Liber DCCCXXXVII
A LEI DE LIBERDADE
Um escrito de TO MEGA THERION 666 o qual é um Magus 9○=2□ A.·.A.·.
Tradução: Frater EVER a.k.a. Marcelo Ramos Motta
(As referências neste ensaio são a Liber Legis — O Livro da Lei.)
Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.
Sempre me perguntam por que eu abro minhas cartas desta maneira. Não faz diferença se estou escrevendo à minha amada ou ao meu açougueiro; eu sempre principio com estas onze palavras. Ora, de que outra forma haveria eu de começar? Que saudação poderia ser mais alegre? Olha, irmão, somos livres! Regozija-te comigo, minha irmã, não existe lei além de Faz o que tu queres!
Eu escrevo isto para aqueles que não leram ainda o nosso Livro Sagrado, o Livro da Lei, ou aqueles que, tendo lido, falharam de algum modo em compreender-lhe a perfeição. Porque há muitas coisas nesse Livro, e as Boas Novas estão ora aqui, ora ali, espalhadas através do Livro como as Estrelas através da Noite. Regozijai-vos comigo, todos vós! Em cabeçalho mesmo do livro está a grande declaração da nossa divindade: “Todo homem e toda mulher é uma estrela.” Nós somos todos livres, todos independentes, todos brilhando gloriosamente, cada um de nós um orbe radiante. Não é isto uma boa nova?
Então, vem o chamado da Grande Deusa Nuit, Senhora do Céu Estrelado, a qual é também a matéria no senso metafísico mais profundo da palavra; a qual é o infinito em que todos nós vivemos, nos movemos, e temos nosso ser. Ouvi Seu primeiro chamado a nós homens e mulheres: “Vinde, ó crianças, sob as estrelas, & tomai vossa fartura de amor! Eu estou sobre vós e em vós. Meu êxtase está no vosso. Minha alegria é ver vossa alegria.” Mais tarde ela explica o mistério da dor: “Pois Eu estou dividida por amor ao amor, pela chance de união.”
“Esta é a criação do mundo, que a dor de divisão é como nada, e a alegria da dissolução tudo.”
Mais tarde é explicado como isto pode ser, como a própria morte é um êxtase como o amor, porém mais intenso, a reunião da alma com seu verdadeiro ser. E quais são as condições desta alegria, e paz, e glória? É nosso o sombrio ascetismo do cristão, e do budista, e do hindu? Andamos nós em eterno medo de que algum “pecado” nos corte da “graça de Deus?” De maneira alguma.
“Sede bons portanto: vesti-vos finamente; comei comidas ricas e bebei vinhos doces e vinhos que espumejam! Também, tomai vossa fartura e vontade de amor como quiserdes, quando, onde e com quem quiserdes! Mas sempre para me.”
Este é o único ponto a ser lembrado, que todo ato deve ser um ritual, um ato de adoração, um sacramento. Vivei como os reis e príncipes, coroados e sem coroa, deste mundo sempre tem vivido, como os mestres sempre vivem; mas não seja isto
uma indulgência dos sentidos; fazei da indulgência dos sentidos um ato de religião.
Quando vós bebeis e dançais e vos deliciais, não estais sendo “imorais”, não estais “arriscando a vossa alma imortal”; estais cumprindo os preceitos de nossa santa religião – contanto que vos lembreis de considerar vossos atos nesta luz. Não vos rebaixeis e destruí e barateeis o vosso prazer deixando fora a suprema alegria, a consciência da paz que ultrapassa toda compreensão. Não tomeis em vossos braços mera Mariana ou Melusina: ela é Nuit Ela Mesma, especialmente concentrada e encarnada em forma humana para vos dar infinito amor, para vos convidar a provar mesmo sobre a terra o Elixir da imortalidade. “Mas êxtase seja teu e alegria da terra: sempre A me! A me!”
Novamente Ela fala: “Amor é a lei, amor sob vontade.” Conservai puro o vosso mais alto ideal; esforçai-vos sempre em direção a ele sem deixar que coisa alguma vos interrompa ou vos desvie, qual uma estrela desliza em seu incalculável e infinito curso de glória, e tudo é Amor. A Lei de vosso ser torna-se Luz, Vida, Amor e Liberdade. Tudo é paz, tudo é harmonia e beleza, tudo é alegria.
Pois ouvi, quão graciosa é a Deusa: “Eu dou alegrias inimagináveis sobre a terra; certeza, não fé, enquanto em vida, sobre a morte; paz inominável, descanso, êxtase; nem exijo Eu coisa alguma em sacrifício.”
Não é isto melhor que a morte-viva dos escravos dos Deuses-Escravos, que vão premidos pela consciência de “pecado”, penosamente buscando ou simulando tediosas e cansativas “virtudes”?
