Serviços de Inteligência não são Inteligentes ou A OTO desde a Morte de Crowley (completo)
(Frater EVER)
Parte I
Todos os fatos relatados, por incríveis que possam parecer, estão completamente documentados. Temos em mãos o inteiro registro, por escrito, de intriga, perseguição e vigarice. Levou quase vinte anos para reunir a evidência. Interessados em examiná-la com seus próprios olhos poderão obtê-la custeando as despesas de copiagem. Devemos fazer notar que existem mais de quatro mil páginas de documentos, incluindo os processos na assim-chamada “justiça” norte americana, através dos quais multas das provas foram extraídas dos intrujões daquele país com repetidas intimações judiciais.
No dia 29 do dezembro do 1941 e. v. J. Edgar Hoover, então diretor do F.B.I. (Federal Bureau of Investigations – equivalente do S.N.I. brasileiro) mandou a seguinte diretiva ao Agente Especial Encarregado na cidade de Nova Iorque:
Re: Karl Johannes Germer
Segurança Interna – C
Caro senhor:
Estão sendo transmitidas com esta, cópias fotostáticas de um resumo de informações recebidas através do (CENSURADO) a respeito da pessoa nomeada acima.
O senhor deverá, portanto, instituir um inquérito apropriado dos antecedentes e das atividades de Germer, que segundo a informação reside no presente na Avenida Lexington 1.007, Nova Iorque, Estado de Nova Iorque. Este inquérito deve ter preferência sobre todos os outros e merecer especial atenção a fim de que um relatório completo possa ser submetido e chegar ao Bureau rapidamente.
Sinceramente seu,
John Edgar Hoover,
Diretor
A seção nova-iorquina do Bureau obedientemente instituiu a investigação requerida. Nada de natureza subversiva foi identificado, e isto foi comunicado a Hoover que, enfurecido, escreveu-lhes novamente um ano depois, a 24 de fevereiro do 1942 e.v.:
Os senhores receberam ordens de instituir um inquérito apropriado dos antecedentes e das atividades de Germer, e os senhores foram instruídos de que este inquérito deveria ter tratamento preferencial e contínua atenção a fim de que o relatório desejado por mim chegue (sic) ao Bureau sem mais delongas. Eu espero rígida obediência aos meus desejos neste caso.
Para qualquer estudioso imparcial da história do F.B.I. sob Hoover nos seus últimos anos de vida, o que estava escrito entre as linhas desta segunda diretiva era que o Diretor tinha um motivo pessoal de animosidade por Germer e queria que seus subordinados fornecessem evidência contra ele de qualquer forma; mesmo que tal evidência tivesse que ser fabricada. Hoover era um católico romano com estreitos laços com a hierarquia vaticana nos EE. UU. Ele era também secretamente um homossexual, o que explica porque o F.B.I. tornou-se tão pudico durante o seu reinado, o Diretor não tolerava qualquer atividade sexual fora dos “santos laços”, etc., quer nos seus subordinados, quer no resto da nação.
Uma investigação foi novamente instituída assim que os pobres agentes, sobrecarregados de trabalho em tempo de guerra puderam destacar alguém para tratar do que eles sabiam perfeitamente ser um caso sem qualquer importância fora da mente de Hoover. Foi descoberto que Germer ainda vivia no endereço da Avenida Lexington com sua esposa, uma cidadã americana. Ele disse aos agentes que estivera num campo de concentração nazista em 1935 e.v. durante cinco meses, sob a acusação de ser maçom; que lhe haviam concedido liberdade condicional e que escapara para a Bélgica; que da Bélgica ele fora para as Ilhas Britânicas, mas havia sido expulso de Dublin, Irlanda, em 1937 e.v., a pedido especial do embaixador da Alemanha…
O Sr. Germer estava por essa época já muito bem familiarizado com investigações de polícias secretas. Ele sabia perfeitamente que o inquérito que o F.B.I. tinha encetado contra ele havia sido instigado por interesses católicos romanos, portanto absteve-se de mencionar que a Irlanda era fanaticamente cristista e romanista, e que este fora o real motivo de sua expulsão do país. É possível que o embaixador da Alemanha tenha pedido a expulsão dele: muitos nazistas eram católicos romanos. Mas ele foi expulso porque estivera tentando estabelecer a ordo templi orientis naquela terra selvagem. Ele foi um homem da máxima coragem moral.
…que ele então passara algum tempo em Londres; e que de 1937 e.v. a 1940 e.v. passara a maior parte do seu tempo na Bélgica como vendedor de maquinaria. Em 1940 e.v. ele fora novamente preso, por ordem do governo belga…
Desta vez sua prisão fora realmente exigida pelos nazistas, cuja marcha através da Europa pusera a Bélgica em posição delicada.
…e subseqüentemente transferido para um campo de concentração francês…
A França perdera a guerra contra os nazistas e havia sido forçada a instituir campos de concentração no modelo de Hitler. De Gaulle estava na Inglaterra, tentando organizar os Franceses Livres.
…de onde ele fora libertado em meados de 1941 e.v., quando sua esposa obtivera para ele um visto de imigração que possibilitou sua entrada nos E.U.A..
Como esposo de uma cidadã americana, por lei, o visto lhe concedia entrada imediata no país. Esta foi a segunda esposa do Sr. Germer, nome de solteira Cora Eaton, membro de uma família americana abastada. O Sr. Germer casou-se três vezes: sua primeira e terceira esposa eram judias.
A residência do casal Germer foi revistada pelo F.B.I., sob o pretexto de que uma busca geral por agentes inimigos estava sendo efetuada na área. Foi encontrada uma volumosa correspondência com um certo Aleister Crowley. O Sr. Germer explicou que estava tentando obter um visto de imigração que permitisse a esse Crowley vir viver nos Estados Unidos.
Londres estava sob constante bombardeio aéreo e Crowley em completa miséria. A Sra. Germer estava tentando ajudar o marido a obter um visto para o “pior homem do mundo “
O Sr. Germer declarou além disto que Crowley, que era um astrólogo e escritor, mandara livros no valor de milhares de dólares para os E.U.A, que ele, Germer, e (CENSURADO) de Los Angeles estavam vendendo para juntar dinheiro pare mandar para Crowley a fim de ajudar o autor a sobreviver na na Inglaterra.
O nome censurado neste documento (obtido através do Ato de Livre Informação passado no governo Carter, e que o governo Reagan está agora tentando revogar) era o de um Irmão da ordo templi orientis chamado Max Schneider. Os “milhares” de livros foi um exagero para tentar impressionar os agentes. Havia, porém, pelo menos novecentas cópias sem capas do Livro Quatro Parte IV, “O Equinócio dos Deuses”, que o Sr. Germer estava lentamente vendendo através da Livraria Samuel Weiser.
Germer além disto negou ter quaisquer simpatias nazistas ou qualquer contato com organizações clandestinas pró-nazistas nos Estados Unidos.
Durante a breve estadia do Sr. Germer em Londres ele tentara interessar vários jornais na publicação de suas memórias do campo de concentração na Alemanha nazista, em que ele descrevia a maneira como judeus, ciganos, comunistas, homossexuais e nazistas que haviam se voltado contra a política do partido, eram tratados pela SS. Todos os jornais, inclusive o “Times”, se recusaram a publicar isto. Dois anos depois, a Inglaterra se veria forçada a declarar guerra à Alemanha do Hitler.
As informações obtidas através deste interrogatório e desta invasão de domicílio foram obedientemente transmitidas a Hoover, o qual imediatamente enviou uma carta, pessoal e confidencial por mensageiro especial”, a Adolf A. Berle, Jr., Ministro do Exterior Assistente e outro católico romano. A carta enfatizava a importância que Hoover dava ao assunto pelo uso e abuso de letras capitais:
… Durante uma investigação relativa à Segurança Interna da Nação foi averiguado que Karl Johannes Germer, um estrangeiro nascido na Alemanha…
Deliberadamente incorreto. O Sr. Germer já era, na época, cidadão americano naturalizado.
… que entrou nos E.U.A. pela última vez a 31 do março de 1941, e que reside com sua esposa na Avenida Lexington 1007 em Nova Iorque, Estado de Nova Iorque, tem mantido considerável correspondência com AIiester (sic) Crowley de Londres, cuja entrada nos E.U.A. Germer está tentando efetuar. Eu creio que o senhor estaria interessado em ter à sua disposição um sumário da informação recebida de uma fonte insuspeita quanto a esse Crowley…
A maior parte da Informação numa carta de “fonte insuspeita” de Hoover, o F.B.I. recusou fornecer (o documento, uma fotocópia, está coberta de tinta preta e indecifrável em muitos parágrafos); mas pode-se facilmente imaginar de que constava. Uma pequena seção que não foi censurada mostra que o informante escrevia com uma caligrafia elegante e provavelmente feminina. Os trechos a descoberto afirmam que Germer tinha sido posto num campo de concentração por traduzir ao idioma alemão os livros do notório autor inglês Aleister Crowley. Também afirmam que Crowley fora expulso da Alemanha (falso) e que tanto Crowley quanto Germer haviam sido expulsos da França por praticar “magia negra” (falso). A carta prossegue dizendo que a missivista estava preocupada porque a conversação de Germer era “violenta propaganda nazista”…
Esta última asserção era, está claro, uma mentira deliberada e ferina. Eu me correspondi com o Sr. Germer durante nove anos, fui hóspede dele e da terceira Sra. Germer durante uma semana na residência de ambos, encontrei-me com ele pessoalmente três vezes após isto para discutir assuntos iniciáticos tanto da A.·. A.·. quanto da Ordo Templi Orientis Ele nunca expressou outra coisa que desprezo pelos nazistas, e estava absolutamente convencido de que Crowley destruira Hitler magicamente. A identidade da pessoa que escreveu esta carta criminosa nos é desconhecida até hoje: o F.B.I. está acobertando o nome dele ou dela. Evidência interna, entretanto, sugere que se tratava de uma amiga da segunda Sra. Germer que vivia em Buffalo, Estado de Nova Iorque, que tinha tendências ao lesbianismo e que odiava o Sr. Germer com um ciúme doentio. Isto é indicado pelo fato de que, como parte de sua “evidência”, ela forneceu uma cópia de uma carta de Cora Germer a ela, em que a Sra. Germer com delicadeza defende o marido contra acusações de explorá-la financeiramente, e que termina com estas palavras: “Cuide-se bem e encontre alguém de quem você goste – homem ou mulher. Amor, Cora.”
… e “ele tem um poderoso rádio de ondas curtas”…
Claro, os Germers, ambos os quais falavam o francês, o alemão e o inglês, estavam ansiosos para saber de primeira mão o que estava acontecendo na Europa. O rádio fora examinado pelo F.B.I., e averiguado ser um receptor, não um transmissor, como a informante dera a entender.
Mas o propósito velado da inteira investigação instigada por Hoover sempre fora tornar impossível para o Sr. Germer trazer Aleister Crowley para os EE. UU. Não era a “segurança nacional” do país em guerra que Hoover estava, neste caso, interessado em promover: ele estava simplesmente violando a liberdade religiosa dos EE. UU. e abusando dos poderes do seu cargo para promover os “interesses” da Igreja Católica Romana.
A informante fechara a carta com as seguintes palavras:
“Eu não gostaria de ter meu nome publicado neste assunto, caso os senhores investiguem. Sinceramente, (CENSURADO).”
É prática invariável do F.B.I., da C.I.A., e de assim-chamados “serviço de inteligência” no mundo inteiro, não publicar os nomes dos seus informantes. Isto certamente seria prático, e até ético, fosse o informante um cidadão ou uma cidadã patriótico ou patriótica que revelou a verdade sobre alguma traição ou crime. Mais o F.B.I., a C.I.A. e o resto escondem o nome mesmo quando a pessoa está tentando arruinar a vida de outros a quem odeia e dando falsas informações ao governo. Temos assim a interessante situação de que, sob a desculpa de servir a nação, agentes federais encorajam atos contra as leis da nação, cometem ilegalidades eles mesmos, e assim criam eventualmente o tipo de conduta que tornou a Gestapo infame e que por fim derrubou o próprio Hoover da chefia do Bureau. Seus anos mais desprezíveis foram os Cinqüenta, quando ele cooperou com outro católico romano, Joseph McCarthy, para minar as liberdades civis o a ética pública dos EE. UU. ao ponto que tornou possível a eleição, primeiro de um Kennedy, depois de um Nixon, e finalmente de um Reagan ao mais alto cargo da nação.
Sob a pressão constante de Hoover, os agentes a seguir buscaram contato com todo mundo que conhecia os Germers.
A documentação mostra os extraordinários poderes que o F.B.I. – e, por paralelo,
O S.N.I. – pode exercer para invadir a privacidade alheia. Toda fonte de informação possível foi “confidencialmente” entrevistada: senhorios, porteiros fornecedores, conhecidos, sócios, empregadores, e até amigos pessoais. “Confidencialidade” neste senso significa que, se você for acusado de alguma coisa, você nunca saberá a fonte da acusação, freqüentemente não saberá do que foi acusado, e portanto nunca poderá se defender, ou explicar, ou esclarecer. Você estará sempre, além do mais, à mercê dos preconceitos ou das limitações intelectuais e morais de quem quer que, sendo entrevistado por uma organização glamourosa como o F.B.I., decida se tornar um informante permanente sobre a sua pessoa. Afinal de contas, o F.B.I. representa o governo americano! (Sob Hoover, quase se tornou o governo americano.)
A Gestapo foi tão idolatrada pela população alemã nos primeiros anos do nazismo, quanto o F.B.I. eventualmente foi nos E.U.A. durante e depois da segunda Guerra Mundial, sempre sob Hoover. Hoover era um mestre de relações públicas – muito melhor neste ramo do que como investigador. Mas não se está aqui criticando a existência, ou o trabalho normal, do Bureau norte-americano: seu registro, como um todo, não pode com justiça ser comparado ao registro da Gestapo. Mas nos anos cinqüenta o F.B.I. se tornou um instrumento de tirania, e como hábito, bons ou maus, custam a morrer, o F.B.I. tem freqüentemente sido manipulado por interesses escusos mas poderosos desde então. O que aconteceu com a ordo templi orientis nos Estados Unidos da América é apenas um exemplo de como uma agência federal pode ser manipulada por interesses privados, e de como o poder pode corromper até mesmo um burocrata acima da média. Os exatos paralelos do S.N.l. brasileiro deverão ocorrer aos leitores inteligentes.
… Assim, uma certa livraria em Nova Iorque freqüentada pelo Sr. Germer, à qual ele freqüentemente ia para comprar ou vender livros de Aleister Crowley, eventualmente telefonou ao Agente EspecIal Encarregado e ofereceu informações…
Claro, o nome da livraria e dos livreiros informantes foi censurado. Mas devemos comentar que naquela época havia apenas uma livraria especializada em ocultismo importante em Nova Iorque: era a Livraria Samuel Weiser, à qual o Sr. Germer vendeu a maior parte de suas cópias de O Equinócio dos Deuses , e com a qual ele lidou tão freqüentemente quanto pode durante seus últimos anos de vida. O fato de que os Weisers eram judeus parece não ter lhe importado. Certa vez ele escreveu que ele sempre preferia manter relações comerciais com um judeu, do que com um cristista. (O Sr. Germer, aliás, fora criado no catolicismo romano – ou pelo menos assim afirmou numa carta a Motta). Compreensivelmente, ele havia rompido com seus parentes todos muitos anos antes.
… O relatório afirma: “O Sr. (censurado), ao ser entrevistado, revelou que o investigado… freqüentemente vem à loja… que ele comprou os seguintes livros por (Aleister Crowley): “O Livro de Mentiras”, um volume de “O Equinócio”, “Magia na Teoria e na Prática” e “Nuvens Sem Água”…
Como se vê, atos altamente subversivos; especialmente o último (o livro é erótico). Mas o que deveria ser notado por leitores sérios é que o ato de comprar um livro por Aleister Crowley era motivo suficiente para o comprador ser denunciado ao F.B.I., e para ter a lista dos títulos comprados registrada pelos agentes como de significado criminal. Era assim que as coisas eram na época, e é assim que elas estão ficando novamente sob Reagan.
… (CENSURADO) tem freqüentemente ouvido falar de Aleister Crowley sendo consultado por Hitler sobre “Magia Negra” (absoluta falsidade, claro; mas talvez antes produto de informação incorreta do que de malicia consciente) e ele tem freqüentemente ouvido Germer afirmar que ele, Germer, crê na ideologia de Hitler…
Esta informação deve ter posto os agentes em polvorosa. Para crédito deles, eles buscaram confirmação de outra fonte. Tornou-se claro que o Sr. Germer dissera que:
… “Ele aceita a ideologia de Hitler apenas em que ele, também, acha que os alemães são uma raça mestra.”
A denúncia prévia dizia que o Sr. Germer afirmara que os alemães eram a raça mestra. Uma distinção sutil mais importante.
O Sr. Germer não deveria ter provocado os livreiros judeus, mas podemos visualizar a sua irritação, assim como a do resto do povo alemão hoje em dia, e mesmo de Telemitas que não são alemães, como eu, ao ser acusado de responsabilidade pessoal pelos nazistas! É como se eu fosse um modesto comerciante judeu no Bronx (bairro judeu em Nova Iorque) e o acusasse agressivamente de responsabilidade pessoal pelos atos de Menachem Begin, do Rabino Kahane, de Samir, de Sharon, e do “Profeta” Samuel. Este tipo de coisa pode ser ainda mais irritante se você foi posto num campo de concentração pelo seu próprio governo, e foi expulso de vários países onde o catolicismo romano predomina, por casar com uma judia ou simpatizar com judeus.
Que os alemães são uma raça mestra é inegável. Inegavelmente, também assim são os judeus (usamos a palavra “raça” aqui no mesmo senso demagógico e incorreto em que era usada naquela época de pseudo-antropologia nazista). E os livreiros judeus não podiam esperar que um prussiano provocado, que servira como tenente no exército alemão na Primeira Guerra e fora condecorado por valor no campo de batalha, aturasse meigamente insultos contra seu povo ou sua terra natal; principalmente quando esse prussiano teria sido o primeiro a defender um judeu contra tais insultos na própria Alemanha. Isto é, os livreiros judeus não poderiam esperar isto se eles fossem homens honestos e justos. Infelizmente, esses judeus não eram nem uma coisa nem outra, como o tempo haveria de provar.
Chegados aí, os agentes teriam arquivado o inteiro inquérito se o propósito realmente tivesse sido defender a segurança nacional. Mas Hoover insistiu em seu prosseguimento, porque a verdadeira intenção era colocar os Germers sob uma tal nuvem de suspeitas, insinuações e acusações vagas que se tornasse impossível para eles trazer Crowley para os E.U.A. ou até mesmo viver em paz o resto dos seus dias. Note-se a jóia seguinte:
“… (CENSURADO) está visitando Nova Iorque vindo de (CENSURADO) faz aproximadamente uma semana (CENSURADO)… informou que o investigado recentemente casou com uma senhora chamada Sacha (sic) Ernestine Andra (sic) que era professora de música e que os dois vivem…
“… (CENSURA) informou que ele acredita que a primeira esposa do investigado…”
Não a primeira, a segunda: Cora Eaton.
“… morreu faz algum tempo. Ele informou que, tanto quanto saiba, as atividades do investigado não são de um tipo de levantar suspeitas…”.
Isto não deve ter agradado muito a Hoover. Mas havia outros informantes:
“… a 17 do março de 1943 o Informante Confidencial T-2 relatou que Karl Johannes Germer da Rua 71 Oeste N 0 133, Cidade de Nova Iorque, recebeu diversas mensagens de Aleister Crowley, de Londres, Inglaterra, de natureza criptográfica. A 9 de abril de 1942 o investigado recebeu a seguinte mensagem do Crowley: ‘PALAVRA EQUINÓCIO KUSIS SIGNIFICA GRANDE DEUSA MÃE PONTO ARQUIVO NÃO AQUIOS PONTO PERIQUE RÁPIDO PONTO CEM RECEBIDOS AMOR’…”
Pode-se rir agora deste tipo de coisa; mas considere-se um país em guerra, considere-se a “reputação” cuidadosamente propagandizada de Crowley, e considere-se a reputação do Sr. Germer que Hoover estava cultivando. “Perique” era um tipo de fumo forte para cachimbo que Crowley gostava muito. Os “cem recebidos” eram dólares, não agentes estrangeiros; dólares enviados pelos Germers com grande sacrifício. O “amor” pode ter sido considerado suspeito por Hoover e a hierarquia vaticana; mas, considerando-se a distância entre as partes, podemos tomá-lo como do tipo que se convencionou chamar de “platônico” mas não é (O que Platão chamava de amor ideal era na realidade o homossexualismo.)
Era muito próprio de Crowley incluir num telegrama – pago com vários dos cem dólares muito necessitados – uma corrigenda da gramática de um discípulo; mas para o F.B.I. em tempo de guerra “Arquivos, não arquios” pode ter soado como um criptograma nazista; e para Hoover, como uma sinistra formula de Magia Negra. Se um homem da inteligência de Crowley podia ocupar seu tempo e seu pouco dinheiro num telegrama transatlântico em tempo de guerra para corrigir um erro ortográfico que era muito possivelmente não devido ao Sr. Germer, mas ao descuido de algum agente telegráfico, por que não poderia o F.B.I. ser infantil também? Quanto a Hoover, paranóia, paranóia…
Vários outros telegramas de aparência sinistra foram igualmente denunciados. De cada vez, Germer era intimado a comparecer para interrogatório e intimado a explicar o significado do texto. Uma dessas mensagens é interessante do ponto de vista desta história. ‘TENTE BUSCA TRANSFERÊNCIA FUNDOS ROY NEGÓCIO PARALISADO ATÉ RECEBIMENTO PONTO SEGUE CARTA RESOLVA ENCRENCA SMITH AMOR’. O relatório prossegue: “O informante diz que o investigado explicou que a mensagem era um pedido para que ele faça o possível para solucionar um problema com um W. T. Smith que é a cabeça da Loja da Ordo Templi Orientis em Pasadena, Califórnia. O investigado disse ao informante que Crowley era o presidente da organização internacional, desse templo”…
Este “Smith” era Wilfred Talbot Smith, que ainda não esposara Helen Parsons; e a “Loja” era a tão-falada “Ágape“. “Roy ” era ainda outro Irmão, Roy Leffingwell. Podemos sorrir vendo o Sr. Germer tentar traduzir “Cabeça Externa” como “Presidente” para beneficio do informante, que era obviamente um agente telegráfico. Até hoje, aliás, é contra a lei enviar telegramas em cifra nos E.U.A. Esses telegramas não eram cifrados; fossem eles cifrados, não teriam tido uma aparência tão suspeita. É claro que telegramas cifrados são enviados diariamente no mundo inteiro; a maioria por cartéis internacionais. Sem a chave, a aparência deles é sempre inócua.
O relatório continuava: “… Para a informação da Divisão de Campo da Cidade de Albany, foi previamente afirmado que Aleister Crowley, de Londres, é um notório pervertido moral e o investigado está tentando efetuar a entrada dele nos EE. UU.“…
Considerando-se que o Diretor do F.B.I. era, pela mesma definição, um pervertido, e não apenas “moralmente”, esta era muito boa. Mas pelo menos Hoover comparecia pontualmente à “missa” católica romana aos domingos; usualmente acompanhado pelo seu amante. Ninguém poderia dizer que Aleister Crowley freqüentava “missas” romanas, acompanhado ou não.
Cora Eaton Germer morrera de causas naturais na primeira metade de 1942 e.v., e três meses mais tarde o Sr. Germer esposara Sascha Ernestine Andre Askenazy, uma refugiada judia austríaca. A terceira Sra. Germer provinha de uma família abastada e influente…
Os Askenazy são freqüentemente comparados com outros tipos judios pelos próprios judeus, e com bons motivos, são louros, do olhos claros, de porte aristocrático, artisticamente dotados. Poderiam facilmente passar pelo mítico “tipo ariano” dos nazistas, e muitos deles escaparam do avanço hitlerista disfarçados de alemães “puros”. Nunca houve, claro, um “tipo judeu” específico, assim como nunca houve uma “raça judia”. Os judeus nunca foram uma raça no sentido científico da palavra: eles foram e continuam a ser um grupo religioso e cultural. Eles nem sequer eram predominantemente semitas, como o tipo ‘Askenazy’ prova abundantemente. O conceito inteiro da “raça judia” foi uma invenção deliberada da propaganda nazista. Foi virando os países que eles conquistavam contra os judeus, que os nazistas sobreviveram e prosperaram por tanto tempo: eles tinham o apoio tácito da Igreja Católica Romana (invariavelmente predominante nesses países – basta citar o caso da Polônia, onde os mais infames entre os campos de concentração nazistas existiram) no seu genocídio. Ironicamente, hoje em dia os sionistas tentam fomentar o conceito de “raça judia” para seus próprios fins.
… ela havia conseguido trazer algum do dinheiro da família consigo para os E.U.A., mas não era rica como fora Cora Eaton; e embora cidadã americana, não era nativa dos E.U.A. Um dos motivos por que o Sr. Germer casou-se novamente em apenas três meses foi que ele estava muito temeroso de ser posto novamente na prisão ou ser deportado justamente quando estava lutando por conseguir asilo para Crowley nos E.U.A. Ele deve ter pressentido que interesses poderosos e sinistros estavam trabalhando para impedi-lo, mas ele pode não ter percebido que um dos mais poderosos homens no país, que dia a dia se tornava mais poderoso ainda, J. Edgar Hoover, estava neutralizando seus esforços a cada passo.
A perseguição continuou incessante. Ao mínimo pretexto o Sr. Germer era chamado e interrogado pelo F.B.I. A Sra. Germer estava suplementando a modesta renda do casal dando lições de piano: seus alunos e os pais destes eram constantemente visitados por agentes e interrogados sobre ela. Tentava ela abusar dos alunos sexualmente? Dava-lhes drogas? Expressava para eles preceitos imorais? Sabiam os pais que o marido da professora de piano dos seus filhos era um discípulo e amigo do infame satanista e mago negro Aleister Crowley, com justiça chamado em seu próprio país de “o pior homem do mundo”?…
Percebendo que não tinha qualquer chance de trazer Crowley para os E.U.A. sem ajuda, o Sr. Germer apelou para – adivinhem quem – Grady Louis McMurtry. Por essa época a guerra havia terminado; McMurtry estava de volta aos E.U.A., intrigando primeiro contra Wilfred Talbot Smith, depois contra o sucessor de Smith, Jack Parsons.
McMurtry mesmo foi suficientemente estúpido para se gabar por escrito e em público de que participara como informante no inquérito confidencial conduzido contra Parsons. Ele deve ter escondido este fato do Sr. Germer e de Crowley, uma vez que estava violando o Juramento e as Obrigações do IIIº ordo templi orientis , e teria sido sumariamente expulso se eles tivessem sabido do que ele estava fazendo. Mas o Sr. Germer deve ter suspeitado, em vista de um fato que McMurtry nunca deu a público e que expomos aqui pela primeira vez:
Na posição de ex-combatente, ex-oficial, e cidadão nativo americano, McMurtry era justamente a pessoa que poderia ter trazido Crowley para os E.U.A..; e da boca para fora concordou em assim fazer. Aparentemente o Sr. Germer e Crowley pensaram que estava tudo arranjado; mas precisamente quando McMurtry deveria viajar para a Inglaterra para pessoalmente solicitar o visto de entrada para Crowley e trazê-lo, ele informou o Sr. Germer de que ele acabara de se casar, que sua esposa estava grávida, e suas novas responsabilidades o impossibilitavam de ir avante com o plano!
Motta só ficou sabendo disto em março de 1984 e.v., ao ler uma cópia da carta de resposta do Sr. Germer a McMurtry (McMurtry foi intimado a entregar cópias da sua correspondência com o Sr. Germer como parte do seu depoimento). Motta comentou com o seu advogado sobre esta carta, expressando total desprezo pela ação, ou antes, inação de McMurtry. O advogado de Motta, que era um bom homem, mas não um grande homem, replicou condescendentemente que Motta não podia compreender estas coisas – a implicação sendo que Motta não podia compreender porque Motta era homossexual. Compreenda-se, o advogado de Motta lera a correspondência privada de Motta com o Sr. Germer (a qual McMurtry tornara disponível a qualquer pessoa disposta a ler a correspondência alheia sem o conhecimento ou o consentimento do dono – leitores que são pessoas sérias poderiam ficar surpresos em saber quanta gente há não só disposta, mas até ansiosa em fazer isto).
Ele sabia que Motta não é casado e não deseja se casar; sabia que Motta freqüentemente diz aos seus discípulos do sexo masculino que para se desvencilharem dos seus vampiros (machos ou fêmeas, por sinal!) ou ele se desvencilhará deles, sabia que Motta tem repetidamente expressado um desprezo total pelo “santo matrimônio” e pelo instinto reprodutivo dos mamíferos; sabia, acima de tudo, que Motta tem tido experiências homossexuais … E, sendo um bom, mas não um grande homem, o advogado de Motta não podia conceber que uma pessoa pode fazer tudo isso e ainda assim ser capaz de compreender o impulso que leva gente a se juntar para criar famílias; compreendê-lo melhor que a gente que faz isso compreende a si mesma; compreende-lo melhor precisamente porque ele ou ela tem visto mais, feito mais, e sofrido mais que essa gente cujas alegrias são tão fracas, e tão próximas do nível dos animais.
Motta se absteve de dizer ao seu advogado que o motivo por que ele nunca se casou é que nenhuma mulher foi ainda capaz de convencê-lo de que ele só poderia provar sua maturidade ou virilidade em se tornando o provedor para os instintos dela de bicho de cria. Muitas têm tentado. Motta já usou mulheres, e já deixou mulheres usá-lo; mas ele nunca abusou de mulheres, nem permitiu que elas abusem dele. Motta se absteve de dizer ao seu advogado que ele considera o pai de família mediano pouco mais que um macaco falante domesticado; Motta é muito delicado, e sabia que seu advogado era casado e pai. Ele não queria magoar o seu advogado. Além do mais, ele precisava do seu advogado. Ele meramente perguntou (delicadamente):
“McMurtry ainda está casado com a mulher em questão?”
O advogado teve que admitir que McMurtry não estava mais casado com a dama em questão (supondo-se que uma dama esposaria McMurtry). Motta então perguntou:
“Não podia ele simplesmente ter ido à Inglaterra, e trazido Crowley para os E.U.A. e depositado a carga na porta dos Germers, que ele sabia muito bem teriam recebido Crowley de braços abertos, e então ido onde lhe aprouvesse e criado sua família sem ser impedido por Bestas envelhecidas?”
O advogado condescendeu em admitir que McMurtry poderia ter feito isto.
“Neste caso”, Motta sugeriu, sempre delicadamente, “não poderíamos dizer que o motivo por que ele não foi era que ele não queria ir?”
O advogado admitiu isto; mas para o olho experimentado de Motta pareceu ainda mais divertido do que impressionado por um veado capaz de raciocinar com tanta lógica sobre um assunto tão sagrado quanto a reprodução dos mamíferos. O advogado de Motta, além de não ser um grande homem, era judeu; e Motta ainda está por ver um judeu do sexo masculino capaz de resistir à esperteza da fêmea da nossa espécie. (Se os homens judeus pudessem fazer isto, as leis e regras religiosas da cultura hebraica não seriam tão protetoras dos homens – e tão opressoras das mulheres – quanto as vemos em “Êxodo” ou “Deuteronômio” (livros do “Velho Testamento”).
Possivelmente foi a incapacidade de McMurtry de resistir a esta, a mais óbvia forma de vampirismo (a mais simples forma da Ordália de Probacionista!) que arruinou suas chances de se tornar um verdadeiro Telemita. Esta foi também a principal razão por que ele não foi mencionado no testamento de Crowley (escrito um ano após o auto-propagandizado “Califa” cair de quatro, posição em que ele posteriormente se conservou até morrer); e certamente o motivo por que o Sr. Germer o manteve à distância para o resto de sua vida. Mas é interessante notar que Crowley já havia previsto esta fraqueza de McMurtry quando lhe sugerira o Moto do qual McMurtry foi tão tolamente orgulhoso – Hymenaeus Alpha – o Tolo do Casamento… Note-se que McMurtry foi encorajado a assumir este Moto anos antes de prová-lo tão apto.
A deslealdade de McMurtry foi um rude golpe. Crowley sabia agora que morreria na Inglaterra, longe do Sr. Germer, seu mais leal e mais amado discípulo; estava cônscio da acirrada perseguição que o F.B.I. estava movendo contra os Germers à instigação de Hoover. E se armassem uma arapuca ao Sr. Germer e o prendessem? E se ele morresse na prisão? Germer era mais jovem que ele, mas já não era nenhum garoto. A principal preocupação de Crowley tornou-se o futuro da sua Obra. Projetos financeiros (minério na África do Sul, no Brasil, e em outros lugares) fracassavam repetidamente. As forças opostas do velho aeon ainda eram pesada demais. Que poderia ele contribuir ao futuro da sua Obra?
Pela primeira vez deve ter-lhe ocorrido que seus direitos autorais poderiam eventualmente valer alguma coisa. A idéia de um testamento cresceu em sua mente. Mas a quem ou a que legaria ele seus direitos? A A.·. A.·. não era uma organização material; portanto não podia ter existência legal como organização. A Ordem de Thelema estava ainda em embrião: apenas dois Zeladores completos no mundo, e um deles ele mesmo! Teria que ser a Ordo Templi Orientis , a qual era a única organização com o potencial de se registrar legalmente e existir legalmente no plano material.
Portanto, a 19 de junho de 1947 e.v., aproximadamente seis meses antes de morrer, Crowley escreveu sua última (em mais de um senso) Vontade e Testamento, em que ele revogou todas as disposições prévias, deixou seus direitos autorais para a Ordo Templi Orientis , e determinou que seu legado literário fosse enviado ao endereço que o Sr. Germer tinha então em Nova Iorque. Em cartas pessoais ele informou todos os seus discípulos de que seu sucessor escolhido era Frater SATURNUS, Karl Johannes Germer.
Dois dias antes de assinar sei testamento ele escreveu a Grady Louis McMurtry uma carta que McMurtry reproduziu muitas vezes como “prova” de sua importância pessoal na Ordo Templi Orientis :
Caro Grady,
Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.
Parece muito tempo desde que você me escreveu. Isto é um grande erro: eu lhe direi por que em estrita confidência . Em caso de minha morte Frater Saturnus é, está claro, meu sucessor, mas após a morte dele a terrível carga de responsabilidade poderia muito facilmente cair sobre os seus ombros; por este motivo eu gostaria de que você se mantivesse sempre em contato comigo.
Estou lhe mandando uma cópia encadernada de “Olla” para lembrar você de mim.
Por falar nisso, “Cartilha Mágica” está quase pronta, mas há duas cartas faltando; estas ainda têm ou de ser encontradas ou re-escritas. Parece haver uma boa chance de ter o livro publicado através de uma editora regular. Isto significa, claro, que o desconto será muito maior, mas isto é para vantagem sua, porque significa a venda de muito mais cópias extras, e sua percentagem é de vinte e cinco por cento da renda bruta, não da líquida.
Eu estou muito ocupado esta tarde e por isto tenho que terminar esta carta aqui.
Amor é a lei, amor sob vontade.
Fraternalmente seu,
Aleister
A referência a “Cartinha Mágica” era porque Crowley pedira dinheiro a McMurtry para ajudar a publicar “O Livro de Thoth”. McMurtry contribuíra a munificente quantia de cinqüenta libras esterlinas mas exigira recibo e garantias… Crowley passara-lhe o recibo exigido e oferecera-lhe, como se vê acima, vinte e cinco por cento da renda da venda de “Cartilha Mágica”. Outros discípulos, entre eles Karl Germer, contribuíram centenas de libras e não pediram nem recibo nem garantia por um dos livros mais bonitos que já foram produzidos. Apenas duzentas cópias de “O Livro de Thoth” foram impressas, todas autografadas por Crowley. Uma cópia rende, quando se vende, mais de mil dólares hoje em dia.
A publicação de “Cartilha Mágica” por uma editora regular era, claro, apenas sonho. John Symonds já estava trabalhando na sua biografia deliberadamente sensacionalista, “A Grande Besta”, e talvez tenha levado Crowley a acreditar que seus editores se interessariam pelo livro. Pode também ter sido uma tentativa de Crowley de agradar o distante McMurtry, que ainda estava se queixando da falta que lhe fazia sua preciosa “contribuição” de cinqüenta libras.
McMurtry pelo menos uma vez reimprimiu esta carta com o seguinte cabeçalho: “Uma das muitas últimas cartas de Crowley a Hymenaeus Alpha sobre o Califado. Esta carta dá clara evidência de que Crowley via Grady como um provável sucessor depois de Frater Saturnus, Karl Germer. Germer morreu em 1962 e.v. Crowley morreu seis e uma fração de meses (sic) depois desta carta.“
O que McMurtry não disse é que ele nunca respondeu à carta. Inevitavelmente, entretanto, ele a apresentou como evidência no processo em Maine, para ajudar Donald Weiser e tentar confundir as coisas sob alegação de que ele, McMurtry, tinha direito de representar a Ordo Templi Orientis (Isto ajudaria Weiser porque parte do trato dele com McMurtry era que ele, Weiser, seria “perdoado” pelas suas edições piratas impressas antes de “adotar” o “Califa”). Deve ter entristecido esses dois patifes que a ordo templi orientis pode apresentar a seguinte carta, de Crowley a Frederic Mellinger (um Irmão então servindo no exército americano, o qual, incidentalmente, era um judeu), escrita quase exatamente um mês depois da carta a McMurtry:
Meu Querido filho,
Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.
Eu devia ter respondido à sua carta de 24 de junho há mais tempo, mas eu tenho estado sobrecarregado de trabalho e de visitas que não podiam ser adiadas, e doença devida ao mau tempo, de maneira que estou todo baratinado.
Fico muito contente de saber que você gostou do presentinho; todo mundo parece ter gostado. Você é um das três ou quatro pessoas a quem mandei cópias…
O “presentinho” era uma cópia de OLLA .
Fico feliz em saber que seu trabalho está impressionando os seus colegas e os seus subordinados. Não esqueça “sem ânsia de resultado”!
Quando quer que você tenha um momento de sobra pense em mim, e lembre-se que você não pode trazer maior felicidade à minha vida do que me escrevendo um bilhetinho: não importa se há alguma coisa para dizer ou não.
Estou realmente muito ansioso de que você se mantenha em estreito contato comigo, se apenas porque eu considero muito possível que após Frater Saturnus e eu mesmo passarmos ao próximo estágio você talvez se veja sob o peso da inteira responsabilidade de continuar com o trabalho da Ordem. É da máxima importância que você preste estrita atenção a experiência pratica de todos os pontos da obra, porque quando você se tornar a cabeça suprema de tudo você descobrirá que gente escreve a você de todas as partes do mundo fazendo todo tipo de perguntas impossíveis, e você tem que responder não apenas com tato e sinceridade, mas com conhecimento detalhado.
Por favor, lembre-se disto acima de tudo… a gente nunca sabe em que momento se pode encontrar numa posição de suprema responsabilidade, e a gente não deve recusar essa posição nem tentar passar ao largo dela. Eu creio que isto é tudo que eu tinha a dizer hoje à tarde.
Você não imagina as coisas impossíveis que as pessoas me pedem para fazer. A B.B.C. queria alguma de “Olla” – nem me lembro bem o que – e agora mandaram o livro de volta por que o homem que originalmente o queria está de licença por motivos de saúde, e ‘por favor, mande o livro novamente em novembro’. Bom, eu nem sei mais quando é novembro direito! Meus talentos de organização não são dos maiores, como você sabe muito bem, e eu simplesmente não sei o que fazer sobre este particular problema. Parece-me que quando novembro chegar eu não me lembrarei mais de quem me escreveu originalmente pedindo o livro, ou o que ele queria com o livro. A única coisa que ocorre fazer é por uma anotação no meu diário para o primeiro de novembro para mandar o livro de volta para o sujeito – que eu nem sequer conheço pessoalmente – naquele dia. Em outras palavras, eu estou mais encalacrado do que jamais estive na minha vida.
Por falar nisso, um homem apareceu por aqui que tem estado estudando meus livros faz alguns anos, e está bem avançado em vários planos. A grande desvantagem dele é que ele parece não conseguir trabalhar no Plano Astral, por isto eu pedi a ele para voltar aqui depois de amanhã para que eu possa dar a ele o mesmo teste que dei a você. Eu gostaria de saber, por sinal, depois de todos estes meses, qual o resultado daquele teste.
Amor é a lei, amor sob vontade.
Sempre seu,
Com a bênção
Total de um Pai
666
Como se vê, uma carta muito mais calorosa que aquela enviada a McMurtry, e não admira. Aproximadamente cinco meses depois ele morreu. Mellinger progrediu e eventualmente foi nomeado co-testamenteiro do Sr. Germer com a Sra. Germer. Quanto a McMurtry, o que ele já era, e o que mais ele se tornaria com o tempo, ficará muito claro da continuação deste relato.
A campanha contra Telemitas não se limitava aos Germers, e não cessou com a morte de Crowley. Parsons, que já estava obcecado pelo fracasso em entregar tudo que ele tinha e tudo que ele era, tentou se colocar acima da Besta através do processo de “conseguir sua própria Mulher Escarlate” (soa familiar?). A mulher que ele escolheu para “Babalon encarnada” prontamente fugiu com todas as economias dele e com o futuro pai da “Dianética e da “Cientologia“, L. Ron Hubbard (o qual começou sua bem sucedida carreira de vigarista com este respeitável fundo financeiro).
Hubbard mais tarde declarou que ele havia sido enviado a Parsons pelo serviço de inteligência da marinha dos E.U.A., “para acabar com a magia negra nos Estados Unidos”. A marinha americana, ao ser interpelada, nem confirmou nem negou essa conexão ilustre. Se for verdade, Hubbard não foi a primeira nem será a última cavalgadura da inteligência, na marinha americana ou fora dela, que tomou a rédea nos dentes e galopou vida afora fazendo melhor – ou pior – que os seus jóqueis.
Sem sua fortuna, sem sua “Mulher Escarlate“, Parsons foi procurado por uma pessoa cujo nome, por alguma razão inexplicada, o governo americano se recusa a revelar. Tudo que se sabe sobre ele é que era um judeu… Essa pessoa se propôs a comprar de Parsons segredos militares do governo norte-americano (Parsons era um engenheiro especializado em combustíveis sólidos para foguetes e trabalhava para o governo). “Inexplicavelmente”, as negociações se tornaram conhecidas pelos chefes de Parsons, que encetaram um inquérito altamente sigiloso sobre ele. Foi enquanto esse inquérito ainda estava em progresso que Parsons “acidentalmente” explodiu seu laboratório e a si mesmo. Como já dissemos, McMurtry afirmou publicamente e por escrito que ele participara nas investigações contra Parsons.
Os registros desse inquérito foram obtidos como parte de um pedido formal pela ordo templi orientis , com base na Lei de Liberdade de Informação americana. A maioria das páginas está totalmente obscurecida, o que significa ou que a agência responsável considera toda a operação altamente embaraçosa para si, ou que a maioria dos informantes ainda estavam vivos quando o pedido foi feito, ou que estavam obtendo, mesmo depois de mortos, o tipo de proteção que caluniadores ou mentirosos sempre recebem de serviços de “inteligência”. Aparentemente, tais serviços acham que só podem funcionar bem num clima de traição humana. Obviamente, Parsons foi vitima de uma deliberada armadilha; que um judeu tivesse sido o personagem central desse jogo sujo é muito interessante em vista das subseqüentes desventuras de Motta com Oskar Schlag e outros agentes israelenses, e em vista do agora óbvio ódio dos sionistas por Thelema.
Parsons se matou em 1952 e.v., no mesmo ano em que o Sr. Germer mandou a Kenneth Grant uma patente dando-lhe o direito de trabalhar com os primeiros três graus da ordo templi orientis No principio do ano seguinte, 1953 e.v., Marcelo Motta entrou em contato com o Sr. Germer pela primeira vez.
Motta, um cidadão brasileiro, foi referido ao Sr. Germer por Parsifal Krumm-Heller, filho de Arnold Krumm-Heller (Frater Huiracocha VIII° O.T.O. ). Motta visitara Parsifal Krumm-Heller em Warburg, na Alemanha, pouco antes de ir estudar numa universidade norte-americana. Motta estivera interessado em ocultismo, e especialmente no que é algumas vezes chamado de “tradição esotérica do ocidente”, desde a adolescência.
Especificamente, desde os onze anos de idade, depois de ler Zanoni , por Sir Edward Bulwer-Lytton.
Parsifal Krumm-Heller estivera ensinando Motta à distancia desde que os dois se haviam encontrado (Parsifal estava então com trinta e poucos anos de idade, Motta com vinte e dois). Ele fizera dois estudos astrológicos, grafológicos e quiromânticos de Mota, os quais contêm algumas predições de acurácia notável, e demonstrara grande interesse no desenvolvimento do jovem. Ao passá-lo ao Sr. Germer, ele escreveu “Estou colocando você em contato com um iniciado muito mais avançado do que eu, porque acho que você se beneficiará mais da orientação dele do que da minha.” (Não uma atitude que se pudesse esperar de um L. Ron Hubbard ou de um Grady McMurtry!) Subseqüentemente, Parsifal deixou a Alemanha com a esposa e o filho, e desapareceu completamente, como fazem alguns iniciados.
Como e por que Motta entrou em contato com Parsifal Krumm-Heller não é importante aqui. Basta dizer que Motta tinha estado tentando entrar em contato com uma corrente iniciática séria desde os onze anos de idade, e lera a maioria dos bons autores ocultistas (tais como Levi, Blavatsky, Vivekananda, Paracelsus, Stainer) assim como uma abundância de falsos mestres e charlatães sem pejo. Ele estudara também a literatura religiosa do oriente, e estava familiarizado, dentro dos limites das traduções que lhe eram disponíveis, com as Mil e Uma Noites, o Bhagavd Gita, o Ramayana, o Dao De Jing, os aforismas de Patanjali, etc. Além de usa língua materna, o português, ele lia e falava o francês e o espanhol, tinha um pouco de latim (felizmente para ele, o latim era compulsório nos colégios brasileiros da sua época), um pouco de alemão, e já era muito fluente em inglês.
