferença entre quaisquer duas partes do meu ser consciente.
44. Eu suguei o sangue com meus lábios; eu sequei Sua beleza de sustento. Eu A rebaixei diante de mim, eu A amestrei, eu A possui, e a vida d’Ela está em mim. No sangue d’Ela eu inscrevo os enigmas secretos da Esfinge dos Deuses, que nenhum compreenderá – salvo apenas os puros e voluptuosos, os castos e obscenos, os andróginos e as ginandras que passaram além das barras da prisão que o velho Lodo de Khem estabeleceu nos Portões de Amennti.
44. Isto constitui um profundo enigma de Santidade. Note-se ΄Η Σφίγξ – Γραίός = 781 = 71 x 11. Vejam-se autoridades para significados especiais destas palavras.
Somente compreendem isto aqueles que em si próprios combinam os extremos da Ideia Moral, identificando-os por um transcendental domínio da antinomia. Eles devem ter ido ainda além, transcendendo a oposição fundamental dos sexos. O macho deve ter se completado e se tornado andrógino; a fêmea, e se tornando ginandra.
Esta incomplecção aprisiona a alma. Pensar ‘Eu não sou mulher, mas um homem’, ou vice-versa, é limitar-se a si próprio, opor uma barreira aos movimentos do ser. É a raiz do ‘fechamento’ que culmina em se tornar ‘Maria inviolada’ ou um ‘Irmão Negro’. Por ‘velho Lodo de Khem’ é aqui significado o princípio de estagnação que era simbolizado no Egito (Khem) por Sebek, o habitando da lama do Nilo – Veja-se acima, e em Liber 418 para um relato completo. Note-se que isto não é ‘maligno’, mas simplesmente o entupimento da Energia Universal. As ‘forças opostas do Bem e do Mal’ são complementares, e devem ser unidas por ‘amor sob vontade’ – assim alcançando, em êxtase, uma nova concepção transcendendo os planos destes opostos.
Assim, o meu obstáculo principal é a crença que qualquer Ideia ativa possa ser ‘maligna’; e é portando o dogma principal dos Deuses-Escravos, o ‘Pecado Original’, a existência de um ‘Diabo Pessoal’ oposto a uma Bondade Onipotente – Ahrimanes e Aormuzdi como acima – que ameaça a minha Vontade.
Amennti – o Oeste – o lugar da Morte – é o ponto atribuído a Osiris em seu aspecto de Deus Sacrificado, isto é, na parlança moderna, a ‘Jesus’. Para nós, ‘A Palavra de Pecado é Restrição’. A única possibilidade de ‘mal’ é que a Vontade possa ser estorvada. Em contraste, para os escravos de ‘Jesus’, não há quase nenhum ato que não seja por natureza um ‘pecado’. Mesmo a nossa ‘retidão é como farrapos imundos’. ‘Não existe ninguém bom, não, nenhum’, etc. etc. etc. ad nauseam et praeter! Para nós, portanto, ‘Jesus’ é precisamente a fonte e origem de todo ‘mal’, pois esta idéia é sinônima com a ideia de Restrição em todos os planos. A concepção cristã do pecado como a vontade do homem natural, o ‘Velho Adão’, é a base de todo conflito interno – de insanidade moral.
É verdade que alguns escritores, chamando-se a si mesmos de cristãos, têm-se declarado pelo Antinomismo; mas a ortodoxia os tem sempre condenado; é evidente que as doutrinas deles implicam o panteísmo. Os sofismas de Paulo demonstram com suficiente clareza quão profundamente falsos para conosco mesmos a gente tem que ser para tentar mesmo apenas desviar a mente do dilema implícito nas teses que a ‘Salvação’ emancipa do ‘Pecado’, mas ao mesmo tempo o ‘Santo’ é moralmente obrigado pelas ‘leis de Deus’. As passagens sobre isto seriam risíveis se a História não as tivesse estigmatizado como atrozes.
45. Ó minha adorável, minha deliciosa, a noite inteira eu verterei a libação nos Teus altares; a noite inteira eu queimarei o sacrifício de sangue; a noite inteira eu balançarei o turíbulo do meu deleite diante de Ti, e o fervor das orações intoxicará Tuas narinas.