Com tal gente, nós que aceitamos a Lei de Télema nada temos. Nós ouvimos a Voz da Senhora das Estrelas: “Eu vos amo! Eu vos desejo! Pálido ou púrpura, velado ou voluptuoso, Eu que sou todo o prazer e púrpura, e embriaguez do senso mais íntimo, te desejo. Põe as asas, e acorda o esplendor enroscado dentro de ti: vem a me! E assim termina Ela:
“Cantai a canção de amor feliz para me! Queima perfumes para me! Usa jóias para me! Bebe a me, pois Eu te amo! Eu te amo! Eu sou a filha do Poente, de pálpebras azuis; Eu sou o brilho nu do voluptuoso céu noturno. A me! A me!” E com estas palavras “A Manifestação de Nuit está em um fim.”
No capítulo seguinte de nosso livro a palavra é dada a Hadit, o qual é o complemento de Nuit. Ele é eterna energia, o Infinito Movimento das Coisas, o centro e coração de todo ser. O Universo manifestado provém do casamento de Nuit e Hadit; sem isto nada poderia existir. Estas eternas, estas perpétuas bodas são então a natureza mesma das coisa; e portanto, tudo quanto existe é uma cristalização de êxtase divino.
Hadit no diz de Si Mesmo: “Eu sou a flama que queima em todo coração de homem, e no âmago de toda estrela. ” Ele é, pois, nosso ser divino mais intimo; é você, e nenhum outro, quem está perdido na constante raptura do enlace da Beleza Infinita. Um pouco adiante, ele fala de nós:
“Nós não somos para os pobres e tristes: os senhores da terra são nossos parentes. Há um Deus de viver em um cão? Não! mas os mais elevados são de nós. Eles se regozijarão, nossos escolhidos: quem se amargura não é de nós. Beleza e força, riso pulante e langor delicioso, energia e fogo, são de nós.”
Mais tarde, concernente à morte, Ele diz: “Não penses, ó rei, naquela mentira: Que Tu Deves Morrer: em verdade, tu não morrerás, mas viverás. Agora seja isto compreendido: Se o corpo do Rei se dissolve, ele permanecerá em puro êxtase para sempre. ” Quando você sabe disto, que resta, senão deleite? E como deveremos viver até então?
“É uma mentira, essa tolice contra si mesmo. Sê forte, ó homem! Arde, usufrui todas as coisas de senso e raptura: não temas que qualquer Deus te negará por isto.”
Repetidamente, em palavras como estas, Ele envisiona a expansão e o desenvolvimento da alma através de alegria.
Aqui está o Calendário da nossa Igreja: “Mas vós, ó meu povo, levantai-vos & acordai! Que os rituais sejam retamente executados com alegria & beleza!” Lembrai-vos de que todos os atos de amor e prazer são rituais, têm que ser rituais.
“Há rituais dos elementos e festas das estações. Uma festa para a primeira noite do Profeta e sua Noiva! Uma festa para os três dias da escritura do Livro da Lei. Uma festa para Tahuti e a criança do Profeta–secreta, Ó Profeta! Uma festa para o Supremo Ritual, e uma festa para o Equinócio dos Deuses. Uma festa para o fogo e uma festa para a água; uma festa para a vida e uma festa maior para a morte! Uma festa diária em vossos corações na alegria de minha raptura! Uma festa toda noite para Nu, e o prazer do mais transcendente deleite! Sim! festejai! regozijai-vos! não existe pavor no além. Existe a dissolução, e eterno êxtase nos beijos de Nu.”
Tudo isto depende de vossa própria aceitação desta nova lei, e não vos é pedido que acrediteis em credo nenhum, que aceiteis uma fieira de fábulas tolas abaixo do nível intelectual de um selvagem australiano e do nível moral de um toxicômano. Tudo que deveis fazer é ser vós mesmos, fazer vossa vontade, e regozijar-vos.
“Falhas? Arrependes-te? Há medo em teu coração?” diz Ele novamente. “Onde Eu sou, estes não são.” Há muito mais da mesma natureza; bastante já foi citado para tornar tudo claro. Mas existe ainda outra injunção. “Sabedoria diz: sê forte! Então tu podes suportar mais alegria. Não sejas animal; refina tua raptura! Se bebes, bebe pelas oito e noventa regras de arte: se amas, excede em delicadeza; e se tu fazes o que quer que seja de alegre, que haja sutileza ali contida! Mas excede! excede! Esforça-te sempre por mais! e se tu és verdadeiramente meu — e não o duvides, e se tu és sempre alegre! — a morte é a coroa de tudo.”
Levantai-vos, meus irmãos e irmãs da terra! Calcai aos pés todo temor, todo receio, toda hesitação! Levantai-vos! Vinde abertamente, de dia e de noite, fazer vossa vontade; pois “Não existe lei além de Faze o que tu queres.” Levantai-vos! Caminhai conosco em Luz, e Vida, e Amor e Liberdade, tomando vosso prazer como Reis e Rainhas no Céu e na Terra. O sol ergueu-se; o espectro das idades já foi afugentado. “A palavra de Pecado é Restrição,” ou, como já foi dito em outro texto a este respeito:
Isto é pecado:
Manter teu santo espírito encerrado!
Vai, vai em tua força; e que ninguém te amedronte.
Amor é a lei, amor sob vontade.