Após alguma correspondência inicial, Motta visitou os Germer pessoalmente e foi-lhe oferecida a alternativa de ou se juntar à A.·. A.·. ou se juntar à O.T.O. Motta escolheu a primeira imediatamente: ele lera Uma Estrela à Vista , que descrevia exatamente o tipo de organização que ele estivera procurando desde os onze anos de idade. Ele levou sete anos e passou por muitas tribulações antes de ser promovido de Probacionista a Neófito.
Pouco após a primeira visita de Motta, os Germers se separaram e permaneceram separados por vários anos. A Sra. Germer, com justiça ou não, associou a separação à visita de Motta, e a partir de então detestou Motta intensamente.
Dois outros fatores contribuíram para este desafeto. Quando vira a Sra. Germer pela primeira vez, Motta (jovem e inexperiente) fora repelido pelas feições dela. Ela tinha, infelizmente para ambos, um tipo de face que ele, com a intolerância e egocentrismo naturais da juventude, considerava feia. Isto não tem absolutamente nada a ver com o fato de que ela era judia, pois Motta é fortemente atraído por mulheres judias, principalmente aquelas cuja aparência é convencionalmente considerada a mais típica: olhos e cabelos negros, tez trigueira, nariz aquilino, maçãs salientes, rosto triangular – o tipo que os próprios judeus chamam de “Schwartz”, de fato. (Um tipo semítico, podemos acrescentar, extremamente comum entre os árabes.) Ao se encontrarem pela primeira vez, ele nem sabia que a Sra. Germer era judia por nascimento. O fato de uma pessoa ser judia ou não pouco significava para Motta: felizmente para ele, não fora criado no catolicismo romano: sua mãe, que era a autocrata da família, havia decretado que ele deveria escolher sua própria religião quando crescesse (uma atitude raríssima no Brasil; não se pode deixar de sentir a mão dos Chefes Secretos atrás disso). A eventual escolha de Motta foi, claro, Thelema.
Até mesmo hoje em dia é muito difícil para Motta não mostrar seus sentimentos em sua face; não fosse seu ascendente o Leão! A Sra. Germer deve ter lido a reação dele no momento em que entrou na sala. Ele estivera esperando uma mulher como o livro da Lei descreve: uma besta magnífica com cabelos flamejantes, membros grandes, corpo voluptuoso, fogo e luz em seus olhos; e entrou essa senhora, de aparência convencional, queixo retraído, ligeiramente pomposa… Pobre Sra. Germer! E pobre Motta, pois a maior parte dos seus problemas com a ordo templi orientis surgiu dessa primeira reação de antipatia.
O segundo fator é mais fácil de compreender: a Sra. Germer era extremamente suspeitosa de estranhos. Para começar ela era uma refugiada do nazismo e vira de perto os horrores da Gestapo; Motta que tem sangue suíço-alemão (ele também tem sangue de índio brasileiro e negro africano, mas estes não são aparentes), era louro, tinha olhos claros e falava inglês com leve acento alemão (sua primeira professora particular de inglês, uma senhora israelita, era outra refugiada da Alemanha; mas tão cedo após a guerra, e lecionando inglês, ela preferia se passar por inglesa. Motta se esforçara por adquirir seu “puro acento britânico” e tinha, infelizmente, sido bem sucedido!). Também, Motta, produto de um colégio militar, tinha um porte aprumado de soldado (sete anos de treino militar na adolescência fazem isto a qualquer um). A presença dele, com aparência de alemão, falando inglês com sotaque alemão, com um porte militar, e com óbvio desdém por ela, deve tê-la lembrado amargamente daqueles jovens oficiais e soldados da SS que haviam sido o terror dela.
Para cúmulo, o F.B.I. a tinha perseguido tão acirradamente que ela havia perdido todos os seus alunos, não podia lecionar a música que ela adorava, ou sequer tocar a música que ela adorava na presença de uma audiência amistosa (Motta solicitou que ela tocasse para ele; queria ver se ela realmente sabia tocar; ela recusou delicadamente, sabendo muito bem que ele queria pegá-la de surpresa), e esperava que tanto ela mesma quanto seu marido fossem incomodados ou até presos pelo Bureau a qualquer momento ou em qualquer lugar. (Esta era uma reação que havia sido cuidadosamente implantada: é uma das técnicas de terror mais comumente empregadas por serviços de “inteligência”.) Sua primeira percepção da antipatia de Motta por ela cresceu lentamente até se tornar uma convicção de que Motta não só a odiava, mas era outro agente do F.B.I. enviado para espionar sei marido. Se bem que Motta não tinha qualquer idéia disto na época, ela constantemente prevenia o Sr. Germer contra ele; e o Sr. Germer, que também sabia muito bem como o F.B.I. de Hoover podia abusar das pessoas, teve suspeitas de Motta até quase o último ano de sua vida. Isto não o impediu de tentar cumprir seu dever como Instrutor com uma paciência e uma equanimidade que Motta talvez não merecesse.
Em 1955 e.v. o Sr. Germer foi forçado a expulsar Kenneth Grant da Ordo Templi Orientis , e enviou uma cópia da Notícia de Expulsão a todo mundo que tinha a mais remota conexão com trabalho da O.T.O. Motta, está claro, não recebeu uma cópia; ele não era membro da ordo templi orientis Seu interesse continuava a ser as disciplinas iniciáticas da A.·. A.·. , cujo Currículo ele estava tentando seguir da melhor forma que suas habilidades permitiam; mas suas habilidades não eram das maiores.
Deve ser também notado que Motta ignorava completamente os termos do testamento de Crowley, e a importância desses para a ordo templi orientis Ele sabia apenas que o Sr. Germer havia dito a ele que o primeiro volume de O Equinócio nunca tivera os direitos autorais registrados, uma vez que Crowley tinha sido da opinião que sua obra deveria pertencer à humanidade em geral; e Motta assumira que o mesmo era o caso com todas as outras obras de Crowley. Na época, Crowley tinha a pior fama possível, e ninguém queria publicar seus livros; o Sr. Germer os estava imprimindo com grande sacrifício. Quaisquer quantias que lhe chegassem às mãos eram imediatamente destinadas à publicação. Suas cartas a Motta refletiam seu grande desejo de publicar mais, e Motta sonhava constantemente com ser capaz de ajudar o Sr. Germer neste trabalho.
No final de 1956 e.v. o Sr. Germer convidou Motta a visitá-lo pessoalmente. O Sr. Germer, que estava separado da Sra. Germer fazia alguns anos, estava vivendo na casa de Ero Sivohnen, um Irmão, em Barstow, Califórnia. Motta foi a Barstow e lá o Sr. Germer inesperadamente iniciou-o no IX° da Ordo Templi Orientis e deu-lhe todos os rituais da O.T.O. e todos os manuscritos secretos da Ordem para ler. Ele também deu a Motta para ler o texto integral da Constituição da O.T.O. qual reformulada por Crowley (somente uma parte deste documento foi publicada no Equinócio III 1 , o assim-chamado “Equinócio Azul”).
Foi ao ler este documento que Motta se familiarizou com a maneira em que a Cabeça Externa da O.T.O. é escolhida. A Cabeça Externa é eleita somente se a Cabeça Externa prévia tiver morrido sem nomear seu sucessor ou sucessora; e pode então ser eleita somente pelo voto unânime de todos os Reis (ou Rainhas) Nacionais existentes. Nenhum Irmão ou Irmã de grau mais baixo, não importa nem que sejam membros do IX°, tem qualquer voz no assunto. A ordo templi orientis não é uma instituição “democrática”: é uma hierarquia e uma (aparentemente) autocracia simultaneamente. Regras democráticas são usadas nos graus mais baixos, e mesmo no X° no caso único de absoluta emergência; mas uma vez designado (ou designada) e assumido o cargo em seguida ao seu antecessor (ou antecessora), a Cabeça Externa (como a parte publicada da constituição diz explicitamente, p. 244, parágrafo 6 da edição original do “Equinócio Azul”, em inglês), é absoluta. Seu poder deriva diretamente da Cabeça Interna da Ordem, não de qualquer um dos membros. A provisão de que a Cabeça Externa pode ser deposta pelo voto unânime dos Reis ou Rainhas nacionais tem como finalidade proteger a ordo templi orientis no caso único, pouco provável, mas sempre possível, de que as responsabilidades do cargo desequilibrem a mente da C.E.O.
Em suas “epístolas aos fiéis”, Grady Louis McMurtry tentava impingir que o Sr. Germer nunca fora designado Sucessor por Crowley; também, que mesmo que ele tivesse sido formalmente designado ele ainda assim teria que ser eleito! (Antes dele, Joseph Metzger tentara uma variante do mesmo truque: alegando que o Sr. Germer morrera sem designar um sucessor, fez-se “eleger” C.E.O. pelos membros do seu próprio grupo suíço.) A correspondência com Crowley, com o Sr. Germer e com outros membros da ordo templi orientis nos E.U.A. que McMurtry foi intimado judicialmente a entregar, demonstra não só que ele sabia perfeitamente que o Sr. Germer era o sucessor designado, mas que até em diversas cartas ele admitira explicitamente que sabia que o Sr. Germer era a nova C.E.O. McMurtry mentiu repetidamente sobre a ordo templi orientis em suas cartas circulares e em suas “proclamações”, por motivos que provavelmente se tornarão mais e mais claros para os leitores inteligentes à medida que continuemos esta história.
Ser iniciado na Ordo Templi Orientis – e isto no seu mais alto grau não-administrativo, com exceção de um! – fez Motta ficar muito confuso. Ele não podia entender bem por que o Sr. Germer o iniciara. Ele compreendeu imediatamente a profunda importância do IX°, e pode perceber os princípios e fitos da Ordem; mas ele era totalmente incapaz de usar na prática o conhecimento que lhe fora dado. Anos se passaram antes que esta situação mudasse.
Como se a confusão do jovem não bastasse, o Sr. Germer o impeliu avante impiedosamente, dando-lhe os diários confidenciais de Crowley em Cefalú e outras partes para ler, e franquiando a Biblioteca Telêmica a ele. Além disto, o Sr. Germer pessoalmente levou Motta para visitar todos os Irmãos e Irmãs além dos Sivohnens que viviam na Califórnia, e apresentou-o a eles como um novo membro do IX°. Essas pessoas eram o Dr. Gabriel Montenegro Vargas, Ray e Mildred Burlingame, Wilfred e Helen Smith, Phyllis (então) Wade, Louis Culling e sua amante Meeka, e Grady Louis McMurtry.
McMurtry tentou impingir aos seus correspondentes e a Donald Weiser e James Wasserman que Motta, tendo sido originalmente autorizado pelo Sr. Germer a dirigir uma Loja apenas até o III° ordo templi orientis , não tinha direito a qualquer grau da Ordem mais alto que o III°, e estava mentindo quando se declarara um membro do IX° e do XI° no “Manifesto” publicado em Equinox V 1 . Porém, McMurtry foi depois forçado a admitir no tribunal que Motta tem o IX°. McMurtry também objetou contra a autoridade de Motta alegando que Motta não tivera treino regular na ordo templi orientis ; isto é, não subira através dos graus da maneira regular. Mas novamente, a evidência dos documentos que ele foi forçado a entregar demonstra que McMurtry havia sido introduzido na ordo templi orientis exatamente da mesma maneira que Motta: isto é, ele nunca tivera treino prévio nos graus abaixo do IX°. Isto está claramente dito em uma das cartas de Crowley a McMurtry (não uma das famosas “cartas do califado”, das quais falaremos mais adiante…) que McMurtry nunca deu a público antes de ser intimado judicialmente.
Há uma grande diferença entre ser um membro ou membra do IX° ordo templi orientis e ter permissão de operar um “Acampamento” ou Loja da ordo templi orientis McMurtry nuca teve permissão do Sr. Germer para operar coisa alguma; suas patentes condicionais dadas por Crowley nunca tiveram a sanção necessária para serem ativadas. Durante dez anos Motta deu a McMurtry toda chance possível para apresentar evidência de confirmação pelo Sr. Germer. McMurtry não pode apresentar tal evidência a Motta pessoalmente; isto poderia ter sido devido à óbvia hostilidade de McMurtry por Motta, e, portanto Motta preferiu esperar. Mas ele também não pode fazer isto em seu depoimento sob juramento no tribunal em Maine em março de 1984 e.v. De fato, ele se contradisse constantemente ao ser interrogado.
McMurtry também alegou publicamente por um lado que Motta assumira o XI° ordo templi orientis por sua própria conta, sem o conhecimento do Sr. Germer; e por outro que, tendo assumido o XI°, Motta declarara publicamente que ele é homossexual (coisa muito feia na cartilha de porco chauvinista de reacionários políticos da laia de McMurtry e Ronald Reagan), e, portanto era indigno (!) de ser a C.E.O. Mas (como ele mesmo admitiu voluntariamente no tribunal) McMurtry havia estado ilegalmente de posse da correspondência privada entre Motta e o Sr. Germer durante anos, e foi compelido a fornecer cópias da mesma. A correspondência prova conclusivamente que o Sr. Germer soubera que Motta assumira o XI° ordo templi orientis mais de um ano antes de morrer, e nunca apresentara qualquer objeção. Não é, claro, mais verossímil que McMurtry não estava a par deste fato do que é verossímil que ele não sabia que Motta tem o IX° ordo templi orientis : McMurtry lera a correspondência entre Motta e o Sr. Germer pelo menos o suficiente para copiar as cartas íntimas de Motta ao seu instrutor e distribuí-las entre os seus “fiéis”.
Nos últimos dias de sua estadia em Barstow, Motta teve uma experiência inusitada que não o impressionou tanto na ocasião quanto devia (mas nesse tempo Motta ainda não era paranóico. De fato, seria justo dizer que então, dentro dos seus limites, Motta era tão ingênuo e amigável quanto o chela hindu mediano). O Sr. Germer veio a ele e perguntou-lhe se ele se lembrava do que acontecera a uma carta que a Sra. Germer enviara ao marido separado duas semanas antes. Motta não se lembrava do que acontecera com a carta.
O Sr. Germer, cujo olhar podia ser muito penetrante, insistiu. Motta começou a suspeitar de que ele estava sendo acusado de interceptar a correspondência do Sr. Germer; um ato totalmente estranho à natureza de Motta. Ele também começou a suspeitar que a acusação vinha da esposa de Ero Sivohnen, Jean Sivohnen, que estivera agindo hostilmente para com Motta Fazia algum tempo.
Motta fora imprudente a ponto de declarar à mesa que ele concordava com a maior parte das críticas de Crowley aos E.U.A. em Os Comentários de AL , e a Sra. Sivohnen havia tomado a posição de “meu país, certo ou errado”; diante da qual Motta abandonara a liça; mas, ela pudera sentir, não abandonara a sua opinião. Em um nível mais pessoal, Motta rejeitara algumas propostas sexuais da dama, ela sendo demasiado magra, demasiado azeda de temperamento, e demasiado velha para os gostos dele.
Após dez minutos fazendo-lhe perguntas, o Sr. Germer magoara os sentimentos de Motta a ponto de que o jovem estava começando a se encolerizar. (Devemos repetir que Motta não tolerava interferência nos assuntos privados de outras pessoas: ler a correspondência alheia sem permissão, ou ler os papéis privados de outra pessoa sem permissão, era coisas que ele desaprovava seriamente. Em sua adolescência ele fora vítima deste tipo de espionagem em seu próprio lar, por seus próprios pais; e ele abominava tais coisas.) O Sr. Germer pareceu finalmente satisfeito que Motta não interceptara a carta, e disse-lhe;
“Não se preocupe, Marcelo. Quando Sasha conhecer você melhor, ela não suspeitará de você desta maneira.”
O queixo de Motta caiu. “Sasha?!” ele exclamou, ultrajado. Nunca ocorrera a ele que a acusação pudesse provir da Sra. Germer. Realmente, ela estivera de visita fazia uma semana, e demonstrara total frieza para com ele; ele sabia que ela não gostava dele, mas nunca lhe ocorrera que ela podia suspeitar que ele cometesse um tal ato.
Muitos anos após, Motta finalmente reconstruiu o que ocorrera. Uma carta chegara para o Sr. Germer com outra correspondência quando tanto o Sr. Germer quanto os Sivohnen estavam ausentes. Motta recebera a correspondência e quando Jean Sivohnen chegara do trabalho horas depois ele lhe dera a carta ao Sr. Germer para entregar, uma vez que ele próprio ia sair.Parece claro que Jean Sivohnen ou interceptou a carta ou a colocou em algum lugar e esqueceu-a completamente. A possibilidade de que a Sra. Germer estava mentindo sobre o envio da carta, apenas para causar problemas entre o Sr. Germer e Motta, também existia, naturalmente; mas desde que em anos posteriores correspondência que não chegava se tornou tão comum com Motta como fora com os Germers, ele se inclina para a primeira hipótese.
De qualquer maneira, se a Sra. Germer era sincera em suas suspeitas (e Motta acredita que sim), este foi o primeiro exemplo dos problemas de comunicação que, anos mais tarde, cresceriam entre Motta e Sasha Germer, incentivados pela malícia de terceiros. À medida que continuarmos, isto se tornará bem claro.
Cinco anos depois, quando Motta já estava de volta ao Brasil, o Sr. Germer escreveu-lhe comunicando a morte de Ero Sivohnen (que fracassara na Ordália do Probacionista), e declarando que Jean Sivohnen era um vampiro. Ela já havia, ele disse, matado antes outro Irmão digno (Schneider); a seguir tentara enfiar as garras no Sr. Germer; não conseguindo, se dedicara a Sivohnen. Após a morte deste ela tentara novamente gadunhar o Sr. Germer, sem resultado.
Jean Sivohnen foi uma das pessoas com quem Oskar Schlag mais tarde entrou em contato para conseguir informações sobre Motta, como veremos.
Deixando Barstow, Motta regressou a Baton Rouge, Louisiana, onde ele então residia; e suas ordálias pessoais se intensificaram. Ele estivera vivendo, contra a sua vontade, com uma mulher para com a qual ele tolamente sentia obrigações pessoais (era a mãe de seus dois filhos); as circunstâncias e sua própria compulsão interna de buscar a Iniciação eventualmente efetuaram uma separação permanente.
Uma vez que as aventuras pessoais de Motta são irrelevantes para este relato, não entraremos a fundo no assunto.
Motta alugou um quarto numa pensão de propriedade de um sargento de policia local (como de hábito, um americano de extração irlandesa e católica romana); ele alugou igualmente um pequeno escritório no centro da cidade. Em dias de trabalho normais ele fazia de babá para a sua ex-amante a fim de que ela pudesse trabalhar para se sustentar (coisa que ela sempre relutara em fazer enquanto ele vivera com ela, insistindo em que ele a sustentasse em vez de “perder tempo tentando ser um escritor. Por que não trabalhar como vendedor de seguros? Sua primeira obrigação é para com a sua família. Você é egoísta e imaturo.’etc., etc.). Quando ela chegava em casa à noite ele ia para o seu escritório, onde ele estava tentando escrever ficção comercialmente, e onde ele executava as suas práticas. Ele chegava ao seu quarto de pensão usualmente depois das dez da noite. Os fins de semana ele passava escrevendo. Ele dormia em média cinco horas por noite.
Os segredos iniciáticos que lhe haviam sido comunicados em Barstow haviam feito uma profunda impressão no psicossoma dele, embora ele não percebesse isto (estavam lentamente se expandindo e crescendo em toda direção do seu ser). Também, representavam um problema. Conhecimento muito importante lhe fora confiado; porém, conhecimento que ele se sentia incapaz de usar. Ele pensava sobre isto constantemente. Muitos anos se passariam antes dele alcançar o nível necessário de maturidade mágica para aplicar aquele conhecimento.
É por isto que a jactância do finado McMurtry ao se gabar de ser “um membro quitado do IX° Ordo Templi Orientis ” era completamente ridícula a não ser nos termos restritos da taxa cobrada pelos custos da cerimônia (aliás, o Sr. Germer nada cobrou a Motta pela iniciação). O Pavoneio, aliás, prova que McMurtry não tinha a mínima compreensão do IX°. O fato de que o grau é conferido não torna você automaticamente capaz de agir naquele nível; a diferença é precisamente definida na Carta 61 de Cartilha Mágica , “Poder e Autoridade”.
Após um ano e meio de práticas intensivas, Motta alcançou a experiência central do Neófitoe foi passado a Neófito. Subitamente, a polícia apareceu no seu quarto de pensão. Eles haviam (disseram) recebido uma carta anônima acusando Motta de ser um homossexual e um traficante de drogas. Um cigarro de maconha esmagado foi “descoberto” no quarto, sob uma cômoda.
Motta não foi formalmente indiciado; mas, após ser interrogado sem benefício de advogado e assinar um depoimento, ele foi enviado para a penitenciária local, onde tomaram suas impressões digitais e o fotografaram como se fosse um condenado (os leitores devem se lembrar de que isto foi na época da parceria de J. Edgar Hoover e Joseph McCarthy , uma década antes da decisão Miranda, que fixou os direitos de presos nos E.U.A. Hoje em dia um tal abuso de autoridade policial é contra a lei americana; mas se depender do governo Reagan, esse tipo de coisa se tornará rotina novamente). Vinte e quatro horas mais tarde ele foi libertado; exame de seu quarto e de suas roupas não fornecera qualquer evidência de que ele traficava drogas. Aparentemente também não foi encontrada qualquer evidência de homossexualidade, o que não é de admirar, uma vez que Motta na época era um celibatário e nunca praticara homossexualidade nos E.U.A. O autor ou autora da tal “carta anônima” nunca foi encontrado ou encontrada, claro…
Ao ser posto em liberdade sem acusações formais (o que foi devidamente anunciado na imprensa local), Motta escreveu ao Sr. Germer um relatório da sua experiência. O Sr. Germer replicou que quanto mais cedo Motta abandonasse sua inocência e percebesse que isto havia sido uma deliberada armadilha policial para comprometer um Telemita, tanto mais cedo ele aprenderia a se proteger contra esse tipo de manobra. Mas Motta, que ainda não se tornara paranóico, não podia compreender o que o Sr. Germer estava querendo dizer, ou por que qualquer pessoa ou organização poderia ser tão hostil a Thelema a ponto de fazer tais coisas – afinal de contas, Crowley era tão completamente desconhecido que eles tinham dificuldades em publicar os livros dele!…
As ordálias iniciáticas de Motta se intensificaram ainda mais após esse incidente, o qual fora muito deprimente para ele. (Ele nunca fora preso na vida, e a ocorrência deixou nele um sentimento de ter sido conspurcado que levou muito tempo para se dissipar). Alguns meses mais tarde ele recebeu um telegrama do Brasil: sua mãe falecera, e seus parentes queriam que ele voltasse ao Brasil para decidir a questão do testamento dela.
Pelos motivos já mencionados, não entraremos a fundo nas desventuras de Motta com seus parentes, a não ser para dizer que eles haviam surrupiado o testamento da mãe dele e tentaram roubar-lhe sua parte da herança. Foi eventualmente necessário que ele os processasse para receber sua parte integramente. Esta experiência – dolorosamente chocante para ele – influenciou muito sua conduta após a morte do Sr. Germer.
De volta ao Brasil, finalmente de posse de algum dinheiro (embora, para seu desapontamento, não oriundo do seu trabalho como escritor), Motta escreveu ao Sr. Germer declarando-se pronto para ajudar a publicação de material telêmico. O Sr. Germer escolheu Liber Aleph como o primeiro livro a ser impresso, e escreveu a Motta que, devido à situação nos E.U.A., seria melhor que o livro fosse impresso no Brasil. Ao mesmo tempo, ele solicitou que Motta escrevesse uma carta ao Rei Suíço da ordo templi orientis , o qual estava imprimindo frases da tradução de Liber AL ao alemão pelo Sr. Germer com deliberadas mudanças no estilo das letras. “Escreva como se de uma posição de autoridade,” urgiu o Sr. Germer, “expressando-lhe ultraje por tais atrocidades contra Thelema.” Motta obedeceu e escreveu ao suíço uma carta, assinando “O Sol no Sul” e, pela primeira vez, usando o XI° Ordo Templi Orientis.
Não podemos entrar a fundo no assunto aqui, uma vez que é muito santo e muito secreto, a não ser para dizer que algum tempo antes Motta fora designado Cabeça Brasileira da Ordem de Thelema, sob a Cabeça Internacional, que era o Sr. Germer. A Posição lhe dava o direito ao XI° Ordo Templi Orientis Isto não deve ser confundido quer com “magia homossexual” (o que quer que isso seja) quer com o trabalho normal da ordo templi orientis
Duas semanas depois, Motta recebeu uma carta do Sr. Germer: “O suíço me escreveu pela primeira vez em mais de um ano“, a carta informava. “Ele se assina A Criança. Eu não respondi; se o fizesse, eu abriria a carta com ‘Cara Criança nº 17 e meio’… A carta dele é semi-louca. Mas ele tem umas coisa a dizer sobre você! Ele diz que você escreveu a ele se chamando de ‘O Sol no Sul’e ‘Sacerdote dos Príncipes’. Que história é essa?”
Deve ser notado que nesses dias Motta era ainda mais relaxado do que é agora. Incrivelmente, ele não guardava cópias de suas cartas; e desta carta em particular ele deveria, claro, ter enviando uma cópia ao Sr. Germer. Não tendo feito isto, e não possuindo uma cópia da carta em seus arquivos – de fato, não tendo arquivos! – ele se lembrava muito pouco do texto da carta. Ele se lembrava, realmente, de ter assinado “O Sol no Sul” e “Sacerdote dos Príncipes”. Ele escreveu ao Sr. Germer confirmando estes fatos.
Uma cópia desta carta – assim como de várias outras – não foi entregue pela quadrilha de McMurtry. McMurtry selecionou com grande cuidado as cartas de Motta ao Sr. Germer e vice-versa, apresentando apenas as cartas que ela achou que poderiam comprometer Motta aos olhos do juiz, e nenhuma que mostrasse que o Sr. Germer confiava em Motta, ou que mencionasse o trabalho que ele estava fazendo para o Sr. Germer. O que segue é uma paráfrase de memória:
“Eu simplesmente fiz o que você me disse para fazer. Eu me assinei ‘Sol no Sul’ porque o Sol é importante no meu horóscopo, já que meu ascendente é Leão; e porque afinal de contas, eu sou do sul. Eu achei que soaria misterioso e o impressionaria. Quanto a ‘sacerdote dos príncipes’, isso, claro, simplesmente significa que eu sou um sacerdote administrando as necessidades de Adeptos Menores…”
Motta estava na época sob a ilusão de que ele era um Adeptus Minor, precisamente como Phyllis (então Wade, e precisamente pelos mesmos motivos. Veja-se Liber LXV v 48-51 e os comentários sobre esses versos. O Sr. Germer estava extremamente preocupado com ele.
Motta terminou a carta com o que nós consideramos era uma critica justa: “... Mas eu realmente não compreendo por que essa gente desperdiça um ano inteiro sem escrever a você e então lhe escreve só para se queixar de mim! Afinal, eu apenas pedi a eles que parassem de citar Liber AL erradamente, algo que eles deveriam ter estado dispostos a fazer eles mesmos.”
O Sr. Germer pedira aos suíços que enviassem a Motta uma cópia da edição deles de Liber XV , como uma amostra do tipo de acabamento de que ele gostava. O livro fora enviado com um panfleto que se abria com “Tun das Du willst es soll sein das ganze Gezetz”, ou, em português, “Faze o que Tu queres há de ser tudo da Lei.”
A ênfase desencaminha profanos e é significativa para os iniciados experientes. Joseph Metzger, ao fazer isto, estava, claro, enfatizando o fato de que é a SUA Vontade, e não a de outros, que você deve fazer; mas ele estava esquecendo 1) que isto está perfeitamente claro no texto e 2) que poderia ser a Vontade de alguma pessoa a realização da Vontade de alguma outra pessoa, pelo menos por algum tempo (“os escravos servirão” é apenas um exemplo disto; os escravos servem porque querem servir ). A “benevolente” preocupação do suíço em evitar que outras pessoas fizessem a vontade de alguém mais que elas mesmas era simplesmente uma projeção psicológica da parte dele; nem mesmo “compaixão”, mas “piedade”. Um exemplo, de fato, do “complexo de salvador” que tanto afeta estudantes principiantes que não tomam cuidado. O que Metzger estava realmente expressando era a sua revolta contra a obediência hierárquica. Ele não queria fazer o que a Cabeça Externa lhe estava dizendo para fazer, e projetando sua rebelião em outras pessoas.
Um mês após essa troca de correspondência Motta recebeu um telegrama de uma firma comercial no Rio de Janeiro, solicitando contato com ele. Ele foi, e encontrou um individuo chamado Kempter que lhe disse que recebera um pedido da Europa por informações sobre Motta e que, não tendo nenhuma disponível, ele gostaria de saber se Motta estaria disposto a fornecer alguma…
Kempter era, está claro, um judeu, embora Motta na época não estivesse cônscio disto; nem teria ele se perturbado se soubesse. O homem gerenciava uma firma bem sucedida de pesquisa de crédito internacional a qual era, claro, ao mesmo tempo, uma célula de “inteligência” sionista. Mas novamente, na época Motta não só era incapaz de perceber isto como nem sequer saberia ficar de sobreaviso se percebesse. Motta simpatizou com Kempter no momento em que o viu; infelizmente para ele ultimamente, Motta sempre teve uma tendência a gostar de judeus como pessoas; mesmo quando lhe causam dano. Este, claro, não era o caso de Kempter na ocasião; ele era apenas um instrumento de outros, como veremos a seguir.
Motta supôs erroneamente que o ramo suíço da Ordo Templi Orientis requisitara informações sobre ele, e respondeu com a máxima franqueza todas as perguntas que lhe fizeram.
Como se vê, a paranóia de Motta é uma aquisição recente.
Duas semanas depois ele recebeu um telefonema em inglês de um indivíduo que deu seu nome como Oskar Schlag, asseverou que obtivera o nome e o endereço de Motta de Kempter, e convidou Motta a jantar com ele no hotel em Copacabana onde ele ficaria por alguns dias.
Oskar Schlag… Motta tinha certeza de que ouvira esse nome antes; e pensou que o ouvira do Sr. Germer. Ele escreveu uma nota ao seu Instrutor indagando a respeito, e marcou dia e hora para jantar com Schlag, absolutamente convencido de que o homem havia sido mandado pela ordo templi orientis suíça para sondá-lo.
Schlag, está claro, não fora enviado pela ordo templi orientis suíça coisa nenhuma. Motta publicara um livro sobre Thelema, a A.·. A.·. e a Ordo Templi Orientis em português, e por essa data as primeiras cópias de Liber Aleph estavam para sair do prelo. Ele estivera sob vigilância durante anos, mas apesar da insistência do Sr. Germer em apontar-lhe este fato, ainda não estava disposto a acreditar nele.
Schlag era um individuo atarracado, de meia idade, com o tipo de expressão facial que se vê hoje em dia nos funcionários do governo americano nomeados por Ronald Reagan: bem nutrido, cínico, e deliberadamente “esperto”. Sua conversação com Motta foi-lhe muito lucrativa, pois até certo ponto Motta revelou seus pensamentos francamente, respondendo quaisquer perguntas que lhe fossem feitas; mas Schlag cometeu alguns erros que gradualmente puseram Motta em guarda. O primeiro foi sem dúvida uma conseqüência de informação errada prévia – ninguém senão a C.I.A. jamais pensou que a C.I.A. é perfeita. Ele requisitara que Motta se encontrasse com ele antes do jantar não no saguão do hotel ou no restaurante do hotel, mas em seu quarto, onde ele se apresentou afavelmente e a seguir pediu licença para fazer um chamado telefônico. Isto ele fez em alemão, e suas primeiras palavras foram “Das Knabe ist hier”, que significam, aproximadamente, “O menino está aqui.” Dizemos aproximadamente porque o alemão é um idioma muito preciso, com três gêneros: masculino, feminino e neutro. “Knabe” significa um mancebo do sexo masculino, mas é uma palavra neutra em alemão: leva uma conotação de falta de maturidade. Se você é um “Knabe”, você não é um adulto, e não tem os direitos de um adulto.
O erro de Schlag consistiu em que ele obviamente não fora informado de que Motta estudara o alemão. Motta ouviu atentamente a conversação telefônica sem aparentar assim fazer: ser chamado de “Knabe” aos trinta anos de idade não apenas o afrontou, mas o fez curioso sobre o que estavam dizendo a respeito dele. Embora Schlag mantivesse o seu lado de conversação tão limitado a monossílabos quanto possível, Motta pode perceber que algum tipo de encontro estava sendo organizado que tinha alguma coisa a ver com ele. Ele não se preocupou muito com isto: ele pensou que o ramo suíço da ordo templi orientis decidira fazê-lo passar por algum teste. Porém, mais tarde, à mesa, Schlag negou com desdém que tivesse sido enviado a Motta pelos suíços. Seu desdém, que era genuíno, foi seu segundo – e fatal – erro, devido inteiramente a um auto-controle imperfeito e a um descaso pela inteligência de Motta, e foi muito revelador para Motta. Schlag detestava a ordo templi orientis suíça intensamente…
Na realidade, Motta não compreendera a situação perfeitamente. Não era a ordo templi orientis suíça que Schlag detestava; era a ordo templi orientis em si.
… Portanto, quem era ele, o que queria ele com Motta, e como descobrira ele a existência de Motta? Motta, que estivera falando pelos cotovelos sobre todo tipo de assuntos confidenciais ou pessoais, crente de que estava falando com um emissário da ordo templi orientis , imediatamente caiu em guarda; mas já havia falado demais.
Schlag, embora Motta tivesse sido totalmente incapaz de perceber isto na época, era um agente triplo: ele trabalhava para os israelenses, a C.I.A. e o Vaticano; mas primariamente para os israelenses, como ocorre com todos os judeus que estão nesse ramo de atividade escusa. Os israelenses sempre buscaram associar Crowley com Hitler e o nazismo, mas não é este o real motivo de sua hostilidade por nós; meramente um pretexto conveniente. O verdadeiro motivo é que, não tendo absolutamente nenhum interesse na Palestina, não somos de qualquer auxílio a eles ou (poderá surpreender leitores pouco inteligentes ou politicamente ingênuos que isto importe aos sionistas) ao Vaticano; se crescermos em números, nosso sucesso material inevitavelmente enfraquecerá o prestígio tanto do Vaticano quanto de Tel Aviv, os quais chegaram a uma aliança maligna no presente em volta de dois interesses em comum: a Palestina e os cartéis internacionais.
O jantar de Schlag com Motta produziu três resultados de particular importância para o agente: primeiro, para sua surpresa e talvez desapontamento, ele descobriu que Motta gostava dos E.U.A.
Ele fora obviamente informado do contrário, possivelmente por Jean Sivohnen, cuja capacidade intelectual – como a dele – era insuficiente para distinguir entre crítica construtiva e hostilidade. Mas repetimos que na época Motta não tinha qualquer idéia de como Schlag estava bem informado sobre – se bem que, felizmente para Motta, não completamente bem informado em todos os detalhes.
Claro, registros de informações de serviços de “inteligência” laboram sob uma desvantagem que nesse tipo de trabalho pode ser fatal: avaliadores de dados só podem avaliar em termos de sua capacidade intelectual ou moral. A ambigüidade ética inerente em trabalho de espionagem torna difícil encontrar avaliadores de dados que sejam moralmente honestos, de mente aberta, e sensitivos para com nuanças sociais ou políticas. O que é pior, tais avaliadores melhores freqüentemente não recebem a devida atenção, ou são até punidos, quando fazem uma avaliação honesta e franca. Um exemplo, entre outros, foi o que aconteceu com os avaliadores de dados da C.I.A. na época da invasão da Baia dos Porcos: vários avaliadores avisaram que a invasão seria um fracasso. Não só não foi prestada atenção à opinião deles como até foram sujeitados a um inquérito confidencial, para se verificar se eles não eram agentes duplos, ou de lealdades divididas. O verdadeiro patriotismo, qual definido por Fernando Pessoa, é extremamente raro e vale seu peso não em ouro, que é um material relativamente comum, mas em plutônio, que é relativamente raro e simbólico da guerra nuclear que nos ameaça. Mas o verdadeiro patriotismo é mais temido do que apreciado por demagogos.
Em segundo lugar, Schlag descobriu que a Sra. Germer detestava Motta intensamente, pois Motta foi suficientemente tolo para dizer lhe isto. Sua técnica para extrair este fato de Motta foi pura e simples rotina: ele comentou com Motta, rindo como de uma piada, que “o pessoal da Califórnia” dissera que o Sr. Germer usava a Sra. Germer como uma espécie de oráculo; que quando ela “ficava inspirada e falava em línguas estranhas” na presença dele o Sr. Germer a escutava cuidadosamente e a levava muito a sério.
Isto, claro, provava que Schlag não só estivera em contato com os ex-membros da ex-Loja Ágape, mas também que eles haviam tagarelado com ele sobre o Sr. e a Sra. Germer. Motta não se surpreendeu, pois ele sabia que eles eram todos maliciosos fofoqueiros, e ele ainda estava sob a impressão de que Schlag viera do ramo suíço da ordo templi orientis , e, portanto tinha conexões telêmicas. Ele comentou, meramente, “Ela me detesta“, e nada mais disse sobre a Sra. Germer. Mas o dado era precioso para os propósitos de Schlag.
Motta ainda se lembra do sorriso leve e cheio de malícia do agente quando lhe disse que a Sra. Germer detestava o jovem brasileiro. A informação foi eficientemente empregada pelos chefes de Schlag, como os leitores poderão perceber à medida que prosseguirmos.
Finalmente, Schlag conseguiu a informação de que Motta imprimira Liber Aleph para o Sr. Germer, e imediatamente pediu para comprar uma cópia. Motta prometeu-lhe uma tão cedo elas fossem entregues pela tipografia .
Por seu lado, Schlag involuntariamente fez uma admissão muito reveladora a Motta: ele confessou que não só se considerava a re-encarnação do “Conde de Saint Germain” como também um avatar do “Mestre Racoczy” dos teosofistas de Besant e Leadbeater. Isto o colocou imediatamente entre falsos iniciados sob a influencia dos Qliphoth, e aumentou a guarda de Motta ao máximo.
Uma vez durante o jantar Schlag se desculpou; dizendo que tinha que ir ao seu quarto. Motta marcou a duração da sua ausência: ele levou quinze minutos para regressar.
Schlag estivera acertando os detalhes do que será descrito a seguir, e mudando a fita do seu gravador portátil miniaturizado, cujo microfone estava no seu relógio de pulso.
Após o jantar, Schlag insistiu em escoltar Motta do restaurante no último andar do hotel ao saguão, e em colocá-lo num táxi. Eles tomaram o elevador, onde já estavam três jovens. Enquanto Schlag conversava com Motta, um dos três, uma linda moça de cabelos escuros, ofereceu a Schlag uma rosa rubra com um sorriso silencioso. Schlag fingiu grata surpresa com o “presente”. Os três jovens saíram do elevador no andar seguinte, enquanto Schlag discursava a Motta sobre “mensagens dos Mestres ocultos”.
Os três jovens eram, está claro, sionistas recrutados para trabalhar para os israelenses, que preferem usar gente moça, tão próxima à adolescência quanto possível, para operações desonestas ou violentas. (Estudos por serviços de espionagem comprovaram que jovens de menos de vinte anos de idade são psicologicamente mais flexíveis e toleram distorções éticas melhor. A maior parte dos terroristas ativos, de qualquer ideologia, assim como a maioria dos assassinos profissionais, são gente de menos de trinta anos de idade.)
Nos degraus da entrada para o hotel, ainda falando de “mensagens” e de “mensageiros”, Schlag comentou quão aparentemente aleatórias e inesperadas tais mensagens podem ser, e subitamente se curvou e apanhou um pedaço de papel que um homem caminhando em frente dos dois deixara cair. O pedaço de papel era uma nota de venda, no valor de 365 cruzeiros .
“Está vendo?” disse Schlag triunfantemente. “É o número de Abraxas!”
Infelizmente para ele, o tiro saiu pela culatra. Motta simplesmente pensou, “É o meu número, e a mensagem é para mim, não para você. E quando a moça no elevador te deu aquela rosa, era um presente de mim para você, que não tenho certeza de que você mereça“. Mas em voz alta ele simplesmente expressou bem educada admiração pelo fato de Schlag ter tirado a sorte grande em sua loteria particular; pois devemos insistir, por surpreendente que isto possa parecer a alguns, que Motta é uma pessoa extremamente cortês.
A ironia da coisa toda era que se Motta não estivesse obcecado com a idéia de que ele era um Adepto Menor (em vez de, como ele era realmente, apenas um Neófito completo dando-se ares, portanto não realmente completo, se os leitores puderem entender o que queremos dizer!) ele teria percebido imediatamente que a situação inteira era uma arapuca armada com a finalidade de fazê-lo pensar que Schlag era um alto iniciado e merecia ser tratado como tal. O que salvou ele nesta ocasião foi sua presunção de tolo puro de que ele mesmo era um iniciado mais elevado do que ele era então. Seu Anjo o estava protegendo e guiando a despeito dele mesmo.
Foi apenas anos depois que ele percebeu o mecanismo da arapuca, depois de ter recuperado perspectiva mágica e após ter sido alvo de truques semelhantes repetidamente tentados com ele por espiões de serviços de “inteligência”.
Motta prometera se encontrar com Schlag uma vez mais para lhe entregar a cópia prometida de Liber Aleph . Alguns dias depois ele recebeu uma carta do Sr. Germer que dizia, entre outras coisas:
…Parece-me que foi decidido que você deve ser iniciado no mundo subterrâneo de inimigos, espiões e esse tipo rapidamente, num período de sua vida mais jovem do que aquele em que eu fui, pelo menos… Assim que alguém entra em contato com Thelema, especialmente se a pessoa trabalhou por Thelema, ele ou ela recebe as mais gentis atenções; não apenas ataques. O que eles preferem é trazer a pessoa de volta ao rebanho, para sutilmente trabalhar contra 93 enquanto pretende ser um expoente a seu favor… Este, receio, é o caso do grupo suíço.
Sim, eu preveni você faz anos contra Schlag. Ele é um judeu, maçom asariano de alto grau, odeia a ordo templi orientis , é um agitador político, formado em psicologia, parece ter bastante dinheiro à sua disposição, viaja pelo mundo inteiro, está em contato com coisas tais como C.I.A., o F.B.I., e não sei que mais. Ele tem possivelmente a maior biblioteca ocultista do mundo, tem todo pedaço de papel que A.C. publicou, tem coisas telêmicas que eu mesmo não tenho. A última vez que o vi foi em Nova Iorque em um hotel: ele se gabou de que tinha a única cópia manuscrita do Livro da Lei pela mão de A.C. Quando eu lhe disse que provasse a asserção, ele trouxe a cópia para me mostrar no carro, e eu imediatamente identifiquei a origem – para seu grande desapontamento…
À mesa, Schlag se gabara a Motta que ele possuía o original de AL ; mas embora Motta fosse suficientemente ingênuo para crer que ele podia estar dizendo a verdade, a jactância não impressionou Motta com a importância de Schlag. Motta não considerava que a posse material do manuscrito fosse necessariamente um sinal de desenvolvimento espiritual ou autoridade telêmica – a não ser que o manuscrito estivesse nas mãos dele. Uma vez mais, salvo por seu Anjo a despeito de si mesmo!
... Ele freqüentemente está na América do Sul; o que ele está fazendo lá eu não sei…
Motta eventualmente pode juntar as peças desconexas de informação que ele possuía sobre Schlag num todo coerente, e assim entendeu a natureza e o propósito das atividades do agente; mas deixaremos que os fatos falem por si mesmo e que os leitores cheguem à suas próprias conclusões antes de apresentarmos as nossas.
… Eu creio que escrevi a você na ocasião…
Ele não fizera. Sua referência a Schlag fora passageira, mas a memória de Motta para nomes é muito boa, razão pela qual ele se lembrava de Schlag. Após receber esta carta ele releu as anteriores e encontrou a referência prévia.
… que ele entrara em contato com os assim-chamados “telemitas” em Los Angeles, Ray, Mildred, Jane, Phyllis, etc. Todos eles caíram no papo dele, acreditaram que ele era um emissário da Loja Branca, um Chefe Secreto, principalmente Jane, que ele viu a sós, recebeu dele um grande segredo, e que ela era uma escolhida!…
Obviamente, Schlag lhes armara arapucas semelhantes àquela que ele armara a Motta. Talvez sua falta de cuidado ao marcar o “encontro acidental na frente de Motta tenha sido devida à facilidade com que ele pudera enganar os “agapeanos” da Califórnia, Jane (Wolfe) enlouqueceu pouco após ser “escolhida” por ele.
Manipulação dos símbolos religiosos de qualquer grupo cultural é uma prática de espionagem muito mais antiga do que se pensa. De fato, hoje em dia é uma especialidade à parte no campo da guerra psicológica, classificada como tal nos currículos de treinamento de serviços de espionagem, e considerada extremamente útil, especialmente em tempos de guerra. Já era usada pelo serviço secreto britânico na era elizabetana; antes disso, já fora o meio através do qual os Romanos-Alexandrinos quase conseguiram destruir o verdadeiro Cristianismo e dizimar os judeus; foi a técnica que os paises europeus usaram para colonizar o resto do mundo. Schlag sabia que nós interpretamos incidentes de nossa vida diária como “tratos particulares entre Deus e a nossa alma”. O que ele talvez não podia compreender é que esses que têm genuína experiência iniciática não podem ser enganados por um falso “trato” mais do que um ilusionista experiente pode ser enganado por um falso “milagre”. Aliás, o Iniciado está em ainda melhor posição que o ilusionista: não podemos ser enganados nem sequer por “milagres” genuínos…
Uma semana após receber a carta do Sr. Germer, Motta foi ver Schlag novamente como prometera, levando uma cópia nova em folha de Liber Aleph consigo. Schlag recebeu-o muito afavelmente, perguntou o preço do livro, pagou por ele, e pediu que Motta escrevesse uma dedicatória.