45. Aqui existe uma identificação deliberada das mesmíssimas palavras da Invocação do Sagrado Anjo Guardião com essas apropriadas a uma fervente rapsódia endereçada a uma rameira.
46. Ó Tu que vieste da terra do Elefante, cingido com a pele do tigre, e engrinaldado com o lotus do espírito, inebria Tu a minha vida com Tua loucura, para que Ela pule quando eu passe.
46. ‘A terra do Elefante’: a Índia. A referência é a Dionísio – a Bacchus Diphues. O símbolo do Atu 0 já foi explicado em detalhe. Note-se a ênfase dada aqui aos seus atributos: o viril ardor animal, a coragem e a ferocidade do tigre; a voluptuosa feminilidade passiva, sensual (engrinaldado), entretanto, espiritual, do lotus; no entanto, destes cuja Boda Química é aquele de Nuit e Hadit – Ele é imune. (Ele é Inocência e Silêncio – o Bebê no Ovo de azul.) Eu O invoco para que ‘inebrie a minha vida’ com Sua ‘loucura’; para que me inspire com o seu êxtase essencial.
HINO A BACCHUS
Salve, filho da Semela!
A ti seja, a ti e a ela,
Louvor, e vida eterna, e divindade bela!
Vergonhosa traição!
Da esposa olímpica a mão
Cruel trama teceu contra a doce paixão!
Vede! Em rugidora flama
Desce Zeus! E como clama
Em Tebas, corpo em fogo, a nobre, a real dama!
Nesse incêndio consumida,
Ergue a voz do deus querida
Pedindo que ao Bebê no Ventre salve a vida!
E tu lhe escutaste o rogo,
Tu, Zeus, percebeste o jogo,
E tiraste o bebê do chuveiro de fogo!
Em tua coxa sagrada
Foi a criança encerrada;
De néctar, de ambrosia e luz alimentada!
Com cabelos de serpente,
Corpo lindo, olhar ardente,
Ó Dionísio, tu surgiste finalmente!
Sim! Os sonhos do destino
Nós ousamos dar de ensino
E celebrar enquanto amamos neste hino!
Ó tu, Dionísio, escuta!
Vem rápido, vem, labuta,
Sussurra teu segredo em cada orelha e gruta!
Ó tu, Dionísio, enceta
Qual apolônica seta!
Em cada coração teus chifres achem meta!
A última frase, ‘que Ela pule quando eu passe’, é peculiarmente obscura. ‘Ela’ pode ser tomado como se referindo a – a Ada Laird – a eu não sei que!
47. Comando Tuas moças que Te seguem a que nos faças uma cama de flores imortais, para que ali tomemos nosso prazer. Comanda Teus sátiros a que amontoem espinhos entre as flores, para que ali tomemos nossa dor. Que o prazer e a dor sejam misturados em uma suprema oferta ao Senhor Adonai!
47. Finalmente, prazer e dor devem ser misturados, identificamos, em uma Boda Química deles próprios. Pois todos os possíveis elementos de sensação devem tomar parte do supremo Sacramento. Omitir o que quer que seja seria deixar imperfeita, e portanto ‘maligna’, a coisa omitida; seria excluir um hóspede do Festim Nupcial; restringir o Universo naquela dimensão particular.
48. Também, eu ouvi a voz de Adonai o Senhor o desejável sobre aquilo que está além.
48 – 52. Uma vez mais, o plano da Comunhão entre o Adepto e o Anjo muda: esta passagem é uma simples instrução. Deveria ser lida em conexão com o Capítulo I, v. 9, e outros textos onde se menciona ‘aquilo que está além’. É-me dito aqui, como pela primeira vez na minha Iniciação de 1905 – 1906, que minha Missão à Humanidade concerne ao Próximo Passo na Escada de Jacó da Ascensão Espiritual da Raça. Eles devem progredir de uma maneia sadia e ordeira; não subindo que nem Ícaro a alguma mal-definida percepção como Nibbana; mas, com firmeza e espírito crítico, usando as faculdades que tem da maneira mais vantajosa; satisfazendo adequadamente, acuradamente, com aspiração inteligente, cada função de suas naturezas; sem tentar escapar ao duro trabalho da evolução, sem tentar correr antes de poderem andar; assegurando cada passo à medida que é tomado; fortificando cada posição à medida que é conquistada antes de procederem ao ataque da linha seguinte de trincheiras.