Motta imediatamente entrou em guarda. “O livro não é meu,” ele disse, “e não é um presente.”
“Não tem importância,” disse Schlag calorosamente. “Eu desejo ter uma lembrança sua. Por favor, escreva alguma coisa.” Ele ofereceu o livro e uma caneta pronta.
Motta pegou o livro e a caneta e fingiu pensar. Ele viu Schlag se contorcer com ansiedade mal-contida, abrir a boca para fazer uma sugestão, fechá-la novamente e se forçar a olhar em outra direção. Motta escreveu, “A Oskar Schlag, com simpatia e admiração, Marcelo Ramos Motta“, e deu o livro e a caneta de volta ao dono. Schlag abriu o livro com sofreguidão e leu a dedicatória. Sua expressão mudou. Ele olhou para Motta e disse, com surpresa e irritação na voz: “Você não tem muito respeito por mim!“.
“Eu julguei que a dedicatória expressasse o contrário,” disse Motta delicadamente; por dentro ele estava rindo.
O que Schlag esperara, claro, era alguma enormidade tal como “A 365, de 666”. Isto seria útil para ele no plano material de duas maneiras diversas: provaria a ele pessoalmente que ele conseguira obter domínio psicológico sobre Motta através dos seus truques; e poderia ser mostrado a outros Telemitas no futuro como prova de quanto Motta respeitava e admirava Schlag “Abraxas”, portanto de quanto Schlag merecia respeito e admiração. No plano mágico, simplesmente significaria que Motta tinha ficado moralmente louco por completo, e caído irrevogavelmente sob controle dos Qliphoth; isto era precisamente o que as forças sinistras manipulando Schlag estavam tentando conseguir.
Esta não foi a última vez que Motta se encontrou fisicamente com Schlag. Alguns dias depois o agente telefonou-lhe e pediu que Motta o levasse para ver o Pão de Açúcar, e lá pediu para tirar uma fotografia de Motta “para se lembrar dele. Motta consentiu.
“Por favor, levante seu indicador direito para que eu possa focalizar a câmera,”pediu Schlag.
Motta obedientemente levantou o dedo e foi fotografado nesta posição. Ele viu Schlag novamente sorrir maliciosamente enquanto tirava o retrato, e percebeu que caíra em outra armadilha. Mas o que, desta vez?
Ele compreendeu o que muitos anos mais tarde, lembrando-se das falsas fotografias de Crowley e outros iniciados sérios que circulam em falsas “ordens ocultistas”. Seu dedo apontando para cima era uma postura clássica de “Jesus” e outros “santos” crististas apontando para o “céu” em pinturas católicas romanas. (Veja-se AL i 8-9 e os comentários desses versículos para esclarecimento deste ponto importante.) Em conseqüência, Motta não permitiu que se tirasse outra fotografia dele durante vinte anos: ele não queria que Schlag e seus cúmplices pudessem associá-lo com qualquer falsa “ordem”. Ele compreendeu, finalmente, por que o Sr. Germer recusara visitar o quartel-general de “AMORC” com ele na Califórnia.
De posse do que ele julgava ser seu “prêmio de consolação” (e possivelmente sua revanche), Schlag finalmente parou de infligir Motta com sua companhia. Duas semanas mais tarde, Motta recebeu um telegrama da Suíça…
O domicílio de Schlag era Zurique, e o serviço de inteligência suíça tinha uma volumosa pasta sobre as suas atividades.
… O telegrama dizia que Motta podia ficar descansado e que Schlag não tentaria interferir com sua verdadeira Vontade.
“Isto é ótimo,” Motta pensou, “mas quem define a minha Verdadeira Vontade, ele ou eu?”
Um mês depois, Motta passou pela Iniciação do Zelator e percebeu como tinha sido idiota em sonhar que era um Adeptus Minor. Ele escreveu imediatamente ao Sr. Germer renovando seu Juramento de Obediência à A.·. A.·. , enviou seu Juramento e Tarefa do Zelador assinados com a carta.
Três meses depois o Sr. Germer foi para o hospital. Supunha-se que ia ser uma cirurgia bem fácil: remoção da próstata. O Sr. Germer mesmo parecera confiante em suas cartas prévias, de forma que Motta não se preocupou.
Do hospital o Sr. Germer mandou-lhe uma carta, escrita na caligrafia da Sra. Germer, datada de 12 de outubro (aniversário de Crowley) de 1962 e.v. dizendo:
Aniversário de A.C.
93
Querido Marcelo, você tinha razão. Eu estive no hospital por três semanas e em vez de uma simples operação o fluido prostático teve que ser extraído por que o tumor tinha sido descoberto. Eu estou agora muito enfraquecido, e tenho que ficar de cama durante 3 ou 4 semanas e sinto muita dor.
Se você olhar o meu horóscopo você verá os mais extraordinários aspectos dos meus Saturno, Júpiter, Marte e Urano, os quais não ocorrerão até fevereiro ou março.
A segunda longa carta que você me escreveu…
Motta lhe havia enviado duas cartas compridas num intervalo de alguns dias relatando certas experiências, certa percepções, e pedindo conselho sobre alguns assuntos de ordem prática.
… deu-me mais prazer que qualquer outra nos últimos anos. Está claro que você está sendo guiado pelo Supremo Hierofante e se você segui-lo lealmente e persistentemente ao fito determinado, ele lhe guiará, contanto que algumas das iluminações que lhe serão dadas não influenciem o seu Ego novamente, como ocorreu com a sua Besta…
O Sr. Germer por algum tempo crera que Motta pensava que ele era a nova encarnação de 666. Motta não pensara isto, mas é uma obsessão muito comum com aspirantes preguiçosos. Não podemos entrar a fundo neste assunto, que é confidencial. Eles haviam se esmurrado (como diria Crowley) durante algum tempo, e o Sr. Germer finalmente se satisfizera de que Motta, embora certamente de ego inchado, não enlouquecera. Isto precedeu a Iniciação de Zelador de Motta por vários meses.
Boa sorte para você! Eu desejo escrever infinitamente mais, mas o espaço é pouco…
A carta estava escrita à mão numa folha de correspondência dessas vendidas pelo correio norte-americano, já com selo impresso e com uma área limitada para se escrever, provavelmente comprada para ele no próprio hospital pela Sra. Germer.
… Quanto à sua pergunta sobre escrever ou procurar emprego, no momento eu não posso ir a fundo no assunto.
Lembre-se da passagem em Liber 418 sobre a Abelha e o Boi. O M.T. pode, e freqüentemente tem que aceitar os mais baixos empregos ou servir patrões velhacos por algum tempo. Mantenha em mente NU “Que não haja nenhuma diferença feita entre vós”…! O mesmo se aplica a escrever.
93 93/93
Fraternalmente
Karl
Era a última carta que Motta receberia dele.
Parte II
Na terceira semana de outubro de 1962 e.v. Motta recebeu um telegrama inesperado da Sra. Germer. O texto não está mais disponível e terá que ser reproduzido de memória. O telegrama dizia: “Nosso Mestre está morrendo. Diga-me o que fazer. Sascha Germer.”
Motta julgou que esse telegrama fosse um teste, e telegrafou de volta: “Não penses, ó rei, nessa mentira!”
Dois meses antes, Motta recebera uma carta do Sr. Germer dizendo que ele, Germer, viveria mais onze anos; por isto ele não acreditou no telegrama. Ele sabia que Crowley havia algumas vezes fingido ter morrido para testar seus alunos, e ele sabia que o Sr. Germer o testava continuamente. Mas sua resposta, de fato, fora inspirada. Nós não podemos entrar a fundo nisto num documento destinado ao público em geral.
Mas na primeira semana de novembro ele recebeu uma carta na letra da Sra. Germer:
West Point
Out. 30 62 (sic)
A Marcelo Motta:
Nosso amado Mestre está morto.
Ele sucumbiu a 25 de outubro às 20 h 55 m em horríveis circunstâncias.
Você é O Sucessor (ou Seguidor).
Por favor, aceite isto de mim, pois ele morreu em meus braços e foi sua última vontade (sic).
Quem é o herdeiro da biblioteca, por enquanto eu ainda não sei…
Motta foi três vezes chocado por estes cinco parágrafos. Primeiro, ele ainda sentia dificuldade em acreditar que o Sr. Germer morrera. Segundo, ele estava comovido e preocupado com o fato de que ele fora nomeado a Cabeça Externa; mas ainda estava em dúvida se isto não era ainda outro teste da sua lealdade. Terceiro, a sentença “Quem é o herdeiro da biblioteca, por enquanto eu ainda não sei” imediatamente o pôs em guarda. Se o Sr. Germer morrera, e o nomeara o Sucessor, obviamente ele era o herdeiro da biblioteca. Ele sabia que a Sra. Germer não gostava dele, e a recente experiência dele com seus parentes no assunto do testamento de sua mãe o levou a suspeitar que a viúva estava prestes a encetar uma manobra análoga se, de fato, o Sr. Germer havia morrido. A carta continuava:
Meu telegrama a si foi um pedido de socorro para salvar a Obra e a biblioteca, e eu pensei que você compreenderia, desde que ele deixou tudo aberto. Depois do que aconteceu durante a estadia dele no hospital eu estou morrendo de medo que alguma coisa acontecerá da mesma forma para destruir o trabalho da vida dele. O que eu sugiro é, tente conseguir um visto e voe para San Francisco, dali um vôo curto para Stockton ou Sacramento, depende de que avião você tome.
De Stockton ou Sacramento há diariamente um ônibus para Jacson. Em Jacson chame o Táxi nº 51 e pergunte por Irene. Ela trará você às 22 milhas para a casa, pois ela me transportou várias vezes durante a doença de nosso Mestre. Se você pode fazer isto, eu abriria com você todos os papéis secretos e tentaria encontrar o testamento dele.
Se esta não for a sua intenção, ou se você não puder fazer isto, eu não sei por quanto tempo eu poderei assegurar a biblioteca e todos os papéis importantes e as relíquias que são usadas para o Exorcismo da Missa, etc. A perspectiva é mais do que negra para a Obra e eu estou desesperada. Não me telegrafe, pois eu só peguei seu telegrama depois de quatro dias, estava lá no correio onde hoje eu tive a possibilidade de ir…
Esta última sentença perturbou Motta muito. Ele mandara seu telegrama para a caixa postal do Sr. Germer porque era o único endereço que ele tinha dos Germers. Se o que ela estava dizendo era a verdade, e o Sr. Germer realmente estava morto, não podia ela ter antecipado o desencontro e ido ao correio pegar o telegrama dele antes? Se o Sr. Germer o tivesse recebido, e lido a mensagem nele, talvez tivesse sobrevivido à ordália física que o levara à morte.
Mas Motta ainda tinha muito que aprender sobre a intensa emocionalidade da Sra. Germer e sua falta de senso prático.
Deve ser dito em sua defesa, que a Sra. Germer provinha de uma família rica. Em sua terra natal ela tivera criados que cuidavam dos detalhes da vida diária para ela. Mesmo sua fuga dos nazistas fora mais uma questão de dinheiro e subornos do que uma questão de argúcia: ela fugira com gente mais à par das coisas do mundo e mais senso prático do que ela. Seu temperamento era artístico, refinado, extremamente sonhador, como pode ser notado do seu estilo.
Você pode me escrever se quiser. Se você puder voar para cá depressa por alguns dias, isto poderia salvar a biblioteca. Eu tenho medo de que se alguma coisa acontecer comigo como aconteceu com ele,Thelema estará no maior perigo…
Novamente, esta sentença perturbou Motta. Ainda embriagado com seu recente êxtase iniciático, ele acreditava (corretamente) que Thelema estava sob a Guarda do Senhor do Aeon, e que quaisquer “perigos” que pudesse incorrer seriam apenas como sombras. Ele sabia que o Sr. Germer assim pensara, pois seu Instrutor repetidamente o censurara por sua falta de fé nos Chefes Secretos; e que a Sra. Germer pudesse duvidar e temer o preocupou muito. Isto demonstrava uma atitude espiritual errada por parte dela. Sua desconfiança e preocupação continuaram aumentando rapidamente com a leitura do resto da carta.
Muita gente interessada está perguntando sobre Liber Aleph, e um Doutor em Filosofia da costa leste escreveu que ele tomará o trabalho de Aleister Crowley como tema de sua dissertação. Eu informei o Sr. Weiser do que aconteceu.
Eu estou ansiosa por retirar todos os livros da biblioteca e colocá-los em caixotes, e pregá-los para que gente qualquer não possa botar os dedos neles. Mas primeiro eu tenho que achar o testamento dele…
De novo Motta ficou perturbado. Que história era essa de um testamento? Se o Sr. Germer, no leito de morte, o nomeara o Sucessor, esta era a sua última vontade, e o único testamento necessário!
É uma tradição invariável na ordo templi orientis que a Cabeça Externa prévia nomeia seu Sucessor ou Sucessora. Há apenas dois casos em que o assunto da posição de Cabeça Externa fica em aberto e sujeita a voto: se uma Cabeça Externa é deposta, ou se uma Cabeça Externa morre sem nomear seu Sucessor ou Sucessora. Em ambos os casos, só conta o voto dos Reis Nacionais; e em ambos os casos o voto deve ser unânime. Na ocasião de sua morte, o Sr. Germer – como Motta mais tarde viria a saber – havia expulso da Ordem ou havia cortado contato com todos os outros representantes da ordo templi orientis em diversos países com exceção de Motta. Ele enviara a Motta uma proposta de Patente da ordo templi orientis , mas Motta nunca recebera esta proposta, que havia sido roubada pelo Serviço Secreto do Exército para servir ao Vaticano.
A sentença seguinte da carta o feriu profundamente:
Sua presença aqui em nada mudaria minha atitude para consigo, portanto não há qualquer perigo de que você seja pessoalmente incomodado por mim. Eu apenas apelo pelo seu auxílio para a biblioteca, para a Grande Obra, e o último desejo de nosso Mestre de salvar tudo e continuar a Obra pela qual ele deu sua vida preciosa e a última gota do seu sangue.
Sra. Kal Germer
P.S. O que quer que você decida, aja rápido, todo dia é precioso. Em 30 de outubro ele será cremado em Sacramento, onde eu serei a única testemunha quando seus restos terrenos virarão cinzas.
A tinta do postescrito estava borrada, evidentemente por lágrimas. Motta ficou comovido com o óbvio sofrimento dela, mas sentiu (e ainda sente) que pelo menos numa tal ocasião ela poderia ter se abstido de insultá-lo enquanto simultaneamente lhe pedia auxílio. Também, as contradições inerentes na carta mesma eram demasiadas. A Sra. Germer, ele pensou, queria usá-lo sob falsos motivos. Que história era esta de testamento? E por que esta preocupação com quem seria o herdeiro da biblioteca?
O Sr. Germer havia escrito a Motta recentemente, sugerindo que a biblioteca fosse movida para o Brasil e colocada sob a sua guarda. Na mesma carta, ele afirmara categoricamente que o trabalho de Motta no presente era no Brasil: que ele deveria permanecer no Brasil e preparar as coisas para receber e proteger a biblioteca. Motta considerara isto ainda outro teste: ele sabia que todos os assim-chamados “telemitas” nos Estados Unidos cobiçavam a posse da biblioteca, e não queria ser contado entre eles. Escrevera de volta ao Sr. Germer recusando receber a biblioteca e lembrando-lhe a carta em que dissera que ainda viveria outros onze anos.
Motta decidiu que a carta da Sra. Germer era uma armadilha, não necessariamente consciente; ele notara que ela nem abrira nem fechara a carta com a Lei. De qualquer forma, a grosseria da Sra. Germer no último parágrafo sugeria que ela não necessitava realmente da presença dele. Ele sabia que Phyllis Seckler vivia perto dela, e tinha certeza de que Phyllis a ajudaria. Assim, ele escreveu à Sra. Germer delicadamente, dizendo que no momento ele não tinha os meios para viajar aos E.U.A., aconselhando-a a pedir auxílio a Phyllis Seckler, e prometendo ir aos E.U.A. mais tarde, se as coisas melhorassem. Mentalmente, ele acrescentou: “Se ela for um pouco mais educada, e esclarecer esta história de testamentos e últimas vontades.”
Deve ser observado que na época Motta ignorava totalmente os termos da Última Vontade e Testamento de Crowley. Se soubesse o que isto dizia, ele teria sido de muito mais auxílio ao Sr. Germer. O Sr. Germer nunca lhe mostrara o testamento de Crowley ou sequer o mencionara; e Motta nunca perguntara. O temperamento de Motta sempre foi de não meter o nariz onde não é chamado; e além disto, ele queria evitar dar qualquer chance às suspeitas que a Sra. Germer tinha dele. Na época, ele nem sonhava por que o Sr. Germer tinha tantas suspeitas dos seus “discípulos”…
Alguns dias depois Motta recebeu mais duas cartas dos E.U.A.: uma de Phyllis Seckler,dizendo que ela estava ajudando a Sra. Germer e que a Sra. Germer estava procurando o testamento do Sr. Germer. Phyllis acrescentou que a Sra. Germer lhe havia dito que bem possivelmente Motta fora nomeado herdeiro da biblioteca no testamento do Sr. Germer.
Esta carta irritou Motta. Se o Sr. Germer dissera em seu leito de morte que Motta era o Sucessor, se estas haviam sido (como a Sra. Germer afirmara em sua carta, escrita no calor da dor) suas últimas palavras, que importava qualquer testamento prévio? Sua convicção de que a Sra. Germer estava se recuperando de sua dor e se lembrando de que não gostava dele aumentou.
A outra carta era de Fred Mendel, cunhado de Donald Weiser e gerente da Livraria Samuel Weiser em Nova Iorque. Ele, também, informou Motta da morte do Sr. Germer, e perguntou que destino Motta queria que fosse dado à renda da venda das cópias de Liber Aleph.
Motta escreveu a Phyllis Seckler estimulando-a a continuar ajudando a Sra. Germer, mas não pôde deixar de perguntar-lhe em privado se o Sr. Germer realmente morrera; ela ainda duvidava… Escreveu a Fred Mendel declarando que Liber Aleph pertencera ao Sr. Germer, e que ele queria que a renda fosse paga à sua viúva, a Sra. Germer.
Motta estava, nessa época, quase completamente na miséria. Seus parentes haviam roubado a maior parte de sua herança materna e ele gastara o pouco dinheiro que recebera imprimindo Liber Aleph e um livro em português sobre Thelema, a A.·. A.·. . e a Ordo Templi Orientis O nome do livro era “Chamando os Filhos do Sol“. Motta o publicou sob o pseudônimo de “M.”
No dia 9 de dezembro Phyllis Seckler escreveu a Motta outra carta, dizendo que o Sr. Germer realmente morrera, e censurando Motta por duvidar disto. Ela acrescentou que a Sra. Germer finalmente achara o testamento do Sr. Germer, e que “naturalmente” a Sra. Germer fora nomeada executora do espólio. Motta também fora nomeado no testamento, mas apenas como um “herdeiro místico“.
“Lindo”, Motta pensou. “Exatamente o que eu antecipara”. Ele escreveu a Phyllis pedindo detalhes.
Na realidade, a Sra. Germer mentira a Phyllis. O testamento que ela encontrara estava datado de 1951 e.v., dois anos antes de Motta entrar em contato com o Sr. Germer, e dizia:
Esta é a minha última vontade e testamento:
No caso de minha morte ou acidente eu deixo toda a minha propriedade e posses para a minha querida esposa Sascha Ernestine Andre-Germer como única herdeira. Isto se refere à minha propriedade pessoal, da qual ela é a administradora única. No que concerne à propriedade da Ordem Ordo Templi Orientis, da qual eu sou a Cabeça, eu determino que isto será passado às Cabeças da Ordem, mas que minha esposa, a Sra. Sascha E. Andre-Germer, deverá ser a executora desta parte de meu testamento, com Frederic Mellinger IXº da Ordo Templi Orientis Eu determino que meu corpo seja cremado.
Karl Johannes Germer
New York, N.Y.
4 de dezembro de 1951 e.v.
Seguiam as assinaturas de duas testemunhas, uma delas Frederic Mellinger.
Como se pode ver, nenhuma menção de Motta como “herdeiro místico” ou herdeiro de qualquer outro tipo; nem poderia haver, já que Motta nem aparecera ainda na vida dos Germers. A Sra. Germer, temerosa de que Motta a abandonaria, temerosa de passar seus anos de velhice na miséria, tencionava manter o mancebo dependente da vaga promessa de que, em alguma data futura, ela o deixaria ter aquilo que seu marido, ao morrer, lhe dissera que deveria passar à responsabilidade dele imediatamente.
Nisto ela julgou Motta muito mal; e ela pagou um preço terrível por este erro de julgamento. O problema foi que Motta e a ordo templi orientis tiveram que pagar com ela.
A 6 de janeiro de 1963 e.v. Phyllis Seckler escreveu outra carta a Motta. A Sra. Germer se recusara a lhe mostrar o testamento, e meramente lhe disse que o nome de Motta estava no testamento, mas que ele não era, como a princípio ela dissera a Phyllis, o herdeiro da biblioteca. Aliás, Phyllis acrescentou diplomaticamente, a Sra. Germer tinha um temperamento bem artístico, e ficava zangada quando lhe faziam perguntas ou lhe pediam detalhes.
“Exatamente como eu pensei que seria“, foi a reação de Motta. Mas ele tinha a sua Iniciação, e o Beijo do seu Anjo; isto lhe bastava. Que o tempo lidasse com o resto. Ele se ocuparia com o seu progresso e em responder às perguntas que lhe chegavam de leitores de “Chamando os Filhos do Sol“.
No dia 26 de janeiro de 1963 e. v. a Sra. Germer escreveu a Motta outra carta contendo o seguinte parágrafo:
Você ainda assim foi a última “grande alegria” na vida tão atribulada dele. Você é jovem, você é o futuro da Obra. Eu não acreditei quando Karl disse “Ainda demora outros dez anos antes de fazermos de Motta o herdeiro!” Mas espiritualmente você é o herdeiro dele… Eu considero o testamento de Karl uma tarefa santa, e o testamento será cumprido em todos os seus detalhes.”
“Grande”, Motta suspirou. “Agora eu sei por que ele me escreveu dizendo que ia viver mais onze anos. Será que a mulher não consegue compreender que a situação mudou, que assim que me tornei capacitado para ocupar o cargo ele ficou livre para passar ao estágio seguinte? E por que ela não me deixa saber exatamente o que ele disse no testamento, quais as disposições do mesmo?“
Ainda assim, ele ficou quieto. Quando ela começar a receber dinheiro dos Weisers, ele pensou, ela perceberá que eu estou de boa fé e que não tenho ódio dela.
Pouco após o Equinócio de Primavera Motta recebeu um panfleto da “Criança nº 17 ½” Suíça, declarando que ele fora eleito Cabeça Externa da ordo templi orientis pelos seus membros suíços… Para grande alívio do Vigilante Invisível, Motta rasgou este panfleto cerimonialmente em cruz e jogou os pedaços na cesta de lixo mais próxima, onde era o seu lugar.
No dia 7 de junho, Motta escreveu à Sra. Germer, pedindo-lhe os nomes dos suíços que haviam assinado o “Manifesto de Primavera” em questão, inclusive o nome da “Criança nº 17 ½”; pois o documento continha apenas motos. Sua carta não teve resposta.
Motta não saberia o nome de Joseph Metzger por mais dez anos. Os nomes dos outros assinantes daquele notável documento ele ignora até o dia de hoje.
No dia 1 º de julho Motta escreveu novamente à Sra. Germer, censurando-a por sua conduta desde a morte do marido. Esta carta também ficou sem resposta.
No dia 30 de agosto, Motta escreveu mais uma vez à Sra. Germer:
“Eu lhe peço urgentemente que me escreva com clareza quanto às últimas disposições de Karl no que concerne à ordo templi orientis e a Ordem oculta sob o nome de Thelema. Eu quero saber quem é a C.E.O. Se é você, eu me curvarei a você como um Irmão do IXº que sou; se é qualquer outra pessoa; você não precisa me dar o nome dele ou dela, apenas me diga que sabe quem é, e por favor informa a C.E.O. de que eu, A., Zelador da A.·. A.·. . e Homem da Terra de Thelema, solicito uma Patente para executar trabalho oficial da Ordo Templi Orientis no Brasil“.
Também esta carta ficou sem resposta. Por então, Motta recebeu uma carta de Phyllis Seckler, criticando a conduta do Sr. Germer e oferecendo-lhe instrução “iniciática”! Motta escreveu de volta que ela não tinha condição de instruí-lo; que ela confundira a Visão Central de Malkuth com a Visão Central de Tiphereth; que ela era apenas um Neófito, se bem que completo; e terminou a carta dizendo, “Se você quiser progredir além do estágio presente, abandone suas consecuções ilusórias e beije seu Anjo de novo“.
Phyllis Seckler não escreveu de novo a Motta durante vinte anos, no intervalo dos quais ela gradualmente caiu da Árvore obcecada por sua terrível ilusão. Veja-se LXV vv 48-56, e os comentários sobre esses versos.
A 15 de dezembro daquele ano, a Sra. Germer finalmente escreveu a Motta. Ela não respondeu a nenhuma das perguntas dele sobre a Sucessão, mas em vez disto deu-lhe uma notícia estarrecedora:
“Antes de que eu definitivamente mande minha Petição ao advogado e aos tribunais desejo ter certeza de se uma Patente enviada a você a 20 de abril de 62 (sic) está nas suas mãos ou não. Foi isto que eu falei imediatamente após a morte de Saturnus. Nisto você tem o direito de abrir uma Loja e ensinar até o IIIº Grau inclusive… Esta carta escrita por Saturnus daria alguns direitos a você, já que você pode ser a cabeça de sua própria Loja no Brasil. Mas por favor não misture isto com ser a Cabeça Externa“.
Esta Carta Patente, claro, nunca chegara às mãos de Motta. Havia sido roubada pelo Serviço Secreto do Exército, que fora informado de que Motta era um perigoso terrorista e – naturalmente – um pervertido sexual. Mas Motta naquela época não sabia da interferência do Serviço Secreto do Exército em sua vida (mais tarde diremos como ele se tornou cônscio disto). Na ocasião, ele simplesmente achou que a Sra. Germer lhe estava mentindo: que o Sr. Germer a instruíra para que dissesse a ele que ele era a nova Cabeça Externa, mas por causa do desafeto que ela lhe tinha ela estava tentando colocá-lo numa situação subordinada a ela.
Esta idéia não estava totalmente errada. Entre os documentos produzidos em Maine, U.S.A., por Grady Louis McMurtry para ajudar Weiser contra Motta estava uma cópia do último Diário do Sr. Germer anotado pela Sra. Germer. McMurtry e Weiser afirmaram que a Sra. Germer havia mentido a Motta sobre as últimas palavras do Sr. Germer, porque na página relativa a 25 de outubro de 1962 e.v. não havia nada descrevendo-as. Mas exame do texto revelou que a Sra. Germer escrevera suas anotações meses após a morte do Sr. Germer. Sua principal preocupação e tema era sua falta de fundos e sua preocupação com a insegurança do seu futuro se a biblioteca deixasse as suas mãos. Ela escreveu uma lista de tudo que ela tinha feito por Thelema: todo o dinheiro que ela dera ao Sr. Germer para publicar livros de Crowley, todo o dinheiro que ela lhe dera para que ele enviasse a Crowley…
(Ela realmente fizera imensos sacrifícios financeiros, não por amor a Thelema, que ela obviamente mal compreendia e pela qual ela não tinha muita simpatia, mas pelo marido, ao qual indubitavelmente ela amava muito profundamente, mas de forma muito pessoal. Esta era a raiz do problema, e um dos motivos por que Motta sempre tem evitado permitir que sua intimidade pessoal com mulheres o leve a imaginar que elas estão dedicadas à Obra, antes que a ele. Motta ainda não encontrou uma mulher que não trairia Thelema no momento em que seu pênis, pequeno como é, deixasse de apontar para a vulva dela, por maior que seja. Isto o tem colocado na difícil posição de amar as mulheres como sexo, mas desprezá-las como indivíduos; de encorajar o feminismo em teoria, e ser constantemente desapontado por ele na prática. Ele ainda não encontrou uma mulher que pudesse ser um homem. Claro, ele também ainda não encontrou um homem que pudesse ser um homem, com a única exceção de Karl Johannes Germer; mas como ele não é emocionalmente atraído por homens, homens não representam uma tentação para ele; enquanto as mulheres, doces, sutis, belas, traidoras criaturas, acenam de todas as direções, por mais velho que ele fique!)
…Ela estava quase na miséria, e enfraquecendo por falta de alimentos suficientes. Mas Motta ignorava a situação dela porque ela era demasiado altiva e o detestava demais para se queixar ou explicar; ela não estava suficientemente faminta ainda.
Motta escreveu de volta à Sra. Germer:
“Eu nunca recebi nenhuma Patente da ordo templi orientis Como pode você pensar que eu receberia um documento de tal importância e não confirmaria o recebimento? Quando foi mandado? Como carta registrada? Se não foi registrado, é inútil ir aos tribunais por causa disso…” E novamente ele lhe pediu informações sobre a liderança da Ordem: “…Se não há C.E.O., eu declaro que assumo a posição por direito iniciático. Por favor, tente se lembrar de que eu sou um Mestre do Templo – de acordo com as palavras do próprio Karl…”
Isto não dava a ele quaisquer direitos especiais na Ordo Templi Orientis , mas Motta ainda não estava suficientemente adiantado para perceber este fato. Também, ele ainda não se recuperara por completo do choque da morte do Sr. Germer e da carga residual da sua Iniciação de Zelador. Tragi-comicamente, ele se tornara a C.E.O. no momento em que o Sr. Germer a instruíra para que dissesse a ele que ele era o Sucessor; mas ele só compreendeu este ponto legal em 1984 e.v. em Maine, quando seu advogado explicou a ele.
Claro, mesmo que ele tivesse estado cônscio disto em 1962 e.v., de pouco lhe teria valido: ele desconhecia o texto do testamento de Crowley ou a situação dos direitos autorais do mesmo. Ninguém considerara necessário informá-lo disso – como “agente do F.B.I.”, era pressuposto que ele já estivesse à par de tudo! A hostilidade da Sra. Germer eventualmente os prejudicaria a ambos terrivelmente.
Motta terminou a carta dizendo: “…se essa patente que você quer me mandar estiver sujeita à ‘autoridade’ do suíço – eu nada quero com ela… O suíço está doente“.
Que você quer me mandar sugeria, claro, que ainda não fora enviada, e que se duvidava da palavra dela. Se a Sra. Germer fosse uma profana, Motta provavelmente teria escrito com mais tato; mas supostamente ela era uma Irmã da Ordem, e aos seus Irmãos Motta sempre sentiu que ele deve absoluta franqueza. (Ele ainda mantém essa posição, freqüentemente para dissabor seu ou deles.) Esta carta não foi respondida, e durante os CINCO ANOS seguintes a Sra. Germer não escreveu a Motta, nem Motta lhe escreveu. Ele continuou, entretanto, a enviar carregamentos de Liber Aleph a Samuel Weiser, Inc. quando quer que Fred Mendel lhe pedia mais livros. Ele tinha certeza de que a Sra. Germer estava recebendo o dinheiro, e pelo menos estava tendo alguma ajuda financeira da parte dele. Talvez com o tempo ela mudasse de atitude e fosse mais amigável.
Quanto a Motta, sua situação material piorou progressivamente. Não podemos entrar a fundo neste assunto, porque, como já foi observado antes, esta não é uma história dos problemas de Motta, mas dos problemas da Ordo Templi Orientis Falamos dos problemas de Motta apenas para ajudar o leitor a compreender como é que serviços de “inteligência” podem ser manipulados a ponto de se tornarem destrutivos mesmo para o país que supostamente eles foram organizados para defender.
Embora Motta não percebesse isto naquela época, ele era um homem marcado. Ele entrara na “lista negra” nos E.U.A. no momento em que estabelecera contato com o Sr. Germer pela primeira vez: J. Edgar Hoover (chefe do F.B.I.) fora imediatamente informado. Quando Motta voltou ao Brasil, a vigilância piorou, pois se o F.B.I. e a C.I.A. estão nas garras do Vaticano (os Diretores de ambos são invariavelmente católicos romanos), serviços “brasileiros” de “inteligência” são literalmente administrados por padres romanos ou leigos membros do “Opus Dei”. A não ser que você seja um católico romano, você não será nomeado para um cargo de responsabilidade, e se você não for um cristista ou uma cristista você não poderá trabalhar para os serviços secretos brasileiros. Mesmo agentes sionistas como Oskar Schlag são olhados com desconfiança, a despeito da tênue aliança atual entre Tel Aviv e o Vaticano.
Quando Motta publicou “Chamando os Filhos do Sol” em português, imprimiu Liber Aleph em inglês, e começou a enviar cópias de um livro de Crowley para os E.U.A., a rede “brasileira” de “inteligência” foi imediatamente alertada. Ele estivera ganhando a vida, mais ou menos, escrevendo peças de televisão para redes brasileiras; seus originais começaram a ser sistematicamente recusados. Era-lhe permitido apenas fazer adaptações, a maioria de obras literárias de pelo menos um século de idade; e mesmo estas adaptações eram submetidas a uma pesada censura. Pagavam-lhe por peça, e mal; embora ele trabalhasse duro, e trabalhasse bem – uma de suas telepeças recebeu cinco prêmios – e fosse constantemente cumprimentado por atores, nunca lhe ofereceram emprego em direção ou produção, o que era o que ele mais desejava. Ele interpretou isto como a severidade das ordálias; não percebeu que era antes o ódio e o medo da “elite” católica romana por Thelema. Ele não percebeu que estava fichado, que era vigiado. Ele seria usado, e abusado, mas não poderia trabalhar onde seu talento pudesse influenciar a massa social. Ele nem sequer percebeu que as pessoas que o estavam usando, e abusando dele, secretamente o temiam, o odiavam, e se divertiam em fazê-lo sofrer. Como diz Eliphas Levi, “Eles partirão em cinco pedaços a bisnaga de pão de que o Magista necessita, para que o Magista tenha que lhes pedir pão cinco vezes”.
A situação política diariamente piorava: a inflação brasileira chegou a mais de cem por cento ao mês.
Isto, claro, era parte da manobra dos cartéis para derrubar o governo democrático então no poder: aquele governo instituiria tarifas para proteger a indústria nacional e para impedir que o capital estrangeiro monopolizasse a economia. Agentes provocadores – a maioria brasileiros secretamente pagos pela, e trabalhando sob orientação da, C.I.A., do Vaticano e de Tel Aviv, manobravam para levar a instabilidade política a um ponto em que a opinião pública permitisse a intervenção do cuidadosamente pré-condicionado Estado Maior do Exército, os componentes do qual haviam todos, sem exceção, sido treinados em Langley, na Virgínia, U.S.A. (sede da C.I.A. americana) ou em Washington. Um exemplo das técnicas empregadas terá que bastar no espaço de que dispomos (as técnicas têm sido sempre as mesmas nos últimos trinta anos em todos os países do assim-chamado “Terceiro Mundo”): Um agente formou uma associação de sargentos do exército (supostamente ele era também um sargento). Ele era vociferantemente marxista-leninista e favorável à União Soviética, e instigou os sargentos contra os oficiais, afirmando que os sargentos faziam todo o trabalho sujo enquanto os oficiais viviam do bom e do melhor e eram pagos quatro vezes mais (o que era verdade então e é ironicamente verdade ainda; porém, num exército onde os oficiais têm mérito, é assim que deve ser). Ele abertamente incitava os sargentos à revolta e fazia as mais absurdas asserções, tais como que os clubes dos oficiais deveriam ser tomados destes e dados aos sargentos. Quinze anos após a assim-chamada “revolução democrática”, alguns dos registros dos serviços de inteligência norte-americanos desses anos foram abertos ao público: deles se ficou sabendo que esse homem, trabalhando para a C.I.A., preparara uma lista extensa de todos os sargentos que eram realmente marxistas, ou dos sargentos que eram perigosamente inteligentes: estes homens foram sumariamente executados assim que o exército assumiu o poder. O “sargento” mesmo sumiu. Nem se sabe se ele era realmente brasileiro. As fotografias da época mostram um homem bonito, atlético, de fisionomia compenetrada e expressão altamente “patriótica”.
Gloria Steinem, a líder “feminista” norte-americana, tem sido acusada por grupos gay de executar um tipo análogo de serviço para a C.I.A.; documentos têm sido publicados expondo sua suposta ligação com os departamentos de guerra psicológica dos serviços secretos norte-americanos. Deve se notar que a revista pseudo-feminista de Steinem, “Ms.” (na realidade, do nível geral da comunicação de massa norte-americana), sempre parece encontrar financiadores, enquanto legítimas publicações feministas, marxistas ou não, têm que lutar duramente para sobreviver.
Tornando as coisas ainda piores para si mesmo (no entanto, ironicamente, como os leitores verão, assegurando sua sobrevivência durante o “purgo democrático” por vir), Motta escreveu, nove meses antes da assim-chamada “revolução democrática”, o que desde então se tornou conhecido como Carta a um Maçom. Anexamos aqui a nota bibliográfica que mais tarde ele escreveu sobre este panfleto da Ordo Templi Orientis :
“Esta carta foi originalmente escrita em 9 de julho de 1963 e.v., endereçada a um maçom asariano, um médico chamado Luiz Gastão Costa Souza, de Petrópolis, Estado do Rio de Janeiro. Mais tarde outro maçom Asariano e ex-discípulo, Euclydes Lacerda de Almeida, disse a Motta que o Dr. Gastão cuidadosamente conservara a carta, mas não a mostrara a seus irmãos maçons asarianos conforme lhe fora pedido.
“Após o Primeiro de Abril de 1964 e.v. …
A data em que a Junta brasileira de generais e cardeais lançou a sua assim-chamada “revolução democrática”. Mais tarde, por causa das piadas que a população fez sobre a data (oh, tão apropriada!), a Junta oficialmente decretou que a “revolução” começara a 31 de março, não no Primeiro de Abril. Mas o golpe realmente estourou no dia Primeiro de Abril: a Junta usara simbolismo astrológico e mágico, não necessariamente porque eles criam nestes, mas porque eles conheciam as crenças da massa popular, e tencionavam manipulá-las para seu proveito. Agentes como Oskar Schlag lhes foram muito úteis nisto.
“…o autor, sem fundos suficientes para ter o original copiado ou impresso, ele mesmo bateu à máquina muitos carbonos da carta e os distribuiu nas ruas do Rio de Janeiro a quem quer que ele se sentisse impelido a oferecer uma cópia, homem, mulher ou criança…”
Por essa data um agente da polícia secreta que vivia na mesma pensão que Motta (que fora viver nesse endereço por recomendação de ainda outro agente!), e com o qual Motta às vezes jogava baralho, disse a Motta em particular que esta atividade de distribuir cópias da carta às pessoas nas ruas estava perturbando muito a Arquidiocese do Rio de Janeiro. Assim mesmo, Motta continuou demasiado desligado para perceber que estava sendo estritamente vigiado! Ele persistia em interpretar todo fenômeno como um trato particular entre Deus e a sua alma. Claro, num certo senso ele estava tomando a atitude mais correta.
“…a versão original desta carta terminava com as seguintes palavras:
“Dr. Gastão, este é um dos momentos mais graves da história da humanidade. Dos quatro cantos do mundo forças hediondas, diabólicas, desalmadas, estão concentradas num ataque contra o Homem, Deus, a Justiça e a Verdade. Os comunistas encarnam um aspecto dessas forças; as religiões organizadas do Aeon passado encarnam outras. No presente, os seres humanos ainda em contato com os planos espirituais são extremamente poucos; no entanto eu levanto minha voz em profecia e lhe digo: Esta é a escuridão do Equinócio dos Deuses.
“No Novo Aeon, os bodes, não os carneiros, construirão a Igreja.
“A Maçonaria é a chave do Templo de Deus.
“Eu preveni o senhor quando nos vimos pela última vez: se os maçons brasileiros lutarem por limpar a Maçonaria das forças malignas que nela tentam se infiltrar; se eles acordarem novamente para a luta espiritual e para a luta cívica, terão todo o apoio preciso. O Olho ainda está no Triângulo.
(Claro, não é o “mesmo” Olho que antes; mas este não era e não é o ponto; nem poderia aquele médico corrupto ter sido capaz de compreender isto melhor que os leitores profanos.)
“MAS SE VÓS FIZERDES PACTOS COM DEMÔNIOS, O OLHO SE FECHARÁ SOBRE VÓS.
“Não se pode ser maçom e ser católico romano.
“Não se pode ser marxista e ser maçom.
Esta última asserção era possivelmente a expressão de um preconceito; mas a asserção prévia era correta. O catolicismo romano ofende contra todos os versos de Liber OZ; o marxismo, como filosofia e teoria econômica, não. A objeção de Motta ao marxismo era tópica: ele sabia que o marxismo, praticado num país condicionado por qualquer dos credos crapulosos, se torna uma tirania tão intolerável quanto aquela de Inquisições. A população está pré-condicionada às formas mais baixas, mais grosseiras do instinto do rebanho. Compare-se a evolução do marxismo em países crististas e islâmicos com sua evolução no Japão e na China.
“Limpai as Lojas! Ou o Olho se fechará sobre vós.
“Calafetai as Lojas! Ou a energia espiritual que nelas se acumula escoará (este é o motivo por que vosso segredo é vossa força).
“Servi vosso país antes de qualquer outro; sois brasileiros, e o progresso – como a caridade – começa em casa. Daí aos pobres do vosso excesso, mas não da vossa substância…
(Esta era uma referência ao crescente domínio do capital estrangeiro sobre a economia brasileira: este “maçom” defendera a infiltração com o argumento de que outros países necessitavam dos recursos brasileiros para poderem sobreviver… Por “outros países”, é claro, ele queria dizer os cartéis.)
“…Sede verdadeiros maçons; maçons dignos dos que vieram antes de vós, que fizeram a Independência, o Segundo Império e a República.
“Nunca temais lutar pela Verdade e pela Justiça, e perdoai vossos inimigos – mas vencei-os, antes!
“Não agradeçais à Igreja de Roma pelas concessões que ela vos parece fazer. Ó meus irmãos (pois como seres humanos somos todos irmãos)…
(Este “maçom” zombara de Motta porque Motta não era membro da maçonaria asariana, e por isto não conhecia os “segredos” maçônicos. Ironicamente, naquela época já se podia ir a uma biblioteca pública, pegar um volume de uma enciclopédia maçônica, e ver todos os rituais dos diversos ritos maçônicos ali impressos. De fato, Motta fizera exatamente isto, para ver de onde vinha a ordo templi orientis , e assim poder saber melhor aonde a ordo templi orientis deve ir. Ele se sentiu feliz de ver que a enciclopédia não continha rituais da ordo templi orientis ou sequer referência à ordo templi orientis Mais sobre este assunto da publicação de rituais adiante.
Na ocasião de seu encontro em este “maçom”, Motta se sentira magoado porque o Dr. Gastão não o achara digno de ser convidado a se tornar um de seu número. Desde essa época, várias vezes tem oferecido a Motta “iniciação” na maçonaria do velho aeon. Ele sempre recusou.)
“…, essas “concessões” são conquistas: não podeis ouvir os gemidos de dor? Não podeis ver os oceanos de sangue, não podeis relembrar as legiões de irmãos martirizados, não podeis mais sentir o fedor e ver o clarão dos ‘autos-da-fé’? A Igreja de Roma nunca fez concessões teológicas a não ser em troca de riqueza material ou poder mundano; ela sempre se aliou aos tiranos contra os oprimidos, e se aliará aos marxistas, se necessário for, para vos destruir; mas sede fiéis ao Olho, e o Olho vos servirá.
“Todo progresso humano; toda lei humanitária; toda proteção à ciência pura; toda a tolerância religiosa que agora existe sobre este planeta foi o fruto do trabalho da maçonaria. Nunca vos esqueçais disto! Não agradeçais ao inimigo por aquilo que o inimigo não vos deu, mas que conquistastes através do sacrifício de muitos e o trabalho paciente de todos.
“Eu vos repito: Sêde dignos do Olho, ou o Olho se fechará de vós.”
“O Primeiro de Abril de 1964 e.v. não teria acontecido se os maçons brasileiros tivessem prestado atenção a esta profecia e agido de acordo. Em vez disto, a maçonaria brasileira, nos anos após essa carta, deu os seguintes passos para trás:
“1. Dividiu seu Oriente em duas facções antagônicas.
Isto, claro, agradou tanto à C.I.A. quanto ao K.G.B., e pôs o Vaticano em êxtase.
“2. Permitiu a publicação em jornais de fotografias do interior de Lojas e de trabalho de Lojas.
“3. Fez declarações públicas de aliança com a Igreja Romana.”
“4. Espionou-nos e cooperou em tentativas de nos armar arapucas ou de descobrir nossos “segredos”. Infelizmente para os interessados, não temos “segredos”. Ponde um texto sobre o cálculo tensorial nas mãos de um ou uma estudante de ginásio, e deixai que leia à vontade; a não ser que seja um gênio, ele ou ela pouco ou nada entenderá…
Isto, claro, nada tem a ver com rituais, que não são como livros de texto, mas como exames. A publicação de rituais maçônicos os torna totalmente inúteis para trabalho maçônico – o que é o motivo por que os rituais escritos por Crowley foram impressos na Inglaterra e re-impressos nos E.U.A. Você poderia tentar avaliar a capacidade de um estudante universitário para passar de ano dando a ele ou ela de antemão as perguntas e as respostas para levar para casa antes do exame; a situação é exatamente análoga. Você não poderia realmente avaliar a capacidade do estudante desta forma; você não poderia avaliar o valor de um candidato a uma Ordem secreta dando-lhe os rituais iniciáticos de mão beijada. Mais sobre isto adiante.
“…Verdadeiros segredos NÃO podem ser revelados, porque sem vivência eles não podem ser compreendidos, ou sequer explicados da maneira mais franca e mais simples por estes que sabem. Falsos segredos apenas servem aos falsos mestres. Hoje, como em todas as idades, o mistério é o inimigo da verdade.
“Por causa do relaxamento e da inércia dos maçoNs brasileiros, a profecia da carta se cumpriu, e continua se cumprindo. A conseqüência é que hoje em dia a maçonaria brasileira está viva apenas em Thelema e na ordo templi orientis Não mais reconhecemos quaisquer movimentos maçônicos do velho aeon.
“Uma palavra basta aos que têm ouvidos para ouvir; os cegos do espírito não aprenderão com mil discursos.
“Não existe Lei além de Faze o que tu queres.
“Rio de Janeiro, An LXXIII,
7 de janeiro de 1977 e. v.”
Dez anos antes disto ser escrito, em abril de 1967 e. v., Motta recebeu novo pedido por livros da Livraria Samuel Weiser, que agora se tornara Samuel Weiser, Inc. Eles queriam mais cem cópias de Liber Aleph. Fazia então três anos desde a “revolução democrática“. Motta perdera tudo com o golpe; durante algum tempo ele nem sequer tivera dinheiro para transporte, comida ou teto, e fora reduzido a viver no quarto de empregada de um apartamento pertencente a um conhecido judeu que ele considerava um amigo…
Este “amigo” era na realidade um agente israelense, e oferecera hospitalidade a Motta apenas para poder manter um olho no Telemita sem muito trabalho. Mas na época Motta ainda não se tornara suficientemente paranóico para perceber isto, e se sentia muito grato pelo teto sobre sua cabeça. De fato, ele ainda sente gratidão, embora saiba agora que o quarto de empregada não lhe fora cedido inteiramente sem aluguel!
…Mais de uma vez ele passara uma semana sem comer porque não tinha dinheiro para comprar comida; e andara quinze a trinta quilômetros por dia procurando trabalho, porque não tinha dinheiro para o ônibus.
Esta experiência o tornou intolerante com pessoas que se aproximam dos outros em pontos de ônibus ou estações de trens e tentam o conto do vigário do dinheiro da passagem; especialmente quando tais pessoas são jovens, como freqüentemente são. Quando lhes diz, “Se você não tem dinheiro para a passagem, vá a pé” ele não está lhes dizendo para fazer qualquer coisa que ele não tenha feito ele mesmo. Mas essas pessoas parecem não apreciar este fato, ou mesmo acreditar nele.
Ele se tornara (maldições estimulam!) um pouco menos idiota que nos seus dias de fartura, ou melhor, de menos falta; e como não tivera notícias da Sra. Germer em três anos e meio, ele resolveu conseguir alguma informação sobre ela de outra fonte. Antes de aviar o pedido, ele escreveu a Samuel Weiser, Inc. e perguntou se eles estavam mandando o dinheiro dos livros para a Sra. Germer como lhes havia determinado que fizessem.
No dia 9 de maio de 1967 e.v. Fred Mendel escreveu a Motta que quando Samuel Wieser, Inc. recebera suas determinações no fim de 1962 e.v. eles haviam escrito à Sra. Germer perguntando o que ela queria que se fizesse com a renda de Liber Aleph; ela lhes respondera que o espólio do Sr. Germer ia ser litigado nos tribunais na Inglaterra, e solicitara que eles guardassem o dinheiro para ela, “uma vez que ela tinha completa confiança em nossa relação com o marido dela“. Portanto, durante todo este tempo eles não haviam efetuado nenhum pagamento.
Motta ficou lívido de fúria ao ler isto. Aqui estivera ele, passando fome durante três anos, a mulher não lhe escrevera em três anos, e obviamente ela nunca havia tido necessidade do dinheiro! Ele escreveu a Fred Mendel dizendo que queria que lhe enviassem imediatamente o dinheiro acumulado, e para continuarem a lhe enviar o dinheiro daí em diante; caso a Sra. Germer a qualquer tempo lhes perguntasse sobre o dinheiro, eles deveriam lhe mostrar a carta dele, e dizer a ela que entrasse em contato com ele diretamente.
No dia 24 de maio ele recebeu uma ordem de pagamento e uma carta de Fred Mendel,dizendo que daí em diante Samuel Weiser, Inc. faria os pagamentos por Liber Aleph diretamente a ele. O dinheiro, algumas centenas de dólares, era uma soma substancial em termos de cruzeiro “revolucionário” inflado; e salvou Motta, como o Sr. Germer diria, de diversas inanições. Ele o gastou com grande satisfação íntima. “Agora ela me escreverá“, pensou ele, “assim que perguntar a eles pelo dinheiro“.
O que Motta não percebeu então, nem poderia ter percebido, porque simplesmente não era de sua natureza imaginar que qualquer pessoa faria tal coisa, foi que desde o início os Weisers não haviam tido qualquer intenção de enviar dinheiro à Sra. Germer: eles faziam parte de uma conspiração para aliená-la de Motta e vice-versa. As cartas de Fred Mendel a ele eram deliberadas mentiras. Oskar Schlag era um “amigo pessoal” de Donald Weiser, e o dado da desconfiança e desafeto da Sra. Germer por Motta, que Motta mesmo lhe fornecera, havia sido de grande auxílio ao triplo agente e às camarilhas para as quais ele trabalhava.
Um ano mais tarde, a 7 de outubro de 1968 e.v., a Sra. Germer finalmente começou uma carta endereçada a Motta que ela só pode terminar e enviar a 3 de dezembro; mas a carta não foi escrita para censurar Motta por tomar o dinheiro. A carta, recebida por Motta perto do fim de 1968 e.v., começava assim:
“Uma carta recebida ontem da Inglaterra me faz tentar entrar em contato consigo… Para encurtar uma longa história devo lhe informar de eventos que são da máxima importância para si pois deram-me a entender que você não apenas ainda está ligado à Ordem mas é Cabeça de uma Loja onde prega a Lei…”
Isto era totalmente incorreto em todos os sentidos possíveis, e irritou Motta profundamente, uma vez que ela parecia ter esquecido não só a mensagem do marido no leito de morte como que ele, Motta, havia lhe escrito pedindo que enviasse a ele cópias dos Rituais para que ele pudesse trabalhar; e ela se recusara a assim fazer. Como podia ela lhe escrever que “lhe haviam dado a entender” que ele estava operando uma Loja quando ela sabia perfeitamente que ele não tinha em sua posse os rituais para tal fim?
Ele não percebia que ela, também, tinha recebido falsa informação a respeito das atividades dele. Ela tinha sido levada a crer que ele estava vivendo em fartura, exatamente como ele havia sido levado a crer sobre ela. Como se pode ver, quando serviços de “inteligência” se intrometem na vida dos outros, um pouco de paranóia pode ser uma vantagem para os “inteligenciados”.
A carta continuava:
“. Foi-me perguntado se você tem uma Patente para tal fim, e alegrei-me em poder dizer: Sim! A Cópia da sua Patente estava nas suas pastas na biblioteca e se não foi roubada ainda deve estar lá…”
O leitor poderá talvez visualizar Motta pulando de fúria impotente. Que queria ela dizer com “se não foi roubada”? Será que a mulher não havia se dado ao trabalho de conferir após o roubo, e anotar o que faltava?
Ele não sabia que a mente da Sra. Germer estava, então, quase que completamente enfraquecida pela prolongada desnutrição. Deve se chamar a atenção dos leitores também para o fato de que o que ela chamava de “Patente” era simplesmente uma carta propondo que Motta aceitasse uma Patente para trabalhar com os primeiros três graus da ordo templi orientis , com a condição de que ele mesmo se responsabilizasse pelo trabalho da Loja como Grão-Mestre.
Ela continuava a carta informando-o de que havia sido atacada por uma quadrilha liderada por uma das filhas de Phyllis Seckler, por instigação da mãe; que ela sabia havia sido borrifada com “mace” (uma forma intensificada de gás lacrimogênio em forma de aerosol usada pela polícia norte-americana) ao abrir a porta para a moça e seus companheiros, e depois amordaçada e amarrada a uma cadeira; que a casa havia sido vasculhada; que muitos objetos preciosos haviam sido roubados; que ela fora libertada apenas no dia seguinte, quando uma vizinha viera visitar.
A carta fora interrompida neste ponto, e continuada a 3 de dezembro:
“P.S., 3 de dezembro. Antes de eu poder enviar esta carta eu novamente caí doente, muito mais que da primeira vez, e estive doente o mês de novembro inteiro. Eu não acreditei que dessa vez eu me recuperaria, tão mal eu me sentia e tão magoada com este enorme roubo, todos os meus livros foram roubados. Eu perdi 2 Liber Aleph…”
“Aha!” Motta se endireitou. “Finalmente entramos no assunto de Liber Aleph.
(Deve ser observado que a Sra. Germer, tanto quanto Motta sabia, não escrevia a Motta havia anos, e que a referência dela a uma doença prévia era a primeira vez que Motta ouvia falar que ela estivera mal de saúde. É claro que ele não acreditou no que ela dizia; perdera totalmente a confiança nela.)
“… que Karl me deu de presente imediatamente quando você os enviou, e foi a última coisa que ele me deu antes de morrer. Eu tenho uma pergunta para você, e peço que seja franco em responder como eu sou em perguntar. Poderia você me dar de presente (eu não posso pagar por eles porque estou tão pobre que vivo com um dólar por dia com meus dois cães e meus dois gatos)…”
“Há!” Motta pensou. “Se ela anda tão faminta, porque não come seus cachorros e seus gatos?”
Mas é claro que a Sra. Germer estava realmente faminta, e tinha estado passando fome durante seis anos. A sintaxe dela, pior ainda que de costume, e a lógica confusa, foram interpretados por ele como uma tentativa proposital de lhe mentir; ele não podia esquecer que ela havia dito aos Weisers para guardarem o dinheiro que ele, de toda boa vontade, tinha oferecido a ela quando ele mesmo estava passando tanta necessidade. Ele não percebeu que a prolongada má nutrição e o total isolamento haviam afetado a mente dela; de fato, ele não acreditou que ela mal estava sobrevivendo na base de trinta dólares por mês, numa época em que o salário mínimo médio nos E.U.A. era de cento e cinqüenta dólares por mês!
“… Um livro eu gostaria de guardar para mim mesma e outro é para um ser humano digno de ser apresentado a uma das maiores obras de A.C. Como você sabe que as pessoas escutam falar apenas coisas más sobre o “pior homem do mundo” eu quero mostrar que tudo isso é calúnia, infâmia, etc. Eu acho que nenhuma obra seria melhor para mostrar o gênio e a grandeza de A.C. Poderá você fazer isso e me ajudar e à Grande Obra? Eu lhe agradeceria muito. Finalmente, não creia no conto de fadas que os membros da ex-Ágape andam espalhando, que eu sonhei a “história” toda, que a Estela nunca existiu, que as Patentes nunca estiveram na biblioteca e que todo o material da Ordem nunca existiu.
“E agora finalmente eu chego ao ponto sem retorno…”
Finalmente ela ia pedir a Motta auxílio financeiro; para uma pessoa de seu enorme orgulho, nada poderia ter sido mais difícil; ela estava realmente desesperada. Mas os intrigantes haviam trabalhado bem demais.
“...Como eu sustentei Karl 100% durante 20 anos e A.C. por 5 anos eu estou completamente na miséria, absolutamente sem dinheiro. Eu tenho que voltar ao hospital onde estive após este horrível ataque, me esvaindo em sangue de 19 de março a 27 de abril quando o ataque e a hemorragia terminaram! Agora não posso ir porque não tenho um tostão no bolso. Eu preciso de cem dólares urgentemente e pergunto se você pode ajudar! Se você quer ajudar, ou se lhe será permitido ajudar, é outra coisa…”
Motta, como era de se esperar, não acreditou nesta carta, e especialmente não acreditou que a Sra. Germer estava passando fome. Se ela estivesse passando fome, ele raciocinou, ela teria escrito aos Weisers para lhe mandarem o dinheiro dos livros. Ele escreveu de volta:
“Se Phyllis realmente fez o que você diz, ela agora está sob a influência de seu Anjo Mau e caiu da Árvore; mas eu não acredito em você, Sascha. Você tem me mentido, e mentido a meu respeito, com demasiada freqüência para que eu acredite em qualquer coisa que você me diga“.
Como já vimos, e veremos mais adiante, ela havia realmente mentido a ele, e escondido fatos dele e de seu colega testamenteiro do Sr. Germer, a fim de impedir que Motta assumisse imediatamente a posição de C.E.O.; mas o preço que ela pagou não foi um preço que Motta teria exigido que ela pagasse.
A Sra. Germer nunca mais escreveu a Motta. Ele escreveu a ela uma carta mais, seis anos depois, perguntando se ela havia permitido a publicação de novo material por Crowley. Esta carta foi aberta, lida, colocada em outro envelope, e devolvida a ele; mas não pela Sra. Germer. A caligrafia no envelope não era a dela, como pode ser facilmente verificado examinando o envelope e exemplos da caligrafia dela em envelopes anteriores.
Dez anos mais tarde, no Maine, Donald Weiser foi intimado a entregar para exame pelo tribunal quaisquer cópias ou originais de qualquer correspondência dele, de seu pai, de seu cunhado Fred Mendel, ou de qualquer empregado de Samuel Weiser, Inc. com o Sr. ou Sra. Germer nos trinta anos das relações comerciais deles com o casal. Weiser não apresentou nenhum documento, alegando que não tinha nenhum. O advogado que Mota tinha então, não insistiu; e Motta, que por essa época havia se tornado completamente paranóico (finalmente!), mudou de advogados. Seus novos advogados, que eram judeus e muito competentes, obtiveram as seguintes respostas de James Wasserman, que estava testemunhando sob juramento:
O advogado de Motta:
“(Enquanto trabalhava para Weiser) o senhor se recorda de ter visto alguma vez qualquer correspondência ou outros documentos da autoria de Karl Germer com relação à questão da propriedade dos direitos autorais de Crowley?”
Wasserman: “Não.”
O advogado de Motta: “Sascha Germer?”
Wasserman: “Não.”
O advogado de Motta: “Permita-me insistir e perguntar, o senhor se recorda de alguma vez ter visto alguma correspondência dele ou para ela?”
Wasserman: “Com Weiser?”
O advogado de Motta: “Dela para Weiser ou de Weiser para ela.”
Wasserman: “Certamente de Weiser para ela. Eu não sei se vi correspondência, mas Donald me contou que ele tinha escrito algumas cartas a ela e que ela não as respondera, sabe, antes de eu entrar para a firma.”
O advogado de Motta: “E o senhor nunca viu tais cartas?”
Wasserman: “Não.”
Este testemunho, se verdadeiro, chamava Fred Mendel de mentiroso, uma vez que Fred Mendel escrevera a Motta que a Sra. Germer recusara por escrito o dinheiro proveniente das vendas de Liber Aleph e afirmara por escrito que os direitos autorais de Crowley iam ser alvo de um processo na Inglaterra. Se o testemunho era falso, então consistia em perjúrio criminal, uma vez que Wasserman estava testemunhando para Donald Weiser sob juramento, com Donald Weiser sentado a seu lado, e desde que Donald Weiser já havia afirmado sob juramento que não tinha quaisquer registros de qualquer correspondência com os Germers.
Motta não podia engolir que Weiser não tivesse registro de correspondência com o Sr. e a Sra. Germer; nenhuma empresa financeiramente bem sucedida pode ser administrada num período de quarenta anos sem manter arquivos.
Mas ao ler a cópia do testemunho de Wasserman que lhe fora enviada, um dos discípulos de Motta escreveu-lhe que Richard Gernon lhe dissera que Wasserman dissera a ele, Gernon, que Donald Weiser tinha um arquivo cheio de correspondência com os Germers. Wasserman se oferecera para mostrar o arquivo ao seu amigo.
Isto, infelizmente, era um testemunho sem valor legal, por ser testemunho de terceiros. Por aí Motta já estava profundamente arrependido de não ter exigido uma cópia da suposta carta da Sra. Germer a Fred Mendel recusando o dinheiro quando Fred Mendel lhe escrevera pela primeira vez informando-o de que ela escrevera tal carta. Motta estava começando a acreditar, finalmente, que um judeu poderia deixar outro judeu morrer de fome, mesmo depois do celebrado “Holocausto”. Compreensivelmente, ele se sentia também muito atormentado pela percepção crescente de que deixara a Sra. Germer morrer de fome porque fora suficientemente estúpido para crer em Fred Mendel em vez de crer nela. Ele não só sentia profundo arrependimento por sua tolice: ele sentia também profunda cólera contra os canalhas que haviam tirado vantagem da sua boa fé.
Motta enviou uma cópia do depoimento a todos os membros da ordo templi orientis que haviam conhecido Wasserman pessoalmente, esperando que um deles pudesse testemunhar que Wasserman lhe dissera a mesma coisa que dissera a Gernon.
(Por essa época Gernon já havia fugido para New York e estava se ocupando em ajudar Wasserman e Herman Slater a enganar o público vendendo falsas “missas gnósticas”, falsas “conferências da ordo templi orientis ” e falso óleo “abençoado” de Abramelin.)
Nenhum dos outros membros da ordo templi orientis podia se lembrar de Gernon lhe ter dito qualquer coisa sobre cartas dos Germers aos Weisers. Finalmente, em desespero, Motta escreveu a um ex-membro da O.T.O. , o Sr. James Daniel Gunther, que não tinha motivos para gostar de Motta; e perguntou se ele podia e quereria fornecer qualquer informação sobre o assunto.
A vida às vezes oferece surpresas agradáveis. O Sr. Gunther reagiu como um cavalheiro. Ele escreveu de volta:
“… Quando eu visitei a empresa Weiser pela primeira vez em New York me foi mostrado um arquivo de aço contendo uma volumosa pilha de cartas de Karl Germer a Weiser, todas muito bem organizadas. Aquelas que eu folheei tinham a ver com a publicação de O Equinócio dos Deuses. Mais tarde, durante o jantar, Donald Weiser disse-me que ele “estimara” o Sr. Germer e se correspondera com ele durante anos. Wasserman se ofereceu para copiar o conjunto inteiro das cartas para mim, pois havíamos discutido preservar isso para a posteridade. Claro, ele nunca fez isto.”
O Sr. Gunther finalizou sua carta oferecendo-se para testemunhar em favor da ordo templi orientis se necessário. Foi-lhe poupada esta inconveniência porque o advogado de Motta, tendo levado Wasserman a admitir em juízo que traíra sem compunção a procuração que recebera de Motta, achou que já se tornara suficientemente claro para o juiz que Wasserman era, como disse um dos discípulos de Motta, “uma semana de más notícias”.
(O advogado de Motta subestimou a pressão dos fundamentalistas que puxavam as cordinhas do fantoche Ronald Reagan e dos seus capangas.)
Os leitores podem imaginar o estado mental de Motta após ler a carta do Sr. Gunther. Havia uma única razão possível para que tanto Wasserman quanto Donald Weiser arriscassem mentir em juízo sobre a correspondência de Samuel Weiser, Inc. com os Germers: a correspondência devia mostrar que os Weisers e Fred Mendel haviam sempre agido de má fé para com os Germers, e conseqüentemente para com Motta. Nenhuma prova de correspondência de Fred Mendel com Motta foi fornecida a não ser o que foi fornecido pelo próprio Motta.
Não havia mais dúvida possível. Donald Weiser e Fred Mendel haviam mentido a Motta sobre a Sra. Germer e à Sra. Germer sobre Motta durante anos; e haviam permitido que a mulher, uma mulher judia, uma refugiada do nazismo, morresse de inanição numa terra de fartura tão horrivelmente quanto ela poderia ter morrido em Dachau ou Auschwitz. E o que era pior do ponto de vista de Motta, eles haviam feito dele seu cúmplice inconsciente neste crime contra a humanidade e contra sua própria Irmã na Ordem.
Embora, como já dissemos, não possamos entrar a fundo na vida pessoal e nos problemas pessoais de Motta neste relato, algo deve ser dito sobre eles e os leitores hão de compreender melhor como e por que serviços de “inteligência” tentam manipular movimentos religiosos e fraternidades secretas. Motta era, afinal de contas, um membro de uma Ordem sigilosa, a ordo templi orientis ; e suas desventuras decorreram do fato de que ele era um membro sincero e genuíno da Ordo Templi Orientis , não um falso membro comoKenneth Grant ou Grady Louis McMurtry.
Antes, porém, devemos fazer um parêntese para explicar o termo “ocultismo“. Uma definição (American Heritage Dictionary, 1969 e.v.) diz o seguinte: “1. O estudo do sobrenatural. 2. Uma crença em poderes ocultos e a possibilidade de colocar estes sob controle humano.”
Segundo esta posição, totalmente moderna, a teologia (particularmente a cristista) cairia no nicho da primeira definição, e a religião em geral na segunda. O termo “ocultismo” foi popularizado no fim do século dezoito e início do século dezenove para cobrir essas filosofias, teorias e corpos de doutrina cujos autores ou seguidores haviam tentado manter secretas, e era usado principalmente com referência às fraternidades secretas da Europa durante a Idade Média. De acordo com esta definição legítima, “ocultismo” não era o estudo do “sobrenatural” – coisa que todo verdadeiro ocultista sempre afirmou não existir – mas um conjunto de filosofias, doutrinas e métodos de investigação científica que tinham que permanecer ocultos para que seus adeptos pudessem evitar perseguição, tortura e genocídio.
As assim-chamadas fraternidades “ocultas” da Idade Média e da Renascença sempre tem sido chamadas de “satânicas” pela Igreja Católica Romana e suas derivadas que aceitam o Credo de Nicéia; e têm sido assim chamadas porque elas sempre têm sido contra a Igreja Católica Romana e o Credo de Nicéia. “Morte à superstição e à tirania” tem sido o invariável grito de guerra dessas fraternidades; e por tirania e superstição elas têm sempre querido dizer o Romanismo, e tudo que este representa.
A “Igreja” Romana odiava e temia essas associações “ocultas”; em vista da sua ânsia doentia de poder, ela tinha bons motivos para temê-las, uma vez que, apesar do poder material bruto e maligno do câncer romano elas pouco a pouco o trouxeram ao descrédito entre os seres humanos mais inteligentes e mais desenvolvidos.
Sempre foi o método da Igreja de Roma infiltrar as ordens “ocultas” por quaisquer meios possíveis, inclusive através do sacrifício deliberado de seus membros laicos e até mesmo dos seus clérigos. Uma vez a infiltração fosse conseguida, rituais iniciáticos, palavras de passes e “toques” eram copiados e falsas lojas eram abertas, com autoridade forjada, e dirigidas por clérigos ou leigos católicos romanos. Com o poder financeiro do Vaticano atrás deles, e com a proteção dos governos que o Vaticano pudesse influenciar, tais “lojas” naturalmente prosperavam enquanto lojas legítimas encontravam a maior dificuldade para se estabelecerem ou se manterem. Eventualmente, aquela particular organização “oculta” era totalmente neutralizada pela Igreja Romana. Este tem sido o caso com a maçonaria do velho aeon em todos os países onde a Igreja Romana predomina. O inteiro complexo latino-americano de maçonaria asariana foi assim infiltrado, e agora é totalmente sem valor.
Onde quer que a Igreja Romana experimentou dificuldade nesta infiltração foi porque os rituais da organização maçônica diferiam de tal forma da insanidade de Nicéia que espiões católicos romanos tinham dificuldade em passar por eles. Em tais casos, os rituais, uma vez copiados, eram abertamente impressos. Isto os tornava inúteis para selecionar candidatos, e as falsas lojas abertas pela Igreja Romana prosperaram ao mesmo tempo que as verdadeiras lojas perdiam toda eficiência: como pode você testar um candidato ou uma candidata quando o inteiro processo do exame está abertamente publicado, e ele ou ela já sabe o que dizer ou o que fazer a cada estágio da cerimônia de iniciação?… Como já dissemos, isto é o equivalente de tentar examinar um estudante ao qual as perguntas e respostas do exame foram dadas de antemão. Quem pode dar um grau justo a uma tal pessoa? Como podem os indignos serem reprovados, e os dignos passarem, num tal exame?
Esta foi a técnica que a Igreja Romana usou para destruir o poder do Rito Escocês Antigo e Aceito, do Rito de Maçonaria Egípcia de Cagliostro, do Rito de Memphis e Misraim, e muitos outros ritos que ela não pôde infiltrar com eficiência enquanto seus rituais foram conservados “ocultos”.
Uma variação interessante da vigarice romana foi perpetrada com a assim-chamada Maçonaria de “Orange”. Este rito foi estabelecido para perpetuar a mensagem e o trabalho de um dos poucos crististas respeitáveis que já existiram: Guilherme o Silencioso, Príncipe de Orange-Nassau, protestante e inimigo fidagal do Romanismo. Este rito foi infiltrado pela assim-chamada família “real” britânica, alegando a longínqua conexão de sangue entre a Casa de Hanover e a linha de Orange-Nassau, e existe agora apenas para defender a política da alta classe-média britânica e a política da Igreja Anglicana. Como essa “Igreja” está rapidamente se tornando um joguete do Vaticano, a intenção original da Maçonaria de Orange, que era de defender o Protestantismo contra o Romanismo a qualquer custo, é agora apenas uma memória, e a Maçonaria “de Orange” é uma farsa.
(Robert Heinlein, o conhecido escritor americano de ficção científica, que em matéria de política e sociologia é ainda mais infantil do que Isaac Asimov, certa vez escreveu um romance, “Double Star”, que se desenrola num futuro em que a Casa de Orange se torna monarca do mundo inteiro; mas no romance ele colocou um membro da presente família “real” holandesa no trono, em vez de um membro da família “britânica” dos Hanover… Isto demonstra quanto ele sabe do que está acontecendo debaixo do seu próprio nariz. Isaac Asimov recentemente declarou publicamente que ele prefere ter um patife sentado em Washington, bem longe dele, do que atuando em sua cidade. Esta idiótica asserção é típica da lógica social asimoviana. O que os olhos não vêem, o bolso não sente. Se o patife estivesse por perto, Asimov talvez se sentisse obrigado a ser desagradável para com ele; e Asimov gosta de ser gentil com todo mundo a qualquer custo. Ele é bem capaz de ter votado em Ronald Reagan em 1984 e.v.)
Deveria ser desnecessário dizer que governos corruptos sempre cooperam com o Vaticano na infiltração e na destruição de fraternidades “ocultas”, uma vez que o Vaticano está invariavelmente aliado com governos corruptos. Testemunhe a Itália, a Espanha, a França, a Irlanda, a Alemanha nazista, a Polônia, a Áustria, o Luxemburgo, o Mônaco, a Coréia do Sul, o Vietnam do Sul, Formosa, as Filipinas, a Indonésia, a maior parte da África, e o inteiro continente latino-americano.
Com o advento de “Israel” o Vaticano adquiriu um aliado poderoso, embora indócil; pois uma vez que a mística do Sionismo está tão centrada em Jerusalém quanto a mentira católica romana, a manipulação de sentimento “religioso” cristista é tão útil a Tel Aviv quanto ao Vaticano; e Tel Aviv esconde um ás na manga. O jovem agente sionista que disse a Motta, com um sorriso malicioso, “Nós ainda esperamos convencer todo mundo de que ‘Jesus’ era um bom rabino” sabia perfeitamente que nunca existiu nenhum “Jesus”; mas se o Vaticano pode ensinar uma mentira, por que Tel Aviv não lucraria com isto? Esta é a atitude sionista; podemos condenar-lhe a imoralidade, mas não podemos lhe negar a lógica. Como sempre em casos de conduta desonesta, parece uma atitude lucrativa – a curto prazo.
Este jovem agente sionista foi a pessoa que deixou Motta viver no quarto de empregada de seu apartamento por dois anos. Era uma maneira barata e simples de ficar de olho no imprevisível Telemita. Mais sobre ele adiante.
Quando o Primeiro de Abril de 1964 e.v. foi encetado e o pseudo-democrático governo reacionário ocupou o poder, cem mil brasileiros foram sumariamente executados. Pelo menos doze mil foram transportados de helicópteros a duzentos quilômetros da costa brasileira e despejados no mar de pés e mãos atados de trezentos metros de altitude. “Observadores” da C.I.A. americana freqüentemente acompanharam essas interessantes viagens turísticas; agentes da C.I.A. treinaram os brasileiros que executaram esses “purgos”.
A hierarquia vaticana no Brasil provavelmente adoraria ter feito de Motta um desses secretos recordistas de mergulho; mas foi impedida de arranjar o banho por uma combinação peculiar de circunstâncias.
De que forma Motta tomou conhecimento destes fatos se tornará evidente adiante neste relato.
Em primeiro lugar, a “revolução”, embora supervisionada por generais e coronéis, foi executada por capitães e majores. Motta havia sido aluno do Colégio Militar do Rio de Janeiro; ele fora orador oficial no colégio e popular entre os colegas. O único motivo por que ele não seguiu carreira foi que a única arma do exército que o interessava era a Aeronáutica; como ele era míope, não lhe seria permitido voar. Ele não estava interessado em trabalho de escritório militar.
Por causa do seu passado, Motta era bem conhecido entre os oficiais jovens oriundos do Colégio Militar. Todos sabiam que ele sempre falara contra o comunismo, e até mesmo contra o marxismo, desde a adolescência.
Sua carta ao Dr. Gastão fora imediatamente dada à hierarquia vaticana, que por sua vez a dera imediatamente aos generais; mas para amargo desapontamento dos cardeais a facção militar da Junta decidira que uma voz tão abertamente hostil ao comunismo seria mais útil aos interesses dos cartéis que os subornavam, viva, do que afogada no oceano. Os generais, de fato, tiveram a estupidez de pensar que, uma vez que Motta era contra o comunismo, Motta seria a favor deles quando eles assumissem o poder. O Vaticano nunca cometeu este engano com Iniciados.
Quando a Junta assumiu, depressa se tornou claro que Motta não os amava: ele mandou queimar todas as cópias restantes do seu livro “Chamando os Filhos do Sol”; ele sabia o que viria, e não queria seu nome associado ao regime. Os generais acharam que ele era maluco, mas o pouparam: ele podia não ser por eles, mas pelo menos era contra o comunismo.
Talvez, também, o óbvio antagonismo de Motta contra a hierarquia católica romana divertisse o Estado Maior do Exército; como todos os membros de credos corruptos, católicos romanos têm um desprezo secreto por seus padres.
Porém, tomou-se o cuidado de mantê-lo sob estrita observação, e de impedir que ele se estabelecesse em qualquer dos meios de comunicação de massa. Isto não foi difícil de fazer, pois ele não aceitava a censura, e era impossível trabalhar honradamente com a censura.
Muitos exemplos do que aconteceu a Motta durante esses anos poderiam ser dados; mas um talvez baste, e talvez enfeixe alguns dos fios da rede de corrupção e mentiras. Ele conseguira emprego com um judeu, produtor de documentários, na posição de roteirista…
Deve ser explicado que Motta começara a escrever profissionalmente quando ainda era um estudante nos Estados Unidos da América. Ao regressar ao Brasil ele já havia vendido tele-peças para as televisões canadense e inglesa. Ele não tentara escrever para a televisão norte-americana porque os tabus eram quase tantos lá nos anos cinqüenta como se tornaram no Brasil nos anos sessenta.
Por essa época ele já havia saído do quarto de empregada no apartamento de propriedade do seu conhecido treinado nos kibbutzim (um jovem engenheiro trabalhando para uma grande firma de capital – naturalmente – sionista) e se mudara para uma modesta casa de pensão. Ele não via seu “amigo” judeu fazia alguns meses.
De surpresa o outro apareceu no escritório do patrão de Motta. Ao ver os dois conversando, Motta naturalmente se aproximou e estendeu a mão. Seu conhecido tomou-a com relutância ostensiva, e depois deliberadamente limpou a palma na calça enquanto patrão olhava. Motta ficou totalmente confuso; ele não podia compreender esta reação numa pessoa que sempre o tratara bem. Profundamente embaraçado, ele se afastou dos dois.
No dia seguinte o patrão foi fazer uma viagem de negócios e deixou um projeto muito difícil para Motta e seus outros dois subordinados. Como ele era novato na posição e queria dar boa impressão, Motta trabalhou horas extras no projeto. Dois dias após a viagem do patrão ele deixou de almoçar para adiantar o trabalho. Entrando no escritório onde os roteiros estavam ele casualmente deu uma olhadela nas notas que seus colegas haviam deixado sobre a mesa. Ele ficou completamente apatetado.
Mais tarde Motta se convenceu de que seus colegas haviam deixado suas notas sobre a mesa de propósito, para avisá-lo. Eles provavelmente haviam feito isto desde o início; mas sua discrição inata o impedira de olhar antes.
Na inconfundível caligrafia do patrão estava escrita uma série de instruções para os outros dois: o “projeto” era fictício. Eles deveriam manter Motta ocupado, e dificultar as coisas para ele o mais possível. Não importava qual a contribuição que ele fizesse: quando o patrão regressasse, o trabalho de Motta seria rejeitado e ele seria despedido.
O que o conhecido de Motta fizera tinha sido muito simples. O patrão, lembramos aos leitores, era israelita. O rapaz tinha vindo vê-lo, identificara-se como agente israelense, dissera ao patrão que Motta era um nazista, pessoa marcada pelo Vaticano e pelo governo militar, e vigiado.O patrão, que recebia a maior parte dos seus contratos das classes dirigentes – seus documentários eram todos matéria paga quer por grandes firmas privadas quer pelo governo “federal” – decidira se desfazer do canalha da maneira mais vingativa possível.
Quando o patrão regressou, Motta deu-lhe a entender que estava cônscio do arranjo, e foi prontamente despedido.
O nome do patrão era Isaac Rosemberg. O nome do conhecido de Motta treinado em “Israel” não será revelado aqui.
Como dissemos, este é somente um exemplo, dado apenas porque envolve o serviço de inteligência israelense. Muitos mais poderiam ser dados, invariavelmente envolvendo o Vaticano. Deve ser também compreendido que o que aconteceu com Motta nada é comparado com o que aconteceu a centenas de milhares de outras pessoas, todas elas brasileiros decentes e patriotas, quer fossem marxistas ou não.
Os anos seguintes foram muito difíceis para Motta. Como ele escreveu anos mais tarde a um discípulo, “Eu fui enterrado vivo, e nunca ressuscitei; em vez disto, o que aconteceu é que pisaram com tal força no meu túmulo que eu saí dele do outro lado do mundo“. Um breve relato de sua reaparição talvez seja sugestivo.
Por volta de 1965 e.v. Motta abandonara qualquer esperança de trabalhar como escritor, ou diretor, ou produtor na televisão brasileira: os tabus eram em demasia. Seus roteiros originais eram constantemente censurados ou ridicularizados. Ele procurou trabalho lecionando inglês em cursos livres e, aos 34 anos de idade, começou a praticar judô para fortificar seu corpo e sua mente. Ele começava a duvidar da sua sanidade mental; ele constantemente suspeitava das pessoas que se aproximavam dele. Ele pressentia em si todos os sintomas clínicos da paranóia.
Naquela época ele conheceu uma linda moça vizinha sua que expressou um desejo de se tornar agente da polícia secreta. A moça era encantadora, romântica, inocente; ela se sonhava uma futura Mata Hari. Motta se interessou por ela.
(Apesar de sua reputação de homossexual, cuidadosamente espalhada tanto pela C.I.A. quanto pelos serviços “brasileiros” de informação, sempre foi muito difícil para Motta recusar qualquer coisa a uma mulher, especialmente se ela for bonita.)
Um dos colegas de Motta na academia de judô que ele freqüentava, um poderoso faixa-preta segundo “dan”, era agente de um dos ramos da polícia federal. Motta falou com ele sobre a moça durante o treino.
“Olhe aqui”, o agente lhe disse, “essa moça compreende que uma agente mulher freqüentemente tem que agir como uma prostituta?”
“Eu creio que ela provavelmente sabe disto”, Motta disse. “De qualquer forma, eu não sou responsável pela moça. Talvez você possa conseguir uma entrevista para ela, e depois vocês lá podem decidir se aceitam ela ou não.”
O colega de Motta, que freqüentemente substituía o mestre na academia, pediu o nome e o endereço da moça. Motta deu-lhe ambos e prontamente se esqueceu do assunto.
A vez seguinte que ele veio à aula de judô e o agente federal lá estava, ele notou uma mudança marcante na atitude do homem para com ele. O agente evitava olhar para ele ou falar com ele ou mesmo treinar com ele. Motta pensou que isto era um sinal de que a moça havia sido considerada indesejável, e que a decisão refletira sobre ele como padrinho dela; mas em dado momento, durante o treino, o agente, que estava supersionando o dojô, gritou para o parceiro de Motta: “Cuidado com os truques desse cara! Ele pertence à A.·. A.·. !”
Ora, deve ser entendido que ninguém na academia estava a par dos interesses “ocultos” de Motta; ele nunca os mencionara. Ele ficou absolutamente surpreso, mas mesmo assim olhou o agente com um apelo no rosto. O agente imediatamente emendou: “Alcoólicos Anônimos!”
O duplo sentido místico no trocadilho penetrou, e Motta caiu na gargalhada. Isto aparentemente apaziguou o agente, que mais tarde na sessão veio treinar com ele. Motta lhe disse, enquanto os dois evoluíam: “Eu pensei que você já sabia a meu respeito, eu treino aqui há tanto tempo.” O agente sorriu e não respondeu.
A moça que Motta recomendara nunca mais falou com Motta. Uma expressão de medo aparecia em seu rosto quando quer que passava por Motta na rua.
Claro, ela tinha sido exaustivamente interrogada sobre sua conexão com o infame e pervertido satanista. A primeira reação do serviço secreto, infestado e controlado pelo Vaticano, fora que Motta estava tentando introduzir uma informante na estrutura.
Quando Motta voltou ao seu quarto de pensão aquela noite ele finalmente começou a pensar. Ele se lembrou das coisas esquisitas que haviam acontecido com ele desde que ele começara a imprimir livros telêmicos no Brasil, e até antes disto. Ele se lembrou de sua estranha prisão nos E.U.A. Ele se lembrou das absurdas suspeitas de gente com quem ele entrava em contato na televisão, no jornalismo, em livrarias. Ele se lembrou da maneira como o seu trabalho era censurado enquanto outros roteiristas pareciam poder fazer o que lhes aprouvesse. Ele se lembrou das estranhas cartas que recebera de “candidatos” após a publicação de “Chamando os Filhos do Sol“. Ele se lembrou das cartas mais estranhas ainda que recebera depois de mandar destruir a edição. Ele se lembrou das brutais, aparentemente irracionais armadilhas que lhe haviam sido armadas por gente que mal o conhecia, como Isaac Rozemberg e diversos produtores de televisão. Ele se lembrou de passar semanas sem comer, e de caminhar trinta quilômetros por dia para procurar emprego – um homem formado no estrangeiro! Ele se lembrou de levar dois, três meses para ser pago por um roteiro enquanto outros que, mesmo em sua humilhação, ele percebia como menos talentosos e qualificados do que ele ganhavam três vezes mais e eram pagos no dia seguinte.
Ele vira o filme que Orson Welles fizera de “O Processo” de Kafka…
(Muito melhor que o livro, principalmente o final. Mas Welles era um gênio que experimentou “O Processo” em sua própria carne.)
… Ele se lembrou de ficar impressionado com a irracionalidade aparente da perseguição em sua própria vida. Ele se lembrou de duvidar de sua sanidade mental, e de reconhecer o que ele diagnosticara como sintomas de paranóia em suas reações. Ele começara a suspeitar das pessoas, velhos e novos conhecidos; ele se tornara temeroso e incerto; ele começara a crer que era odiado e perseguido sem motivo; pior, ele começara a acreditar que tudo isso era imaginação sua: que ele fracassara completamente nas suas ordálias iniciativas, e estava ficando louco.
Ele não estivera ficando louco. A perseguição não era imaginária. O ódio não era imaginário. Ele era conhecido. Ele estava fichado. Ele era considerado um inimigo do Estado.
E ele era um inimigo do Estado. Aquele “Estado” de generais vendidos e de espiões do Vaticano. Aquele “Estado” de traidores da pátria.
Eles tinham percebido a atitude dele para com eles melhor do que ele próprio.
Uma simples questão de consciência culpada; mas Motta ainda levaria algum tempo para perceber isto.
Não admirava que ele se sentisse sufocado e encurralado! Ele não tinha amigos. Ele discordava de tudo que os marxistas representavam intelectualmente, embora lhes respeitasse a honestidade moral. E ele desprezava a corrupção moral e cívica dos vencedores vendidos aos cartéis, o brutal egoísmo e ganância velados pelos protestos deles de “liberdade” e “democracia”. Ele sabia como eles estavam deliberadamente e conscientemente destruindo na prática tudo aquilo que fingiam professar em teoria.
Eu estou andando num asilo; todos os homens e mulheres em volta minha estão loucos.
Ó loucura! loucura! loucura! tu és desejável.
Mas eu Te amo, Ó Deus!
Estes homens e mulheres deliram e uivam; eles espumejam tolice.
Eu começo a sentir medo. Eu não tenho com quem comparar notas; eu estou só. Só. Só.
Os versos de LIber VII vieram-lhe claros à mente. E então:
Eu sou só: não existe Deus onde Eu sou.
Pensa, Ó Deus, como sou feliz em Teu amor.
As peças do quebra cabeças caíram no lugar. Naquela época, Motta ainda não ouvira falar da “piada” favorita da C.I.A.: “O fato de que você é paranóico não quer dizer que não estamos te seguindo”. Ele ouviu a “piada” muitos anos mais tarde; se a tivesse ouvido então, ter-lhe-ia sido de tanto auxílio! Ele nunca riu da “piada”; ele nunca a achou engraçada; somente o torturador gosta da tortura. Não, Motta jamais achou a espirituosidade da C.I.A. risível; mas ele a compreende muito bem.
Uma análise da validade da C.I.A. e de serviços de “inteligência” em geral será encontrada na conclusão desta história.
“A parábola de Jó é falsa”, Motta pensou, “falsa como tudo mais na ‘Bíblia’. Os sofrimentos de gente honesta não são causados por qualquer vontade “divina”: são causados pelo egoísmo estúpido de homens baixos.”
E o egoísmo estúpido de homens baixos não está mais claro em parte alguma que nos sofismas da ‘Bíblia’ – ambos “Testamentos”. O “Novo” é, afinal de contas, apenas uma ramificação do “Velho”. Não admira que seu conhecido treinado nos kibbutzim tivesse dito a Motta: “Nós ainda esperamos convencer todo mundo de que ‘Jesus’ era um bom rabino”. Homens baixos sempre constroem a motivação do seu “Deus” sobre a “base” de seus recalques e complexos.
Naquela noite ele reafirmou seus votos ao Senhor do Aeon, às Supernas, ao seu Anjo, à Besta 666 e a Thelema.
No dia seguinte ele acordou em paz consigo mesmo, embora em guerra com o mundo.
Duas semanas mais tarde sua academia de judô viajou para uma cidadezinha próxima onde um dos alunos do mestre tinha a sua própria academia. Eles iam participar de um torneio de demonstração. Durante a demonstração Motta viu, na audiência, um ex-colega do Colégio Militar, agora um capitão do Exército, que ele não via fazia dez anos, mas do qual tivera notícias. O capitão havia sido um dos mais queridos colegas de Motta no colégio. Motta chamou-o alegremente do outro lado do salão cheio.
O capitão viu Motta, e se apressou em direção à saída sem responder à sua saudação.
Duas semanas antes, Motta haveria simplesmente murchado para dentro de si mesmo, esmagado por mais esta prova de sua falta de valor. Agora, ele foi ao encalce do capitão, e encurralou-o na rua. O que se seguiu foi uma das mais estranhas e mais reveladoras palestras que Motta já teve na vida.
O capitão disse a Motta que evitara falar com ele em público por dois motivos: primeiro, sabia-se que Motta era um inimigo em potencial do regime e por isto ser visto com Motta poderia comprometê-lo; segundo, ele era o oficial encarregado de abrir e ler a correspondência de Motta.
Motta replicou que ele havia estado cônscio de que lhe vasculhavam a correspondência fazia algum tempo, mas não disse como.
(Outro capitão, outro ex-colega que fora amigo de ambos, havia dito a Motta logo após o golpe que este colega estava profundamente perturbado porque lhe havia sido ordenado abrir e ler a correspondência de outras pessoas; mas não dissera a Motta que sua correspondência era uma das que o ex-colega lia… Na ocasião, Motta comentara: “Bom, se isso tem que ser feito, diga a ele que é melhor que seja feito por alguém que se envergonha de fazê-lo”).
O capitão disse a Motta que este havia estado sob vigilância desde o seu regresso dos E.U.A.; que a C.I.A. havia dado ao serviço secreto do Exército brasileiro um fichário sobre Motta que afirmava que Motta era um homossexual, um traficante de drogas, um aliciador de menores, um satanista e um agente comunista.
Motta perguntou, “Essa ‘informação’ por acaso foi fornecida por um cara chamado Oskar Schlag?”
“Oh, você conhece Schlag?” o capitão retorquiu, surpreendido. “Não, o fichário veio de modo usual. Schlag às vezes faz um servicinho para a C.I.A., mas ele não é da C.I.A. Ele trabalha para a seção de guerra psicológica de Shin Beth. A gente não confia muito neles.”
Motta perguntou, “O que é ‘Shin Beth’?”
Seu amigo (ou antes, ex-amigo) explicou que Shin Beth eram as iniciais do nome em hebreu do Serviço de Inteligência Israelense.
Por motivos políticos, o nome foi desde então mudado oficialmente, assim como um Diretor católico romano da C.I.A. é substituído por outro diretor católico romano quando a imprensa americana descobre alguma atrocidade da C.I.A. e a comenta publicamente. No presente, o nome é Mossad.