A campanha de Napoleão em 1812 – a campanha de Moscou – deveria servir de aviso ao Aspirante.
Em minha experiência eu tenho notado que este erro é o mais perigoso que jovens magistas que prometem tendem a cometer; enquanto que, no caso da grande maioria, isto simplesmente os impede de fazerem o mínimo progresso.
49. Que os habitantes de Tebas e seus templos não boquejem sempre dos Pilares de Hércules e o Oceano do Oeste. Não é o Nilo uma água bela?
49. Cf. Cap. II, vv. 37 – 44 e Comentário. Vivendo em Tebas, busquei vossa água no Nilo, em vez de perder vosso tempo em vastas, vagas, vaporosas fantasias sobre o Atlântico. Em bom português, segui precisamente e pacientemente o sistemático curso de Iniciação prescrevido pela A∴A∴ SÊDE MINUCIOSOS E METÓDICOS; COMPLETAI TODOS OS DETALHES E CONDIÇÕES. Um pássaro na mão é melhor que dois voando. De grão em grão a galinha enche o papo. Esses que desprezam detalhes são eventualmente destruídos precisamente por essas coisas que eles julgaram triviais; e seu desapontamento e desgraça são ainda mais humilhantes.
50. Que o sacerdote de Isis não descubra a nudez de Nuit, pois todo passo é uma morte e um nascimento. O sacerdote de Isis levantou o véu de Isis, e foi morto pelos beijos da sua boca. Então foi ele o sacerdote de Nuit, e bebeu do leite das estrelas.
50. Todo incidente da vida é de importância estrutural. Nenhum homem se pode permitir omitir a experiência própria ao seu presente estágio de iniciação. Satisfaça a fórmula de Isis – não importa, no momento, que Isis seja uma manifestação ‘mais baixa’ do Yin que Nuit! – e você chega imediatamente a ser sacerdote de Nuit, e recebe o Seu infinito amor. (Veja-se meu ‘Através do Golfo’, Equinócio I, vol. 7, pp. 295 – 354.) Eu prefiro o Aspirante ao diário de S.H. Frater O.I.Y.V.I.O., o qual, em vez de percorrer pacientemente e metodicamente a trilha própria e o Trabalho apontado ao Zelador, tomou vantagem de uma Regra sutil da A∴A∴ a qual permite a qualquer homem, qualquer que seja o grau dele, o declarar-se um Mestre do Templo, e, por mera virtude do seu Juramento, tornar-se um. Neste caso a intensa pureza da aspiração do nosso Irmão, e a Necessidade Mágica – em um assunto não diretamente ligado à sua carreira pessoal na Ordem – de que ele tomasse um tal espantoso passo, com seus olhos abertos à responsabilidade e perigo envolvidos, salvou-o das consequências que teriam esmagado qualquer pretendente arrogante, insolente ou presunçoso. Entretanto, sua ignorância nos detalhes dos Graus intermediários levaram-no constantemente a cometer os mais deploráveis erros, das devastadoras penalidades dos quais ele foi salvo pela amante vigilância do seu Superior na Ordem, pelo menos no que se referia as catástrofes mais críticas.
51. Que o fracasso e a dor não desanimem os adorantes. As fundações da pirâmide foram talhadas da rocha viva antes do pôr-do-sol; chorou o rei na madrugada porque a coroa da pirâmide ainda não havia sido cortada da pedreira na terra distante?
51. Existe ainda uma terceira consideração a fazer sobre a doutrina do Próximo Passo. Parece de fato ser muito mais fácil vagar pelo País das Maravilhas da Tríada Superna do que cavocar penosamente através do Caminho de Tau; formular o voto de Renúncia de um Dhamma-Buddha, em vez de conquistar Asana através de angustiante aplicação e terrível agonia daquele detestado e desprezado fantasma físico, o corpo, cuja obsessão é ao mesmo tempo um insulto, uma amolação, e o âmago de Distração, Dispersão, Degradação, Desgosto e Desespero!
Mas isto é uma ‘danosa heresia e uma perigosa ilusão’, devido ao simples fato que ninguém pode de forma alguma ter a mínima ideia da Natureza do Trabalho de qualquer Grau além do seu – e eu digo isto com toda ênfase, a despeito da minha devoção e determinação de descrever os detalhes do Caminho dos Sábios – tendo mesmo me dado ao trabalho de inventar o que é praticamente uma linguagem nova para este fim.