Naquela época, Motta ainda não havia percebido que Schlag trabalhava para os israelenses. De fato, naquela época Motta pouca atenção prestava aos israelenses: ele ainda confundia israelenses com israelitas, e ele tem sempre sentido grande afinidade por judeus. Foi quando o capitão lhe disse isto que ele compreendeu, pela primeira vez, o que seu conhecido treinado nos kibbytzim estivera fazendo no escritório de Isaac Rozemberg. Mas ele ainda não podia entender o que os israelenses tinham contra ele.
Motta perguntou ao capitão se este havia roubado sua patente da ordo templi orientis O capitão negou ter feito isto. Motta perguntou se ele alguma vez a tinha visto. O capitão replicou que, mesmo que tivesse visto tal documento, não poderia dizer isto a Motta: tinha um dever para com os seus superiores.
Motta riu amargamente. “Eu me lembro”, ele disse, “do último ano no colégio, quando vocês resolveram seguir carreira e ingressar na Academia. Eu fui a todos vocês, um por um, e perguntei por que vocês iam entrar para o Exército. Lembra-se do que você me disse? Você me disse que ia para o Exército porque era uma carreira segura: bom salário, boa pensão, e muito pouca chance de guerra. Todos os outros me deram a mesma resposta. Nenhum de vocês me disse que estava entrando para o Exército porque amava o Brasil e queria servi-lo. Eu tenho certeza de que você está ganhando seu salário, mas você acha realmente que o que você anda fazendo serve ao nosso país?”
“Nós estamos lutando contra os comunistas”, o capitão protestou, mas sem muita convicção.
“E abrindo as pernas para todo mundo mais”, Motta replicou. “A ‘política’ de vocês vem de Washington; a ‘moralidade’ de vocês vem do Vaticano; o dinheiro de vocês vem da Suíça, e os bichos-papões de vocês vêm da China e de Moscou. Não há absolutamente nada brasileiro em vocês. Eu me lembro que justo antes do Primeiro de Abril um dos semanários marxistas que vocês fecharam publicou um cabeçalho: “Chega de intermediários: Lincoln Gordon para presidente!” Eles realmente sabiam o que estava acontecendo, não é?”
Lincoln Gordon era então o embaixador norte-americano. Quando documentos sobre a atividade da C.I.A. no Brasil foram publicados durante a administração Carter, ficou-se sabendo que realmente Lincoln Gordon havia trabalhado com a C.I.A. para ajudar a organizar e incitar a “revolução democrática” no Brasil. O semanário fechado à força chamava-se “Novos Rumos”.
“Mas dá pra ver que você não gosta realmente do que está fazendo”, Motta concluiu, olhando a cara ruborizada do seu ex-amigo.
Eles se despediram e se separaram, Motta resolvido a nunca mais procurar o outro. Seis meses depois, ele ouviu dizer que seu ex-amigo morrera de um ataque cardíaco.
Na ocasião, Motta pensou que o ataque cardíaco resultara de grande tensão emocional; ele podia ver que o capitão realmente detestava a atividade que lhe havia sido delegada. Mas agora que ele sabe que a C.I.A. tem técnicas para induzir “ataques do coração” aparentemente naturais, ele tem suas dúvidas. Muita gente boa tem morrido de “ataques do coração” no Brasil – e em outros países – desde 1964 e.v.
O nome desse capitão era Wilmard Freitosa Caldas. O nome do colega que primeiro disse a Motta que o Caldas havia sido encarregado de vasculhar a correspondência alheia não será revelado agora.
Apesar de sua recente percepção do que se passava com ele, Motta ainda tinha muito que aprender sobre a complexidade e alcance da atividade de serviços de “inteligência” e suas redes de puxa-sacos, informantes, subornados e inocentes úteis. Era um enorme alívio não duvidar mais de sua sanidade mental; mas ele ainda não percebera como a insanidade de outros os tornava malignos.
Enquanto trabalhava como professor de inglês e praticava seu judô ele não havia negligenciado seus deveres iniciáticos; ele continuara suas práticas ocultas e continuara orientando os poucos discípulos que restaram depois que ele mandara destruir a edição de “Chamando os Filhos do Sol”. Ele sabia agora que a maioria desses “discípulos”, talvez todos, eram espiões da Junta ou do Vaticano. Mas isto não era relevante. A A.·. A.·. não discrimina entre candidatos a não ser de acordo com suas próprias regras. O Instrutor deve se negar completamente em serviço aos Aspirantes enquanto estes Aspirantes cumprirem o Juramento e se dedicarem à Tarefa. E, Motta ponderou, alguns desses possíveis espiões talvez fossem espiões porque eram legítimos patriotas.
Como o tempo comprovou, nenhum era patriota – pelo menos não no senso do patriotismo ecológico, o patriotismo que foi tão brilhantemente definido pelo grande Fernando Pessoa – e nenhum tinha capacidade para avançar na Ordem.
Ele estivera também anotando suas próprias percepções do significado dos versos de Liber AL. Isto ele já vinha fazendo havia dez anos, constantemente revisando suas anotações à luz da experiência. Ele começou a perceber como os Comentários de Crowley, dos quais ele possuía uma cópia que lhe fora enviada pelo Sr. Germer, se entreteciam com os dele. Ele começou também a perceber que alguns dos Comentários de Crowley estavam incorretos, ou pelo menos incompletos; por motivos quer de modéstia pessoal, quer pelas naturais limitações de um pioneiro, em certas direções Crowley não havia ido muito a fundo em seus Comentários. No entanto, em outros dos escritos de Crowley, Motta encontrou a exata reflexão de suas próprias percepções intelectuais da Lei.
Ele decidiu que publicação dos Comentários de Crowley com os seus poderia ser útil a Thelema. Após dez anos de revisão constante, ele achou que havia podado a maior parte das tolices nas suas anotações, e a maior parte das redundâncias nas anotações de Crowley.
Era uma labuta perigosa, repleta de armadilhas mortais; ele sentia os Vigilantes debruçados por sobre os seus ombros enquanto ele escrevia, analisando cada palavra, prontos a golpear ao menor sinal de vaidade ou falso orgulho.
Ele escrevera seus Comentários em Português…
Motta passara seus “anos no deserto” traduzindo material telêmico para o português. Por esta época ele já tinha traduzido todas as instruções da A.·. A.·. necessárias a Probacionistas e Neófitos. Suas anotações a AL haviam sido assentadas enquanto, pouco a pouco, ele traduzia os Comentários de Crowley para a sua língua nativa. Liber AL fora sua primeira tradução; ele a revisara repetidamente durante uma década, tentando melhorá-la.
… Agora ele os verteu para o inglês, e no processo percebeu que tinha muito a cortar ou revisar. Países da língua inglesa, em via de regra, estavam moralmente e intelectualmente avançados em relação à América Latina. O peso da dominação católica romana nunca o impressionara tanto quanto quando ele percebeu como a teologia romano-alexandrina havia impedido a maturação emocional do Brasil.
Chegamos neste momento a um estágio neste relato em que pode ser útil concluir uma cronologia preparada para o processo contra Donald Weiser e Samuel Weiser, Inc. em Maine. Para assim fazer, deveremos retroceder dois ou três anos e introduzir informação que Motta na época não possuía, e que se tornou disponível somente após uma década de investigação persistente e extremamente difícil. Muitos dos dados foram fornecidos – não de muito boa vontade, por motivos que se tornarão mais e mais claros à medida que prossigamos – por Gerald Yorke quer ao Sr. J. C. Ellis ou ao Sr. Martin P. Starr. Ambos eram discípulos de Motta e membros da ordo templi orientis na época, e ambos estavam trabalhando sob instruções de Motta. Comentos explicativos serão, como antes, inseridos entre parênteses retos.
5 de setembro de 1969 e.v.: Nessa data John Symonds escreveu a Gerald Yorke que, “por ele”, Kenneth Grant era a Cabeça Externa da ordo templi orientis A carta foi escrita em resposta a uma carta de Yorke criticando a intenção de Symonds de publicar uma edição pirata de Autohagiografia de Crowley.
23 de outubro de 1969 e.v.: A edição pirata da Autohagiografia patrocinada por Symonds foi publicada por Jonathan Cape em Londres, como título “As Confissões de Aleister Crowley“. Na Introdução e na contra-capa constava a asserção de que Kenneth Grant era a “Cabeça da Ordo Templi Orientis “.
Lembramos aos leitores que Grant havia sido expulso da ordo templi orientis pelo Sr. Germer quinze anos antes. Symonds e Grant haviam investigado cuidadosamente as asserções de Joseph Metzger e Grady MacMurtry e chegado à conclusão de que nada tinham a temer dos dois.
A publicação foi um imediato sucesso, em termos desse tipo de livro. Re-edição nos E.U.A. por Hill & Wang, foi negociada; depois, uma edição de bolso por Bantam Books. Foi esta última que Motta comprou no Brasil – ele não tinha dinheiro para comprar a edição encadernada. Lendo, ele reconheceu a relativa autenticidade do texto (ele havia lido a Autohagiografia em manuscrito), embora grosseiramente editado. Foi ali que ele pela primeira vez tomou conhecimento do fato de que alguém além de Metzger declarar ser a Cabeça Externa da Ordo Templi Orientis Ele imediatamente pensou que a Sra. Germer nomeara Grant Cabeça Externa para despeitar o odiado “herdeiro espiritual” brasileiro.
6 de outubro de 1970 e.v.: Grady McMurtry assinou um contrato com Llewellyn Publications pelo Baralho do Tarô de Crowley.
(O contrato cedia todos os direitos a Llewellyn contra quinhentos dólares e a divulgação do endereço de McMurtry como “legítimo representante da Ordo Templi Orientis “. Seis anos mais tarde, em 21 de maio de 1976 e.v., Carl Weschcke, o dono de Llewellyn, escreveria a Donald Weiser, a propósito da nova edição pirata do Tarô de Crowley projetada por ambos: “Eu não pagaria um tostão a McMurtry“. Até agora, Weschcke e Weiser lucraram mais de duzentos mil dólares apenas na venda do baralho do Tarô que McMurtry lhes “cedeu” por quinhentos. Enquanto isso, a Sra. Germer morreu de fome na Califórnia.)
28 de outubro de 1970 e.v.: Nessa data Motta, que obtivera e lera uma cópia da edição Bantam de “As Confissões de Aleister Crowley“, escreveu a Kenneth Grant pela primeira vez. Correspondência foi trocada, durante a qual Grant descobriu que Motta tinha uma legítima patente da Ordo Templi Orientis , no entanto estava pedindo a ele permissão de trabalhar pela O.T.O. e solicitando Rituais para tal fim!
A correspondência de Motta com Grant será eventualmente publicada em sua inteiridade. Ela é instrutiva. Grant, naturalmente, não disse a Motta que o Sr. Germer o expulsara da Ordo Templi Orientis : ele apenas mencionou casualmente que “eles haviam brigado bastante”. Motta havia brigado bastante com o Sr. Germer também, essa informação apenas o fez sorrir. O que não o fez sorrir, entretanto, foi perceber, do contexto da correspondência, que Grant era (como Motta mais tarde disse a James Wasserman) uma pessoa jovem e inexperiente, e parecia não possuir certas percepções iniciáticas absolutamente necessárias à Cabeça Externa da Ordo Templi Orientis Também, Grant obviamente não era mais que um Probacionista na A.·. A.·. , se tanto: Motta continuamente lhe dava todo tipo de senha e as respostas ou eram as respostas erradas ou Grant não percebia e não respondia.
Na realidade, Grant era vários anos mais velho do que Motta, como James Wasserman mais tarde disse ao brasileiro. O que Motta tomara por inexperiência da juventude era apenas velhice desonesta e destreinada.
Deve ser compreendido que Motta, convencido de que a Sra. Germer havia nomeado Grant como Cabeça Externa para despeitar o detestado brasileiro, estava tentando trabalhar sob o outro homem com boa vontade: seu fito era ajudar a colocar a O.T.O de pé, não buscar honrarias ou autoridade para si mesmo. Mas com a maior inocência ele subitamente soltou uma bomba: ele pediu a Grant permissão para publicar Os Comentários de AL.
Sua Carta de pedido ficou sem resposta durante vários meses. Finalmente Motta, que já então era suficientemente paranóico para crer em correspondência aberta ou roubada por serviços de segurança em qualquer país (mas não, como vemos, suficientemente paranóico para acreditar que todo mundo lhe estava mentindo), repetiu seu pedido numa carta registrada com aviso de recebimento.
A 16 de julho de 1971 e.v. Grant respondeu por fim. Ele se desculpou pela demora em responder, pretextando exigências do seu Cargo como a causa, e pediu detalhes da publicação dos Comentários planejada por Motta.
No entrementes, os dois ladrões haviam estado muito ocupados. Symonds, informado por Grant da existência de Motta e da asserção de Motta de que ele, Motta, possuía uma legítima patente da ordo templi orientis outorgada pelo Sr. Germer, ficara extremamente alarmado. Ele solicitou uma nova certidão do testamento de Crowley, alegando ser o único testamenteiro sobrevivente. Como a documentação posteriormente obtida comprovou, uma certidão legítima havia sido requerida pelos testamenteiros imediatamente após a morte de Crowley; e Symonds, cuja função como testamenteiro, de acordo com o texto do testamento, fora exclusivamente de reunir todos os materiais literários da autoria de Crowley e enviá-los aos Germers, completara uma distribuição muito mal feita em 1951 e.v., em cuja data qualquer conexão legítima entre ele e o espólio de Crowley cessara por completo. A segunda, fraudulenta, certidão, foi concedida a 1 de março de 1971 e.v. Foi somente após Symonds ter uma cópia disto em suas mãos que ele permitiu a Grant que respondesse à carta de Motta. Entrementes, ambos os homens buscaram secretamente e com urgência conseguir um contrato de publicação dos Comentários de Crowley para si próprios.
Motta forneceu os detalhes requisitados. Sua carta ficou sem resposta durante quase um mês. A 21 de agosto de 1971 e.v. Grant finalmente respondeu-a, dizendo que ele não podia dar a Motta permissão para publicar: o dono dos direitos autorais de Crowley era umSr. John Symonds, e Motta deveria dirigir-se ao mesmo.
Motta, com toda a inocência, assim fez a 15 de setembro de 1971 e.v.
Deve ser repetido que Motta ainda estava tentando trabalhar pela ordo templi orientis , a despeito de todos os agravos e toda a oposição. Ele achou esquisito que esse tal Symonds – que ele ainda não associara em sua mente ao autor da menos ruim das presentes biografias de Crowley, “A Grande Besta” – mantivesse controle dos direitos autorais se Grant era a Cabeça Externa da ordo templi orientis ; mas nessa época Motta ainda não conhecia o texto do testamento de Crowley; Grant não lhe enviara uma cópia. Também, Motta sabia muito bem que há círculos dentro de círculos no verdadeiro trabalho maçônico, especialmente na ordo templi orientis Era até possível, ele pensou, que esse Symonds fosse a verdadeira Cabeça Externa, que permanecia oculta, e que Grant era meramente seu testa de ferro consciente (o que realmente ocorria, embora não da forma que Motta pensava: pelos termos do testamento de Crowley, Symonds, o ladrão, não tinha absolutamente qualquer controle dos direitos autorais da ordo templi orientis ; para fingir o contrário, ele tinha que alegar estar em contato com a Cabeça Externa da Ordem, que é, pela Constituição, única curadora da propriedade da ordo templi orientis internacionalmente).
Para tornar as coisas mais complicadas ainda, a Cabeça Externa da ordo templi orientis deve, pela Constituição, se manter inteiramente anônima para os profanos: como é dito alhures, a identidade da pessoa ocupando este Cargo deve ser conhecida apenas pelos seus imediatos representantes; e por ninguém abaixo do VIIIº. Por isto, Motta esperava extrema dificuldade em estabelecer contato com a verdadeira Cabeça Externa nomeada pela Sra. Germer. Já então ele suspeitava que não podia ser Grant: o homem não era suficientemente evoluído. As cartas de Motta a Grant haviam insistido sobre o fato de que Motta possuía o IXº porque ele sabia que, como Membro do Círculo Supremo, ele tinha o direito de saber a identidade da Cabeça Externa. Talvez fosse esse misterioso Symonds, finalmente…
Como Motta anos mais tarde escreveria ao seu advogado:
Note por favor que eu estive entre os chifres de um triplo dilema todos estes anos. Primeiro, ou eu era o Sucessor e a Cabeça Externa escolhido da Ordo Templi Orientis , ou eu não era. Eu tinha que descobrir se eu era ou não era. Para fazer isto, eu tinha que lidar com outras pessoas que afirmavam serem a Cabeça Externa, ou afirmavam serem legítimos representantes da ordo templi orientis , portanto da Cabeça Externa. Se eles não estavam mentindo, talvez eles tivessem tido ordens de não me deixar saber quem era a C.E.O. até se assegurarem de que eu era um verdadeiro membro do IXº ordo templi orientis Se eles estavam mentindo, eu tinha de evitar dizer ou fazer qualquer coisa que pudesse conferir a profanos conhecimento que deveria pertencer apenas a Iniciados, e que eu jurara sobre a minha honra velar e proteger; no entanto, que eu também estava jurado, pela minha honra, a conferir a qualquer ser humano de valor. (Isto é o que significa a frase ‘Não deixes de ter um herdeiro ou uma herdeira.’)
É de admirar que eu levei mais de dez anos para finalmente me assegurar de que eles estavam todos mentindo e de que eu sou a verdadeira Cabeça Externa?
Além do que, note que meu dilema pode não mais ser triplo, mas ainda é pontudo. Pois, a fim de defender a ordo templi orientis de ladrões e impostores, eu tive que fazer aquilo que a Cabeça Externa não deveria fazer: eu tive que comparecer perante profanos e declarar publicamente que sou a Cabeça Externa. Esta indignidade me foi imposta por gente como McMurtry, Grant e Weiser. Pelo menos o Metzger teve a decência de calar a boca quando percebeu que eu não aceitaria sua autoridade auto-assumida. E ele era o único que poderia razoavelmente ter suspeitado de mim, pois ele era o único que não me conhecia pessoalmente. (Grant não conta; ele foi expulso faz anos.)
É irônico considerar que, se a C.I.A. tivesse me ajudado em vez de cooperar com o Vaticano para me combater, os Estados Unidos talvez tivessem hoje uma reputação muito melhor, não só na América Latina como no resto do mundo.
Mas a C.I.A. nunca teria ajudado Motta porque, dominada como está por diretores católicos romanos e chefes de seção sionistas, ela raramente serve aos interesses dos E.U.A. Em vez disto, ela secretamente usa o dinheiro dos impostos do cidadão médio americano para sustentar dois dos mais ricos e mais indignos poderes estrangeiros do mundo.
A 5 de outubro de 1971 e.v. Symonds escreveu a Motta uma das mais grosseiras cartas que Motta já recebeu na vida – ele tem recebido muitas. Em resumo, a carta dizia que todos os direitos autorais de Crowley pertenciam a Symonds como “testamenteiro literário”; que se Motta duvidasse disto, Motta poderia requerer uma cópia da certidão de Somerset House…
Ele queria dizer a sua própria e fraudulenta certidão. Somerset House é o cartório central para testamentos da Inglaterra, como Motta agora sabe; na ocasião ele não entendeu nada da menção.
Motta, ao receber esta carta, ficou chocado com o que parecia a ele uma hostilidade totalmente gratuita…
Motta ainda não se tinha familiarizado com os sintomas de uma consciência culpada em homens baixos. Uma pessoa superior (como diria o Li Djing), ao se perceber em falta, pede desculpas e oferece compensação. Mentes rancorosas e mesquinhas, quando se chama sua atenção para seus malfeitos, sentem ódio por aqueles que elas prejudicaram: ora, suas vítimas ousaram causar desconforto aos seus egos! Daí o insistente preceito dos deuses-dos-escravos de virar a outra face: é muito repousante para os tiranos que os oprimidos cultivem essa “virtude”.
A técnica de “resistência passiva” de Mohandas Gandhi foi uma aplicação inversa desse mesmo truque; e o assassinato de Ghandi se tornou inevitável quando ele decidiu representar o papel do “Deus Sacrificado”. A fórmula não operou maravilhas na Índia; mas também, nunca operou maravilhas em parte alguma. Se Martin Luther King tivesse sido menos vaidoso, ele estaria vivo hoje, e o movimento negro teria se beneficiado de sua vida muito mais do que se beneficiou da sua morte. É a suprema armadilha que os Deuses-dos-Escravos armam aos homens dignos, essa idéia de que devem morrer pela “causa”: é a mais sutil variação da atitude de “virar a outra face”. Veja-se Al ii 21 . Como disse Victor Hugo brilhantemente em seu romance “O Noventa e Três”, é muito mais fácil morrer com honra do que viver com honra. Acrescentaremos que morrer tolamente é a morte mais fácil de todas.
… as finalmente pode perceber que o autor da carta era também o autor de “A Grande Besta”. Ele escreveu de volta a Grant a 8 de outubro de 1971 e.v.:
… Estou incluindo com esta uma fotocópia de uma carta do seu amigo (você anda com gente muito estranha) o Sr. Symonds. Eu não tinha, por falar nisto, percebido até recentemente que este é o mesmo Symonds que escreveu “A Grande Besta” e publicou “A Magia de Aleister Crowley” (não era este o nome do livro?). Tivesse eu sabido, não teria necessitado perguntar a ele pelos seus “direitos” à obra literária de Crowley.
Motta se referia aqui não a direitos legais, mas a direitos espirituais: ele então cria que os direitos autorais de Crowley haviam entrado no domínio público por causa da desobediência da Sra. Germer à última vontade do marido, e ele estava buscando encontrar Iniciados do seu próprio nível com os quais pudesse trabalhar. Ele já sabia que Grant não era um desses, mas considerava Symonds ainda menos evoluído que Grant, como veremos do resto da carta:
… Peço informar o inseto de que estou disposto a deixar passar a ficção de que ele é o “herdeiro literário” de Crowley, em favor de um pouco de ordem neste Plano de Discos. Eu acho (e sem dúvida assim também acha 666) que é melhor se a primeira publicação de suas obras for feita por um não telemita. A casca deve ser forte, ou o filhote de águia não será forte…
Isto era uma referência direta a Liber Aleph, Cap. 75; é duvidoso se Grant percebeu a referência, ou compreendeu-lhe o sentido. Em todo caso, Motta estava errado.
…Também, tenho muito pouco tempo para lidar com assuntos de publicação telêmica no momento, como já lhe disse.
Porém, quanto aos Comentários, o caso é outro. É favor informar o Sr. Symonds de que minha edição sairá o ano que vem. Sem dúvida alguma se beneficiará da dele. Se ele der sequer um pio contestando meu “direito” de fazer isto, eu exporei a vigarice dele publicamente de uma vez por todas. Eu não dediquei a maior parte da minha vida a Thelema para entrar em briguinhas com um Symonds.
Eu finalmente tive algum tempo para ler a edição dele (e sua) das “Confissões”, e acho que a sua introdução é para seu grande crédito, enquanto a dele mostra o chacal tentando se pavonear na pele do leão. Eu não sei quem escreveu as anotações; se foi ele, os erros ocasionais eram de se esperar. Se foi você, você deveria ter mais juízo…
… A carta do Sr. Symonds foi muito esclarecedora (embora talvez não tencionadamente). Eu acho, Kenneth Grant, que você cometeu um grande erro quando se afastou de Frater SATURNUS somente porque o seu miserável egozinho foi magoado por Ele…
Lembramos aos leitores que Motta não sabia ainda que Grant havia sido expulso; Grant nunca lhe confessou isto, ele apenas disse que ele e o Sr. Germer haviam “brigado”. Motta, com experiência de tais “brigas”, inferiu o acima, erroneamente, claro.
Deveria talvez ser dito aqui que os Mestres são sempre reverenciados enquanto dizem aos discípulos coisas que estes consideram agradáveis; mas assim que você começa a criticar as limitações dos desgraçados numa tentativa de ajudá-los a se desvencilharem destas e a crescerem, você é um charlatão; talvez até, um “Irmão Negro”! O que deveria levar os leitores inteligentes a ponderarem as intenções dos “mahatmas”, “gurujis” e “maharishis” que são universalmente reverenciados pelos seus “discípulos” durante suas existências inteiras.
… Indubitavelmente foi por este motivo que você nunca progrediu muito na A.·. A.·. .
Eu acho, por outro lado, que é para seu crédito que você “deu testemunho” nessa edição que vocês dois fizeram das “Confissões”. Também, sua conduta para comigo, embora inocentemente pomposa às vezes, tem estado sempre dentro dos limites do que se deve esperar de um Telemita. Eu não estou interessado nas brigas mesquinhas entre você e o Rei Suíço, o qual seguramente tinha direito à Sucessão até o dia em que desobedeceu SATURNUS no ponto – mortífero! – de mudar o estilo das letras numa Publicação em Classe A. da A.·. A.·. .
Na realidade, embora Motta não soubesse disto na época, havia muitas outras razões pelas quais Metzger não poderia ser o Sucessor, e o outro testamenteiro do Sr. Germer, Frederic Mellinger, proibira a Sra. Germer categoricamente de nomear o Suíço para a posição de C.E.O. Voltaremos a isto mais adiante nesta história.
Porém, uma vez que o Suíço se desqualificou faz muito tempo (e eu devidamente o preveni mais de uma vez), estou disposto a aceitar você como C.E.O., e assim declaro. Não pense, porém, por um momento, que sua autoridade me obriga. Eu habito em minhas próprias mansões, como você deveria saber.
É impossível dizer se este último parágrafo animou Grant; se ele ainda tinha qualquer senso de perspectiva, ele deve ter pressentido que no momento em que Motta descobrisse que ele havia sido expulso da Ordem este “reconhecimento da sua autoridade” seria revogado. A própria ressalva implicada nas últimas duas sentenças deveria ter sido aviso suficiente; pois se ele realmente fosse digno da posição de Cabeça Externa da Ordem, a admissão de sua autoridade por Motta teria incluído Motta.
Motta, claro, sabia que ele mesmo era a Cabeça Externa escolhida por Frater SATURNUS; mas como ele disse no tribunal em Maine, quando foi finalmente forçado a admitir em público que é o Frater Superior: “Eu não estou interessado em poder ou em títulos, e estou muito mais interessado em ver a ordo templi orientis de pé, trabalhando harmoniosamente, construtivamente, do que em ser chamado de Cabeça Externa da ordo templi orientis Eu tenho evitado me chamar de Cabeça Externa da ordo templi orientis porque sei que muitas outras pessoas aspiram ao título, e se um deles pudesse ter me mostrado que ele ou ela está capacitado neste momento para assumir o Cargo, eu alegremente teria deixado que ele ou ela assumisse. Por isto eu tenho evitado usar as palavras Cabeça Externa da Ordem referindo-me a mim mesmo. Eu preferiria muito mais estar fazendo outra coisa (…). Eu queria cuidar da minha própria vida e trabalhar na A.·. A.·. , que é o que eu queria fazer desde o início, a qual está completamente á parte de grupos; trabalho pessoal; e eu queria escrever para ganhar a vida e ser independente. Eu não gosto das responsabilidades deste cargo, mas elas são minhas. Eu realmente preferiria estar fazendo outra coisa, mas eu ‘tenho promessas a cumprir, e milhas ainda antes de dormir’.”
(A referência é a um lindo poema do poeta americano Robert Frost.)
Para que os leitores possam abarcar esse complexo, incrível labirinto de mentiras e imposturas, eles devem se lembrar de que durante todo esse tempo a Sra. Germer, sem o conhecimento de Motta, mas com o pleno conhecimento de Grant, Symonds, Weiser, Metzger, Regardie, Schlag e (como veremos) Gerald Yorke, estava lentamente morrendo de fome na Califórnia, à porta, por assim dizer, de todos os ex-membros da ex-Loja Ágape.
Motta não sabe se naquela época Grant e Symonds enviaram cópias de sua correspondência com ele para os outros ladrões; mas referências à tendência de Motta de evitar publicidade escandalosa sobre a ordo templi orientis foram mais tarde feitas por McMurtry quando ele oodia saber da atitude de Motta apenas se tivesse lido as cartas de Motta a Grant. O fato de que o processo iniciado na Califórnia contra Motta incluir Grant e Regardie (mas não Symonds) sugere que eles todos estavam em contato, e extremamente preocupados com a possibilidade de que uma Cabeça Externa poderia subitamente aparecer e protestar contra a sua conduta vergonhosa.
De qualquer forma, depois da carta de Motta a Grant citada acima, que aparentemente dava carta branca aos vigaristas para roubar e mentir, as edições piratas se tornaram mais numerosas e mais freqüentes.
23 de dezembro de 1971 e.v.: Helen Parsons Smith publica uma edição pirata dos versos de Crowley sobre o Li Djing, erroneamente chamando-os de Chi Li.
4 de outubro de 1972 e.v.: Israel Regardie publica uma edição pirata de A Visão e a Voz, misturando seus comentários idiotas aos de Crowley sem o mínimo pejo, e sem distinguir para os leitores quem escrevera o quê.
E então uma bomba, com resultados inesperados para todos os ladrões envolvidos: em alguma data do início de 1973 e.v., “Francis King” publicou sua edição pirata de Os Rituais Secretos da Ordo Templi Orientis , impressos na Inglaterra por C. W. Daniel – nome judio.
Tivessem eles sabido, esta publicação seria o ponto final para os ladrões; mas algum tempo ainda passaria antes que Motta se tornasse cônscio dela. Ele estava extremamente ocupado com o manuscrito de sua proposta edição de Os Comentários de AL, estava pesquisandoLiber CCXXXI e estava produzindo um filme no Brasil (com desastrosos resultados financeiros: os críticos dos dois maiores jornais do país malharam o filme de tal forma que levou dez anos para se pagar).
As críticas nada tinham a ver com o filme, que não era nenhuma obra prima, mas era bastante decente. Os críticos – ambos os quais Motta conhecia pessoalmente antes e depois do golpe – eram católicos romanos, ostensivamente esquerdistas, e ambos informantes da Junta. Mas ninguém pode trabalhar para os meios de comunicação de massa no Brasil se não for uma coisa ou a outra, ou então sionista.
20 de março de 1973 e.v.: Grady McMurtry e Phyllis Seckler, agora marido e mulher, “registram os direitos” a material por Crowley em sua publicação “In the Continuum“.
Um ano depois, em março de 1974 e.v., Samuel Weiser, Inc. repetiu o roubo de C. W. Daniel e imprimiu “Os Rituais Secretos da Ordo Templi Orientis ”
Nessa época, Mota já estava negociando a publicação de Os Comentários de AL por Weiser, e começara sua correspondência com James Wasserman, editor e porta-voz de Weiser. Com o benefício dos anos, é óbvio da correspondência entre os dois que a maior preocupação de Donald Weiser era averiguar quanto Motta sabia sobre a situação dos direitos autorais de Crowley e qual era a posição de Motta na O.T.O. Deve ter sido um alivio para ele perceber que Motta não sabia absolutamente nada sobre os direitos autorais (nem lera o testamento de Crowley!) e parecia inseguro quanto à sua posição na ordo templi orientis Em uma das primeiras cartas, Wasserman perguntou a Motta qual o endereço da Sra. Germer na Califórnia!
Considerando-se que a Sra. Germer manteve o mesmo endereço de 1960 e.v. até morrer em 1975 e.v., e considerando-se a admissão de Wasserman em juízo que Donald Weiser escrevera a ela, obviamente a intenção da pergunta era estabelecer as relações de Motta com a Sra. Germer, não endereço dela, que Weiser sabia muito bem – não afirmara seu cunhado Fred Mendel a Motta que ele escrevera à Sra. Germer, e que ela lhe respondera?…
Infelizmente para Weiser e Wasserman, tais manobras só são unilaterais se uma das partes é um total imbecil. Motta pode perceber que 1) Crowley se tornara subitamente muito popular e 2) trinta e quatro das suas obras haviam sido impressas por diversas pessoas e estavam sendo circuladas. A casa Weiser estava enriquecendo vendendo todas elas. Tendo obtido uma lista das piratarias de Wasserman, Motta notou “Os Rituais Secretos da O.T.O. ” entre os itens, e entre março a agosto de 1974 e.v. deve ter encomendado este livro de Samuel Weiser, Inc. Foi lendo a introdução (escrita sob a orientação de Gerald Yorke!) que Motta soube, finalmente, que o Sr. Kenneth Grant, “Cabeça Externa da ordo templi orientis “, havia sido expulso da Ordem por Frater SATURNUS em 1954 e.v. Motta nunca mais se comunicou com Grant.
Examinando “Os Rituais Secretos da O.T.O. “, Motta viu que eram quase cópias exatas dos manuscritos que o Sr. Germer lhe dera para ler em Barstow, Califórnia; com certas diferenças sutis mas significativas. As Palavras de Passe estavam defeituosas e, pelo menos em dois casos, eram falsas; alguns dos Toques haviam sido mudados, e os Rituais dos Graus mais altos estavam faltando.
Os primeiros capítulos do livro, com um histórico da ordo templi orientis , foram no entanto muito úteis a Motta. Eles concordavam quase por completo com os fatos, tais quais Motta os conhecia. “King” obviamente obtivera seus dados de uma fonte competente.
A fonte era Gerald Yorke, que por motivos seus queria ver a ordo templi orientis destruída.
Em maio de 1974 e.v., Stephen Skinner publicou sua terrivelmente inepta pirataria da Astrologia de Crowley; quase simultaneamente, Grant e Symonds publicaram uma edição de Livro Quatro Partes I, II e III em que novamente declarações falsas foram feitas sobre liderança da ordo templi orientis Isto foi publicado sob o título de “Magick”.
A 15 de agosto daquele ano, Motta finalmente escreveu outra carta à Sra. Germer:
Cara Sra. Germer:
Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.
Recentemente, por motivos que nada têm a ver com interesse pessoal na senhora, eu reli as quatro cartas que recebi de si nos últimos quinze anos. Sua condição mental, sua completa falta de espírito prático, e seu desafeto por mim pulam aos olhos do leitor em cada página. Sua falta de confiança no julgamento de seu marido, quando ele me nomeou seu herdeiro mágico em seu testamento (ou assim a senhora me levou a pensar) tem sido do maior dano possível para mim e para Thelema, como não duvido a senhora, no fundo do seu coração (se é que a senhora tem coração), teria desejado.
Gozo de boa saúde, e tenho plena consciência da minha Autoridade e dos meus deveres. Sei que esta notícia provavelmente não vai lhe agradar, mas eu vivo para realizar o meu Trabalho, não para agradar a senhora; especialmente quando a sua conduta me leva a crer que sua felicidade só seria completa se eu ficasse louco ou morresse. Eu tenho algumas perguntas a lhe fazer, e para variar gostaria de ter uma resposta rápida, educada e coerente.
1. Primeiro, duas edições espúrias de Liber Aleph, utilizando a minha organização, meu índice, minha introdução e meu texto corrigido foram recentemente impressas na Califórnia. Eu gostaria de saber se isto foi feito com o consentimento da senhora, e se lhe pagaram direitos autorais pela venda dessas edições.
2. Os Srs. John Symonds e Kenneth Grant, na Inglaterra, estão imprimindo primeiras edições de material por Crowley que eu havia levado a crer, das palavras da senhora, que seu marido lhe legara no seu testamento. Eu gostaria de saber se os Srs. Symonds e Grant estão fazendo isso com seu consentimento, e se lhe estão pagando direitos autorais pela venda desses livros.
3. Edições de “A Visão e a Voz” e de “Cartilha Mágica” foram publicadas nos E.U.A. Eu gostaria de saber se essas edições foram publicadas com o consentimento da senhora, e se a senhora está recebendo direitos autorais por elas.
Eu não sei se a senhora compreende o significado da expressão direitos autorais. Significa que, por lei, quem quer que publique material que é da propriedade de outra pessoa tem obrigação de pagar ao proprietário ou proprietária uma comissão sobre a venda de cada livro. Esta comissão é usualmente estabelecida de antemão por ambas as partes, e pode chegar a quinze por cento do preço de capa. Isto significa, por exemplo, que se um livro é vendido por dez dólares o dono dos direitos autorais recebe um dólar e cinqüenta centavos de comissão. Se bem que isto parece pouco, multiplique pelo número dos livros, digamos mil, e a senhora tem mil e quinhentos dólares que devem ser pagos ao dono dos direitos – neste caso, a senhora.
Se essas edições estão sendo feitas com o seu consentimento, nada mais há que dizer, contanto que seu consentimento tenha sido pedido, e dado por escrito.
Se essas edições estão sendo feitas sem o seu consentimento, a senhora está causando o maior dano possível à memória do seu marido se não protestar formalmente contra o roubo que está sendo praticado contra a senhora. O Sr. Karl Germer herdou todos os direitos autorais de Crowley, e os legou à senhora em seu testamento (ou assim fui informado pela senhora; corrija-me se estou enganado). Ao não lutar pelos seus direitos, a senhora indiretamente afirma que seu marido não tinha direito aos escritos de Crowley, e que a senhora não respeita nem a memória dele nem sua última vontade.
Já que eu mesmo fui mencionado no testamento (uma cópia do qual a senhora nunca me enviou, o que para a senhora é normal!), eu sinto que descuidando-se da memória dele desta forma a senhora mina a minha própria posição e Autoridade Espiritual como filho místico dele. Mas talvez esta tenha sido sempre a sua intenção?
Suponho que a senhora não manteve cópias das cartas que me escreveu, já que a senhora é uma mulher relaxada em tudo, ou era, pelo menos. Eu terei prazer em lhe enviar cópias, para que a senhora possa contemplar sua própria face…
… Seu ódio por mim a tornou cega a ponto da tolice. Eu tenho uma carta datada de 1967 e.v. em que a senhora me diz que informou a alguém na Inglaterra (quem, a senhora não teve educação para me dizer) de que eu chefiava uma Loja da ordo templi orientis no Brasil na qual eu pregava a Lei (que Lei? A lei mosaica?…). Mas a senhora se esqueceu de que eu não tinha nenhum ritual da ordo templi orientis , e que a senhora recusara, faz anos, batê-los à máquina para mim e enviá-los a mim, acusando-me de querer fazê-la trabalhar para mim!
Pena que a senhora não trabalhou para mim. Uma mulher preguiçosa como a senhora, com demasiada imaginação e demasiada vaidade, deveria encontrar alguma tarefa útil para ocupar seu tempo.
Em suma, Sra. Germer, estou farto de tentar tratá-la como Irmã – a senhora não merece isto – ou como uma mulher decente – a senhora consistentemente me provou que não é decente, comigo pelo menos. Mas por amor ao meu Trabalho, e somente por amor ao meu Trabalho, estou agora tentando obter uma resposta sensata de uma mulher que me detesta tanto (Pergunto-me por que?… Haverá frustração sexual por trás disso?…) que ela finalmente me infeccionou, completa e definitivamente, com seu desafeto.
Amor é a lei, amor sob vontade.
M.R.Motta
Quando James Wasserman se hospedou com Motta no Brasil, Motta lhe deu uma cópia desta carta para ler. Wasserman disse, “Você foi muito duro com ela!”
É engraçada a maneira como funciona a mente de macacos falantes. Wasserman servia um mentiroso e ladrão, e era ele mesmo um ladrão e um mentiroso. Durante dez anos seu dono estivera ganhando dinheiro com os direitos autorais de Crowley, e deliberadamente deixando a Sra. Germer passar fome. Wasserman sabia disto; cooperara com isto. No entanto, ele se achava com o direito de criticar Motta por ser “duro” com a Sra. Germer quando a intenção óbvia da carta de Motta era ajudá-la de qualquer maneira que pudesse – sem, no entanto, afagar-lhe o ego.
Macacos falantes são engraçados. Você pode roubar deles, pode explorá-los, pode mentir-lhes, você pode até fazer com que eles morram por você – contanto que você tenha muito cuidado em não lhes apontar a macaquice e não tentar fazê-los evoluir a ponto de se tornarem seres humanos. Mostre a eles como seus egos são mesquinhos e você imediatamente é um charlatão – ou, até, um “Irmão Negro”! Não admira que os “maharishis” enriqueçam enquanto verdadeiros Mestres morrem à míngua.
Essa carta, como já dissemos, foi devolvida a Motta sem resposta. Tinha sido aberta e lida; mas a letra no envelope de devolução não era a letra da Sra. Germer.
Na ocasião em que recebeu a carta de volta, Motta não notou isto: ele ainda não estava suficientemente paranóico! Ele pensou que ela simplesmente decidira, uma vez mais, não lhe responder. Já que ela não queria nada com ele, ele decidiu entrar em contato com a única pessoa restante que parecia ter mantido uma relação decente com Aleister Crowley e Karl Germer.
A 16 de outubro de 1974 e.v., Motta escreveu pela primeira vez a Gerald Yorke.
Parte III
Tradução: Soror EAEA a.k.a. Mônica Rocha
5 de outubro de 74 e.v.
Prezado Sr
Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.
Seu endereço me foi gentilmente fornecido pelo Sr. Eric Hill…
Este indivíduo havia contatado Motta e durante algum tempo foi seu Probacionista. Eventualmente ele foi expelido pelo simples fato (de acordo os dizeres do Crowley) de ser incapaz de fazer qualquer tipo de trabalho de maneira consistente por um período de meia hora.
… – quem eu suponho você conheça pessoalmente -, sugerindo que se eu lhe escrevesse talvez você encontrasse para mim, ou me auxiliaria em obter, certos documentos Thelemicos.
Eu não sei se você é a pessoa na Inglaterra quem há alguns anos atrás, de acordo com a Sra. Sasha Renee Germer, a escreveu perguntando sobre minha reputação como Thelemita. Ela me escreveu dizendo que havia dito a tal pessoa (cujo nome ela não teve a gentileza de fornecer) que eu era um Thelemita de “boa reputação” e que possuía uma patente da O.T.O. dada pelo Sr. Germer. Eu nunca recebi tal patente, também como a mesma nunca me foi mencionada em nenhuma carta da Sra. Germer…
[Leia no O.T.O News, neste volume, sobre essa famosa patente.]
Eu não confio na Sra. Germer, que sempre demonstrou uma inimizade para comigo e quem eu não gostei desde à primeira vista. Eu a considero talvez uma pessoa gentil e de ideais elevados, porém uma mulher mimada e presunçosa. Além disso, eu acho que o ponto de vista dela tem sido basicamente judaico, e não Thelemicos. Eu não me importo lhe falar sobre essas coisas, porque eu mesmo a escrevi falando disso mais de uma vez. Em uma certa ocasião, a Sra. Germer disse ao Sr. Germer que eu era espião de algum serviço de inteligência…
[Isso deve ter feito o Yorke morrer de rir, pois sem Motta estar ciente, na época o Yorke tinha conexões – e ainda as tem — com o Serviço de Inteligência Britânico.]
… e ela suspeitou de mim durante anos. Ela me acusou, pelo menos uma vez, de ter extraviado correspondências dela para ele, algo totalmente contrário à minha natureza. Finalmente, durante os últimos onze anos, eu recebi exatamente quatro cartas dela…
[Havia uma quinta carta, muito importante, que nunca chegou às mãos de Marcelo. Veja em O.T.O News.]
…e sua antipatia para comigo – eu diria seu ódio – está evidente em cada página.
Eu estou informando sobre isso porque estou te enviando em anexo as seguintes cópias:
1.A última carta que recebi do Sr. Germer antes de sua morte. Ela foi redigida pela Sra. Germer cuja letra suponho lhe seja familiar. Ele estava muito fraco para escrever, sendo assim ele a ditou.
2.Uma carta recebida por mim da Sra. Germer imediatamente após a morte do Sr. Germer. Nesta carta ela informa que suas últimas palavras foram para efeito de que eu era 0 “Seguidor” de acordo com a profecia em AL…
[De forma alguma; ele se referia à Sucessão da O.T.O; mas não é de se esperar que Motta não tivesse certeza disso por mais duas décadas! Mais uma vez, refiram-se ao O.T.O News.]
…e que ele queria que ela mesma me dissesse isto, o que ela fez, na explosão de sua tristeza. Porém, ao ler o restante da carta você perceberá que uma reação já havia se iniciado.
3 e 4. Cartas da pessoa que estava na presença da Sra. Germer quando a mesma abriu o Testamento do Sr. Germer…
Esta pessoa era Phyllis Wade-Seckler-McMurtry.
…Você perceberá pelas cartas que esta pessoa ouviu, da própria Sra. Germer, que eu seria o “filho místico” do Sr. Germer.
5 e 6. Páginas de cartas da Sra. Germer pelas quais você poderá avaliar o desenvolvimento de sua antipatia para comigo, de sua lembrança das últimas palavras de seu marido e de sua intenção.
O ponto que eu quero provar e que, apesar da Sra. Germer ter decidido me falar sobre a existência de uma patente da O.T.O à qual eu nunca havia recebido (tal patente pode ter sido enviada; minha caixa postal está sempre sob vigilância aqui e eu tenho prova de taI através dos anos) e que nunca me foi mencionada pelo Sr. Germer. Ela sempre se recusou de me fornecer cópias de rituais ou quaisquer outros materiais da O.T.O., me acusando de querer usa-la como minha escrava.
Por consequência, fui completamente alienado de quaisquer materiais Thelemicos durante anos, com a exceção daqueles que tinha em meu poder. A única exceção foi há dois ou três anos atrás, quando o Sr. Kenneth Grant (o qual gostaria de ter sua opinião sobre, caso seja possível) foi bastante gentil de me emprestar algum de seu material. Porém, eu creio que eu devo tê-lo assustado de alguma forma (eu tenho a tendência de ser super franco, o que você já deve ter percebido) e também porque fiquei sabendo de sua conexão com o imbecil do John Symonds, o que diminui consideravelmente minha admiração por ele, mas não a destruiu pelo fato de que seus esforços em publicar o Crowley em seu idioma merecem a gratidão de todos Thelemitas.
Motta obviamente ignorava o fato de que Crowley estava se tornando um “best-seller” através de repetidas piratarias de seus escritos, e que Symonds, não Grant, estaria editando tais publicações e subsequentemente lucrando com o trabalho do Ieão.
Eu gostaria de saber se você teria a gentileza de me obter um xerox ou qualquer outro formato (o mais barato possível) de todos os materiais da O.T.O. Eu tenho um grupo de pessoas aqui interessadas em levar a Ordem adiante e elas necessitam disso.
Também, gostaria de obter o maior número possível de materiais do Crowley. Você poderia me auxiliar neste sentido? Favor responder o mais breve possível.
Amor é a lei, amor sob vontade.
Grato de todos os modos,
Marcelo Ramos Motta
Yorke respondeu rapidamente a tal carta:
16 de outubro de 74 (sic)
Prezado Sr. Motta:
Em referência à sua carta de 5 de outubro, eu me correspondi com a Sra. Germer após a morte de Karl, mas nunca escrevi sobre você, pois não sabia de sua existência…
[Esse fato, apesar do Motta não estar ciente na época, era uma mentira. Em suas correspondências com Motta, Yorke sempre mentia, como demonstrara posteriormente numa comparação de datas e nomes. Porém, ele só foi pego mentindo uma vez quando ele pretendeu ter ajudado o Sr. Germer a imprimir o “Liber 333 Commented” na Inglaterra. Infelizmente Motta havia — de acordo com as recomendações do Sr. Germer — correspondido com a pessoa que havia feito este trabalho. Sendo confrontado com esta mentira, Yorke pretendeu haver esquecido do fato, usando a idade avançada como desculpa.
[Yorke esteve ligado à Inteligência Britânica durante toda sua vida, e ainda estava trabalhando com eles nesta ocasião – e através deles, com a Inteligência Americana num atentado de absorver a O.T.O. dentro do contexto da guerrilha da rede política de extrema direita.
[É claro que ele sabia da existência do Motta; o Sr. Germer lhe havia enviado uma cópia da tradução em inglês do livro do Motta em Português, “Chamando os Filhos do Sol”, a qual Motta havia feito especialmente para seu Superior. Essa tradução faz parte da lista bibliográfica da coleção de Yorke, atualmente situada no Instituto de Warburg.]
…Ela me enviou cópia xerox do testamento de Karl, datado de 4 de dezembro de 51 (sic) que foi testemunhada por Mellinger e um outro nome que não é decifrável. O testamento diz o seguinte…
O texto a seguir já foi publicado na Parte Dois deste volume. Esta foi a primeira vez que Motta viu um Testamento do Sr. Germer e que lhe foi dito a data em que tal Testamento havia sido escrito. Tal testamento havia sido escrito dois anos antes de Motta ter feito contato com o Sr. Germer, através da insistência de Parsival Krumm-Heller. Yorke continua:
…Isso deixa a sucessão da O.T.O. em aberto e ele não nomeou seu sucessor na ordem (sic). A única pessoa quem acredito ter uma patente valida é o Metzger…
[Considerando-se que Metzger era filho de um ex-chefe da Inteligência Suíça – e por conseguinte lhe foi possível obter o dossiê de Schlag e enviá-lo ao Sr. Germer -, ele com certeza teria visões políticas “seguras”, assim como (no mínimo) laços amigáveis com a Inteligência Suíça. Sua sucessão como Cabeça da O.T.O. teria sido algo confortável, se fosse real.
[Em seus comentários sobre a sucessão, Yorke obviamente criou intrigas. A frase onde o Sr. Germer não indica um sucessor deve se referir ao texto de seu Testamento. É bem possível que Yorke nunca soube que o Sr. Germer nomeou Motta em seu leito de morte. A Sra. Germer não teria mencionado esse fato a ninguém, pois ela já havia se recuperado do trauma da morte de seu marido, e havia decidido superar Motta. Porém, se Yorke não fosse opinioso no assunto, após ter recebido cópia da carta da Sra. Germer a Motta dizendo que seu marido o havia nomeado como “Seguidor”, ele se sentiria na obrigação de investigar sobre o assunto. Ele não somente não investigou como tentou influenciar Motta em aceitar falsas reclamações de liderança da O.T.O. Vejam o que ocorre a seguir:]
…Para obter materiais da O.T.O, você deve contatar um Acampamento, Loja ou Templo existente. Eu posso lhe fornecer três endereços:
Herr Metzger/Abtei Thelema/9062 Stein A.R./Switzerland.
Grady McMurtry/Box 2043/Dublin/California 94566.
Kenneth Grant, cujo endereço você” já tem.
McMurtry não tem patente, mas um documento lhe dando o IX°; Grant tinha uma patente para abrir um Acampamento para os três primeiros graus, mas promoveu a si mesmo como X°, trabalhando com os IX” graus quando Germer o expulsou da Ordem; ele ignorou tal expulsão. Creio que existam mais três lojas falsas nos Estados Unidos, porém não sei de maiores detalhes. Uma delas inclusive foi acusada deter sido a gangue que roubou todos os papéis da Sra. Germer, juntamente com os registros da O.T.O. O volume da minha coleção do Crowley que contém material ainda não publicados foi depositado no Instituto Warburg em Woburn Square/Londres/WClH OAB. Eu fui tão requisitado por pessoas pedindo material do Crowley que resolvi deixar este material lá e passar a bola pra frente.
Em relação ao Kenneth Grant, compre seus dois livros, “Aleister Crowley and the Hidden God” e o “Magick Revival”, ambos publicados em Londres pela editora Muller; leia-os e tire suas próprias conclusões.
Muito obrigado por ter me enviado as cópias xerox das cartas de Karl e Sascha a você que ajudam a documentar a posição da sucessão da O.T.O. Eu não conheço ninguém com credencial maior para o cargo do que o Metzger na Suíça.
Sinceramente,
Esta carta como era de fato sua intenção deixou Motta completamente confuso. Ela continha frases contraditórias. De acordo com a mesma, Motta deveria obter “material da O.T.O.” e conselho de um homem que havia sido expulso da O.T.O. pelo próprio Sr. Germer; ou de outro homem que, conforme afirmou o próprio Yorke, não tinha patente, mas sim um documento intitulando-o ao IX°, (o qual Motta também possuía!); ou de um outro homem quem o Sr. Germer havia proibido Motta de contatar, e que o Sr. Germer afirmou estar passando por uma fase de loucura!
[Mesmo que Motta não estivesse ciente do fato em tal ocasião – e não o soubesse por pelo menos mais uma década — em 1963 e.v., o outro inventariante do Sr. Germer, Frederic Mellinger, teria escrito a seguinte carta a um advogado que a Sra. Germer havia contratado (naturalmente!) sem dizer nada a Motta:
25 de setembro de 1963 (sic)
Sr. Gard Chisholm
Advogado
16 Court Street
Jackson, California, USA
Em referência: Patrimônio de Karl Germer, falecido
Prezado Sr. Chisholm:
Recebi sua carta de 20 de setembro de 1963 (sic) com o anexo da cópia da petição de sondagem do testamento em questão, a qual a Sra. Germer intenciona a assinar e arquivar. O Sr. Está pedindo minha opinião sobre a petição; sendo assim lhe envio a mesma:
Pelos seguintes motivos eu devo ir de encontro à seguinte afirmação da petição: “O testamento foi executado em todos particulares”.
1) Como você sabe, o testamento afirma (em relação a propriedade da ordem Ordo Templi Orientis) “que isto seja passado aos cabeças da ordem” e que “Frederic Mellinger aja como co-inventariante desta parte do testamento.”
2) A Sra. Germer decidiu sem pedir minha opinião nesta questão pertinente a “esta parte do testamento” e sem me contatar, aceitar o estranho “manifesto” de Herr Metzger (imprimido nesta primavera) como verdade de evangelho, como também o reconhecer como “Grande Mestre X” da Ordem e Grande Mestre Geral Supremo” (sic!) …
[Este “sic” exclamativa é de Mellinger, não nosso, e é provavelmente resultado de sua revolta contra a bagunça dessa confusão de títulos. “Grande Mestre da Ordem” não é a mesma coisa que “Grande Mestre Geral Supremo”, e se o fosse, tal repetição seria redundante. A ênfase é do chamado “Manifesto” de Metzger, o qual também foi enviado a Motta e assim como é relatado na parte dois dessa história – Motta cerimonialmente rasgou em pedaços e jogou na lata de lixo.]
Nem a Sra. Germer nem o Herr Metzger (quem nos últimos seis meses sempre me enviava seus panfletos, o que indica que ele saiba do meu endereço) me notificaram antes de 28 de março de 1963 (sic) da morte de Karl Germer (em 25 de outubro de 1963 (sic)) …
[Isto foi obviamente um lapso; o Sr. Germer morreu no dia 25 de outubro de 1962 e.v. Isto sugere que após ter feito contato com Motta e concluindo que o mesmo não se entregaria a sua autoafirmação de autoridade e de hostilidade, a Sra. Germer contatou Metzer, mas não deu seu co-inventariante no testamento. Nossos “sics” se referem ao fato de que Mellinger, assim como Yorke e Sra. Germer, não usaram e.v. (as iniciais que em latim significam era vulgari, ou “era vulgar”) após as datas que indicam a contagem convencional cristista do suposto nascimento do fabricado “Jesus” todo verdadeiro Thelemita está suposto de fazê-lo.]
…nem da vergonhosa “eleição” de 6 de janeiro de 1963 (sic). Minhas questões relativas à autoridade de Metzger em assumir os títulos acima e de seu direito de realizar uma “convocação dos Príncipes patriarcas” na cidade de Stein, Suíça para sua “eleição” nunca foram explicadas nem por Germer, nem por Metzger. Eu tampouco pude obter explicação sobre a negociação dos dois durante os seis meses antes deles me contatarem. Eles decididamente violaram (e não “executaram” como afirma a Petição) a Vontade do falecido.
Karl Germer nunca, durante toda sua vida, chegou se quer conhecer a Herr Metzger. No dia 25 de junho de 1951 (sic) ele me escreveu dizendo que o Metzger o havia contatado através de uma carta e me pediu para “aconselhar aquele grupo” deixando inteiramente a meu critério instruir Metzger e se possível ajudar “aquele jovem homem” a atingir algum progresso na Ordem.
[A data em que o Sr. Germer pediu a Mellinger para aconselhar Metzger é insignificante, considerando-se a data em que o testamento do Sr. Germer foi assinado. Obviamente na ocasião que o Sr. Germer indicou que a Sra. Germer e Mellinger deveriam decidir sobre seu sucessor, ele não tinha preferência alguma na questão; certamente não por Metzger, quem ele não conhecia e quem na época era (assim como Motta dois anos depois seria) apenas um iniciante.
Herr Metzger me revelou — obviamente sem querer— de onde provinha sua coragem de reivindicar o alto cargo dentro da Ordem através de um golpe de estado infantil; em outras palavras, ele imprimiu na capa de seu ridículo “Manifesto” o seguinte moto (sic):
“Ser ou não ser, esta é a questão.”
E “Hier stehe inch, ich kann nicht anders”, as fortes palavras de Martin Lutero. Sendo assim ele inadvertidamente indicou a única autoridade que ele tinha para basear suas aspirações ditatoriais: seu inflado Ego. Porém, a Sra. Germer ficou muito impressionada e balançou a cabeça gentilmente num gesto de consentimento, ignorando assim a “sagrada” (de acordo com suas próprias palavras), porém aparentemente desconfortável Vontade do Testamento de seu falecido marido no que tocava o meu papel como co-inventariante.
Sinceramente,
Dr. Frederic Mellinger
[Uma carta que indubitavelmente eliminou as tentativas da Sra. Germer de enviar todos os bens da O.T.O. a Metzger.
[E de se duvidar se a Sra. Germer realmente ficou impressionada com Metzger: ela era muito perceptiva para isso; porém, o mesmo havia enviado alguns de seus panfletos a Motta e Motta lhe havia escrito repreendendo-o e dizendo-o que se ele quisesse ser aceito como Irmão e como candidato sério à Liderança, ele deveria usar o dinheiro que estava desperdiçando com coisas do tipo e ajudar a Sra. Germer a se manter, considerando-se que Motta não o podia fazer. Sem dúvida ele a escreveu prometendo ajudá-la Suas promessas, entretanto, nunca foram cumpridas considerando—se as circunstâncias materiais da Sra. Germer descritas em sua carta a Motta exibidas na Parte Dois deste volume. Tais circunstâncias foram mais tarde confirmadas pela ansiosa descrição de James Wasserman das condições nas quais ela morreu e do estado em que estava sua casa quando ele a visitou. Veja O.T.O News em outras partes deste livro.]
Conforme anteriormente dito, Motta não estaria ciente desta carta por mais de dez anos. Ele não podia compreender a afirmação de Yorke que “ele não conhecia ninguém com maiores direitos que o Metzger da Suíça”. Obviamente Yorke tinha acesso informações que Motta não possuía.
[O leitor mais uma vez deve se referir à carta da Sra. Germer a Motta que nunca chegou às mãos dele, tendo sido roubada pelo Serviço de Inteligência Militar Brasileiro para servir o Vaticano e a C.I.A.]
Ele estava consciente da necessidade de sigilo sobre a O.T.O. e sabia que o O.H.O. está suposto de ser desconhecido para os profanos e para os membros de baixos graus da própria O.T.O. Ele achou que não seria apropriado perguntar a Yorke em que ele se baseava para concluir que Metzger tinha mais direito que qualquer outra pessoa; ele estava inseguro de sua própria posição. Porém, o que Yorke lhe escreveu não foi suficiente para que ele aceitasse quaisquer das pessoas envolvidas como contatos legítimos da O.T.O., com a exceção de McMurtry. Ele também se lembrou de sua longa conversa com o homem. Ele achou que McMurtry deveria ter mudado muito para que a Sra. Germer o nomeasse como Sucessor.
[McMurtry afirmou em corte que “não se lembrava” ter conhecido Motta ou ter conversado com o mesmo. E esta não foi a primeira vez que ele cometeu perjura. Quanto a análise final da Sra. Germer sobre ele, referimos os leitores a reprodução da última carta do Sr. Germer a McMurtry no capitulo deste livro intitulado O.T.O. News.]
Ele trocou várias correspondências com Yorke que devido ao limitado espaço não podem ser incluídas aqui. As contradições eram cada vez mais perturbantes, assim como era o fato de Yorke desprezar a autoridade do Sr. Germer como Cabeça Externa e de sua insistência de que Joseph Metzger tinha mais direito ao cargo que qualquer outra pessoa. Yorke afirmava que Metzger tinha em sua posse uma carta de Karl Germer que esclarecia o fato de que Metzger era escolhido como o “Seguidor da Coroa”.
[Esta alegação estava também na carta da Sra. Germer a Motta, a qual ele nunca recebeu. Veja O.T.O. News.]
No dia 15 de março de 75 e.v. Motta respondeu a seguinte carta à indicação de Yorke de que Metzger possuía uma carta de autoridade:
Prezado Sr. Yorke:
Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.
Grato pela carta datada 6 de março. Me parece que eu lhe dei a impressão de que eu estou tentando lhe sugerir um procedimento contrário ao seu caráter. Me desculpe, eu não tinha tal intenção; meu propósito era de simplesmente declarar minha Vontade e não de definir a sua. Por outro lado, sua reação ansiosa é indicativa e eu acho que você deveria analisar seus motivos.
Existem muitas imprecisões em sua carta que eu peço a licença de lhe apontar.
Primeiro, você diz que Metzger não está tentando impedir que ninguém faça reivindicações ou publique qualquer coisa. Neste sentido, você está cometendo um erro: Metzger tentou estabelecer seu direito como herdeiro em seu país e faliu, como deveria ter falido. Seu silêncio é aquele da impotência, não aquele da nobreza e grandeza…
[Esta informação foi obtida por Motta através das piratarias de “Frances King” dos Rituais de Crowley para a O.T.O.; e considerando-se que King havia obtido todos os fatos através de Yorke, o mesmo estava ciente da falência de Metzger, assim como estava Motta. Porém, na época, Motta não sabia que King havia obtido seus dados de Yorke…]
Segundo, ao citar a carta do Sr. Germer para mim e a carta da Sra. Germer a você, você insinua que Metzger se sucedeu ao representar a O.T.O e eu não. Eu devo lembrar-lhe que é relativamente difícil representar uma ordem maçônica da qual você não possui os rituais em mãos e aqueles que os possuem lhe recusam a fornecer cópias, apesar de afirmarem que você tem direito legítimo a eles.
Terceiro, você parece trabalhar sob a impressão de que o X° da O.T.O. é equivalente ao título de O.H.O. O X° da O.T.O. pode ser obtido por qualquer Rei Nacional, o que você pode verificar consultando o Equinócio III 1, pág. 202; e o Cabeça Externa da Ordem “pode ser escolhido desde o grau Minerval”, pág. 244, terceiro parágrafo.
Quarto, você afirma que eu Ihe pedi apoio para minha reivindicação. Eu não sei se eu lhe pedi apoio que não fosse Livre acesso a informações disponíveis aos piores inimigos de Thelema, e você demonstrou grande relutância em me conceder tais informações.
Quinto, você exagerou a idade da Sra. Germer; ela está no momento em seus sessenta e alguns anos, considerando-se que ela era uns vinte anos mais jovem que O Sr. Germer e em seus quarenta e alguns anos quando eu a conheci…
[Isto é incorreto. A Sra. Germer era de fato mais velha que seu marido e estava em seus sessenta anos quando Motta a conheceu. Sua aparência jovem era um presente mágico de seu marido e com a morte do mesmo, este presente começou a definhar até desaparecer. Mas Motta não soube da idade da Sra. Germer por mais de uma década. Sua afirmação errada para Yorke foi feita em boa fé.]
Mesmo que ela estivesse em seus oitenta anos, você vacila ao sugerir que um ladrão dever ser “deixado em paz” por simples respeito à sua idade avançada, ou que a desordem deve ser permitida devido ao fato dessa pessoa ter se tornado decrépita. Esta reação é simplesmente uma projeção de seu próprio desejo pela paz. Porém, vale observar que a paz Sr. Yorke, é para as ovelhas; os Thelemitas querem algo mais da vida.
Eu devo apontar algumas das incongruências de seu comportamento, explicitas durante anos após a morte do Sr. Germer. Você menciona uma carta dele ao Metzger a qual a Sra. Germer lhe mencionou numa carta. Será sábio ponderar se você tivesse de fato acreditado nas afirmações da Sra. Germer sobre Metzger você teria comportado da maneira que comportou. Dentre outras coisas, você teria doado sua biblioteca para o Cabeça Externa, assim como teria apoiado sua reivindicação publicamente, o que você não fez…
[Motta estava atribuindo a Yorke a nobreza de caráter que o mesmo não possuía. O ressentimento de Yorke pelo fato de que Germer, não ele, havia sido escolhido por Crowley (quem havia formalmente rejeitado Yorke em favor de seu colega alemão há décadas atrás) era enorme: isso era ainda mais importante para ele do que seus Laços com a Inteligência Britânica. Portanto, fatores pessoais em geral ditam destinos de nações ‘muito mais que pequenas ordens ocultas!]
…A verdade, Sr. Yorke, é que VOCE quer “paz e tranquilidade” em sua idade avançada. Lao-Tse saiu da China nos seus oitenta anos porque ele não pôde aceitar a maneira pela qual seu país estava sendo governado por seus reis e foi viver na selvagem Mongólia. Aleister Crowley morreu nos seus setenta anos lutando magicamente por sua palavra até’ o fim. o Sr. Germer também morreu lutando nos seus setenta anos e me passou a tocha no seu último fôlego. Mas você, que reivindica ter sido amigo dos dois, tem tentado abrir mão de sua responsabilidade moral, e como se isso não fosse suficiente, está tentando me desviar do meu próprio caminho. Seu comportamento não é nem de um cavalheiro, nem tampouco de um Lutador.
[Motta ainda não estava ciente das manipulações das redes de “inteligência” para fazer da O.T.O. um joguete. O comportamento de Yorke certamente não era aquele de um cavalheiro, mas de uma certa forma era de um lutador na fase de “rondagem”. Que a batalha havia sido causada em grande parte pelo ressentimento pessoal dele era um mero aspecto da falta de cavalheirismo de seu comportamento. “Rondagem” é apenas aceitável contra grandes disparidades; a pobrezinha da O.T.O. não podia se dizer uma ameaça até ao que havia restado do grande Império Britânico!]
A informação que pude obter de você é análoga a de um dentista arrancando um dente de um paciente relutante. Mesmo dados vitais como o fato de que o endereço no Testamento do Crowley era a residência do Sr. Germer em Nova Iorque foi somente encaminhada a nós em sua última carta, em meio a protestos sobre minha incapacidade e a ilegitimidade de minhas reivindicações e seus conselhos finais para que eu fundasse minha própria O.T.O e uma “Igreja de Thelema” e outras coisas mais. Muitíssimo obrigado; eu não tenho intenção alguma de fundar igrejas; em relação à O.T.O., eu estou perfeitamente satisfeito de representar o movimento legitimo iniciado por BAPHOMET XI°. Eu não tenho nem o desejo nem a necessidade de fundar outra.
Se você tem um xerox da suposta carta do Sr. Germer ao Metzger, eu apreciaria muito uma cópia da mesma para que eu possa provar com meus próprios olhos o que foi escrito e quando. Mas eu duvido muito que você a tenha. Você tem almejado tanto a paz e a tranquilidade que você está disposto a se agarrar a meias-verdades; e quando eu perturbei o casulo em que você se escondia, você naturalmente se irritou. Então berre, meu amigo; o rebanho herdara a terra, ou melhor exatamente dois metros dela.
[Isto é, depois de enterrados. Porém Motta ainda não compreendia a situação. Yorke não estava costurando um casulo em volta de si, mas sim uma teia e era um lobo na pele de um carneirinho.]
Não se perturbe se você contribuiu ou poderia ter contribuído para meu ataque à Sra. Germer; eu tenho toda a documentação necessária para estabelecer sua incapacidade e o que não tenho no momento é uma questão de história. A idade dela não é uma desculpa, mas sim um incômodo. Não existe nada mais detestável do que a idade limitando a possibilidade de liberdade e auto—expressão da juventude puramente por malicia pessoal, e 05 poderes da Sra. Germer como testamenteira são exatamente os mesmos que 05 de Symonds. Ela não tem estatura espiritual para julgar o mérito, e nunca o terá, pelo menos nesta vida. Tanto ela como Regardie, Granth e aparentemente você – Pertencem à mesma classe.
Mas seu inconsciente lhe perturba, Sr. Yorke, não é verdade? E quando minha voz é um eco de seu inconsciente você se irrita comigo. Quem se irrita com o Mestre do Templo senhor, se irrita consigo mesmo, como você bem deve saber.
Amor é a lei, amor sob vontade.
Parsival XI°
Motta não sabia o que Yorke sabia muito bem: isto é, que a Sra. Germer estava lentamente morrendo de fome na Califórnia, ao pé da letra, debaixo dos olhos dos Mc Murtries e de Helen Parsons-Smith, abandonada por Metzger e por Yorke. Ela morreu um mês e meio depois de Motta ter escrito esta carta.
Naturalmente, Yorke não respondeu e nem providenciou nenhuma cópia da carta do Sr. Germer ao Metzger. Se tal carta existisse, Metzger teria sido capaz de estabelecer seus direitos na Suíça, um país onde aparentemente, o processo judicial normal não sofre as pressões políticas e econômicas do tipo que podem produzir abortos da justiça como é o caso dos Estados Unidos da América.
Enquanto Motta estava tentando economizar dinheiro para ir para a terra da oportunidade e da liberdade para indiciar a pobre Sra. Germer por posse da Biblioteca de Thelema, os “urubus” que Phyllis McMurtry havia uma vez (ironicamente) apelidado estavam se juntado sob a Liderança da mesma. Yorke deve ter sido informado quase que imediatamente sobre a morte da Sra. Germer. Todos preparativos foram feitos para dispor de suas posses. No dia 13 de agosto, um certo Adolph B. Gualdoni, administrador público do Condato de Calaveras na Califórnia, foi nomeado executor de seu espólio. Os McMurtries trabalharam juntos com este individuo; a casa da Sra. Germer foi vendida a um parente próximo do Sr. Gualdoni para quitar impostos atrasados…
[Motta nunca foi capaz de acessar exatamente o valor da venda, ou saber quanto a Sra. Germer devia de impostos atrasados. Ninguém mais achou apropriado perguntar. Aparentemente, é um daqueles “segredos” que supostamente afetam a segurança nacional dos Estados “Unidos”.]
No dia 15 de janeiro de 1976 e.v. o Equinócio V 1, “Comentários de AL” foi publicado pelo Samuel Weiser, Inc.
[Donald Weiser e seu “grande amigo” Oscar Schlag já estavam preocupados com Motta, quem, no dia 23 de janeiro de 1975 e.v. havia informado James Wasserman, seu editor na Weiser e “discípulo”, que ele intencionava afirmar seu direito legal aos direitos autorais da O.T.O. em prol da O.T.O. Como Weiser, sem Motta saber, já estava negociando a pirataria das cartas de Tarô com Grady McMurtry e a gangue da Califórnia, era necessário saber que tipo de problema Motta viria a causar. Reconhecer publicamente McMurtry e companhia como representantes legítimos da O.T.O. por Weiser era uma coisa: ele poderia lidar com eles contanto que tal posicionamento fosse questionável. Porém, reconhecê-Ios como representantes da O.T.O. por outras pessoas que poderiam vir a reivindicar representatividade legitima da O.T.O., diríamos que no mínimo, aumentaria os preços…Sendo assim:]
No dia 19 de abril Phyllis McMurtry escreveu a Motta perguntando se a Sra. Germer estava viva e se a mesma o havia deixado a biblioteca do Crowley-Germer!
Motta ainda não havia se tornado paranoico, mas a Sra. Germer o havia categoricamente prevenido contra Phyllis. Ele respondeu a Phyllis, fazendo de bobo e perguntando-a se, desde de que ela escrevia sob o Selo da O.T.O., ela tinha ou não uma patente para fazê-lo. No dia 28 de abril Phyllis escreveu mais uma vez a Motta, dizendo-lhe que a Sra. Germer havia falecido.
Ela também, de uma forma arrogante, acusou Motta de estar ousando a interferir com sua “Verdadeira Vontade” ao pergunta-Ia se a mesma tinha direito de usar o Selo da O.T.O. Motta lhe enviou a seguinte carta no dia 11 de maio:
Cara Phyllis:
Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.
Grato por sua carta do 28. Eu pedi que James Wasserman lhe enviasse um xerox da minha carta 3 Helen e vice-versa, para que eu não tenha que repetir a você o que eu já disse a ela.
Deixe-me adiantar a vocês o que está ocorrendo por aqui…
“Aqui” quero dizer, no Brasil.
Eu comecei a trabalhar seriamente com a O.T.O. somente para chegar à conclusão da bagunça em que vocês colocaram a O.T.O. Você menciona a sua “verdadeira vontade”. Eu estou me fudendo pra sua “verdadeira vontade”. Se você me escreve sob o Selo da O.T.O., você tem uma obrigação para com a Ordem de defender sua integridade contra usurpadores, ladrões, e outros, e de defender sua Hierarquia a todo custo. Ou você considera isso parte vital ou integral de sua “Verdadeira Vontade” ou não me escreva mais sob o Selo da O.T.O.
Eu trabalhei com um estudante durante sete anos, e conforme já informei a todos no Segundo Manifesto, ele falhou na Ordália de Zelator, demonstrando que estava mais preocupado com seu ego do que com a A.˙.A.˙. (ou a O.T.O.). Eu suspeito que o caso dele seja bem semelhante ao de Grant. Eu tenho, porém, um grupo de pessoas que parecem ser bem mais estáveis, e nós REGISTRAMOS A O.T.O. LEGALMENTE NO BRASIL. Agora estamos no processo de REGISTRAR O SELO DA O.T.O. NO BRASIL.
Eu acredito que isto nunca tenha sido feito nos Estados Unidos, e acredito que você, McMurtry e Helen deveriam juntos faze-lo imediatamente.
Considerando-se que os rituais foram publicados (o que é uma pirataria, e se vocês estabelecerem seus direitos, espero que processem todos os envolvidos), eu estou reformulado os rituais. No momento, eu reformulei apenas o I° porque as pessoas com quem estou trabalhando não estão ainda qualificadas de receber o II°. Como você sabe, eu tenho capacidade e autoridade para fazê-lo. Eu não estou tentando de forma alguma insinuar que vocês devam seguir o meu novo ritual (ou rituais, no futuro) e se reformulem. Eu estou fazendo o que acredito que deva ser feito aqui, no meu país. Eu eventualmente enviarei a Helen uma tradução dos rituais, ou melhor, eu os entregarei a você pessoalmente, para que você saiba quem eu sou. Estes rituais serão REGISTRADOS COMO OBRAS DRAMÁTICAS no que é equivalente à Biblioteca do Congresso aqui. O primeiro já foi registrado.
Minhas patentes também estão sendo reformuladas. Elas seguirão a LEI CONTRATUAL deste país, sendo assinada pelas duas partes, isto é, a pessoa sendo iniciada, e o/a Cabeça da Loja. O/A Cabeça, por sua vez, terá a obrigação para com a minha pessoa através de sua patente, que também é uma ‘forma de contrato, porém mais rigoroso que uma patente de irmão ou irmã. A medida que um avança nos Graus, as patentes se tornam mais detalhadas e mais rigorosas. Eu faço menção de AL III 41 nesta questão.
Eu não reclamo E NUNCA VIREI A RECLAMAR o título de Rei do Brasil da O.T.O. Quando existirem um número suficiente de Lojas funcionando, elas poderão se reunir e eleger seu próprio Rei. Aí, pode ser que eu possa cuidar de minhas coisas pessoais. Se por acaso outros/as Cabeças de Lojas se despertarem, e começaram trabalhar juntos em harmonia e formos capazes de juntos elegermos o/a Cabeça Externa da Ordem por voto unânime antes do Brasil poder votar um Rei no poder, então o O.H.O. poderá nomear o Rei ele mesmo, de acordo com a Constituição. MAS NÃO SEREI EU, ASSIM COMO EU NÃO SEREI O CABEÇA EXTERNA. Eu quero esclarecer bem este ponto O XI° exclui qualquer possibilidade de aceitação de um Grau na estrutura normal da Ordem.
[É claro, o XIº não faz nada disso; mas Motta estava, como proferido na corte de Maine anos mais tarde “mostrando a cenoura para o burro”. Considerando-se que todos queriam ser Cabeça Externa, talvez pelo fato dele ter deixado o trono aparentemente vago para que eles se estimulassem a trabalhar para a Ordem e não para si mesmos. Porém, ele ainda era inexperiente! Obviamentecomo agora ele conclui com tristeza as pessoas que “trabalhariam para a Ordem” somente através do estimulo de uma vaga suprema não estariam trabalhando para a Ordem, mas sim para suas próprias ânsias de poder.]
Eu sugiro que você siga meu exemplo nos E.U.A. no que se refere a patentes e registros legais…
[Anos mais tarde em Maine, o advogado de Weiser o perguntaria, “Sr. Motta, não é verdade que você disse ao Sr. McMurtry, à Sra. McMurtry e a Sra. Helen Parsons Smith para defender seus direitos da O.T.O. em seu país?”
[“Obviamente”, Motta respondeu. “Porém eu não sabia na época que o conceito deles sobre os direitos da O.T.O. não me incluía.”]
…Consulte um advogado, ou melhor, leia um bom livro sobre a lei contratual Americana e trabalhe para que outros Grants e Metzgers da vida elevem seus egos acima de si mesmos.
[Isso a teria ferido profundamente se Phyllis Seckler não fosse uma frieza por baixo de sua maquiagem de velhinha gentil! O parágrafo seguinte é no mínimo patético]
Eu lhe pedi para trabalhar com Wasserman e para confiar nele como você confiaria em mim. Weiser não está disposto a agir rápido, assim como não está nenhum negociante (ou a maioria das pessoas), mas ele tem provado ser, de maneira geral (como seu pai também foi) uma pessoa honesta e razoável. Ele tem participado em piratarias, mas estou certo de que no momento em que você estabelecer legalmente seus direitos ele não o fará mais. Qualquer abuso que tenha ocorrido e’ devido à sua falta de confiança em vocês mesmos.
Amor é a lei, amor sob vontade.
Fraternalmente,
Marcelo
P.S.: Por favor me fale sobre o assalto de 1967 (sic).
No mesmo dia em que Motta escreveu esta carta, ele também escreveu a Helen Parsons Smith, dizendo-a que James Wasserman tinha uma procuração para representar seu direito à Biblioteca Crowley-Germer em West Point na Califórnia. Também, no mesmo dia, ele foi ao Consulado Americano no Rio de Janeiro e preparou uma procuração para Wasserman.
[Sem informar Motta e possuindo a carta pedindo-os que o fizessem, essas três pessoas tomaram imediatamente todos os passos necessários para registrar uma corporação. Os três, Weiser – e a rede da “inteligência” Americana por trás deles – tinham, porém, uma grande preocupação: o “Novo Manifesto” de Motta mencionava Helen e Grady como representantes “bona fide” da O.T.O.; porém ele não usou o termo “Califa” em relação a Grady, ou reconheceu nele poder algum além e acima dos poderes de Helen; e não fez menção a Phyllis. Desde que o propósito dos mesmos era o de criar um instrumento da “inteligência” Americana às custas de organizações religiosas, era necessário que Motta concedesse a Grady mais autoridade ou que Motta perdesse totalmente sua credibilidade.
[É bom lembrar ao leitor que Weiser e McMurtry já negociavam a pirataria que eventualmente colocaria duzentos mil dólares nas mãos de Weiser; e que Wasserman, quem Motta inocentemente confiou, era o coordenador destes esforços.]
Sendo assim uma pressão tinha que ser feita em cima de Motta; consequentemente, Phillis lhe escreveu uma carta em 26 de maio a qual ele respondeu em 2 de junho:
Cara Phillis:
Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.
Grato por sua carta de 26 de maio. Você parece estar sob a impressão de que
1) Eu quero lhe dar ordens;
2) Eu necessito de sua ajuda em meu trabalho;
3) Eu tenho algum motivo oculto para lhe escrever além do bem-estar da O.T.O.
Eu vou tomar o tempo e energia de outros projetos mais importantes no
momento para tentar lhe explicar três pontos com o máximo de paciência e educação:
Primeiro: quando eu lhe escrevi dizendo: “Ou você sente o dever para com a O.T.O. ou não me escreva mais sob o Selo da O.T.O.”, eu não quis dizer que você, como ser humano, talvez estrela (eu digo talvez porque existem vários bípedes eretos andando por aí que não tem nada de humano), não possa a vir a imprimir seu nome sob qualquer símbolo que queira; é claro que você pode. O que eu estava tentando expressar é que, sob o ponto de vista de um verdadeiro iniciado da O.T.O., qualquer pessoa que escreva sob o selo da O.T.O. sem sentir a obrigação de defender tal Selo e o que o mesmo representa, as custas de sua própria vida, possessões, sentimentos pessoais, NÃO É um verdadeiro Irmão ou Irmã da O.T.O. É claro que qualquer pessoa pode escrever sob o Selo da O.T.O.;
O Grant o faz, assim como o Metzger. Você também o faz. Porém, prove a mim que você tem algo mais no seu coração além de seu próprio interesse quando você me escreve sob o Selo da O.T.O.; não espere que eu lhe Ieve a sério. Não é suficiente vestir a coroa para ser Rei, ou dizer que você é uma estrela para ser tratada como uma, como aqueles QUE SÃO UMA ESTRELA. Você tem “que engolir sapo”, como diz o ditado. Escreva sob a ornamentação que queira, mas se você intenciona ser respeitada, prove que o merece. A impressão física do Selo em si mesma não quer dizer nada: qualquer ladrão poderia o ter copiado ou reproduzido. Mas a dedicação, o zelo e a lealdade falam mais alto e eu nunca a percebi como alguém que transborda dedicação e zelo (o que, por falar nisso, é o ponto principal do Zelator da A.’.A.’.), desde que eu a conheci. Sendo assim, eu repito, não estou tentando ordena-la; estou simplesmente Ihe dizendo que se você almeja ser tratada como igual, suba ao meu nível. Não espere que eu fique no nível de hipocrisia mundana pelo menos ao lidar com alguém que reclama ser membra da A.’.A.’ e da O.T.O.
Você me pediu “por favor não mencione meu nome em nenhum dos seus manifestos” Eu prefiro trabalhar sem fanfarra. A publicidade é apenas um joguete do ego, e eu não a quero.”
Eu percebo que isto seja um criticismo velado de mim, Crowley e muitas outras pessoas ilustres (não que eu esteja almejando ocupar um lugar na companhia deles). Talvez você creia que quando Charles DanNin escreveu o seu Origem das Espécies ele estava viajando no seu ego. Obviamente, num certo sentido ele estava. Mas existem egos em que egos menores neste caso incluiria o seu pelo que conheço de você – podem achar interessante viajar de vez em quando. Uma vez, há muitos anos atrás, escrevi uma carta ao Sr. Germer, uma carta bem parecida com a sua, no sentido de que eu era uma estrela assim como Crowley e ele, ou qualquer outra pessoa e ele me respondeu, “É claro que você é. Porém existe uma Hierarquia. Coloque isto no seu cachimbo e fume.” Eu coloquei isso no meu cachimbo e fumei por dez anos após sua morte e uso estas palavras em Liber LXI que podem ser importantes para você ponderar:
“…existem muitos que creem ser mestres e que nem começaram a caminhar no Caminho da Obra que leva a tal fim.”
Se existe algo neste mundo que não me interessa nem um pouco é o seu ego, Phyllis. Quando eu publiquei os nomes de Helen e Grady eu não estava tentando infla-los..;
[Durante este Período, a edição do Equinócio V 2 ainda estava em preparação; mas Motta havia publicado os nomes de Helen Parsons-Smith e de Grady McMurtry em sua tradução para o Português de O Equinócio dos Deuses como chefes legítimos de lojas da O.T.O. nos Estados Unidos da América. Ele havia feito isso sob a ilusão de que – desde que eles reivindicavam estar trabalhando para a O.T.O.-, eles tinham patentes para tal efeito. Porém, como seus pedidos de comprovação continuavam a não ser respondidos, ele havia começado a suspeitar que Wasserman o havia fornecido informação equivocada sobre o assunto.]
…Eu estava forçando-os a pisarem na linha de fogo. Como 05 Grants e Metzgers e muitos outros à solta por aí proclamando seus direitos de representar THELEMA, existem várias pessoas que foram levadas ao caminho errado por tais tipos, enquanto você dignamente estacionou no seu distanciamento (se é que você gosta de usar este termo). Você exige os graus Phyllis, porém você não quer pagar o preço pelos mesmos. Pergunte à sua própria consciência que tipo de pessoa se comportaria dessa forma.
Helen está possessa comigo porque, de acordo com a mesma, os nomes de mulheres membras da O.T.O. não podem ser publicados. Esta regra começou com a O.T.O. inicial, que originou do machismo chauvinista teutônico que mais tarde deu origem ao Nazismo. O Crowley manteve a tradição e foi bem-sucedido.
Mas eu lhe digo que as mulheres podem não somente ser Cabeças de Lojas, mas que eu também aceitaria uma mulher como Cabeça Externa da Ordem. A mulher é igual ao homem em THELEMA. “Que a mulher seja cingida com uma espada ante a mim.” A mulher pode alcançar qualquer grau, até o de Ipsissimus e além, e a única razão pela qual ela não pode funcionar como Magus é porque um tem de estar ocupando um corpo masculino para desempenhar as funções do Magus.
[Assim como você, a Helen também não quer ter seu nome publicado, porém SERA PUBLICADO. A sua única escolha é se vocês preferem que seja publicado reconhecendo-as como veneradores da Estrela e da Serpente (com ênfase na palavra) veneradores ou como veneradores de seus próprios egos.
Se o Sr. Germer tivesse viajado mais no seu ego, os direitos autorais não estariam na bagunça em que estão hoje.
Contanto, você está ligeiramente equivocada em relação aos motivos dele. Você diz que, “Sascha não teria aceito ajuda de ninguém e teria brigado com todo mundo durante anos, isolando Karl daqueles que o teriam ajudado.” Você está enganada; O Sr. Germer era perfeitamente capaz de escolher sua própria companhia, como eu sou testemunha, pois Sascha me detestou e falou mal de
mim durante anos para ele, somente para que ele, em seu último fôlego, lhe pedisse que me dissera que eu era o “Seguidor”, o que ela assustadoramente fez. Ele se isolou de todos vocês porque nenhum de vocês foi capaz de reconhecer quem ele era, isto é, Cabeça de Thelema, Chefe Adepto, nosso Capitão na Terra. Nenhum de vocês queria obedece-lo; se você não acredita em mim, vamos então fazer uma lista:
YORKE: Detestava e ressentia o fato de que Crowley havia deixado seus direitos autorais e a Liderança da Ordem para Germer. Cumpriu o mandato de seus deveres por anos, sempre se cuidando para evitar o espírito dos mesmos.
SMITH: Detestava e ressentia o fato, etc., etc. Não cooperava com Karl, e de fato tentou se posicionar magicamente contra ele; somente o reconheceu no final, a beira da morte e tarde demais para servir para qualquer coisa.
GRADY: Totalmente obcecado com a ridícula ideia do Califado, sonhando com uma dinastia magica, ressentindo o fato de sua patente para tal propósito ter sido cuidadosamente sujeita a confirmação de Germer por Crowley, quem sempre a segurou. Sempre se agarrando ao Crowley morto ao invés de servir ao Germer vivo, desobedecendo assim sem pensar o homem a quem acreditava ser leal, quando de fato ele estava se agarrando à promessas que havia feito a si mesmo.
Você estava presente, eu creio, quando eu falei com Grady. Após tudo o que eu lhe disse ele respondeu que serviu ao Crowley e não me serviria. Eu tive que rir: eu estava falando com ele em nome do Sr. Germer, pois como você bem sabe o Sr. Germer não era muito articulado. Você sabe mais que do eu o que resultou disso. O Sr. Germer nunca abandonou Grady, mas eu possuo uma carta dele lamentando sobre Grady que ele tinha, “tão boas qualidades desperdiçadas num apego ao ego!” Eu estou parafraseando, obviamente. Se você ou o Grady quiserem ler a carta original eu posso lhes enviar uma cópia…
Na época, Motta ignorava completamente a existência da última carta do Sr. Germer ao McMurtry (reproduzida na seção O.T.O. News deste livro). Também, mesmo que ele não soubesse disso, ao escreve-los Motta estaria os forçando a lhe opor e despojar, especialmente que a única reivindicação dele era uma patente condicional que Crowley havia dado ao mesmo com a cláusula de que teria que ser aprovada pelo Sr. Germer. Yorke, McMurtry, Grant e Metzger: o propósito desse pessoal era desonrar Karl Johannes Germer e assim sendo destruir a coesão da O.T.O. para depois emendar os trapos mais facilmente sob a égide de seus corruptos interesses políticos e financeiros.]
METZGER: Você tem que ler algumas das cartas que o Sr. Germer me escreveu sobre ele. Em uma delas ele diz e eu repito aqui Literalmente: “Estas pessoas medíocres! Aprenda com elas.” Eu tentei muito aprender com elas.
Ele nunca se referiu a você ou a Helen comigo a não ser de maneira gentil e com verdadeira afeição. Mas você bem sabe o porco chauvinista que ele era:
para ele uma mulher era uma mulher, não importava tão incompetente e leal ela fosse. Na realidade, ele falava das mulheres sob dois aspectos: lealdade ao homem e submissão. Eu creio que ele acreditava que a mulher ideal, como as crianças do antigo provérbio inglês, devia ser vista (e ocasionalmente tocada, naturalmente) e não ouvida…
Sob seu ponto de vista, Sascha era conceituada por sua lealdade, porém em relação a sua submissão, era outro assunto!
Eu não necessito lhe encontrar pessoalmente para ouvir sobre a Sra. Germer. Fui eu quem lhe falou sobre ela numa carta cuja a cópia tenho aqui comigo e tenho também sua resposta a mesma em meus arquivos, na qual você
a defende apaixonadamente e me condena por lhe pedir para “espionar-la”.
Depois disso você se mudou e não deixou o endereço novo. Agora você me escreve de novo e eu vejo que você mudou muito pouco, se é que de fato você mudou. Eu vou aproveitar esta oportunidade para lhe enviar uma cópia da última carta que eu lhe escrevi e que me foi retornada pelos correios, dizendo que você não vivia mais neste endereço e não havia deixado nenhum endereço para envio de correspondências.
Em tal carta, Motta reafirmava a Phyllis Seckler o fato de que ela não havia atingido o grau de Adeptus Minor e que era somente uma Neófita.
Na questão do assalto à Filial da O.T.O., sua sugestão para que eu leia o livro chamado The Family é um tanto quanto inocente. Você deve estar pensando que eu moro nos Estados Unidos e que posso adquirir livros Americanos facilmente. Eu já ouvi falar do livro mencionado, mas para que eu venha a obter uma cópia do mesmo, é necessário fazer um pedido internacional, e pela descrição do mesmo, não me parece ser algo com que eu gostaria de gastar meu dinheiro. Eu tenho pouco dinheiro para gastar com livros e tento evitar comprar porcarias. Entretanto, eu tenho comigo uma carta da Sra. Germer que relata, com alguns detalhes, o assalto, e eu estou lhe enviando uma cópia.
[O recibo dessa carta deve ter sido um grande choque a Phyllis; até então ela estava sob a impressão de que Motta não estava a par do fato de que os ladrões da Sra. Germer haviam recebido informações do filho de Phyllis e sido liderados por sua filha, ou, de acordo com a convicção da Sra. Germer, a mãe estaria envolvida no assalto.][É bem possível que Phyllis (Wade, na época) não soubesse com antecedência que seu filho e filha faziam parte de uma trama para assaltar a Sra. Germer; porém é difícil acreditar que ela não ficasse a par disso logo após o fato. A evidência indica que ela fez de tudo para proteger a si e a seus filhos. Mesmo seu casamento momentâneo com McMurtry logo após o ocorrido indica mais um passo contra a possível perseguição, pois McMurtry trabalhou para o governo Americano. No julgamento da Califórnia, a filha acusada estava “indisponível” para testemunhar e a outra filha da mesma o recusou a fazer. O filho dela, quem naquela época havia misteriosamente trocado de nome, testemunhou e negou qualquer participação no assalto ou qualquer conhecimento sobre onde estariam as coisas roubadas. Tanto o Wasserman quanto o Weiser já haviam testemunhado sob juramento que eles não haviam correspondido com o Sr. ou Sra. Germer sobre os direitos autorais da O.T.O. (vejam Parte II deste artigo); e McMurtry chegou ao ponto de negar em corte que ele lembrava ter sequer conhecido Motta pessoalmente, ou ter falado com o mesmo…A quantidade de perjura deste processo ultrapassou até o número de mentiras mencionadas num discurso de quinze minutos do Ronald Reagan.]