É verdade que eu tenho sido bem-sucedido em que o Iniciado, ao chegar a qualquer Grau, instantaneamente reconhece a autoridade de minha descrição, assim confirmando sua confiança no meu conhecimento do assunto, e sua segurança que ele realmente atingiu o grau em questão, e não está sendo enganado pela sua vaidade. Mas, até ele ter real experiência desta parte do Caminho, ele fatalmente interpretará erroneamente minha mais simples exposição dos seus mais evidentes sintomas.
A não ser que o Aspirante compreenda por completo e se conforme por completo com esta inerente incapacidade, ele está muito sujeito a tentar evadir a imprecisa, tediosa, terrível disciplina do seu Grau, tanto mais repugnante porque representa precisamente a limitação dele no momento, e a se divertir muito imaginando-se um Adepto Exempto, ou um Arahat, ou mesmo – eu conheci um tal especialista na arte de se enganar a si próprio – um Ipsissimus! Não significava nada para o grande homem que a única referência àquele Grau em todos os nossos Livros Sagrados é uma indicação de uma certa prática (a qual em si está além da compreensão de qualquer pessoa a não ser os Mestres do Templo de mais poderosas mentes!) como a ‘abertura do Grau’.
A Parábola da Pirâmide não requer comentário: é tão lúcida quanto sublime.
A passagem toda pode ser sumarizada como um apelo ao Bom Senso – chamado Senso Comum (lucus a non lucendo), porém a mais rara das faculdades humanas. No entanto, a verdade jaz além deste cínico apotegma. Bom senso é realmente comum a todos os homens: é a propriedade do Inconsciente, cuja Onisciência iguala sua Onipotência. O problema é que, praticamente em todo caso particular, o Intelecto insiste em interferir: a vaidade anseia por ser lisonjeado tentando ‘aperfeiçoar’ o que é naturalmente perfeito – com resultados uniformemente desastrosos. Esta é uma das principais interpretações das repetidas diatribes no Livro da Lei contra ‘a Razão’, contra ‘Porque e sua raça’ (CCXX, II, 27 – 33, etc.) ou qualquer outra semelhante usurpação da realeza do indivíduo pelas suas próprias, auto-criadas ilusões.
O intelecto deveria ser um aparelho através do qual podemos expressar os fatos da Natureza. Mas não é capaz sequer de interpretá-los: essa é a função de Neschamah. Mesmo sua faculdade crítica está limitada ao propósito de aparente coerência interna: de evitar qualquer aparência de conflito. Quando se arroga qualquer outra função, é ultra crepidam.
Note-se a palavra Mas em CCXX, ii, 34, marcando a antítese do correto curso de ação (vv. 34 – 51) contra o errôneo (vv. 27 – 33).
52. Houve também um beija-flor que falou ao cerastes de chifres, e rogou-lhe por veneno. E a grande sobra do Khem o Santo, a real serpente Ureus, respondeu-lhe e disse:
52. A Parábola do Íbis, do Beija-Flor e da Serpente Uraeus.
Qualquer comentário seria impertinente: o significado da parábola, por profundo que seja, é tão lúcido quanto qualquer passagem em literatura; e a linguagem, lindamente ornada como é, possui uma sublimidade e simplicidade toda sua.
O valor mora, em particular, desafia aquele das tão elogiadas parábolas dos Evangelhos. Contraste-se o sectarianismo, a trivialidade e (com demasiada frequência) a obliquidade moral daquelas com esta obra prima.
53. Eu naveguei sobre o céu de Nu no carro chamado Milhões-de-Anos, e não vi nenhuma criatura sobre Seb que fosse minha presa igual. O veneno da minha presa é a herança de meu pai e do pai de meu pai; e como o darei a ti? Vive tu e teus filhos como eu e meus pais temos vivido, mesmo durante cem milhões de gerações, e pode ser que a misericórdia dos Poderosos confira sobre teus filhos uma gota do veneno antigo.
54. Então o beija-flor afligiu-se em seu espírito, e voou por entre as flores, e foi como se nada tivesse sido dito entre eles. No entanto daí a pouco uma serpente golpeou e ele morreu.
55. Mas um Íbis que meditava sobre a margem de Nilo o lindo deus ouviu e escutou. E ele abandonou seus hábitos de Íbis e tornou-se como uma serpente, dizendo Talvez em cem milhões de milhões de gerações dos meus filhos eles conseguirão uma gota do veneno da presa do Exaltado.
56. E vede! Antes que a lua enchesse três vezes ele virou uma serpente Ureus, e o veneno da presa foi estabelecida nele e sua semente mesmo para sempre e para sempre.
57. Ó tu Serpente Apep, meu Senhor Adonai, é um grão do tempo mais mínimo, esta viagem pela eternidade, e à Tua vista as marcas são de lindo mármore branco intocado pela ferramenta do gravador. Portanto Tu és meu, mesmo agora e para sempre e para sempre mais. Amém.
57. Este verso completa a concepção do tempo estabelecida na Parábola. No Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião, as divisões do tempo não mais implicam diferença. Para usar a metáfora romana, cada dia é marcado com uma pedra branca. Mas não existe diferença entre estas pedras; todas parecem ser igualmente monumentos de brilhante candura, intocada pelos detalhes da vida. Todos os eventos ordinários param de perturbar o brilho uniforme da Pura Consciência da Eterna Comunhão.
58. Além disto, eu ouvi a voz de Adonai: Sela o livro do Coração e da Serpente; no número cinco e sessenta sela tu o santo livro.
Como ouro fino que é batido em um diadema para a linha rainha de Faraó, como grandes pedras que são cimentadas juntas na Pirâmide da cerimônia da Morte de Asar, assim liga tu as palavras e os atos, de forma que em tudo há um só Pensamento de Mim Adonai teu deleite.
58 – 65. A passagem final sumariza o Livro inteiro. Ela exige íntimo estudo e destro manejo por parte do Comentarista; pois cada verso, se bem que completo por si só, é um elemento integral e necessário do todo.
58. ‘eu’: o Escriba: cf. verso 48.
A significação do número LXV foi explicado na nota prefacial. As metáforas neste texto são curiosas. Uma é de ouro – ouro fino – batido com ouro fino para formar um círculo (Nota de M.: O diadema, tradicionalmente, é um círculo de algum metal precioso, ornamentado ou não, para enfeitar o toucado de senhoras) para enfeitar uma noiva e rainha. A referência é ao Adepto em sua relação com Adonai.
A metáfora da pedra é, por outro lado, de Tiphareth. (O texto assume que a Grande Pirâmide de Gizeh foi de fato planejada como um Templo de Iniciação onde muito apropriadamente se celebrava o Ritual do Deus Sacrificado.) Para o simbolismo todo da pedra, veja-se a Qabalah, os rituais da Maçonaria, etc.
Note-se que as palavras e atos, sendo corretamente ligados, perdem sua natureza grosseira e tornando-se puro pensamento. (As letras capitais, Th, M, A podem ser lidas אמת, Verdade. (Nota de M.: No original inglês, a frase traduzida como ‘de forma que em tudo há um só Pensamento de Mim Adonai teu deleite’ é ‘so that in all is one Thought of Me thy delight Adonai’. Daí o acróstico.)
59. E eu respondi e disse: Está feito mesmo de acordo com a Tua palavra. E foi feito. E aqueles que leram o livro e debateram sobre ele passaram à terra desolada das Palavras Estéreis. E aqueles que selaram o livro no seu sangue foram os escolhidos de Adonai, e o Pensamento de Adonai era uma Palavra e um Ato; e eles habitaram na terra que os viajantes longínquos chamam Nada.
59. Criticismo intelectual deste Livro induz estéril controvérsia – mero pedantismo. Ele deve ser apreciado como poema (selado no sangue), tomado como a nutrição da vida interior mais íntima. Estes que assim fazem se tornam candidatos de escol para o C. & C. do S.A.G. Sua Aspiração (Pensamento) é então cristalizada em Palavra e Ação: eles completam a Operação da Magia Sagrada.
‘A Terra’: a referência é Nuit. Eles se tornam conscientes de que são Estrelas no Espaço. Para a interpretação toda deste símbolo como equivalente à Complecção da Grande Obra veja-se CCXX, Liber Aleph vel CXI, Liber NV vel XI, e diversas passagens neste Livro e em Liber VII.