…Se você se importaria comentar sobre a carta em privado a mim, eu agradeceria seus comentários…
Motta ainda não havia se conscientizado do nível de decadência da mente a qual ele estava se dirigindo.
[As consequências da falência das ordálias iniciáticas estão comentadas na seção do O.T.O. News e em outras partes deste Livro.]
Ele quis dar a ela a chance de defender a si e a seus filhos das acusações da carta, com a segurança total de que a carta não se tornaria púbica. Ela interpretou suas palavras como uma ameaça de que se ela não se submetesse aos seus desejos (o que quer que ela “acreditava” que eles fossem), ele tornaria esta carta um documento público e talvez também recorresse a polícia. Em outras palavras, ela pensou em chantagem; porém conforme verificaremos a ‘medida em que esta história de mau gosto progride, ela pensou em chantagem porque tinha chantagem em mente. Ela, McMurtry e Helen Parsons-Smith já haviam decido se apoderar da Biblioteca Thelemica, com o conhecimento de Wasserman e Weiser e depois usar seu poder sob a biblioteca como uma arma para impelir Motta a reconhecer o fato de que eles tinham direito legitimo à autoridade da O.T.O.
…Ao mesmo tempo, eu gostaria de lhe perguntar como o Grady se apoderou das gravuras originais do Tarô e se os lucros – que sem dúvida devem ter sido poucos de sua edição foram divididos entre outros cabeças de lojas da O.T.O.
nos Estados Unidos e em outros países. Ou talvez você ache que isto não seja de minha conta. Porém, você deve considerar que Weiser está planejando produzir uma edição pessoal das cartas do Tarô…
Ele havia sido informado sobre tudo isto; é realmente irônico que ele venha a “informar” a esposa do homem que estava neste exato momento negociando com Weiser e Wasserman os detalhes de sua pirataria premeditada.
…Se Grady se apoderou das gravuras do Taro de forma desonrosa para a O.T.O. e não dividiu os lucros com, por exemplo a Helen, eu diria que ele e mais alguém deu um exemplo perfeito daquele tipo de “direito” de usar o Selo da O.T.O., o qual eu mencionei no início desta carta; um exemplo que o Weiser deve achar totalmente justificável de seguir, não acha?
Você ainda se questiona porque o Sr. Germer manteve distância de todos vocês? Se Grady, Metzger, Yorke, Regardie, e talvez você tivesse qualquer razão para reclamar do distanciamento de Karl, eles deveriam pisar na porta da casa de Sascha Germer; eles deveriam olhar bem dentro de si mesmos de uma forma mais clara do que a imagem atual que têm de si mesmos. Eu lhe escrevi uma vez dizendo que aqueles que temem o mau criam o mau. E você bem sabe o que o Livro da Lei diz sobre soldados profissionais sem coragem de lutar.
Amor é a lei, amor sob vontade.
Fraternalmente, até que a evidência prove o contrário,
Marcelo
Esta carta produziu resultados assim que foi recebida; Phyllis escreveu uma carta ao Samuel Weiser dizendo que Motta “não era nenhum ‘gentleman’”, recusando que seu nome aparecesse sob qualquer forma em seu proposto Manifesto…
[Na edição do Equinox V 2, então em preparação. Ela temia, é claro, que ele imprimisse as acusações da Sra. Germer, pois ela sabia que seu nome não havia sido mencionado como legítima cabeça de Ioja da O.T.O.]
…Helen Parsons Smith também escreveu a Weiser, ameaçando de indiciá-lo caso seu nome aparecesse…
[Na corte da Califórnia, Helen Parsons-Smith disse que o grande motivo de sua indignação contra Motta havia sido porque ele se dirigia a ela como Srta. Parsons-Smith, ao invés de Sra.!!! Motta fez o seguinte comentário privado a seu advogado: “Se a Helen quer ser uma chorona, deixe que seja.”] …e O de Wasserman, quem, após ter recebido cópias desta carta de Motta, desapareceu imediatamente sem vestígios na vastidão da Califórnia, mesmo que Motta o tivesse dito claramente por telefone que lhe havia enviado uma procuração com amplos poderes (Wasserman não pôde acreditar sua sorte ao ouvir isto!), e que se mantivesse bem próximo de seu supervisor. Cartas e telegramas registrados endereçados a Samuel Weiser, Inc. e a Donald Weiser não obtiveram resposta alguma por parte do “representante” de Motta. Em suas cartas a Wasserman, Motta urgentemente o instruiu de não permitir que McMurtry, Phyllis e Helen se apoderassem da Biblioteca, a não ser que eles fossem capazes de mostrar uma patente da O.T.O. emitida pelo Sr. Karl Johannes Germer.
[Estas cartas foram remetidas por Weiser ao seu cão mais fiel, como se tornou claro no depoimento desses dois indivíduos anos mais tarde durante o processo de Maine; porém Wasserman nem as reconheceu, nem telefonou para Motta, como o havia sido requisitado.]
No dia 9 de julho de 1976 e.v. Grady McMurtry entrou com uma petição junto a Corte Suprema do Condato de Calaveras, Califórnia, para se apoderar da Biblioteca Crowley-Germer, como “devido representante autorizado da O.T.O. nos E.U.A.”…
[O leitor deve se referir ao texto da última carta do Sr. Germer a Grady McMurtry, reproduzida no O.T.O. News.]
…Esta afirmação foi ratificada por Phyllis McMurtry, Helen Parsons-Smith e James Wasserman em sua procuração em nome de Marcelo Ramos Motta do Brasil. Tanto Kenneth Grant como Joseph Metzger não foram mencionados no processo.
No dia 18 de julho, Wasserman escreveu uma carta a Motta lhe informando que a gangue da Califórnia havia obtido posse da Biblioteca Crowley-Germer com sua ajuda.
[De fato, esta foi outra mentira calculada; como investigações posteriores provariam assim como o próprio Wasserman que foi forçado a admitir sob juramento e devido a evidência -, a Biblioteca ainda não estava nas mãos deles, o que teria dado tempo suficiente para Motta ir aos Estados Unidos e parar o processo. O propósito da carta de Wasserman era de descartar esta inconveniente possibilidade ao tentar convencer Motta de que o ato já’ havia sido consumado. A artimanha foi bem-sucedida pois Motta ainda era suficientemente imbecil de acreditar num mentiroso, especialmente um que dizia ser Probacionista da A.’.A.’.]
A carta é característica da aura produzida pelo tipo de falência iniciática que persevera na gangue da Califórnia. A mesma teve como remetente a caixa postal de McMurtry, o que, obviamente, também foi feito de propósito.
a/c PO. Box 2043
Dublin, Cal 94566
18/7/76 E.V.
Care Frater A.’.:
Faze o que tu queres ha’ de ser tudo da Lei.
Eu estou aqui em Dublin, na Califórnia, na casa de McMurtry e feliz em afirmar que conseguimos salvar o resto da Biblioteca de Germer…
[A primeira e maior mentira de todas. Eles ainda não a haviam “salvado”: vários dias se decorreriam antes que eles o pudessem fazer (o que teria dado tempo suficiente para Motta nomear outro representante ou ir a Califórnia ele mesmo, se ele tivesse dinheiro, o que Wasserman sabia que ele não tinha). Porém, Motta tinha outros não traiçoeiros estudantes Americanos. Eles poderiam ter lhe emprestado dinheiro para a viagem, ou oferecido contratar um advogado para ele. A intervenção dele, porém deveria ser evitada a ‘todo custo.]
…Havia muito mais coisa do que eu antecipava encontrar. Me parece que praticamente toda a correspondência do Crowley que havia sido enviada a Nova Iorque após seu falecimento está’, pelo menos em sua grande maioria, intacta.
Também, grande parte das correspondências de Germer estava Iá. Algo totalmente inesperado que encontramos foi um grande número (mais de 25) de quadros do A.C. em excelentes condições. Também, algumas cópias de LIBER AL da edição de 1938 (sic), várias cópias de OLLA, algumas lâminas com o Selo da O.T.O., e outras coisas mais, inclusive uma variedade de livros de ocultismo e de interesse geral. No todo eram quatro armários cheios, com uma média de 15 a 20 caixas…
Esta descrição coincide com a memória que Motta tinha dos conteúdos da Biblioteca, e significava que o primeiro roubo se havia concentrado em coisas menos importantes, porém mais comercializáveis. Percebam a segunda mentira:
…a propriedade não tinha nenhum material Thelemicos, graças à colaboração do Oficial do Condato, O Sr. Gualdoni…
[Lembrem-se Ieitores, que a casa e propriedade dos Germers foi vendida a um parente do tal Gualdoni, indubitavelmente por um preço bem inferior ao valor real da mesma, com o conhecimento e estimulo de McMurtry.]
…e o trabalho detalhado de Grady, Phyllis e Helen…
Exatamente as três pessoas que Motta o havia instruído que não deveriam colocar as mãos neste material, a não ser que fossem capazes de exibir uma permissão do proprietário falecido ou de um dos inventariantes de sua herança!
…o material deve ser liberado sem empecilhos em 26/7/76 (sic)…
Percebam que não há explicação alguma ao fato de que a decisão não era final: a liberação do material é apresentada como uma mera formalidade. Também, nenhum número de telefone é fornecido para que seu instrutor se comunique com ele e nenhuma explicação é dada aos seus trinta dias de silencio; nenhum endereço e’ fornecido para comunicação, com a exceção da caixa postal de McMurtry e nenhum reconhecimento é feito ao recebimento da carta de Motta enviada via Weiser, contendo as instruções. Foi deixado então no ar se Wasserman havia ou não recebido tais materiais.
[Em seu depoimento sob juramento e durante o processo de Maine, Wasserman admitiria haver recebido as cartas de Motta com as instruções, porém que sentiu um “conflito de interesses” e decidiu ir para o lado do grupo de McMurtry. Percebam mais uma vez que ele não deu uma opção, explicação ou orientação qualquer ao seu instrutor. Se Motta lhe houvesse escrito uma carta, teria chegado lá após o“dia da liberação do material”. Se Motta lhe houvesse enviado um telegrama, teria sido recebido na caixa postal de McMurtry.]
…Então Grady estará alugando um caminhão e transportando o material. Que assim seja.
A infestação demoníaca se demonstra na gozação com o uso da Fórmula da Vontade dos Thelemitas.
Em relação à essas pessoas, eu encontrei uma verdadeira comunidade Thelemita…
Em meio de lacaios, trapaceiros, crápulas, ladrões no passado e futuro ladrões. Porém, cada um de nós busca constantemente a companhia deles, ou de seus parentes geneticamente, intelectualmente e moralmente.
…Meus receios se tornaram totalmente infundados…
[Lembrem—se leitores mais uma vez que Weiser e McMurtry já’ negociavam a publicação de materiais Thelêmicos com a “autorização” de McMurtry que em troca McMurtry receberia reconhecimento como “Califa” e representante “legitimo” da O.T.O., Weiser ficando com todos os Iucros. Wasserman não tinha nenhum “medo” dessas pessoas; ele intencionava trair desde o início e considerava a si mesmo e seu chefe sortudos de receberam a procuração de Motta, da qual ele abusou imensamente.
[Mais tarde, em Maine, Motta diria ao seu [advogado que era judeu, em resposta as acusações de Weiser de seu antissemitismo, “É claro que sou antissemita. Por isso dei uma procuração com plenos poderes a um Judeu e contratei outro como meu editor.”][O advogado de Motta respondeu secamente, “E outro como seu advogado.”][Deve—se observar de passagem que se Motta fosse julgar o comportamento de todos os judeus baseado nos de Wasserman e Weiser, ele teria justificativa total de ser “anti-semita”. (Dizem por ai que Motta disse uma vez ao um Judeu Zionista, “Eu não sou anti-semita; os meus melhores amigos são árabes!”) Incidentalmente não foi possível criticar Motta por causa dessa piada, mesmo que Weiser o tivesse tentado. Considerando-se a parcialidade de juízes nestes tipos de tribunal, obviamente nenhuma evidência do suposto ódio aos Judeus de Motta pôde ser provado.
…e minhas expectativas foram superadas. Este é um centro viável de trabalho e dedicação para o trabalho em Nome da Senhor do Aeon (sic)…
Percebam a sintaxe; Wasserman, como editor experiente, teria sido incapaz de reconhecer trabalho em Nome do Senhor do Aeon, assim como de reconhecer um Judeu honesto. Um não pode enxergar além de sua capacidade de visão.
Eu mesmo vi a documentação que o Crowley deu para o Grady e posso lhe assegurar que estes documentos não são para tapear ninguém…
Nenhuma menção foi feita ao fato de que Motta o havia instruído para se assegurar que essas três pessoas possuíssem documentação de Germer. Mais uma vez, Wasserman teria sido incapaz de reconhecer o humor iniciático de Crowley, assim como era incapaz de trabalhar honestamente um dia para um chefe moralmente honesto, por um período de tempo honesto.
Ele estava desequilibrado no seu Buddhi—Manas, mesmo antes de abrir sua aura para as forças demoníacas que infestavam os McMurtrys e através deles, a patética da Helen.
…Ao contrário, eles tinham papel timbrado da O.T.O., assinado por Baphomet X°, que inclua um selo em relevo de Ankh-n-Khonsu (sic)
Percebam de novo a incapacidade que um demônio tem de escrever ou pronunciar corretamente um nome sagrado. O que quer que seja que escrevia sob Wasserman continua escrevendo (e agindo) através dele desde então.
[Este Selo “em relevo” de Ankh-f-n—khonsu estava incidentalmente no anel de cargo do Crowley, que era uma das peças roubadas dos Germers por McMurtry. Ele mais tarde proclamaria ser este o Anel do Mestre do Templo mencionado em LXV v 15-18!] …Não há dúvida de sua autenticidade. Além do mais, eu vi uma carta escrita a Grady transmitindo a Palavra do Equinócio durante um certo ano na década de quarenta, assinada por To Mega Therion 9°=2D A.’.A.’.]
Assim como a haviam recebido todos os conhecidos de Crowley na época, inclusive pessoas sem conexão formal alguma com Thelema. E impossível dizer se Wasserman estava mentindo
conscientemente ou se estava sob a influência da Phyllis, uma Neófita falida. Ele certamente não estava sob a influência de McMurtry; McMurtry nunca teve nenhum poder demoníaco próprio: ele era uma falência mesmo na falência.
Eu estou convencido de que essas pessoas são sinceras e tem trabalhado assiduamente contra obstáculos ininterruptos…
Especialmente os Germers! no sentido de preservar e proteger a integridade da O.T.O. e na propagação (sic) da Lei de Thelema para a humanidade. Juntando o conhecimento que tenho de suas experiências com o que eu tenho ouvido falar aqui, o quadro que se esboça é o de que a obstinação prussiana de Karl e a paranoia traiçoeira de Sascha criou uma situação insuportável na qual se tornou virtualmente impossível salvar a Biblioteca antes desta semana…
[O leitor deve se lembrar que a Biblioteca foi subsequentemente roubada por Phyllis, durante a publicação do Equinox V 2, o que tornou evidente a ela que Motta nunca desistiria por causa de suas chantagens, assim como não desistiu por causa de McMurtry; e que foi “roubada”, sem que houvesse força no lacre, anos mais tarde quando Motta havia iniciado o processo contra Weiser e a possibilidade surgiu de que, se ele vencesse, ele deveria ir a Califórnia e indiciar a gangue de McMurtry por posse do mais precioso legado Thelemico.]
Deve-se observar aqui que Motta nunca havia mencionado o nome do Sr. Germer para Wasserman a não ser como Sr. Germer; ter o nome de seu mestre desrespeitado por um idiota com uma mentalidade imbecil incendiou Motta. Isso indicava mais uma vez o envolvimento de Wasserman com o trio dos iniciados falidos da Califórnia.
O Sr. Germer, após um período de troca de correspondências com Motta insistiu que eles se chamassem mutuamente pelo primeiro nome, porém Motta não o quis. De acordo com ele, “Care Frater” é uma forma bem mais íntima do que chamar alguém pelo seu primeiro nome humano, que nunca e’ escolhido pela própria pessoa, a não ser que ela mude de nome por conta própria! Todos os californianos se dirigiam ao Sr. Germer como “Karl”, e a Sra. Germer como “Sascha”. O Motta sempre preferiu chamar as pessoas pelos seus motos e ser chamado pelo seu. Porém, isto pode ser uma mania de perfeição. Mesmo assim, ter um excremento humano como o Wasserman chamar O Sr. Germer de “Karl” e criticar uma pessoa além dele, da mesma forma que uns Neandertal é’ mais evoluído que um macaco representava para Motta o fim de qualquer relacionamento entre ele e seu “aluno”.
Está claro que a Phyllis não teve nada a ver com o roubo…
[Em seguida, Wasserman (ou qualquer coisa que representasse em sua mente) mudaria seu pensamento. Durante seu depoimento, ele afirmaria que estava convencido de que Phyllis havia roubado a Biblioteca. Porém, quando ladrões escapam de se esperar que nomes sejam mencionados e grandes alardes de moralidade sejam feitos sem qualquer fundamento para o benefício dos ignorantes.]
…pois isto foi imaginação da Sascha, baseado provavelmente no fato da mão da filha de Phyllis lembrar vagamente a famosa e infame líder da Loja Black Magick chamada Jean Brayton, quem você deve conhecer se é que chegou a ler o livro A FAMÍLIA…
[Esta carta teria sido melhor se fosse literalmente ditada pela Phyllis Seckler, ou melhor, por qualquer coisa que estivesse ocupando o corpo dela no momento e que continua a ocupá-lo desde então.]
…Sascha simplesmente viu um par de mãos na frente dela jogando ácido ou gás Lacrimogêneo em seus olhos, cegando—a temporariamente. Você bem sabe do ciúme dela da Phyllis, com quem ela havia cortado contato após a morte de Karl. Incidentalmente toda a informação naquele livro sobre a Loja Solar foi copiosamente pesquisada por Grady para as autoridades municipais, estaduais e federais, e depois transferida a Ed Sanders…
[O leitor sério deve comparar esta afirmação com a de McMurtry sobre o mesmo assunto em sua carta a Motta. McMurtry afirma claramente que ele “investigou” o roubo e entregou toda a evidência encontrada às autoridades municipais, estaduais e federais, que se recusaram a processar. Sob a ameaça de injunção, McMurtry entregou os “arquivos” de sua investigação. Isso foi outro disfarce, com o único propósito de desviar a atenção de Seckler de sua família.][Considerando-se que as autoridades se recusaram a aceitar a evidência de McMurtry contra Jean Brayton seriamente, a versão do roubo de McMurtry foi “transferida” (uma bela palavra) para aquele jornalista sensacionalista de segunda-classe, Ed Sanders, cujo livro está mundos e fundos abaixo do nível do brilhante e genial Helter Skelter (um livro que Motta incidentalmente considera sem ética; um advogado criminalista deveria ter mais direitos de se beneficiar da evidência obtida no curso de seu dever público do que um médico ou um advogado civil tem direito de ganhar dinheiro publicando as enfermidades de seus pacientes ou problemas de seus clientes).][Incidentemente, essa técnica é típica da C.I.A. e do FBI: desconsiderar alguém ao publicar dados totalmente falsos ou erroneamente interpretados. E exatamente a técnica que Ievou a atriz de cinema Americana, Jean Seberg a cometer suicídio; porém o caráter dela parecia ser constituído de um material mais resistente. A Jean Brayton está escondida, como deveria estar, porém, viva e bem, de acordo com as últimas notícias de sua advogada.][Quem sabe os para ‘grafos pertinentes a ‘carta de Robert Duerrenstein (um dos associados íntimos de Jean Brayton) a Motta durante 05 anos da “Loja Solar” deve ser repetido aqui:
“Eu não tenho conhecimento do roubo dos documentos da Sra. Germer. Em 1971 (sic)
quando nós havíamos regressado do México para lutar contra as acusações e mandatos de prisão resultados da disputa da lei do deserto, nós ouvimos falar de novas acusações de que nós (Solar Lodge) havíamos roubado alguns livros. Nós ouvimos falar que os McMurtrys estavam envolvidos em tais acusações. Eu não tenho nem ideia se eram livros, ou papéis secretos ou pepinos que nós supostamente havíamos roubado, mas não soubemos mais nada deste evento, nem outras acusações ou comunicações ocorreram após essa data.
“Em 1964 (sic) Jean e eu perguntamos a Ray…”
[Ray Burlingame, urn ex—membro da extinta Loja Agape, quem Motta conheceu pessoalmente.]
“…se fazia sentido contatarmos a Sasha (eu sei que não é assim que se escreve o nome dela, mas eu nunca o vi escrito) Germer para discutirmos o futuro da O.T.O. Ele indicou que ela não tinha nada que nós necessitássemos em termos de materiais e consciência; ele quis dizer que ela era “negra” e que a deveríamos evitar. Nos O fizemos…
“De fato, nós não tivemos contato com nenhum membro da O.T.O., com exceção dos que mencionei acima.”
A carta do Sr. Duerrenstein é muito longa e privada para ser mencionada integralmente aqui. Em outra parte da mesma ele afirma que Brayton e colegas tinham um processo em andamento contra Ed Sanders durante um tempo, que foi aparentemente paralisado por falta de fundos. Eles pareciam estar sob a impressão de que a informação falsa fornecida a ele veio de um tal de Jerry Kay que havia estado com eles no deserto durante alguns dias. Talvez eles soubessem quem havia dado informação equivocada a Sanders sobre eles. Voltamos agora a obra de arte de Wasserman:
…Dentro das circunstâncias como as eu percebo, nós estamos lidando com uma situação mais favorável; os sentimentos de Grady em relação ao Califado são muito diferentes de qualquer coisa pueril do tipo de estabelecer uma “dinastia pessoais”. Ele enxerga tudo como um Irmão verdadeiro enxergaria, isto é, ele reconhece a intenção de Crowley de estabelecer continuidade através de um cargo legítimo, onde a sucessão da O.T.O. pode ser protegida…
Outro sintoma da possessão demoníaca é que um diz com a maior firmeza exatamente o oposto do que faz, assim como o Ronald Reagan chama os contras Nicaraguenses de “lutadores da liberdade”, dizendo que ele é pela paz, enquanto ele manobra para conseguir o Salt II. As “palavras” e 05 “atos” entram em contradição; a confusão é chamada de ordem, a dispersão é chamada de coesão, 0 crime de virtude e a Loucura é’ chamada razão.
…Além do mais, o Grady vê sua sucessão sendo determinada por conselhos de IX° em reuniões ou eleição em harmonia com a Lei para levar adiante a Vontade da Ordem.
McMurtry sendo o mentiroso, traidor, espião e ladrão que era, era natural que, em uma era onde Nixon e Reagan chegaram à presidência, deveria achar que a O.T.O. deveria funcionar “tão bem” quanto os Estados Unidos da América funcionava como democracia. Entretanto, a intenção é de que a O.T.O. funcione bem melhor e — conforme Motta teve a oportunidade de mencionar uma vez a um estudante americano— “O fato de um ladrão mentiroso trabalhar ou ter trabalhado para o governo Americano não lhe da o direito nem de pertencer a O.T.O., quanto menos de lidera-la.
Seria ridículo se a O.T.O. seguisse o modelo político que colocou uma falência intelectual e moral como O Ronald Reagan numa posição de mandar cem por cento dos eleitores de um país para um holocausto nuclear, quando apenas trinta por cento desse eleitorado foi suficientemente imbecil de votar nele.
De todos os modos, os documentos produzidos pela gangue de McMurtry sob ordem judicial demonstrariam claramente que não existia evidência alguma de que Crowley intencionava que o Cabeça Externa da Ordem fosse eleito, a não ser em circunstâncias excepcionais. Não existe evidência alguma de que ele intencionava colocar o McMurtry acima do Sr. Germer, ou no mesmo nível também não existe a mínima evidência de que ele chegou a contemplar a criação de um cargo para o “Califa” para competir com o escritório do Cabeça Externa. Essas especulações eram invenções do próprio McMurtry.
Os sofismas continuam:
As palavras de Crowley a McMurtry nas cartas do Califado estabelecem em essência que o escritório do Califado é equivalente ao escritório da O.T.O. Isto é evidente, conforme você poderá constatar quando ler as cartas, “Evidente” para o Wasserman e Donald Weiser, ambos zionistas e em contato com o “grande amigo” de Weiser, Oscar Schlag, o grande especialista em guerrilha ideológica. Eles sabiam que poderiam facilmente controlar McMurtry, mas que não poderiam controlar Motta, da mesma forma que os Weisers não puderam controlar O Sr. Germer.
O Motta foi felizardo pelo fato de que McMurtry, como vocês poderão verificar, lhe havia enviado as chamadas “cartas do Califado” juntamente com seu atentado de chantagem e este exemplo perfeito de falta de moral pessoal e profissional de Wasserman; caso contrário Motta Te-la se sentido na obrigação de examinar todos os documentos antes de concluir qual posição deveria tomar e teria que esperar alguns anos antes de fazê-Io. De fato, se Wasserman
conhecesse Motta tão bem como dizia conhecer, ele haveria aconselhado a McMurtry de não enviar as “cartas do Califado” ao brasileiro.
Obviamente eles estavam contando em chantagear Motta com a posse dos arquivos de Germer. O que eles não sabiam é que é impossível chantagear alguém que tenha o mínimo de caráter. E compreensível que eles não tivessem concluído isto: um somente pode enxergar nos outros o que vê em si mesmo.
[Inacreditavelmente, Phyllis Seckler e Helen Parsons-Smith, tendo temporariamente rompido com McMurtry, tentariam mais tarde fazer uma aliança com Motta através de outro atentado de chantagem. Não sendo o governo americano, Motta não está a prestes a fazer negócio com pessoas desonestas.]
…eu reconheci ontem a noite, quando estava sozinho no meu quarto de hotel, com um raio claro de percepção, que Grady é o Cabeça Externa da Ordem…
Se esta afirmação fosse correta, seria um outro sintoma da invasão demoníaca que se apoderava da aura enfraquecida e desprotegida de Wasserman. Porém, parecia ser mais uma outra simples manobra arquitetada por dois judeus safados para fazer o tipo de negócio que lhes daria quantias de dinheiro e maior poder sob TheIema. O fato de que destruiria a O.T.O.
Seria uma outra parcela atraente na barganha, desde que o leitor mais atento perceberá que Donald Weiser detestava Karl Germer.
…Eu não creio que possa haver alguém mais qualificado que ele. Sendo de Libra com ascendente em Aries, ele é a combinação perfeita de equilíbrio, senso de justiça, auto confidência e energia criativa…
Essa é demais! A gente é forçado a concluir que mesmo um judeu safado não podia ser um idiota tão grande; em resumo: Wasserman estava sob um gravíssimo ataque. Ele se tornou desde então, num nível muito mais inferior, e claro, o tipo de coisa que Seckler já era e que McMurtry estava devagar ser tornando. O leitor sério deve ser referir a Seção IV do O.T.O. News.
Seu calor humano e generosidade de caráter são enormes…
Que apelação! Sobre a generosidade de caráter e calor humano de McMurtry, o Ieitor sério deve conciliar por conta própria. Este escritor opinaria que ele era tão caloroso e generoso quanto eram Phyllis Seckler, Donald Weiser, Edwin Meese e Jerry Falwell. Sem mencionar o próprio Grande Comunicador…
…Seu treinamento como cientista político (com Mestrado na área) e seu currículo de soldado de guerra (soldado privado na Segunda Guerra Mundial e na Guerra da Coréia) …
Infelizmente para Wasserman e McMurtry, o Motta vê o envolvimento dos E.U.A. na Coréia da mesma forma que vê seu envolvimento na Nicarágua e no Vietnã”. O Sul da Coréia é hoje em dia um dos países mais opressores e corruptos do mundo; foi formado e mantido por cartéis internacionais trabalhando através do governo americano e da C.I.A., assim como o Chile, as Filipinas o restante das ditaduras militares da África, Ásia, Américas Central e do Sul.
Os disfarces de governo civil, atrás dos quais estes países estão gradativamente se escondendo não parecem enganar a ninguém, a não ser os trinta por cento do eleitorado americano.
…combinados com seus vários anos de experiência em trabalho administrativo tanto nos governos federais e estaduais…
[E difícil compreender como alguém com tantos anos de estudos e com um salário governamental foi incapaz de pagar suas obrigações para com, a Ordem por quarenta anos e ainda devia dinheiro a Ordem quando o Sr. Germer faleceu. E difícil também de entender como ele não deu um tostão para ajudar os Germers nas últimas décadas difíceis de suas atormentadas vidas. Ou, não é difícil de entender quando um tem todos os fatos disponíveis.]
…lhe dão a qualificação necessária para guiar a Ordem dos Monges de Thelema, levantando suas lanças em honra sagrada de Nossa Senhora…
Para completar, misturando as Ordens na carta. Porém, não faz diferença. Me parece, gentil leitor, que se você tem um Mestrado em Ciências Políticas de uma Universidade Americana e se você Trabalhou para o Governo Americano, você tem todas as qualificações necessárias para a Liderança de Thelema. Agora que você o sabe, vá em frente.
Um deve imaginar se O Wasserman estava beliscando em si mesmo ou se já havia enlouquecido completamente.
Tendo estado aqui por três dias e quatro noites, eu vejo os frutos de minha visita. No início eu estava um pouco receoso e desconfiado que algo pudesse funcionar no sentido de haver uma cooperação, especialmente entre você e as senhoras…
Oh, as “senhoras”…vestígios de Franz Hartmann.
…Porém após dois dias com Grady, que veio de Berkeley, o raio de esperança se tornou um Sol glorioso e eu sei que pode funcionar. Talvez seja o Iaço da biblioteca funcionando como um talismã para Thelema…
[Isto vindo de um homem, entendam bem, que estava traindo a procuração que lhe foi dada e fazendo um negócio por trás das costas de Motta; [um homem que mais tarde prestaria falso testemunho em corte em favor de seu empregador. E legal ouvir traidores falando de Thelema! Eles berram muito bem. Nada porém, se compara à carta de McMurtry mais adiante.]
…Foi um grande choque saber que Karl assumiu o cargo de O.H.O. de uma maneira que não se conformava com as diretivas dadas por A.C. para organizar uma eleição dentre membros do conselho do IX°, um ano após sua morte para eleger o novo O.H.O…
O leitor sério deve ser lembrado de Crowley não deixou nenhuma instrução deste tipo.
Este grande quadro de mentiras foi invenção do chefe de McMurtry para desonrar e destruir a O.T.O.; Wasserman estava ciente disto, porém estava tentando passar informação falsa a seu instrutor para prevenir que o mesmo fosse aos E.U.A. suponhando-se que alguém lhe emprestasse dinheiro para que ele o fizesse — ou nomeasse outro representante para lidar com as questões da Califórnia.
…Eu sinto profundamente que lhe disse a verdade nesta carta e imploro que considere tudo seriamente.
O nível de desonra no qual um aspirante pode cair nunca deve surpreender. O leitor deve lembrar que este homem trabalhou como editor para a Samuel Weiser, Inc., e que Donald Weiser havia acabado de publicar nos E.U.A. a pirataria dos rituais da O.T.O. de Francis “King”, numa bem documentada introdução (escrita sob a orientação de Gerald Yorke!) que declarava abertamente que McMurtry não possuía autoridade verdadeira na O.T.O. e que Germer era o sucessor legítimo de Crowley. Se 0 Donald Weiser e James Wasserman tivessem o mínimo de integridade pessoal como editores, ou como seres humanos, ou eles teriam honrado a destruição da pirataria de Francis King ou cortado contato com McMurtry. Ao invés disto, sendo quem eles realmente eram, Donald Weiser continuou a publicar a versão de “King” e ao mesmo tempo editou as cartas de Tarô contendo o endereço de McMurtry e publicou piratarias de materiais Thelemicos nos quais o nome de McMurtry era dado como representante legitimo da O.T.O. Deve também ser Lembrado que, enquanto vivo (ou o que quer que se possa considerar como vivo neste tipo de pessoa), McMurtry cooperou com Weiser e não ligou para as piratarias dele do material da O.T.O., ou ao texto de um livro que, se considerarmos sua verdadeira versão de fatos, representaria uma grande calunia contra ele. O McMurtry de fato não ousava a reclamar direitos da O.T.O. nem desses urubus. Este era então o “Sol da glória” que guiaria uma Ordem Thelemita de acordo com Wasserman.
Após a morte de Karl ocorreu, quase que literalmente, o estado de emergência indicado nas cartas de A.C. para McMurtry e indubitavelmente seu dever claro, era de agir de acordo com a autorização direta de Baphomet X°.
Para seu mérito, ele o fez.
[O leitor deve-se lembrar que McMurtry não ficou sabendo da morte de Karl Germer pelo menos de acordo com seu testemunho em corte por uma década. A evidência disponível indica que ele foi chamado a corte da Califórnia por Seckler que tinha medo que as acusações da Sra. Germer algum dia iriam chamar atenção e o manipulou magicamente na direção de seus desejos, até ele se deixar levar pelos charmes de uma mulher mais jovem. Depois, ela roubou rapidamente a Biblioteca dele e tentou fazer um negócio com Motta, que a recusou. Mas esta questão é para o próximo capítulo dessa história.]
Eu fui solicitado para admissão a O.T.O. e minha iniciação no Grau Minerval ocorrera na terça-feira, dia 27/7. Como você tem sua própria Loja operando no Brasil sozinha e como você indicou a mim e a K.N…
James Daniel Gunther, na época estudante de Motta.
…para trabalhar com a O.T.O. na América…
Isto está equivocado. Motta não havia instruído nenhum dos dois homens em “fazer trabalho da O.T.O.” na América; e se ele tivesse instruído qualquer pessoa para fazê-lo, não teria sido Wasserman, quem ele não confiava completamente. O Cabeça Externa da Ordem não interfere com trabalho em país algum a não ser que seja absolutamente necessário.
Wasserman estava simplesmente tentando arrancar uma afirmação de Motta no assunto que revelaria as reações de Motta à sua traição e suas futuras intenções.
…Eu não vacilo em tomar essa decisão após reconhecer claramente legitimidade desta loja como representante real e atual da O.T.O. na América. Eu também estou considerando que minha vontade deve estar me levando a um curso diferente do que eu havia considerado em minha última carta a você. Diferente, pelo menos no momento. Existe uma biblioteca enorme com várias correspondências necessitando ser catalogadas, indexadas e preservadas…
[No entanto, após entregar a biblioteca nas mãos das pessoas quem Motta o havia desaconselhado, ele teve a desagradável surpresa que Motta já lhe havia prevenido seria inevitável: Phyllis recusou tanto a ele como a McMurtry acesso à Biblioteca e lhe escreveu dizendo que décadas passariam antes que ela deixasse que ele ou o Motta, ou o J.D. Gunther tivessem acesso ao material.]
…Helen se responsabilizou por esta função…
[Através da evidência disponível nos dois processos, o trabalho de Helen neste quesito consistia em selecionar as primeiras edições de valor para serem vendidas por ela e Phyllis. Elas embolsaram o dinheiro para elas mesmas.]
…e eu ofereci minha ajuda…
[Que foi rudemente recusada; porém somente após a Biblioteca estar seguramente debaixo das garras de Phyllis. McMurtry mais uma vez fez honra a seu moto, isto é, o Tolo do Casamento.]
…As pessoas aqui estão todas de acordo com suas ideias sobre a Biblioteca…
[Totalmente falso; mas é difícil dizer se ele realmente acreditava nisso. É bem possível que não; mas ele não havia calculado que ele mesmo estaria incluído na lista de pessoas que não teriam acesso a Biblioteca]
…Mas muito ainda há de ser feito e Grady e McMurtry estão atolados em trabalhos da Ordem. Helen disse que se for minha Vontade, ela não me recusara. Eu estou pensando no caso.
Conforme eu vejo a situação, um voto de confiança foi recebido e este voto responsabiliza a nos unirmos para levarmos adiante este trabalho. A natureza tênue e crítica deste momento da história de Thelema foi selada com a recuperação da Biblioteca dos perigos em que a mesma havia sido relegada, caso tivesse caído na falta de confiança e cooperação entre Thelemitas e a impossibilidade de deixar de lado ranços pessoais em nome de uma causa maior. Talvez armado da percepção dos erros do passado, um novo futuro poderá ser construído. Se for necessário, podemos sempre nos lembrar do que já foi perdido.
Em nome da Grande Obra.
Amor é a lei, amor sob vontade.
Fraternalmente,
L.
Assinado com as iniciais de seu moto de Probacionista. O último parágrafo, se o leitor não pode perceber através da sintaxe e do estilo túrgido apropriado do tipo de companhia que ele andava, pareceria até nobre, não é mesmo?
Se esta carta houvesse sido enviada na data em que foi escrita, haveria o pequeno risco de que ela chegaria as mãos de Motta (quem no momento estava totalmente sem contato com o Wasserman) antes que a Biblioteca de Germer fosse colocada nas garras daqueles “trabalhadores de Thelema” americanos. Por esta razão, a carta de Wasserman foi arquivada e somente foi enviada mais tarde juntamente com a carta de McMurtry no dia 21 do mesmo mês. As duas cartas, enviadas via aérea, só chegaram as mãos de Motta (como haviam calculados os crápulas) após o representante de Condato Gualdoni ter entregue a biblioteca para eles. (É importante lembrar ao leitor que foi um parente desse Gualdoni quem comprou a casa da Sra. Germer por uma quantia nunca desvelada a Motta)
Abaixo segue o texto da resposta de Motta a carta de Wasserman:
26 de julho de 1976 e.v.
Sr. James Wasserman
C/o Hollywood Downtowner Motel
5601 Hollywood Blvd.
Los Angeles, Cal.
Prezado Sr. Wasserman:
Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.
Pelo que vejo, você foi completamente enganado pelos Srs. Grady e Companhia, a não ser que você tenha cooperado conscientemente no roubo perpetrado por eles. Você afirma que Grady tem a Biblioteca; isto quer dizer que enquanto você me falava sobre sua impressão e sentimentos sobre a “boa vontade” da Sra. Smith de “deixar comigo a Biblioteca” ela estava se assegurando que “as gentis autoridades locais” que “não são nossas marionetes” lhe mantivessem por fora e enquanto isso ajudassem tal grupo a completar o que se chama de “posse”, que você belamente me informou ser dois terços da lei…
Isto se refere a uma carta anterior de Wasserman onde ele descreve, de maneira sinistra, o estado pavoroso de decadência em que se encontrava a casa onde a Sra. Germer havia passado os últimos anos miseráveis de sua vida. Esta carta havia sido remetida do endereço acima indicado. Motta lhe enviou duas cópias desta carta: uma aos cuidados de Samuel Weiser, Inc. e outra ao endereço do motel que era o único que ele tinha para Wasserman além da caixa postal de McMurtry. A carta do motel foi devolvida com o selo: remetente desconhecido.
…Sua lei, talvez, mas eu vivo sob uma lei diferente, meu senhor.
Você perceberá que eu não me refiro a você como Frater. Eu não quero nunca mais me comunicar diretamente com você. Esta é a última carta que lhe escrevo. Você deve informar Frater K.N. do conteúdo desta carta e você
cumprirá seus deveres finais como meu representante através da Procuração que lhe enviei e copiará todo o material da Biblioteca Thelêmica…
[Naturalmente, como Motta havia previsto, Wasserman não pode fazer isto, suponhando-se que ele realmente o houvesse tentado.]
…As cópias devem ser entregues aos cuidados de K.N. Se ele o aceitara ou não como Probacionista, depende dele…
James Daniel Gunther admitiu Wasserman como Probacionista por um tempo e cortou contato com ele quando Wasserman persistiu em vender livros da Biblioteca Germer para Helen Parsons-Smith e Phyllis Seckler. Wasserman não retornou sua procuração a Motta até quando ele ficou sabendo que Motta havia dado uma procuração a Gunther revogando a anterior. Gunther, no entanto, também não obteve acesso a Biblioteca por causa de Seckler e Parsons-Smith. Eu não posso lidar com idiotas e quando você ousa a criticar a Sra. Germer comigo, seu verme humano, você se coloca além de meus limites de tolerância!
Você informara a Grady McMurtry, Phyllis Wade e Helen Parsons-Smith que eu não aceito ou reconheço que eles tenham qualquer coisa a ver com o movimento da O.T.O. que o Crowley passou para o Sr. Germer antes de sua morte e que o Sr. Germer passou para mim antes de sua morte.
Você também informará ao Sr. Weiser que eu não tenho mais intenção alguma de ter qualquer material meu publicado sob sua égide. Os motivos de minha decisão são relacionados a maneira miserável pela qual a Sra. Germer morreu; e segundo ele persiste em piratear materiais dos quais ele não tem direito algum. Eu não lido com ladrões, mesmo que sejam estes “legalizados”.
Você me diz que a Sra. Germer era louca. Eu gostaria de lhe lembrar que quando ela estava viva eu lhe aconselhei a ir falar com ela e per razões próprias suas e de seu chefe você evitou de fazê-lo. Eu não vejo por que motivos você a chama de louca, a não ser que seja pela conveniência daqueles que lucraram com sua morte. Você diz que até a polícia achou que ela fosse louca. Como alguém que tem sido tido como louco e que tem sido louco, eu posso apenas afirmar que eu conhecia a Sra. Germer pessoalmente. Ela não era minha amiga, mas eu a respeitava. Ela era uma mulher muito mais nobre, com todos seus defeitos, do que Helen Parsons-Smith ou Phyllis “McMurtry” ou Grady McMurtry ou você tem sido em todas suas vidas.
Você tem uma procuração minha. Você tem instruções suficientes para seguir, ou o que falta a ser seguido, em minha carta enviada a você aos cuidados de seu chefe, Sr. Weiser. Cumpra seus deveres ou não. Não me escreva mais diretamente. Deixe que K.N. me informe de sua decisão, se é que você é capaz de chegar a uma decisão, pelo menos uma que demonstre caráter moral (também conhecido como coragem), o que eu estou começando a duvidar.
De qualquer forma, eu repito, eu nunca mais o quero contatar diretamente.
Amor é a lei, amor sob vontade.
Sinceramente,
M.R. Motta
No mesmo dia, Motta escreveu a seguinte carta a Donald Weiser:
Prezado Sr. Weiser:
Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.
Anexo a esta segue uma carta ao Sr. James Wasserman que é elucidativa por si mesma, a qual eu peço-lhe que por favor o entregue caso ele não receba a outra que o enviei para o seu endereço no hotel em Los Angeles.
Eu gostaria de retirar nesta que estou terminando quaisquer relacionamentos futuros com você como editor. Se você quer aplicar isto ao Equinox V2, faça-o com prazer, porém você estará burlando os direitos a lucro que acredito me pertencem.
Minhas razões para cortar relações com você são duas: Primeiro, eu não considero como meu editor, você defendeu habilmente meus direitos, interesses financeiros e outras questões em West Point, Califórnia.
Segundo, eu detesto o fato que você lucrou com piratarias de edições Crowleyanas enquanto a Sra. Germer lentamente morria desnutrida na Califórnia.
Eu também gostaria de lhe chamar atenção para fato de que me disseram que James Wessarman intenciona publicar materiais do Equinox V2(CRITICISMO LITERÁRIO) e que tal material ainda não chegou em minhas mãos para veta-lo.
Isto representa uma violação de meus direitos de acordo com nosso contrato, o qual espero que seja corrigido.
Eu também gostaria de saber se a omissão no MANIFESTO DA O.T.O. mencionando os nomes de Parsons-Smith e McCurtry como representantes legítimos da O.T.O.
…foi cumprida de acordo com as instruções de minha ultima carta a James Wasserman, aos seus cuidados. Se isto ainda não foi feito, por favor faça-o e encontre alguém que o possa representar em suas transações comigo que tenham a ver com o Sr. Wasserman. De qualquer forma, eu compreendo que ele estará saindo de seu emprego com vocês.
Amor é a lei, amor sob vontade.
Sinceramente,
M.R. Motta
[A ficção sobre o Wasserman sair do emprego do Weiser era enganação deles para tentar confundir a questão. Depoimentos posteriores em corte provariam que eles estavam em contato íntimo, pretendendo ao contrário.]
No dia 21 de julho, Grady McMurtry escreveu a Motta a única carta que Motta recebeu dele.
Segue abaixo o texto dessa obra-de-arte:
Triplamente Iluminado, Triplamente Ilustre e Muito Caro Irmão:
Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.
Você ficará contente em saber que um fim foi dado a confusão concernente à Biblioteca e trabalhos literários do Crowley…
O leitor poderá perceber que não existe menção alguma de que não era a “Biblioteca do Aleister Crowley”, mas a de Karl Johannes Germer e Sascha Germer que tais Iadrões estavam tentando se apoderar.
…após um Iongo e tenebroso inverno. Semana passada, Phyllis, Helen P. Smith e eu fomos a San Andreas, a região no Condato de Calaveras e o material armazenado que havia até então sido recuperado da casa da Sra. Germer em West Point nos foi mostrado. Na Quinta-feira, Helen, Phyllis e James Wasserman foram a West Point e ajudaram o guarda do Condato a remover os espólios da biblioteca para o armazém do condato…
Esta foi a primeira notícia que Motta havia recebido de James Wasserman após dois meses em suspense. O leitor deve se lembrar que a carta de Wasserman do dia 18 foi enviada a Motta juntamente com essa carta de McMurtry.