60. Ó terra além do mel e das espécies e toda perfeição! Eu viverei ali com meu Senhor para sempre.
60. Aqui está a ideia da vida do Adepto em si: —
61. E o Senhor Adonai deleita-Se em mim, e eu porto a Taça da [segue trecho ausente nos originais] Sua alegria à gente cansada da velha terra cinzenta.
61. – e aqui, em relação aos seus semelhantes. Minha própria carreira deve- [segue trecho ausente nos originais] –ria ser uma explicação adequada destes dois versos.
[Os originais encontrados em nossos Arquivos acabam neste ponto. Todos os trechos faltantes foram retirados da publicação de 2002 e.v. feita por Frater BenHoor (Tarcísio Araújo) pela Editora Bhavani. É possível que, naquela época, o material estivesse completo.]
62. Aqueles que dela bebem são atacados de aflição; a abominação tem poder sobre eles, e seu tormento é como a grossa fumaça negra da habitação maligna.
62-64. Esta doutrina é o mais mortífero veneno para os indignos (mesmo os místicos cristãos tiveram alguma concepção disto de ‘comer e beber danação para si próprios’).
É estranho que o texto se abstenha de especificar a natureza do erro (verso 63); aparentemente o único ponto em questão é se somos ‘escolhidos’ ou não.
Note-se que a palavra ‘cansada’, e o símbolo de estagnação e passividade: a) tem poder sobre eles, b) grossa, c) fumaça, d) negra, e) habitação. Contraste-se com estes os estigmas de Consecução no v. 64, todos fogosos, ativos e prontos, mesmo na esfera usualmente associada com a ideia de repouso – ‘poente’. A própria Coroa do Sol é o cinturão deles (Cf. a adjuração Rosacruz ‘Seja tua mente aberta’, etc) – o cinturão dos ‘beijos mortais’, assim identificando a morte com o amor, a energia criadora.
O mistério se esclarece com referência ao v. 59. ‘Ser escolhido’ é uma decisão que depende de nossa própria Vontade. Se o Livro for estranho ao estudante, envenená-lo-á completamente; ele deve ‘sela-lo em seu sangue’; então, bebendo dele como de um Vinho que é idêntico à sua vida mesma, o livro os intoxica à realização de si mesmos como o Senhor Adonai, a Alma do Livro.
63. Mas os escolhidos beberam dela, e tornaram-se mesmo como meu Senhor, meu lindo, meu desejável. Não existe nenhum vinho como este vinho.
64. Eles estão reunidos em um coração luminoso, como Ra que reuniu suas nuvens em volta Sua no poente num flamejante mar de alegria; e a serpente que é a coroa de Ra os cinge com o cinturão dourado dos beijos mortais.
65. Assim também é o fim do livro, e o Senhor Adonai o rodeia todo como um Raio, um Pilone e uma Cobra e um Falo; e no meio Ele é como a Mulher que esguicha o leite das estrelas de seus seios; sim, o leite das estrelas de seus seios.
65. Cf. v. 14; meditai estritamente sobre a propriedade da primeira aparição deste particular símbolo justamente aqui.
O símbolo é agora completado pela introdução de Nuit em seu meio. Compare-se à aparição similar de Shin em IHVH.
Que letra então, significando Nuit, transmutará ארני como Shin transmuta יהוי? A letra usual é He, ‘A Estrela’, Atu XVII, ♒. (Note-se que pela precessão dos Equinócios, o Sol está agora em Aquário em vez de Pisces no Equinócio Vernal) No Æon do Deus Sacrificado os homens adoravam ♍ e ♓️, a Virgem e o Peixe. Nós substituímos estes por ♒ (Nuit) e ♌ (Babalon e a Besta conjugados). Mas como צ ‘não é a Estrela’, ♒ e ♈ pivotam em torno de ♓️ como ♌ e ♎ em torno de ♏ (Atus VIII e XI trocam de lugar, e assim Atus XVII e IV). Mas o atual Deus adorado progrediu de ♉, o laborioso Touro de Mitras sacrificado,⊙ no Norte, ♊ as Crianças R.H.K. e H.P.K. Nós assim obtemos um Pentagrammaton ארהני, cujo valor é 70, ע,o Olho, Set ou Saturno, Atu XV, ‘O Diabo’.