[Wasserman admitiria em seu depoimento anos depois que ele havia recebido as cartas de Motta pedindo-lhe para não permitir que McMurtry, Phyllis e Helen tivessem qualquer coisa a ver com a herança de Germer a não ser que eles pudessem mostrar patentes pertinentes a O.T.O., mas que ele mesmo sentiu um “conflito de interesses” e decidiu optar por McMurtry.
Ele não mencionou, porém, o fato de que Weiser estava fazendo um negócio fraudulento com McMurtry com as cartas do Tarô. Também, ele não fez menção ao fato de que se ele tivesse sentido um “conflito de interesses”, teria sido sua obrigação de informar Motta imediatamente que ele não o poderia representar e dar a Motta a oportunidade de encontrar um outro agente ou de ir aos E.U.A. e representar a si mesmo. Ao invés, ele forneceu informações equivocadas a Motta em sua carta e a enviou juntamente com esta carta de McMurtry. Em tal carta, ele diz que a propriedade de Germer já havia sido entregue a McMurtry; e procedeu em usar a procuração dada a ele por Motta para convencer o Juiz do caso que Motta concordava que tal material deveria ser entregue as três pessoas quem Motta já suspeitava desde o início – e tal suspeita foi mais tarde confirmada em corte — não tinham autorização alguma da Sra. Germer de representar a O.T.O. em nenhuma capacidade.]
No Sábado, Phyllis, James Wasserman e eu fomos a casa em West Point e fizemos uma busca detalhada, usando lanternas para procurar em cantos escondidos por qualquer item deixado pra trás…
Eles deveriam ter levado a Stela com eles.
Eu então fiz o Ritual Thelêmico de Banimento…
Parece até um “padre” Católico Romano rezando a Missa!
…no centro do tapete onde estava a Biblioteca, e depois removemos o tapete que era para ser limpado e usado no local onde futuramente colocaremos o material da biblioteca de Aleister Crowley…
Mais uma vez, a biblioteca de Aleister Crowley…O tapete, a casa, os livros, as fotos, os arquivos, os armários de arquivos, tudo pertencia aos Germers. As poucas coisas que eram do Crowley, haviam sido enviadas aos Germers de acordo com as instruções verbais de Crowley antes de sua morte. Isto havia sido feito por John Symonds (sem dúvida com muita relutância), juntamente com Louis Wilkinson e Lady Frieda Harris, vigiando sob sua pele de ladrão.
…Um período de espera foi decretado enquanto os processos administrativos estejam em andamento (com a lentidão característica dos mesmos), ate’ que no final possamos ter em nosso poder estes trabalhos literários…
Esta foi a única dica dada ao Motta que a situação ainda não havia sido completamente resolvida. A imprecisão era proposital. O Motta não compreendia a situação, não estando familiarizado com tais procedimentos; e a carta de Wasserman auxiliou para que ele não tivesse sido informado em tempo para lutar por seus direitos.
…Suponhando-se que um final favorável seja dado aos mesmos, isto significara’ o final de uma prolongada e dolorosa luta para trazer ordem a todo o caos…
[Somente após nove anos Motta descobriria que tipo de “prolongada e dolorosa luta” McMurtry realmente estava envolvido. Suas atividades haviam surtido o efeito exatamente oposto e com a intenção exatamente contrária do que ele havia proposto, assim como um discurso de Reagan, Nixon ou Kennedy. Consultem a última carta escrita a ele pelo Sr. Germer no O.T.O. News.]
…Em 1969 (sic) eu trabalhava para o Governo Federal em Washington, D. C., quando Phyllis me escreveu sobre o roubo da Biblioteca e da Sra. Germer por pessoas desconhecidas. Como Aleister Crowley me havia apontado em 1954 (sic) em Hastings como Grande Inspetor Geral da Ordem…
[É claro que Crowley não havia feito nada do tipo; mas Motta não saberia disso por outros seis anos.]
…, na época eu tomei como minha responsabilidade de regressar a Califórnia e encontrar as pessoas que cometeram tal ato detestável. Mesmo que eu tenha sido capaz de resolver o mistério e identificar além dos limites os responsáveis…
[Isso era outra mentira descarada. De acordo com depoimentos e documentos apresentados posteriormente, ficou claro que tal “investigação” havia sido meramente um disfarce em favor de Phyllis e de seus filhos. Nenhuma investigação séria do roubo foi conduzida, tanto pela polícia quanto por ele. A culpa foi conveniente jogada em cima de Jean Brayton e sua turma, que não podiam se defender já’ estando sendo processados pela lei em outras questões. Como o leitor deve se lembrar, em uma carta escrita a Motta anos mais tarde por Robert Durrenstein que havia sido um dos maiores colaboradores de Brayton, ele categoricamente negou que a “Loja Solar” tivesse qualquer envolvimento no roubo de Germer. Na época em que o roubo aconteceu, a turma de Brayton ja estava cansada de ser perturbada pela polícia. Alguns já haviam sido presos e o resto estava sob vigilância policial máxima. A verdadeira história de Jean Brayton e a “Loja Solar” ainda não foi contada e a verdadeira história das manipulações da O.T.O. de McMurtry está sendo contada agora pela primeira vez.]
…e me informou tudo sobre os vários órgãos de polícia envolvidos, desde o Procurador de Distrito, Xerife do Condato de Calaveras e de Riverside ao F.B.I., e como os mesmos se negaram a mover o caso…
[Mas é claro! Ou eles estavam a par do fato de que McMurtry era um agente de serviços de inteligência e estava disfarçando um crime por “razões envolvendo a Segurança Nacional”, como Hoover o teria dito, ou a evidência apresentada pelo mesmo sobre a “Solar Lodge” era totalmente inconvincente. Você pode escolher. Os documentos apresentados por ele durante o processo de corte referentes a sua “investigação”, pareciam ser totalmente inconvincentes para Motta; mas considerando-se que Motta é suspeito de parcialidade, o leitor deve então chegar as suas próprias conclusões. Copias de tais documentos podem ser fornecidas aos que requisitarem e pagarem pelas mesmas, é claro.]
…Como você deve imaginar, isso foi extremamente frustrante, especialmente que eu e Phyllis estavamos nos sujeitando ao mesmo risco físico que havia sucumbido a Sra. Germer e outros…
Esta sua referência a Phyllis e seu heroísmo e dedicação não arrancou lágrimas dos olhos de Motta.
…Eu creio que você tenha lido o Capítulo 10, A Loja Solar da O.T.O., do livro de Ed Sanders, THE FAMILY…
Motta não havia comprado o livro, mas uma cópia o havia sido enviada e ele havia lido este produto da imprensa sensacionalista. O lier não o convenceu de que, pelo fato de Jean Brayton não ser a rosa mais doce da terra, Phyllis Seckler – Wade McMurtry o era. De fato, não importa se Brayton tivesse um cheiro ruim (e Motta agora estando ciente de campanhas de difamação, duvida que ela realmente fedia), o seu cheiro ainda era o de Jasmim comparado com o de Ed Sanders.
…Eu posso jurar pelos fatos deste relatório, apesar do estilo da escrita…
[Mais uma vez, outra mentira torta. McMurtry nunca havia sido um homem muito inteligente ou moral e nestas alturas do campeonato suas faculdades já estavam em decadência como consequência de suas persistentes falências em Ordálias. Se ele podia jurar pelos “fatos”, porque então o F.B.I. e a polícia não deram andamento ao caso? Porque o Procurador do Distrito não processou a mulher que já estava sendo processada por outros crimes e sujeita a ataques deliberados pelo F.B.I. e pela polícia? O fato é que ele estava fornecendo informações equivocadas a Motta para servir seus próprios propósitos. Nessas alturas, o quarteto herético já estava convencido da ingenuidade de Motta, que inicialmente aparentava ser tão excessiva que eles assumiram ser propositais. Porém, eles haviam subestimado sua inteligência pelo simples fato de que um ladrão é incapaz de compreender a honestidade; ele sempre a compara com a estupidez.]
…De todos modos, foi durante o processo da minha investigação da gangue de Brayton que a possibilidade de publicar as cartas do tarô de Thoth surgiu…
Uma forma elegante de dizer que na época ele estava tentando disfarçar a Phyllis e roubar a O.T.O. também.
…Em 1943 (sic) eu dei 50 Libras. ($200 do’lares) ao A.C., pois na época ele necessitava enviar a ordem imediatamente aos editores do LIVRO DE THOTH. Eu nunca recebi esse dinheiro de volta, mas ele me deu um recibo, datado de
dezembro de 43 e.v., dizendo que esta quantia de dinheiro era para ser retornada a mim “pelo Grande Tesoureiro Geral da O.T.O.”, quem quer e onde quer que ele/ela esteja. Ele também me deu um recibo datado de 11 de abril de 45 e.v., nomeando-me como proprietário de 25% dos direitos de “Aleister Crowley Explains Everything” (ou “Magick Without Tears”) com prioridade de lucros sob o mesmo” …
Será que o McMurtry teria imaginado que a soma destas quantias, recibos e arranjos financeiros causaria em Motta uma repelia e ódio enorme ao “discípulo” que havia engabelado, chorado e reclamado ao seu Mestre à beira da morte por causa de duzentos dólares, enquanto outros (incluindo Motta) haviam doado milhares de dólares sem pedir nada em retorno?
[Anos mais tarde, quando a gangue de McMurtry foi compelida por uma ordem judicial de apresentar suas correspondências com o Sr. Germer, se tornou claro que a dívida de Crowley com o McMurtry havia sido paga pelo Sr. Germer; que McMurtry (assim como Phyllis e Helen) não haviam pago mensalidades a O.T.O. durante anos; e que McMurtry havia pedido dinheiro emprestado ao Sr. Germer enquanto criava intrigas contra ele e nunca havia quitado de vez tal dívida.]
“…Ele terá prioridade sob quaisquer cópias não vendidas de “The Book of Toth” como colateral para quantias adiantadas a Ordem”. Isto já’ basta para contar histórias antigas e atuais.
[De fato, deveria ter sido vergonhoso para ele (supondo-se que a memória seletiva de tais “discípulos” lembrasse desse tipo de coisa) discutir o assunto mais a fundo ao mencionar que ele havia recebido do Sr. Germer cinquenta das duzentas cópias da edição de “The Book of Toth” e as havia vendido tão barato que o preço do mesmo hoje em dia quando se pode encontrar uma cópia é duzentos dólares.]
O leitor perceberá que nenhuma menção é feita a direitos autorais, ou patentes, ou permissões de publicar por parte do Cabeça Externa da Ordem, quem, através da Constituição e o único encarregado da propriedade da Ordem, incluindo os direitos autorais de Crowley. Mas a comedia está apenas começando; vamos mais adiante:
…em seu “O.T.O. Manifesto” publicado em OS COMENTÁRIOS DE AL você afirma que o Grau XI° automaticamente mantém o indivíduo aquém de qualquer cargo na hierarquia inferior da Ordem, incluindo aquele do/a Cabeça Externa”.
Eu creio que esta sua posição nos proporciona os meios pelos quais podemos resolver quaisquer desentendimentos que possam ter surgido de maneira inaderente como resultado da falta de diálogo. Também nos economizara o processo doloroso de escandalizar publicamente fatores internos da Ordem que
são melhores mantidos em sigilo…
Motta era muito inocente para perceber que isto era um disfarce sutil de uma ameaça de chantagem. O McMurtry estava se referindo aqui as correspondências de Motta com o Sr. Germer. Anos mais tarde Phyllis escreveria a um dos colegas de Motta: …”certas medidas estão sendo tomadas aqui que não agradariam muito ao Motta”, com grande insatisfação emanando de cada palavra. Motta pensava o tempo todo que McMurtry simplesmente estava se referindo a falsas reivindicações de liderança na O.T.O., intrigas púnicas que certamente contribuiriam para o detrimento da Ordem.
A seguir outra mentira, mas talvez sem intenção, por ser um outro sintoma do tipo de degeneração produzida pela falência nas Ordálias, onde a pessoa é capaz de pensar objetivamente ou por um método científico, selecionando a evidencia e interpretando os fatos de acordo com sua própria teoria ou da maneira pela qual ele/a acha que as coisas devem ser para beneficiar seu ego.
…Talvez você não esteja ciente que as instruções de A.C. dadas a Germer eram de que ele, Germer, deveria convocar um Conselho Geral da Ordem dentro de um ano e um dia após a morte de Crowley e que eles deveriam eleger um novo/a Cabeça. (veja anexo datado de fevereiro de 1948 (sic)…
Esta referência foi feita a uma carta escrita a ele pelo Sr. Germer a qual ele sempre cópia como parte de sua reivindicação de que O Sr. Germer não havia sido nomeado o O.H.O. pelo Crowley e que tal Cargo tinha que ser eleito. Sua alegação de que Crowley havia instruído O Sr. Germer a proceder assim foi, como já mencionamos anteriormente, uma mentira intencional ou sem intenção. A iniciativa de convocar um Conselho Geral foi sugestão do próprio Sr. Germer e a iniciativa não era somente de eleger o/a O.H.O. mas também de registrar a O.T.O. legalmente. As frases em ênfase na carta do Sr. Germer foram incidentalmente tiradas de um documento secreto que não tinha nada a ver com a O.T.O., mas que lidava com um outro tipo de organização totalmente diferente.
…O Karl desobedeceu…
Ouvir uma pústula como o McMurtry chamando O Sr. Germer pelo seu primeiro nome irritou Motta profundamente; e depois uma outra pústula, Wasserman, que nem havia conhecido o homem, fazer a mesma coisa fez com que Motta perdesse completamente sua paciência, como o leitor poderá observar.
…as instruções de Crowley e não o fez, simplesmente anunciando um ano e um dia após a morte de Crowley que _ele era 0 O.H.O. A falência de Karl de seguir as instruções de Baphomet quer dizer que ele, Germer nunca foi de fato o Cabeça Externa da Ordem e sendo assim quaisquer patentes ou cargos que ele tenha expedido, inclusive a sua…
Esta era a questão integra: Motta era a única pessoa que havia recebido uma patente de Germer, ou pelo menos a única pessoa a quem Germer intencionava dar uma patente (veja no O.T.O. News) baseando-se em suas amargas experiências com McMurtry, Grant e Metzger.
…estão tecnicamente invalidados. Eu pessoalmente me prontifico a não tocar no assunto para mantê-lo dentro dos limites da Ordem…
Ou então, em outras palavras, “coce minhas costas e eu coçarei as suas”. Esta mensagem, ou a própria gramática, se tornará gradativamente mais clara.
…Caso você ache necessário fazer público sua reivindicação que eu renuncie ao Califado, no entanto, isto ficaria imprimido para o deleito de nossos inimigos e o detrimento do legado de Aleister Crowley…
Quem na época, sem o conhecimento de Motta e com o auxílio de Wasserman e Weiser, ele estava no processo de defraudar.
[Motta foi incapaz de saber se McMurtry recebera os lucros provindos da edição deturpada e censurada de Frances “Israel” Regardie de Magick Without Tears. Na época ele havia insistido com seus advogados para que a questão fosse pressionada, porém não foi.]
…Também haviam outras coisas de natureza questionável que viriam a tona, como por exemplo, a maneira exata pela qual as cinzas de A.C. foram dissipadas em Hampton, NJ…
Leitores desta série devem se lembrar que McMurtry queria estas cinzas, sem dúvida alguma para que futuramente pudesse cobrar ingressos na localidade sagrada onde ele as colocaria. O Sr. Germer havia enterrado as cinzas perto de uma árvore em sua propriedade em Hampton. Considerando-se que haviam muitas árvores lá e que ele nunca disse a McMurtry sob qual árvore estavam enterradas as cinzas, McMurtry foi incapaz de recuperar esta potencial fonte de renda e ficou por consequência, nervosíssimo.
[Na época em que ele lhe escreveu sobre isso Motta não podia entender de que se tratava tudo. Motta chegou a se sentar uma vez para conversar com O Sr. Germer debaixo da tal árvore, mas somente ficou sabendo do fato mais tarde. O Sr. Germer nunca lhe havia dito que as cinzas de Crowley estavam enterradas lá.]
…e a estranheza do comportamento de Sascha que fez com que o Xerife do Condato de Calaveras a parasse sua investigação sobre o assalto da casa e da biblioteca, mas eu prefiro evitar um ato extremo e espero que você concorde comigo que tal tipo de publicidade só pode ser um detrimento à Ordem…
Ou, em outras palavras, “Se você me questiona por que eu me chamo de Califa, eu questionarei a sanidade de Sascha Germer.” Considerando-se que havia sido a Sra. Germer que escreveu a Motta que ele era o “Seguidor”, isto iria naturalmente fazer com que Motta pensasse duas vezes antes de denunciar McMurtry como impostor.
Nenhum deles porém conhecia Motta tão bem como o Sr. Germer.
…Para resolver a dificuldade levantada acima, eu proponho que você me escreva uma carta pessoal, a ser reproduzida nas próximas edições de LIBER LXV…
Esta era a edição planejada de Weiser do Equinox V2.A falta de informação de McMurtry e Wasserman sobre o caráter de Motta era patética. Como eles poderiam pensar que Motta continuaria a se associar com uma editora que havia não somente falhado em apoiar um escritor contratado, mas que também conspirava no sentido de trapaceá-lo? A resposta é: eles julgaram Motta baseados em si mesmos.
…, dizendo que você renuncia todos os direitos de se tornar O.H.O. da O.T.O. baseado no fato de que você assumiu o Grau XI° da O.T.O. Você também deve se abster de publicar manifestos futuros concernentes a O.T.O., desde que a O.T.O. e a A.’.A.’. são organizações totalmente separadas…
Isto era uma macaquice: ele estava imitando Motta aqui; McMurtry era totalmente incapaz de entender o porquê e como a A.’.A.’. e a O.T.O. são organizações separadas… e que uma não fala nem comanda a outra (veja o xerox de “From Letter from 666, Sept 16, 1946″ assinada por Saturnus, em anexo…
É cômico (para uma mente sana, obviamente) que ele procurou apoio para sua posição nas próprias palavras do homem quem ele passou anos tentando subestimar e cuja reputação ele estava tentando destruir.
…Também, como XI°, você se retirou de suas responsabilidades administrativas para com a O.T.O. Do meu lado, eu prometo lhe enviar, assim que receber, xerox dos seguintes documentos:
1.As cartas do Califado (onde você perceberá que A.C. não estava “de gozação”, mas que estava seriamente envolvido. Em uma delas ele diz que “Um dos (primeiros) comandos dados a mim foi o seguinte: “Não confie em estranhos: não deixe um herdeiro sem receber”.)
[Mais uma mentira, dessa vez descarada: ele estava parafraseando fora de contexto. Estas cartas eventualmente foram apresentadas mediante ordem judicial. A frase de Crowley se refere diretamente aos Rituais da O.T.O. e a um segredo que foi comunicado a McMurtry mas que o mesmo foi incapaz de colocar em prática. A passagem em questão foi apresentada em corte pela pirataria americana de Donald Weiser e McMurtry foi forçado a admitir, para sua própria vergonha, que as palavras de Crowley para ele em sua carta eram parte de um Ritual de um dos Graus da O.T.O., e que a referência de Crowley não implicava que ele era herdeiro literário ou hierárquico de Crowley.
2.Uma seleção de meus arquivos de correspondência de vários estatutos de lei de agências sobre Brayton (uma seleção apenas pois as cartas são repetitivas).
[Isso também foi eventualmente apresentado sob ordem judicial e conforme dito anteriormente, sua “evidência” de acusação era tão frívola, que nenhuma ação foi movida contra Jean Brayton e seu pessoal. O único propósito de tal correspondência era de desviar atenção de PhyIIis Seckler (na época sua esposa) e Companhia.]
3.Dois recibos de A.C. de quantias adiantadas para a Ordem…
Mais uma vez, causando uma revolta em Motta. Essas tais “quantias” eram a célebre fortuna de cinquenta libras, tão cheias de pompa e circunstância.
4.Carta de A.C. dando-lhe um número e nome mágico.
[“O Tolo do Casamento”, a brincadeira que Crowley havia comunicado em privado a Gerald Yorke e Karl Germer e que os dois haviam mais tarde mencionado a Motta.
[Deve ser lembrado que Crowley nunca sugeriu nomes mágicos nem aos melhores de seus estudantes. Ele não o tinha que fazer.]
- Contrato de publicação de Liewellyn relacionado as cartas de Tarô de Toth.
Mas não seu contrato com Weiser…Liewellyn havia pago a McMurtry quinhentos dólares pela vergonhosa “permissão” de imprimir e lucrar milhares de dólares com a venda. Weiser, como já havíamos mencionado, lucrou duzentos mil dólares com sua venda. Pelo que sabemos, a única compensação que a O.T.O. recebeu pelas duas piratarias foi a publicação do nome e endereço de McMurtry na capa do Tarô como “Califa da O.T.O.”.
- Vários outros documentos e cartas que parecem esclarecer a questão.
Tais “documentos e cartas” mencionados aqui foram eventualmente apresentados por ordem judicial e 05 mesmos não esclareceriam a questão. Eles mostrariam, entretanto, que McMurtry não somente não tinha patente para representar a O.T.O. mas também que espionava seus irmãos para o governo americano, informando ao mesmo; que havia causado intriga contra o Sr. Germer e tentado subestimar sua autoridade; que nunca havia pago mensalidades; e que ainda devia dinheiro a Ordem.
Mas Motta não necessitava de documentos para apoiar o “valor” de McMurtry. Sua falta de valor estava suficientemente clara em sua carta. Como prova de boa intenção de minha parte, envio em anexo cópias de meus documentos de autorização (previamente publicados em meu artigo GNOSTIC NEWS em outubro de 74 (sic)) de A.C. como seu representante pessoal nos E.U.A. para [me] “responsabilizar por todo trabalho da Ordem na Califórnia.”
Sujeito à aprovação de Karl Germer; mas isto ele convenientemente se absteve de mencionar. Ele também se esqueceu de mencionar que a aprovação necessária nunca foi obtida e porquê.
James Wasserman me disse que a Documentação e Constituição da Ordem de Thelema não podem ser vistas a não ser por um membro da A.’.A.’. que tenha atingido o grau de Zelator. Quando o James Wasserman perguntou meu grau, eu recusei responde-lo diretamente, optando por obedecer a injunção de A.C. (veja xerox anexo) de que, “Em teoria, um/a membro/a só conhece seu superior que o/a introduziu, e outra pessoa quem ele/a venha a introduzir ele/a mesmo/a.” Sou eu quem leva ao pé da letra as palavras de TO MEGA THERION e se foi isso que ele disse, eu não devo discutir minha posição vis a vis na A.’.A.’.
Ah, Ah, ah, que comédia. De fato, a citação não foi dirigida a McMurtry, mas sim ao Sr. Germer e faz parte da carta do Sr. Germer a McMurtry que o postula frequentemente apresentaria como evidência que o Sr. Germer deveria ter convocado eleições “democráticas” para a posição de O.H.O. Qualquer pessoa pode ser eleita a presidência, até o próprio Ronald Reagan através deste procedimento.
…com exceção do meu superior e da pessoa quem me introduziu, eu obedeço tal instrução. Eu estive em contato com Helen P. Smith quando A.C. publicou Liber 132 e quando ele me escreveu dizendo que ninguém deveria se comunicar com Smith ou qualquer pessoa que estivesse com ele (e a Helen estava com ele na época) eu parei de escrevê-Ia. Na época eu não sabia
exatamente o que havia acontecido, mas ele é o meu Profeta, e se ele me pedisse para não escrevesse a tal pessoa, eu não a escreveria…
Isso partindo de um homem que recusou a pagar pela imigração do Crowley para os Estados Unidos da América e que não contribui um centavo para apoiar o Crowley em seus últimos anos de vida.]
…Entretanto, você pode aceitar o fato de que Karl não teria me incluído dentre os membros da A.’.A.’. a serem notificados (veja nota datada de 26 de fevereiro de 1948 (sic) em anexo), assim como eu não poderia ter escrito em meu artigo (GNOSTICA NEWS, outubro de 1974 (sic)) que “eu acredito que a A.’.A.’. seja o coração flamejante da O.T.O.”, se eu não tivesse um grau mais alto que o de Zelator na A.’.A.’. Eu espero poder receber cópias do material em suas mãos concernentes a Ordem de Thelema.
Ou, em “palavras brancas”: Eu necessito saber que documentação da Ordem de Thelema você tem para que eu possa mentir sabiamente sobre tal documentação.
[O negócio do “coração flamejante” da O.T.O. ser a A.’.A.’. é a coisa mais nojenta, Qliphotica e sem sentido.]
O Califado: Eu considero que a função do cargo de Califa seja criar estabilidade e continuidade em nossa Ordem…
E de fato verdade… vejam o que segue:
…Eu proponho apontar um Collegium cuja função seja eleger o próximo Califa após minha morte. Eu não tenho interesse algum de grandiosidade pessoal nesta questão, como por exemplo, de requisitar que um de meus filhos venha a ser Califa…
Se tal pensamento já não estivesse em sua mente, teria que ser mencionado de qualquer forma.
…A Divisão do que sobrou da biblioteca terá que esperar decisões administrativas agora em trâmite, mas presumindo-se uma resposta favorável, minha politica será de dividir as funções da seguinte forma:
- Usufruto público
- Uso para pesquisas
3. Uso para Iniciados do IX° grau e acima E claro, eu também vejo a biblioteca como um acervo de materiais adicionais que venham a surgir. Você e eu tinhamos relações bem diferentes com Germer…
E de quem foi a culpa?
…Naturalmente, isto influenciou nossa percepção do que ocorreu neste caso. Você chegou relativamente tarde sem ter tido o benefício de ter conhecido o Crowley pessoalmente com o grupo de Los Angeles. Por outro lado, eu tenho experiência íntima com o trabalho da Ordem por mais de 40 anos…
Este conhecimento íntimo decorre possivelmente do fato dele não ter pago seus encargos durante quatro décadas. Em relação a “experiência com o grupo de Los Angeles”, o Motta tinha motivos suficientes de não querer nunca mais lidar com eles (conforme ele afirmou da corte na Califórnia). Enfim, é difícil encontrar em qualquer outro lugar — além do atual governo dos
Estados Unidos – tantos mentirosos, charlatães, intrigueiros e egocêntricos.
…Quando eu estive visitando A.C. em Hastings em 1945(sic) ele estava bem convencido de que todo mundo em Los Angeles estava escrevendo histórias contraditórias sobre o que estava acontecendo lpa e ele me disse depois, “Eu posso ser o Mago mais poderoso do mundo, porém eu necessito de alguns fatos para continuar seguindo!” Nessas alturas eu lhe disse, “Bom, você me conhece e eu os conheço. Quando eu voltar pra’ casa eu farei um levantamento da situação e lhe escreverei um Relatório.” Ele retrucou, “Muito bem; eu lhe nomeio neste momento Inspetor Soberano Geral da Ordem”…
O leitor sério deve-se lembrar que este fato foi relatado por um mentiroso. Ele continuou a sustentar sua mentira caso Motta lhe pedisse uma cópia da patente nomeando-o S.G.I.G.:
…Foi uma nomeação puramente verbal, sendo a única comissão de Baphomet na qual eu não possuo documentação por escrito, mas que considero ser totalmente valida dentro dos parâmetros da Ordem…
Esta capacidade monumental de dizer uma coisa e fazer outra e, conforme já afirmamos anteriormente, característica do estado astral daqueles que falham ordálias iniciáticas sérias.
Este mesmo fenômeno tem sido responsável pelo estabelecimento de várias religiões oficiais, sendo o Cristismo a forma mais baixa e mais exemplar do tipo…
…De todos modos, se você tinha boas relações com Karl durante seus últimos anos, sendo capaz de ajudar-Io consideravelmente em suas publicações, foi o meu karma de, no final dos anos 50, lhe chamar atenção ao fato de que ele estava deixando a Ordem morrer por não encorajar a iniciação de novos membros…
A questão era, quem iria iniciar? E quem teria o caráter moral e intelectual necessário para selecionar novos candidatos? o Sr. Germer estava pacientemente e com muito cuidado fomentando todos seus estudantes mais sérios (como eu mesmo posso testemunhar) e iniciando-os da maneira mais detalhada possível. O que McMurtry não queria encarar (porque seria muito doloroso) era o fato de que ele não era capaz de iniciar; e pior ainda, ele não queria passar pela dor da purificação através da qual ele poderia ter se tornado de alguma forma útil para a Ordem da qual ele tanto se gabava e nada fazia.
… E quando isso se tornou óbvio para mim (em uma das suas cartas ele disse que “eu considero isto se Magia baixa”)…
McMurtry estava fazendo uma citação errônea, como era de se esperar. De todos os modos, a Magia alta de SATURNUS estava afetando os Estados Unidos e o resto do mundo ele nem era capaz de enxergas as mudanças profundas ocorridas em seu país desde que SATURNUS havia desencarnado.
…, Eu prestei uma série de visitas a vários membros da Ordem na Califórnia do Sul. Naquela época, aproximadamente de 1955 a 1959 (sic), ainda haviam membros seniors da Loja Agape vivos e um novo começo poderia ter sido promovido, através da iniciação de novos membros para levar adiante a palavra de Thelema…
Na época em que ele leu isso, Motta não pode entender como um individuo de ideais mesquinhos como o McMurtry teria sido capaz de apreender a profundidade do trabalho de Thelema e se tornou incrédulo em relação a sua eficácia ao invés de ter se tornado incrédulo em relação a sua sinceridade. O Motta na época ainda era muito crédulo. A versão nobre de fatos de McMurtry não era verdade (como era de se esperar). Os documentos apresentados sob ordem judicial oito anos mais tarde esclareceriam a questão. O que ele havia feito entre 1955 e 1959 e.v. foi visitar ex-membros da Loja Agape (a qual Crowley havia interditado) tentado convencê-los de que ele era a “Criança” (por favor, mais uma vez esta repetição para o leitor!), e que eles deveriam abandonar Germer e seguir sua liderança… Para O QUE? AONDE?
[O leitor sério deve se referir a carta do Dr. Gabriel Montenegro ao McMurtry no O.T.O News; uma carta ratificada, por incrível que pareça, pela “extraordinária” Helen, quem na época havia se juntado ao pobre doutor como uma parasita.]
O resto da história de McMurtry sobre suas atividades merece ser lida com o mesmo cinismo que um deve ouvir um sermão do Jerry Falwell ou um discurso a nação de Ronald Reagan.
…Meus esforços não foram bem-sucedidos, e quando Karl ficou sabendo dos mesmos ele ficou com muita raiva. Futuramente espero poder lhe fornecer cópias de algumas de suas cartas para mim sobre o assunto…
[“Futuramente” ele foi compelido por ordem judicial a apresentar a xerox de todas as suas correspondências com o Sr. Germer e não apenas algumas seleções que poderiam confundir a questão como ele esperava fazer…]
…De todos os modos, quando se tornou óbvio que se eu persistisse ele me expulsaria da Ordem, como ele fez com o Grant em 1955 (sic) eu deixei O assunto para lá e aceitei uma oferta de trabalho na Costa Oeste…
Mais uma vez com suas mesquinharias… ele aceitou uma sinecura no governo federal em Washington, e finalmente foi fazer em aberto o que ele já vinha fazendo escondido por bastante tempo.
…e me esqueci do fato por 10 anos. De todos os modos, em relação as suas Cartas, nós não confundimos nada por aqui…
Esta é obviamente uma outra classificação de sintomas típicos de falência da ordália.
A culpa não é nunca da pessoa, e sim de alguém mais; de preferência seu instrutor.
O ego deve ser defendido a todo custo.
…O curso tomado por Karl foi obviamente suicida, prova disso sendo o que aconteceu com sua biblioteca e eu sou a única pessoa que teve a coragem de aceitar sangue novo. Além disso eu fui a única pessoa que voltou para a Califórnia e resolveu o mistério do que havia acontecido com a biblioteca, na minha capacidade como grande Inspetor Soberano Geral da Ordem. Foi no curso dessa investigação que a possibilidade de publicar as cartas de Tarô se apresentaria e foi durante o curso de tal publicação que eu fui compelido a invocar a cláusula de Emergência em meus documentos de autoridade e consentir às instruções do
Aleister Crowley nas cartas do Califado, para que eu me tornasse o Califa após Germer…
[Caso o leitor mais criativo ainda esteja imaginando, nós esclareceremos uma vez mais:
tais instruções do Crowley não existiam. Nunca existiram as “Cartas do Califado”. A única carta a McMurtry na qual o Crowley usou o termo califa foi escrita em resposta ao uso da palavra por McMurtry em outra carta; e a afirmação de Crowley em tal ocasião foi para efeito de que quando ele morresse, Germer (ele não usou “Karl” como o McMurtry) seria seu sucessor natural e que quando Germer morresse, McMurtry talvez desse estar em uma “posição de responsabilidade”. Nem o Cabeça Externa da O.T.O. nem o “Califa” mundial foram mencionados neste contexto. O leitor sério deve se referir a Parte III desta história.]
…Se Karl tivesse tomado as providências necessárias para um sucessor como O.H.O., eu não me preocuparia sobre O assunto, como eu mesmo nunca me considerei nada mais que O 9° Índio correndo em volta da reserva da O.T.O…
Esta afirmação partindo de um homem que passou anos correndo em volta da Califórnia, tentando convencer todo mundo que ele era a “Criança”!… Porém, mesmo que Motta não soubesse disso na época, ele conhecia McMurtry suficiente somente após um encontro e sabia que essa falsa modéstia e humildade mais uma vez não derramariam lágrimas de seus olhos.
…Seguindo a decisão da biblioteca do Crowley”.
Mais uma vez, não a biblioteca de Germer, que perceba o leitor. Ele sabia muito bem que com Germer ele não teria tal chance e, no entanto, foi a’ biblioteca de Germer que ele propôs tomar posse.
…Eu proponho que você e eu, com a grande ajuda de James Wasserman, façamos um acordo formal estipulando nossos poderes em futuras publicações de materiais do A.C., para que todos os materiais sejam registrados em nome dá Ordo Templi Orientis de Aleister Crowley. Isto está de acordo com a ULTIMA VONTADE de A.C., a qual eu acredito em você tenha cópia, onde ele afirma que “Eu LEGO todos os bens, livres de impostos de testamento, todos os direitos da propriedade literária de meus livros e quaisquer tipos de escritos, incluindo direitos de propriedade sob as quais, no dia de minha morte, eu venha a ter poder de dispor, à Ordo Templi Orientis anteriormente mencionada (além dos direitos de propriedade que já são parte da Ordem) para uso absoluto da Ordem…” Eu não estou familiarizado com os detalhes de seu Contrato de Publicação com Weiser para a publicação de LIBER LXV, sendo assim talvez não seja possível incluir tal livro dentro desta cláusula…
Isto quer dizer, em poucas palavras: “Os direitos literários de seus livros não devem estar em seu nome, mas em nome de nossa versão da O.T.O.” Isto vindo de um homem que não havia dividido direitos Literários com ninguém e não havia pago seus encargos com a Ordem por quarenta anos e ainda devia dinheiro a “O.T.O. de Aleister Crowley”. O último parágrafo não deve ter sido uma ironia, pois McMurtry não tinha nenhum senso de humor; era provavelmente parte da impressão geral que ele queria dar:
…Permita-me dizer que tem sido um grande prazer ter conhecido James Wasserman durante os últimos anos. Eu espero poder ter o mesmo prazer em conhecê-lo quando as condições permitirem uma visita um dia desses.
Cordialmente nos laços da Ordem.
Amor é a lei, amor sob vontade.
Hymeneus Alpha 777
Ordo Templi Orientis
Califa
Anexos: Xerox em 1 página: dois documentos de autorização de A.C.,
datados de 22 de março de 1946 e 11 de abril de 1946 (sic).
“De Carta de 666, 16 de setembro de 1946 (sic) referindo—se à diferença entre a A.’.A.’. e a O.T.O., assinada por Saturnus.
Nota de Saturnus, datada 26 de fevereiro de 1948 (sic), dando instruções a A.C. para convocar um Conselho Geral da Ordem para eleger um sucessor de A.C. como Cabeça. Karl não obedeceu a estas instruções (esta nota está anexada na carta, datada 1º de março de 1948 (sic), de Karl para mim).
Carta original de James Wasserman a você, datada 18 de julho de 1976 e.v.
O leitor deve lembrar que quando Motta leu esta carta ele ainda não sabia que McMurtry era e sempre havia sido, um cretino, informante e traidor. Seu primeiro impulso foi de não responder, mas, porém, ele reconsiderou. Ele se lembrou que McMurtry havia sido introduzido a ele pelo Sr. Germer como “somente um discípulo amuado”. O Motta o havia sido também, como também tem sido vários estudantes do tipo desde então. Neste caso ele considerou isto como uma carta de cinco páginas provinda de um homem cheio de si mesmo, vaidoso, opinionado e arrogante. Um homem que chegou a conhecer o Crowley pessoalmente e que conhecia o Sr. Germer por muito mais tempo do que eu o conheci. Um homem que crê ser o mestre do mundo. O fato de que tal pessoa chegou ao ponto de escrever uma carta de cinco páginas endereçadas a minha pessoa é um sinal de um certo controle de seu ego…
[Motta não sabia, é claro, que tal carta era uma trama cheia de informações errôneas e mentiras premeditadas.]
Motta pensou que talvez algo de bom ainda poderia surgir deste homem. “Ele chegou ao ponto de escrever-me, então eu vou lhe responder,” Motta decidiu.
Sendo assim, ele se sentou e escreveu, ou melhor, datilografou a seguinte carta no dia 29 de julho de 1976 e.v.:
Prezado McMurtry:
Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.
Grato por sua carta de documentação do 21 de julho deste.
Eu nunca duvidei de sua boa-fé dentro dos limites de sua definição de seu ego – para com Thelema e a O.T.O…
[Esta credulidade é característica de Motta, que tem um caráter franco e leal. Também era característico do Crowley e do Sr. Germer. Motta deveria ter duvidado da boa-fé de McMurtry:
McMurtry não tinha nenhuma boa-fé . Mas Motta saberia mais de McMurtry no futuro, e tudo teria que ser extraido da gang de McMurtry através de repetidas ordens judiciais.] …Eu sempre duvidei, entretanto, de sua capacidade de colocar o bem estar da Ordem acima de sua existência contínua…
Nunca foi minha intenção reivindicar o Grau de O.H.O.
Um erro aqui, devido a falta de familiaridade com documentos da O.T.O.. Não é um Grau, mas um Cargo.
…como eu sempre repeti incansavelmente através de correspondências privadas e em escritos. No entanto, eu ainda tenho a intenção de supervisionar a Eleição do O.H.O. em cinco anos após a publicação do Equinox V 1, de acordo com o Manifesto. Você poderá ser – ou poderá’ também não ser – candidato ao cargo na época.
Eu nunca duvidei que você tivesse cartas de autoridade de A.C. Porém, o que você propositalmente se esquece é que se elas estavam sujeitas a ratificação por Karl Johannes Germer, Frater SATURNUS, é PROVA completa que Crowley o considerava superior a você“. Eu também tenho cópias das cartas de A.C. ao Karl Johannes Germer (gentilmente fornecidas pelo Sr. Gerald Yorke) onde ele afirma explicitamente que desde a reaparição de Germer (dos campos de concentração nazista, ele queria dizer), ele nunca havia considerado ninguém mais que não fosse ele.
Também, o documento que você cita sobre as instruções de A.C. ao Germer para a eleição do “Cabeça Externa da O.T.O.” é de fato, parte da Constituição da Ordem de Thelema e se refere a eleição do Cabeça da Ordem, caso seja necessário. Mas não houve esta necessidade, considerando-se que no próprio documento os nomes de todos os irmãos mencionados que formavam o Conselho Eleitoral haviam sido apagados pelo próprio cunho de A.C. antes de sua morte, restando somente o nome de SATURNUS. Copia deste documento também me foi fornecida pelo Sr. Gerald Yorke e você pode verificar com ele mesmo, ou seus herdeiros, caso ele não esteja mais vivo. Eu tenho cópia do mesmo em minhas mãos; seu nome não é mencionado.
Nunca foi minha intenção de “botar a boca no trombone”, conforme você me acusa. Eu intencionava mencionar seu nome e 0 de Helen Smith no meu segundo Manifesto, afirmando ao mesmo tempo que você tinha o apoio do Sr. Germer (mesmo sabendo que você não o tinha), em reconhecimento de sua longa história como irmão e de seus esforços (como eram antes) em prol da Ordem. Eu não tinha a mínima intenção de mencionar Phyllis ex-Wade-ex-Seckler-McMurtry (ela é rodada, não?) de forma alguma. A Sra. Smith se recusou, de maneira apropriada, a ser mencionada como representante legitima da O.T.O. Eu mesmo eliminei seu nome, pendente a fatos e observações futuras.
Esta óbvio que você não tem patente alguma de Frater SATURNUS. Se eu estiver equivocado, por favor corrija-me e eu aceitarei com prazer você como um Irmão – mas certamente não como O.H.O. Esta’ também obvio que você intenciona se possível, passar por cima deste fato e que esta’ no momento guardando sob sua tutela a Biblioteca de Thelema, acima de minha cabeça na esperança de que eu me submeta a você. Meu amigo, nunca tentaram este tipo de manobra comigo, pois nunca funcionou e nunca funcionara’, pelo simples fato de que eu não somente estou disposto a morrer pela Ordem, como eu morri por ela.
Não abane bandeiras de afiliação a A.’.A.’. na minha frente. Lembre-se, eu lhe conheço, eu conheci você, assim como eu conheço Phyllis ex-Wade-ex-Seckler-McMurtry. Não é necessário que você me diga o que você é, eu sou a pessoa qualificada a lhe dizer isto. E na A.’.A.’. você não é nada. Phyllis, há muito tempo atrás era uma Neófita sonhando ser Adepta. O que ela é agora, eu não sei e nem quero saber. Ela certamente NÃO é membra de boa reputação na A.’.A.’., e na O.T.O. ela não é nada, a não ser (mais uma vez) que ela possa me mostrar uma patente de SATURNUS, ou confirmação de patente de SATURNUS pela Sra. Germer, quem era, como você sabe, inventariante de Germer e a única pessoa qualificada a decidir onde a biblioteca deveria ir e quando…
[Na época, Motta acreditava que Mellinger estivesse morto. Mais tarde foi que ele iniciou uma procura do outro inventariante do Testamento do Sr. Germer.]
…Naturalmente, é vantajoso para você afirmar que a Sra. Germer era louca. Você que engolir tudo de uma vez, uma ambição louvável. Continue por aí, pois quem sabe após algumas mil encarnações você talvez tenha progredido e se tornado um Irmão Negro. No momento, você não é nem um magista negro, mas sim um pequeno homem com poder de manipulação.
O documento intitulado “Constituição da Ordem de Thelema” pode ser encontrado na Biblioteca. Eu não duvido que você o encontre. Também, sobre sua intenção de dividir a biblioteca em grupos selecionados, um somente para uso “de membros do IX°” quer dizer simplesmente que você intenciona ficar com o melhor para sua laia, se puder fazei-o. Esta tem sido a ambição de toda classe sacerdotal desde da primeira aparição de vigaristas na superfície da terra.
Eu respondo a sua proposta com uma contraproposta; eu quero cópias xerox de todos os materiais ainda não publicados da Biblioteca Thelêmica, sem exceção. Se você se recusar em providenciar tai pedido, eu não posso no momento lhe processar, pois como indubitavelmente O James Wasserman lhe deve ter informado, eu não tenho fundos suficientes no momento. Porém eu eventualmente lhe processarei e ainda por cima meu amigo, eu vencerei. Você está tentando ultrapassar um herdeiro legitimo (Sr. Germer), assim como o fizeram Symonds e Grant. Você está se comportando como um usurpador, assim como Metzger o fez e o Symonds e Grant estão fazendo.
Se você me der acesso a cópias xerocadas de todo o material em boa fé, conforme lhe disse anteriormente, eu lhe aceitarei como Irmão e reconhecerei sua jurisdição como um Irmão nos U.S.A. Porém eu nunca o reconhecerei como “Califa”, porque somente o Sr. Germer tinha a autoridade de fazê-Io, como afirmavam os documentos originais e ele não o fez. Tais documentos não são mais validos; somente os documentos de SATURNUS X° O.T.O. são validos. E na falta disso, o O.H.O. terá que ser eventualmente eleito, mas isto devera’ ser feito por Irmãos que possam vir a provar uma linhagem de sucessão legítima (de Crowley a Germer e a partir de Germer), ou pessoas quem eu reconheça, através de sua força de caráter, probidade e verdadeira dedicação, como merecedoras da honra de participar em tal eleição. No momento, eu não tenho motivo algum para acreditar que você mereça esta honra e que demonstraria mérito ao cargo se for eleito. Dependendo de sua reação a esta carta, eu saberei. A Biblioteca Thelêmica não é sua propriedade e você até então não me mostrou quaisquer tipo de evidência que prove que você tem mais direitos do que eu sob a mesma. De fato, o contrário ocorre; você tirou vantagem da fraqueza de caráter do James Wasserman para colocar suas mãos na mesma sem meu conhecimento. O que pode ou não provar a extensão de suas boas intenções.
Mas por favor, meu amigo, não tente essa tática comigo. Elas são boas talvez para eleger um Nixon ou um Jimmy Carter, mas não boas suficientes para eleger o Cabeça da O.T.O.
Incidentalmente, eu vejo na carta de Wasserman que eu fiz dele e de K.N. meus representantes do movimento O.T.O. nos E.U.A. O jovem esta naturalmente confundido (ele acabou de falhar na ordália de Probacionista). Eu nunca nomeei ninguém como meu representante nos E.U.A. Eu honestamente não intencionava ter jurisdição alguma nos E.U.A. Porém, estou começando a perceber que talvez eu terei que ter. Grady McMurtry, o “cavalheiro robusto” parece estar se transformando em Grady McMurtry, o que?…
Amor é a lei, amor sob vontade.
Sinceramente,
M.R. Motta
Neste mesmo dia, esta carta foi notarizada no Consulado Americano do Rio de Janeiro e enviada, via aérea, por correio registrado ao McMurtry. Esta foi a primeira e última carta que Motta lhe escreveria.
PARA SER CONTINUADO.